A Relação simbiótica entre uma lebre e uma pantera negra - Capítulo 95
Ahin não conseguia tirar os olhos do pescoço de Vivi. O doce cheiro dos feromônios de cura ficava fazendo cócegas em seu nariz.
Badum. Badum.
As veias de seu corpo pulsavam como se tivessem se transformado em pequenos corações. Ele estava sedento por morder aquele pescoço macio.
Percebendo que tinha absorvido feromônios de cura e que estava prestes a perder completamente a razão, Ahin mordeu os próprios lábios, chegando ao ponto de sangrar, de propósito. Com a dor que surgiu, a névoa em sua mente se dissipou ligeiramente.
Os olhos vermelhos, revelados sob o cabelo prateado bagunçado, ganharam foco aos poucos. Tentando acalmar esse desejo irracional, que ele era incapaz de compreender, Ahin limpou a boca com a mão. Uma trilha de sangue escarlate apareceu.
Encarou Vivi, que dormia tranquila, sem ter ideia de nada. De repente, ela franziu a testa e começou a mover as pernas em seu sono. Parece que, mesmo em seus sonhos, estava fugindo de alguma besta.
Não aconteceu, mas Ahin tinha corrido o risco de perder o controle e ferir gravemente o pescoço de Vivi, contra a sua vontade. Ele percebeu que suas mãos tremiam.
“Vivi.”
Ele tocou levemente nos pés brancos, fazendo cócegas nela. Vivi, que começou a correr novamente em seu sonho, acalmou o nervosismo de Ahin.
Desde a morte de Edith, ele nunca temeu nada, pois sabia que a sombra da morte estava sobre ele, e que seria uma questão de tempo. No entanto, após conhecer Vivi, ele também havia conhecido o medo.
Medo de que a bolinha de algodão pudesse morrer no instante em que ele tirasse os olhos dela. Medo de que ela se humanizasse definitivamente e fosse embora sem olhar para trás. Medo de que ela pudesse gostar do maldito leão e fosse embora com ele.
Ahin somente experienciava esses medos até então desconhecidos quando Vivi estava envolvida. Isso era um sinal de perigo.
Mesmo hoje, lembrando-se do rosto vermelho de Vivi mais cedo, enquanto lhe fazia a promessa de dançar para ele, o estômago de Ahin se apertava. As perguntas persistentes dela sobre os ataques feromônios eram ao mesmo tempo embaraçosas e o faziam se sentir satisfeito.
Desde que os ataques existam, poderiam servir como razão para a coelha permanecer ao lado de Ahin, ainda que não o amasse.
Ele pensava que ainda que a razão fosse por sentir pena dele, estava mais do que bom. Ahin se perguntou se sua ansiedade desapareceria se algum dia todas as emoções de Vivi se voltassem apenas para ele.
Segurando o pé de Vivi, como se estivesse possuído, ele colocou seus lábios suavemente no pé dela. Após um tempo, o colocando de volta no lugar com cuidado, para não despertá-la, Ahin olhou para si mesmo e percebeu. Como havia se humanizado há pouco tempo, tendo deitado na cama na forma de pantera, ele estava completamente nu.
Ele se perguntou se Vivi gostaria de ver isso. Mas…
‘…Ainda não creio.’
Ele havia a provocado um pouco porque tinha achado muito engraçadas as deduções dela sobre que razão ele teria para voltar a forma de pantera negra, mas nunca imaginou que ela confessaria ter dançado para o leão.
Ahin apertou os lábios. Para uma coelha que gostava de flertar, tal tática deveria ser seu maior trunfo, então não poderia ser usada em qualquer pessoa.
Depois de vestir calças que pegou em seu closet, ele andou até a varanda, ainda vestindo a camisa.
“Apareça.”
A cortina grossa se moveu, e Quinn, que estava escondido dentro dela, surgiu.
“Eu ordenei que ficasse de guarda na varanda hoje à noite? Ou está fazendo coisas sem eu mandar?”
Enquanto abotoava os punhos da camisa, Ahin encarou Quinn com um olhar gélido.
“Pensei que você tinha dito com sua própria boca. ‘De jeito nenhum ficarei obcecado com essa coelha, que nem o tonto do Evelyn’. Não?”
Quinn, envergonhado, escondeu o rosto com as asas. Era verdade que, apesar de sua personalidade ser oposta a de Evelyn, ele estava ali na varanda sem ter sido ordenado.
Enquanto isso, Ahin ficou estupefato ao ver Quinn corando e escondendo a cara com as asas. Talvez fosse porque ele estava vigiando Vivi há um tempo, mas o movimento era idêntico ao de Vivi, que costumava esconder o rosto com as patas dianteiras com muita frequência.
Provavelmente ele tinha pegado o trejeito naturalmente, sem ao menos perceber.
“Sua punição por fazer coisas desnecessárias vai ser ficar uma semana sem morangos. E nem pense em roubar alguns da cozinha.”
Ahin acrescentou, friamente. Chocado, Quinn cambaleou. Rapidamente, Ahin tirou uma carta que tinha escrito e a amarrou na perna de Quinn.
“Leve esse bilhete para Rune Manionz.”
Ainda se sentindo angustiado, Quinn saltou para o parapeito, assentindo.
“…No entanto, pode ser uma boa ideia te ter por aqui na varanda. Depois que voltar da mansão Manionz, pode ficar.”
Ahin, olhando a águia alçar voo, acrescentou.
“Mas não para vigiar Vivi. Quero que fique de olho em mim.”
Quinn, se paralizando no meio do vôo, encarou Ahin com os olhos arregalados.
Hoje tinha sido a segunda vez. Ele sabia que Ahin não estava voltando à sua forma original apenas para provocar a coelha, mas não compreendia qual seria a real razão.
Sem perguntar nada, ele cruzou os céus.
***
Na mansão Manionz.
Rune, tendo acabado de abrir a carta de Ahin, saltou da copa da árvore onde estava descansado.
Desde quando Ahin era tão amargo? Parado no jardim, ele se lembrou de sua infância.
Quando tinha 6 anos de idade, os Manionz estavam discutindo quem seria o próximo sucessor do clã dos leões. O processo não era muito complexo, porque Reona, a irmã mais velha de Rune, era a candidata mais óbvia.
No entanto, o líder do clã dos leões, preocupado que apoiadores de Reona pudessem ferir Rune até que a questão fosse sedimentada, o enviou para a família Grace até que tudo se resolvesse.
Foi então que ele conheceu Ahin, quando ambos tinham seis anos de idade.
Ahin Grace era um menino fora da lei. Ao contrário de Rune, que desde pequeno tinha aprendido a ceder, ele pensava que o mundo lhe pertencia, era arrogante e ganancioso.
Rune sentiu inveja de Ahin, que podia ser ganancioso e desejar as coisas abertamente, tanto quanto quisesse.
Talvez por isso, ele tenha ficado com raiva e o provocado naquele dia.
“Você já é tão grande e ainda anda por aí com um boneco de coelho? Que patético! Esse é o próximo líder do clã das panteras negras?”
“Você é um imbecil que não entende o charme que tem os coelhos.”
O pequeno Ahin tinha apertado o boneco de coelho com força, como se estivesse se gabando. Ele tinha dormido com o coelho desde que era um bebê. Rune, encarando o boneco, cujo algodão estava bem gasto, apontou com a mão.
“Joga esse coelho feioso no lixo de uma vez!”
“Como disse?!”
Logo, os dois começaram a brigar, puxando o boneco, cada um de um lado. Tendo vencido o cabo de guerra com um puxão, Ahin derrubou Rune no chão com o impacto.
“Argh!”
Quando Rune começou a chorar, Evelyn, que estava responsável por olhar os dois, se apressou para cumprir seus deveres como assistente mirim.
“Se acalme, Lorde Rune. Lorde Ahin, se vai brigar, tem que ser num lugar mais escondido, ou os adultos vão lhe repreender.”
Ahin encarou Evelyn, com os olhos arregalados.
“Evelyn, por que chamou o nome desse leão maldito primeiro? Você está do lado de quem?”
Evelyn, parecendo muito aflito, respondeu.
“Estou do lado de quem ganhar a briga.”
“Seu incompetente…!”
Ahin, balançando o boneco de coelho vigorosamente, acertou Evelyn bem no rosto. Tendo se tornado a segunda vítima a beijar o solo, Evelyn começou a chorar também.
“Lorde Ahin, o Lorde Rune está certo! Você será o líder do clã das panteras negras! Já não tem mais idade para dormir com bonecos!”
“Você não pode me dizer o que fazer!”
E, nesse mesmo dia, Edith havia deixado esse mundo.
Em algum momento, pouco depois, Ahin parou de ser visto carregando o boneco de coelho. O desejo de ter as coisas permaneceu, mas ele também era rápido em se desfazer de tudo que possuía. Às vezes, ele agia como alguém que ia morrer a qualquer momento.
Parando de relembrar a infância, Rune passou os olhos mais uma vez pela carta.
[Se ousar aparecer no meu aniversário, vou te matar.]
Talvez tenha sido por causa da coelha. Tendo recebido uma carta de Ahin pela primeira vez na vida, Rune riu perante o absurdo da situação. Era meio refrescante ver a loucura do outro.
“Não compareça, Lorde Rune! Pode deixar que outra pessoa vá representando a família Manionz.”
Restin, olhando o bilhete por trás do ombro de Rune, mexeu nervosamente em seu monóculo.
“Não acha que espionar a correspondência alheia é um crime?”
“Não é brincadeira, meu lorde! Estive pensando. O território das panteras negras é um lugar sombrio – o senhor Evelyn sempre diz isso. Além do mais, meu Lorde voltará a ser objeto de fofocas. Todos irão observá-lo se for no aniversário do Lorde Ahin.”
“Está com medo de que eu possa cruzar com a Ninfa?”
Uma terceira voz surgiu, lançando uma sombra sobre os dois.
“Por que você teria medo de uma coelha, quando é um leão?”
Logo, os dois homens, tendo sido agarrados pelos colarinhos, foram erguidos no ar. Restin, se recuperando rapidamente do choque, levou a mão ao peito em um sinal de cumprimento.
“…Boa tarde, futura líder do clã.”
A irmã mais velha de Rune, Reona, tinha cabelos cor-de-rosa encaracolados e olhos dourados e brilhantes. Ela olhou para Restin, parecendo estar farta.
“Rune, é bom que você apareça no evento. Nem pense em mandar alguém em seu lugar. Precisamos manter a aliança. E você foi designado como o responsável por ela.”
“Irmã, por que precisa me agarrar pelo colarinho toda vez?”
“Se eu não fizer isso, teria que correr atrás de você antes de te bater.”
Restin, que parecia aterrorizado, começou a assentir rapidamente.
“Ele vai, pode ficar tranquila.”
Satisfeita, Reona encarou Rune.
“Confirma?”
“…Não sei.”
“…É por causa da tal ninfa dos rumores?”
Reona pensou que tinha acertado na mosca, pois os ombros de Rune se estremeceram. Vendo os olhos de seu irmão perderem o foco, ela pareceu animada.
Sempre apático, aceitando tudo que lhe impunham, sem nunca desejar nada para si. Ela não via uma reação diferente do seu irmão fazia muito tempo.
Tak.
Largando os dois homens, que despencaram no chão, ela retirou o convite para o aniversário de Ahin do bolso.
“Vá lá e roube essa mulher. Depois eu vejo como lidar com o lunático.”
Ela claramente se referia a Ahin Grace.
Reona o encarou e Rune desviou o olhar. Se passou um tempo.
“Ou por acaso, já sabe que voltará para casa sozinho, porque já foi rejeitado pela Ninfa?”
“Quê??”
Restin, que até então tinha ficado calado, arregalou os olhos.
“C-como? O Lorde Rune foi rejeitado? Por quê foi rejeitado? Quando foi rejeitado? Foi rejeitado no território das lebres?!”
“Quantas vezes precisa falar a palavra “rejeitado”, Restin?”
“Por que não me pediu conselhos? Tinha certeza que o Lorde Rune obteria sucesso!”
Restin, frustrado, bateu o pé no chão. Alternando o olhar entre os dois leões patéticos, Reona fez “tsk” com a língua, irritada.
“Que desperdício de um rosto bonito. Se não consegue conquistá-la, porque não volta à sua forma original e faz uma dança de acasalamento para ela?”
Reona foi embora após dar um chute na bunda de cada um. Rune, alisando seu traseiro, permaneceu deitado na grama.
Voltar a forma de leão e fazer uma dança de acasalamento… se lembrando das piruetas de bailarina de uma certa coelha, ele sorriu levemente.
Tradução: Nopa.
Revisão: Holic.
ABlossom
Muita dó do Rune, mas querer a Vivi pra ele é demais…
Obrigada pela tradução 🥰🥰