Não é seu filho - Capítulo 74
— Pai! Pai!
Dois pássaros de cauda longa se balançaram sob a cabeça do Rei e chamaram sua atenção.
O falcão branco do Rei voava junto do outro pássaro de cauda longa.
Kalekshia olhou para sua terceira filha, que se apressou diante dele e para seu filho mais velho.
— É sério? Uma guerra? Posso voltar para a floresta e me preparar para uma guerra?
— Hoa, acalme-se. Papai não falou de uma guerra.
— Mas usaram as fadas como quimeras e até chamaram cavaleiros! Oh! Mas quem fez isso? Foi Lohas?
Seguindo os tranquilos passos do Rei, Hoa gritou.
Hoa não era uma anciã da floresta, mas estava qualificada como sua guardiã.
Isso porque foi eleita pelas aves de cauda longa. Esses pássaros eram importantes para a família das fadas. Um pássaro com uma linda cauda longa e olhos parecendo joias como se feitos com linha de ouro, era um pássaro imortal.
Quando desapareceram, ficaram longe por 10 anos antes de reaparecer. E ao eleger seu novo dono, lhe mostravam o passado e o futuro fragmentado da floresta e lhe davam poder para proteger sua família.
Hoa era a dona recém eleita há 30 anos.
— É uma guerra? É mesmo? Posso voltar para a floresta e preparar as crianças?
— Hoa…
Gannini a chamou com uma voz pesada, como se estivesse a advertindo, que continuava a insistir neste assunto.
— Não fale desse jeito. Se tem algo a dizer, diga. Ei!
Hoa não conseguia agir de forma decente.
Quando mostrou sua língua para seu irmão mais velho, ele negou com a cabeça.
— Por que tem que usar este tom amargo?
— Não consigo evitar… Por que não posso usar esse tom, irmão?
— …Haa. Ninguém me irrita mais que você, sabia?
Hoa caiu na gargalhada e se escorou no ombro de seu irmão mais velho, e Gannini balançou a cabeça rudemente, como se ele se achasse.
O Rei moveu seus pés tranquilamente, escutando as vozes das duas crianças.
*****
O lugar a que se dirigia o Rei era a primeira árvore, onde a Rainha da floresta dormia.
A Rainha dormia em uma árvore que era tão grande que quatro homens adultos não conseguiriam abraçar, mesmo que esticassem os braços.
Kalekshia beijou as costas da mão de sua esposa e acariciou sua bochecha, as crianças também beijaram a testa de sua mãe e a cumprimentaram.
— Continua linda apesar de que não te vejo a um tempo.
— Esteve dormindo por mais de 25 anos, acho que agora pode acordar lentamente, mamãe.
Seus cabelos amarelos viraram brancos e sua mãe, que aos poucos ia dando sinais da passagem do tempo, dormia profundamente sem dizer uma palavra a seus filhos.
— O que os trouxe aqui?
Puriosa, que prendeu seu longo cabelo preto de um lado, cumprimentou seus parentes consanguíneos com um sorriso amigável e caloroso como de costume.
Boatos de que seu pai, que vivia na mesma floresta, visitava sua mãe todos os dias, mas não era fácil ver seus irmãos.
Não era fácil se reunirem em um só lugar, pois cada um tinha seu próprio papel e missão.
Quando havia a reunião dos anciãos, uma vez por ano, por sorte conseguiam se reunir ao menos duas ou três vezes.
Os irmãos se abraçaram e se deram boas-vindas, entretanto, Kalekshia acariciou o rosto de sua esposa com um toque seco.
— Leah.
Neste momento, as carícias usuais do pai na mãe se tornaram carinhosas.
As crianças, ao redor da árvore, permaneceram em silêncio e esperaram que seu pai abrisse a boca.
Se perguntavam se realmente passaria o tempo.
— Quando Gaia desapareceu, usou todas as suas forças para encontrá-la. Tentou encontrá-la espalhando todo o seu poder sob as árvores da floresta.
Era uma história que todos conheciam. Já que estavam todos juntos. Todos ficaram ocupados procurando a mais nova. No momento em que Leah forçou seu poder e disse que finalmente parecia ter encontrado algo, ela desmaiou. Canon, o sábio da raça das fadas, disse que era porque ela havia se esforçado demais. Que se descansasse um pouco, voltaria a despertar.
Então… Passaram-se 20 anos.
— Que tipo de rastros da Gaia estava tentando encontrar?
— Pai.
O rei olhou seus filhos com um olhar morto por um momento:
— Não sei o que a Leah encontrou, mas talvez seja esse rastro da Gaia que eu encontrei.
— Encontrou algum rastro da Gaia? Ela está viva, papai?
— Encontrou algo em Lua? Algo sobre “essa criança”?
Com emoção, Hoa se aproximou sem perceber de Kalekshia.
Puriosa também se surpreendeu e se aproximou mais dele.
— Provavelmente.
— …Gaia não morreu, papai?
Mas, talvez, o mais agitado fosse o Gannini.
Quando Gaia nasceu, Gannini já havia crescido e era o mais velho da floresta.
Não lhe agradava a existência da mais nova que fazia sua mãe sofrer, mas no momento em que nasceu, o menino se converteu em o irmão com mais carinho pela mais nova.
A mais nova era a mais linda.
O membro mais novo que todos amavam.
Uma menina pequena que recém começava a conhecer as alegrias do mundo.
— Gaia não morreu, pai?
O irmão mais velho, entretanto, esperava pela mais nova, sem acreditar em sua morte.
Kalekshia negou com a cabeça, lamentando-se.
A expressão de Gannini, que tremia, se desfez rapidamente. Fechou os olhos com força, com um rosto pálido.
— Mas acho que poderemos saber como a Gaia morreu, talvez.
Diante das palavras do pai, os olhos dos irmãos brilharam.
Kalekshia finalmente se moveu, depois de beijar a mão de sua esposa e lhe sussurrar algo baixinho em seu ouvido.
— Sim, entenderão quando virem. Sigam-me.
Todos os irmãos seguiram seu pai com o olhar decidido.
Seus olhos estavam cheios de energia, como se em sua frente houvesse um monstro coberto de sangue ou uma maldição de um deus ignorado e eles foram vencê-los.
“Quem tocar nossa irmã mais nova, será assassinado!”
“O orgulho da mais nova. Vou devolvê-lo mesmo que tenha que rasgá-lo até a morte. Mesmo que o Rei dos Demônios venha…”
“…Não a deixa ir mesmo depois da morte? Como se atreve, como se atreve, a nossa mais nova…?!”
Sem dúvidas, foi o próprio Kalekshia que conduziu as crianças aterrorizadas.
Era um armazém que só tinha tesouros preciosos.
— Por que estamos aqui…?
Não era só um armazém, mas sim um tesouro.
Surpreso, Kalekshia assentiu com a cabeça para as crianças que perguntavam com os olhos porque estavam ali.
— Bem, varrem tudo daqui até lá.
Ao que se referia de aqui até lá…?
Era muito longe de “aqui até lá” que ele apontou.
E os diversos tesouros incluídos valiam muito “dinheiro” especial.
— Papai?
O rei assentiu com a cabeça e ordenou de novo às crianças que estavam pasmas.
— Andem.
***
“Humm?”
Ao ouvir aquela história chocante sobre o móbile, Sheyman imediatamente tentou correr para o seu quarto.
Teria ido direto para seu quarto se não tivesse passado pela porta trancada de Derek em seu caminho de volta.
“Agora que parei para pensar, aquelas vozes vieram ontem à procura do ovo de dragão…”
“Mas comigo e Derek, não conseguiram pegá-lo.”
Então há a possibilidade de que voltem para levar o ovo.
Além disso, havia aquela parte da sombra que foi cortada.
Ele espalhou seu mana pelo castelo e procurou com cuidado, mas o poder das trevas não foi captado.
No entanto, não podia baixar a guarda. Pelo menos, durante sua estadia, teria que prestar mais atenção para proteger o ovo de dragão e detectar a energia suspeita no castelo.
Nesse sentido, Sheyman passou pelo quarto de Derek para avisá-lo, mas…
— Quê? Por que está assim?
Sheyman se surpreendeu um pouco, mas depois de ver o ovo diante de Derek, se deu conta do que se sucedeu.
— Oh, bem. Estou encantado com o dragão.
Ao contrário de Derek, que estava acabado com um rosto magro como se tivesse perdido uns 5 kg em uma noite, o ovo em sua frente estava transbordando com mana.
Foi bastante satisfatório, ainda mais porque sentiu que o dragão cresceu um pouco dentro do ovo.
“De qualquer forma, é fraco.”
Originalmente, Derek se concentrava em pesquisar pergaminhos, por isso não sabia muito sobre acúmulo de mana.
Sempre lhe falou para treinar sem ser muito exigente.
Tsc.
Sheyman, que estalou a língua, levantou Derek com um gesto e o colocou na cama.
Não importava o quão difícil fosse, não podia deixá-lo dormindo no chão frio.
“Terei que chamá-lo depois que acordar para ter uma conversa.”
Depois de confirmar que estava a salvo, os passos de Sheyman para sair se deteram.
Olhou com dureza o ovo em sua confortável almofada no centro da mesa.
— … De certa forma, voltamos a nos encontrar por sua causa.
Neste mundo, a lei da humanidade não podia ser ignorada. Não importa o quão pequena e trivial fosse.
Sheyman ergueu sua mão e acariciou o topo do ovo.
— Obrigado.
Murmurando rapidamente, injetou mana refinado dos espíritos como se estivesse infundindo-os. Em seguida, o filhote no ovo tremeu e reagiu balançando seus pés flutuantes. Talvez de bom humor, o corpinho no ovo tremeu como se estivesse dançando. Sheyman, que estava sorrindo, escapou dali e foi direto para seu quarto.
Era hora de recriar seu móbile.
Exatamente duas horas mais tarde.
— Ho, ho, ho, ho.
Sheyman saiu com um móbile que nunca sequer existiu neste mundo com uma cara confiante.
Ao mesmo tempo, acordaram as duas pessoas que dormiam como se tivessem desmaiado.
Tradução: Kaon.
Revisão: Michi.