A Relação simbiótica entre uma lebre e uma pantera negra - Capítulo 96
O som de roupas farfalhando me despertou.
Enquanto esfregava os olhos, vi Ahin se vestindo com meus olhos enevoados.
As costas dele estavam bem retas, diferente da pantera negra encurvada que eu havia visto ontem.
‘Por que ele está se vestindo sozinho, sem esperar Yuan?’
Quando ele começou a abotoar o paletó azul-marinho, eu enfiei a cara em um travesseiro. Já tinha amanhecido, mas eu não tinha coragem para olhar nos olhos de Ahin.
“Por que está fingindo dormir?”
Senti ele se sentar na cama. Não tive a intenção de fingir, mas não conseguia responder, então permaneci imóvel, como uma estátua.
Um momento de silêncio passou.
“Se está com vergonha de olhar na minha cara, que tal dar um tapa na minha bunda?”
‘Esse predador maluco..!’
Tenho certeza que ele nunca tinha passado por uma situação embaraçosa na vida. Ergui a cabeça e o encarei de imediato.
“A única coisa mais afiada que o seu olhar são seus tapas, imagino?”
Ahin, me encarando de volta, voltou a falar coisas absurdas. O ignorando como sempre, fui direto ao ponto.
“Por que voltou a sua forma original ontem?”
“Para punir uma coelha dançarina.”
Não podia ser verdade. Não querendo lidar com essa teimosia, me enterrei debaixo das cobertas. Enquanto pensava em como escaparia dele, ouvi uma voz grave.
“Para onde vai? Ia te dizer o que queria tanto saber.”
Essas palavras estimularam minha audição de coelha.
“Mas se não quiser ouvir, tudo bem.”
Apesar de saber que isso era uma isca, não tive opção a não ser me desenterrar do lençol. Colocando apenas os olhos para fora, vi que Ahin me olhava. Seus olhos estavam curvados em um sorriso, e ao descer o olhar, vi que seu lábio estava ferido, com rastros de sangue seco.
“Ahin, o que aconteceu com sua boca?”
Não acreditava que ele tivesse levado um soco de alguém, mas parecia…
“Você me chutou enquanto dormia.”
Não importa o quão ruim sejam meus hábitos de sono, como poderia chutá-lo na boca, se ele dormia do meu lado? Quando estreitei os olhos, cheia de suspeitas, Ahin apontou para meu pé.
“Olhe.”
Quando puxei o lençol e verifiquei, arregalei os olhos. Em um dos meus pés havia um rastro de sangue. Não queria admitir, mas isso era uma prova clara.
“Vou te curar agora mesmo.”
Me sentando, levei a mão aos lábios de Ahin. Foi um toque ligeiro, mas as orelhas dele ficaram vermelhas, sem nenhuma razão.
Enquanto eu liberava os feromônios de cura, senti os feromônios de dominação de Ahin serem lançados no ar ao mesmo tempo. Quando o ferimento desapareceu por completo, Ahin falou.
“Quinze.”
“Quê?”
“Era a idade que eu tinha quando tive meu primeiro ataque de feromônios. Logo depois da minha primeira cerimônia de maioridade.”
Quando ouvi esse fato, me congelei. Então ele já sofria com isso há anos.
Tentei sair do transe e responder, mas Ahin se adiantou.
“O resto, Vivi pode descobrir por si mesma.”
“…Como?”
“Você deve estar muito ocupada praticando sua dança. Por que não pede à minha mãe ou ao velho para avaliarem sua performance?”
Ahin se levantou da cama, com o sorriso mais irritante do mundo. Assim que pensei que não iria conseguir deixar de dar um tapa nele, alguém bateu na porta.
“Lorde Ahin, perdão, mas vai se atrasar.”
Era a voz de Yuan, o servente exclusivo. Ahin foi para sua mesa, colocando um relógio prateado no pulso. Me levantei e o segui. Esquerda, direita, direita, esquerda.
Enquanto continuava se arrumando, ele girou e me olhou.
“…O que foi?”
“Hm?”
“Por que está me seguindo?”
“Você me leva junto para trabalhar toda manhã. Agora é hora de me colocar no bolso…”
Enquanto olhava para o bolso do paletó dele, cobri a boca com as mãos apressadamente.
Percebi meu erro e meus olhos tremeram. Infelizmente, o predador esperto notou o meu engano e me olhou com uma expressão misteriosa.
“Não vai dar.”
“….Eu sei.”
Evitando seu olhar, o respondi com um tom indiferente.
“Você está grande demais para caber no meu bolso.”
“Eu sei! Era só… uma piada.”
Dando de ombros, dei a volta e voltei para a cama. Quando percebi que Ahin estava muito quieto, o chequei. Ele estava parado com a testa encostada na parede e os ombros tremendo ligeiramente. Pouco depois, ouvi sua voz.
“Tem uma maneira.”
‘…Que maneira?’
Fiquei ansiosa quando Ahin se dirigiu à porta e a abriu de supetão.
“Yuan!”
“Pois não, meu Lorde!”
“Me arrume um saco.”
“…Como?”
Não me diga que ele quer me levar no ombro… Naturalmente, Yuan hesitou, sem entender a ordem.
“Perdão, mas que tipo de saco..?”
“Um grande o bastante para que Vivi possa caber dentro.”
“Sai daqui!!!”
Com calafrios, empurrei Ahin para fora do quarto e bati a porta.
Ao ouvir os passos se afastando, acalmei minha respiração.
***
Mesmo agora sendo capaz de me humanizar pela minha própria vontade, voltei à forma de coelha voluntariamente. Foi uma escolha desprendida.
Era muito mais fácil controlar meus feromônios na forma de coelho bebê do que como humana. A professora Janna tinha dito que Russel tinha se humanizado de modo definitivo após dominar completamente seus feromônios, mesmo que tenha aprendido de forma inconsciente – no momento em que chegou a esse ponto, aconteceu naturalmente.
Portanto, se eu conseguisse virar uma mestra dos feromônios de cura, isso significaria que a humanização total não estaria muito distante.
E havia outra razão para essa escolha.
Era porque escutei que Ahin estava sofrendo com ataques de feromônios desde os 15 anos. Isso era pior do que o caso de Lorde Edith, que teve seu primeiro ataque aos 18.
Talvez Ahin estivesse escondendo sua dor por trás daquele sorriso pretensioso. Nessa situação, tudo que eu podia fazer por ele era dominar os feromônios de cura, o mais rápido possível.
Quando chegar o dia do aniversário de Ahin, o Ferenium já terá sido obtido, e por isso poderei voltar a ser humana tranquilamente.
Ahin protestou quando viu que voltei a ser coelha sem consultá-lo, mas após eu ficar no bolso de Evelyn por um dia inteiro, ele se conformou. Afinal, era ele que tinha dito para eu descobrir por mim mesma.
<Primeiro, tenho que ser capaz de distinguir as habilidades de sono por anestesia e de cura.>
Comecei na criatura que me espionava, fazendo a águia dormir.
<Evelyn está passando pelo corredor.>
Mirei, e zas.
“É importante mirar bem, principalmente se o alvo estiver se movendo.”
Felizmente, as práticas de feromônios com o vovô estavam indo bem. E logo, faltavam apenas 5 dias para o aniversário de Ahin.
***
Fui ao estábulo e encontrei a baía de Jane, alisando sua bochecha. Para ser exata, tinha ido ali para encontrar Lile.
Depois de se tornar o cuidador principal de Jane, Lile tinha sido naturalmente promovido a cocheiro de Ahin. Parece que, se não era ele conduzindo a carruagem, Jane ficava irritada.
“Senhorita Coelha, a capa que está usando ficou uma gracinha.”
<Responda minhas perguntas, cidadão.>
Esta Vivi está muito ocupada. Enquanto batia no papel com a pergunta escrita que eu tinha preparado de antemão, ganhei a atenção de Lile, que coçou o queixo, pensativo.
“Hmm, não lembro de ter visto o Lorde Ahin com um comportamento anormal…. Não sei….”
Ele parecia ter dificuldade de dizer que Ahin era anormal diariamente. Sem conseguir respostas, apertei sua mão e saí do estábulo.
Lile era alguém que não escondia suas emoções. Por isso, se Ahin tivesse entrado em colapso ou passado mal enquanto estivessem fora, a expressão facial dele teria se abalado.
<Vamos adiante.>
Meimi, Ash, Barra e eu fomos procurar Yuan em seguida.
O encontramos do lado de fora da sala de reuniões, esperando por Ahin. Após pensar um pouco, cheguei à resposta de por que Ahin não tinha mais serventes, apesar de ser alguém de alto status.
Se ele tivesse um ataque inesperado, quanto mais pessoas estiverem ao seu redor, mais complicado seria ocultar. Minha mente dava voltas.
Yuan, nos vendo se aproximar, mostrou o polegar com um sorriso puro.
“Senhorita Coelha, quis dizer isso desde hoje de manhã, mas essa capa ficou excelente na senhorita. Parece uma detetive. Foi Meimi quem arrumou?”
Me aproximei e ergui um outro papel, encarando Yuan com intensidade. Ele se agachou.
“…O dia no qual o Lorde voltou a sua forma original?”
<Isso mesmo.>
Yuan, após remexer os ombros, franziu a testa.
“Não sei como aconteceu. O Lorde me enviou em uma tarefa, e quando voltei, já estava assim. Apenas o guiei até o quarto naquela noite.”
Como pensei, era estranho. Ahin tinha dito que tinha se transformado para me punir. Mas se fosse assim, podia ter esperado para se transformar após entrar no quarto.
Eu podia apostar. Ele tinha tido um ataque de feromônios naquele dia.
<Escuta aqui, Yuan.>
Eu precisava de mais informação. Saltei para os joelhos de Yuan e o empurrei contra a parede. Logo em seguida, a porta da sala de reuniões se abriu e várias pessoas saíram.
Evelyn, que já estava saindo, nos olhou e girou nos calcanhares. Ouvi sua voz, saindo de dentro da sala.
“Lorde, a Senhorita Coelha está atacando um homem jovem e bonito outra vez.”
“Quem ela está atacando?”
A voz que respondeu não foi de Ahin, mas sim de Lorde Lillian, que empurrou os nobres que saíam pelo corredor e colocou a cabeça para fora.
<Evelyn, seu dedo-duro.>
Os olhos trêmulos do vovô passaram entre Yuan, que estava encolhido e tremendo, e foram para mim, que estava de pé nas patas traseiras e pressionando-o contra a parede. O vovô parecia atônito.
<Melhor correr!!>
“Espere! Por que está dando em cima dos serventes, digo, correndo pela mansão?”
Uma vez que escolhi fugir, guiei meu grupo pela mansão.
O próximo alvo era a Senhora Valence, a líder da família Grace.
Era a primeira vez que eu vinha ao seu escritório sem ser convidada. Engoli em seco na frente da enorme porta. Felizmente, ela estava presente e aceitou me receber rapidamente.
“Bem-vinda.”
O escritório da Senhora Valence era bem organizado e chique. Ash e Barra, intimidados pela atmosfera, ficaram congelados, cada um de um lado meu.
“Você ficou linda nessa capa. Se fosse preta, ia ficar a cara de uma pantera negra recém-nascida.”
Ela deu um tapinha na mesa com um sorriso gentil. Meimi me levantou educadamente e me colocou sobre a mesa.
O cabelo prateado de Valence, que hoje estava trançado para um lado, brilhou quando me aproximei.
“Pensei que você iria aparecer mais cedo ou mais tarde. Afinal, posso te dar as respostas que você mais quer.”
Ela tirou um lenço de uma gaveta e forrou a superfície da mesa para que eu me sentasse. Uma criada que eu já tinha visto várias vezes nos serviu chá preto e feno, respectivamente.
“Quando você se humanizou pela primeira vez, pensei que viria me perguntar imediatamente, mas você não veio.”
Os olhos de Valence brilharam enquanto bebericava seu chá.
“Mas, bebê, se quiser algo, tem que pagar o preço primeiro.”
Tradução: Nopa.
Revisão: Holic.