A Relação simbiótica entre uma lebre e uma pantera negra - Capítulo 94
A Senhora Valence tratou a Vivi humana da mesma maneira como costumava tratar a Vivi coelha, assim como o vovô. Isso fez com que minha tensão desaparecesse.
Apesar disso, a presença do pintor que ela contratou para pintar retratos meus, sempre me vigiando, era um pouco incômoda. Ele ficava rabiscando em um bloco o tempo todo, cada vez que eu fazia uma expressão facial diferente. Ainda assim, o tempo passou rapidamente, e logo chegou a noite.
Após entrar, parei na frente da porta do quarto. Teria sido melhor se eu tivesse visto Ahin ao acordar, mas como não o vi o dia todo, a tensão só aumentou.
“O aniversário de Ahin está chegando, então o número de empregados na mansão vai aumentar. Não se surpreenda.”
A Senhora Valence tinha me dito isso enquanto tomavamos chá. Os pensamentos flutuavam em minha mente.
‘O que posso dar para ele de presente de aniversário?’
Eu nunca tinha recebido nenhum, para usar como parâmetro. Além disso, se for Ahin, ele certamente receberá pilhas e pilhas de presentes.
‘Meu aniversário…’
Me lembrava vagamente que, quando era um bebê, me colocaram um chapéu em forma de cone uma vez. Devia ter sido antes de eu completar 3 anos, e, por isso, não me lembrava muito bem, mas deve ter sido a última vez que tive uma comemoração. Enquanto pensava no que poderia dar como presente, ouvi alguém bater na janela.
‘…Quê?’
O som vinha do lado de fora da varanda. As cortinas estavam fechadas, e as agarrei com medo. Será que Ahin tinha vindo pela varanda hoje? Mas se fosse ele, entraria de uma vez, sem bater. Me aproximei e grudei nas cortinas.
“Quem é…?”
“Sou eu, Evelyn, o preferido da Senhorita Coelha.”
“Evelyn?”
Abri as cortinas e o vi, inclinado. Talvez fosse apenas impressão, mas o sorriso dele de negócios parecia mais brilhante que o normal.
“…Como entrou pela varanda?”
“Voltei à minha forma original e saltei com as roupas na boca.”
Não acreditei que ele tinha feito algo tão louco… Abri uma pequena brecha na porta de vidro e me afastei. Nesse momento, Evelyn enfiou a cabeça pelo espaço da porta de vidro.
“O que está fazendo… Evelyn!?”
Em pânico, tentei fechar de novo a porta, e Evelyn acabou com a cabeça presa. Sem hesitar, ele falou.
“Algo muito grave aconteceu.”
“Quê….? O quê?”
“A senhorita brigou com o Lorde Ahin?”
“Ah, nós discutimos ontem à noite…”
Mas se a briga terminou com um beijo… não queria dizer que se resolveu? Enquanto me lembrava do momento antes de desmaiar, senti o sangue subir ao rosto. Mas, como o quarto estava escuro, pensei que, com sorte, ele não perceberia minha cara vermelha.
“E… depois fizemos as pazes?”
“Senhorita Coelha, sua expressão não é de quem se reconciliou. Além disso, devo avisá-la que a punição por mentir no território das panteras negras é cortarem sua cauda fora.”
Por reflexo, levei as mãos à bunda. Depois percebi e rolei os olhos.
“Não minta.”
“Pois não. De todos os modos, se reconciliaram, de verdade?”
“Sim!”
“Então, por que ele está agindo dessa maneira?”
Em um instante a expressão de Evelyn ficou sombria. No entanto, eu sabia que podia ser de propósito, para alcançar algum objetivo.
“Me diga o que está acontecendo ou vá embora.”
Fiquei impaciente do nada, então o apressei.
“O Lorde Ahin está estranho.”
“Mas isso não é o de sempre….?”
“Ele ficou olhando para a janela, pensativo, mas então trabalhou na papelada sem parar nem reclamar nenhuma vez.”
“Isso é um pouco incomum…”
“E ele me elogiou. Quase desmaio. Mesmo que me dê uns bônus, isso nunca tinha acontecido.”
“Céus…!”
Ahin nunca elogiaria Evelyn, nem de brincadeira. Enquanto eu fazia uma cara chocada, Quinn, empoleirado, piou, simpatizando com Evelyn. Com a cabeça achatada pela porta de vidro, ele olhou ao redor do quarto e abaixou a voz.
“Desde que eu o conheço, mesmo com mau humor, ele nunca agiu dessa forma. Eu até mesmo saí mais cedo do escritório hoje, e parei na cozinha para ver se a Senhorita Coelha tinha sido levada para lá como ingrediente.”
Contemplando, eu toquei meus lábios por reflexo. Será que me beijar tinha sido tão ruim que ele tinha ficado estranho?
‘Não creio…’
…Achei que ele tinha gostado. Ou foi porque o interroguei demais ontem?
“A senhorita parece ter algo em mente.”
Encolhi os ombros e pensei.
“Ele… bateu a cabeça ontem.”
“Ontem?”
Os olhos de Evelyn se arregalaram.
“Por acidente, ele bateu no tampo da mesa…”
Assim que acabei de falar, Quinn começou a agitar as asas e gritar. Envergonhada pelo exagero dele, remexi as mãos. Parando para pensar, ontem foi o aniversário de morte do Lorde Edith, e eu só conseguia pensar nos ataques de feromônios. Nem mesmo tinha falado nenhuma palavra de consolo…
“Senhorita Coelha. Deixe a porta de vidro da varanda aberta esta noite.”
Evelyn me falou, uma voz séria.
“Para que não seja comida, se o Lorde ficar muito estranho, se transforme em coelha e monte em Quinn. Fujam voando. Mesmo que Quinn não preste, ele não se negaria em tal situação.”
Quinn ficou indignado e voou para perto, bicando os sapatos de Evelyn.
“Tenho medo das repercussões, então fujam para o quarto do Lorde Lillian. Não venham para o meu.”
“Ah, mas e se ele agir normalmente?”
“É melhor garantir.”
Eu e Evelyn paramos de falar e giramos a cabeça para a porta. As vozes dos cavaleiros, cumprimentando, pareciam nervosas. Quando voltei a olhar para a porta de vidro, Evelyn havia desaparecido, e em seu lugar estava uma pantera negra com roupas na boca. Antes que eu pudesse falar algo, ele saltou pela varanda e sumiu de vista.
‘Para fugir, ele é o número um…’
Mantendo a porta de vidro entreaberta, fechei a cortina. Me sentei no sofá e olhei para a porta, que se abriu.
“…?”
“Então, vou me retirar.”
Uma pantera negra trotou para dentro, acompanhada por Yuan, o servo exclusivo de Ahin, que logo em seguida saiu do quarto. A pantera caminhou pelo quarto e tranquilamente se deitou na cama.
‘Evelyn, o que eu faço se ele não agir normalmente e também não estiver na forma humana?’
Infelizmente, não houve resposta para o meu coração desesperado.
“Teve outro ataque de feromônios?”
A pantera negra se espreguiçou. Não consegui sentir nenhuma anormalidade em seus feromônios. Me grudei à parede e me movi com cuidado. Pela cara dele, não parecia sentir nenhuma dor. Mas então, por que tinha voltado à forma original?
“…Por acaso está fazendo isso para não continuar a conversa de ontem?”
Como diabos ele tinha tido essa ideia?
“Ou tem algo te incomodando?”
Ahin, inclinando a cabeça, bateu na lateral da cama com a pata dianteira. Será que ele sentia assim quando eu mandava ele ir e vir com minhas patas? Devagar, cheguei até a cama depois de uma longa jornada.
Da última vez que tinha visto a forma original dele, estava passando muito mal. Talvez, por isso, hoje ele parecia maior. Seu pelo também estava mais brilhante. Me sentei na cama e alisei o lençol gentilmente. Então, minha mão, que se dirigiu até a pantera ao meu lado, foi bloqueada por uma enorme pata. Engolindo o choque de ter tido meu toque rejeitado, falei.
“Ontem foi o aniversário de morte do seu pai. Me desculpe por ter te interrogado em vez de expressar condolências.”
Ahin não reagiu, e não pude perceber nenhuma expressão em seu rosto. Percebendo que conversar com um animal era frustrante, tentei persuadi-lo outra vez.
“Me diga porque está assim.”
A pantera negra, após me encarar, levantou a cauda no ar. As letras que foram desenhadas foram complicadas de decifrar, mas as entendi com facilidade porque era uma expressão bem familiar.
<Você me traiu.>
“Que história é essa?”
Fiquei com raiva e levantei a voz. Ahin retrocedeu um pouco. Talvez pensou que eu ia bater nele. Decidi agir como queria e usar outro método para extrair informação.
“Se não me contar o que está acontecendo, vou bater na sua bunda.”
Ahin, que parecia abalado, se levantou e voltou a sentar na cama. Sua cauda cruzou o ar outra vez.
<Rune.>
Ahin, com os olhos estreitando-se, apontou com a pata dianteira para mim e para si mesmo. Pensando que alguém poderia acabar morto, resolvi ficar calada e engoli em seco. Quinn realmente tinha contado para Ahin.
“Ah, eu por acaso encontrei com Rune no último dia na mansão do líder do clã das lebres, mas não foi nada demais.”
Por sorte, Quinn não tinha escutado o conteúdo da conversa, e muito menos sabia da confissão de Rune. Talvez minha resposta tenha sido incorreta, porque o rosto de Ahin se mostrou feroz. Pensando que razão ele poderia ter para ficar assim, se não sabia da confissão, de repente me lembrei de algo e perguntei.
“…É por causa da dança?”
Ahin ficou paralizado. Os olhos amarelos estavam arregalados. Deve ter sido isso. Ele tinha descoberto a razão de Rune ter me anunciado ao mundo como sendo uma dançarina.
‘Maldito Rune Manionz…!’
Naquele momento, minha raiva queimava. Ele tinha contado para Ahin sobre isso?! Deixando a vergonha de lado, agarrei as suas patas dianteiras com ambas as mãos.
“Eu queria avisar a ele que estava prestes a me humanizar, mas não sabia como, então usei o sinal que tínhamos combinado sem perceber…”
Por que eu estava dando tantas desculpas? Quanto mais falava, mais parecia uma coelha que estava tendo um caso e tentava esconder.
“Ahin.”
Ele recusou minhas mãos. Esse gato teimoso! Fechei os olhos com força.
“Tudo bem. Da próxima vez que eu voltar a forma de coelha, eu danço para você. Mas só uma vez, ok!?”
Tinha vezes em que se tinha que perder o orgulho para ganhar a guerra. Surpreendentemente, Ahin mudou a postura e assentiu com a cabeça. Mesmo estando na forma de pantera, seus movimentos eram elegantes.
‘Ugh.’
Tendo de algum modo chegado a um acordo com a besta maldosa, falei.
“Então volte à forma humana e me responda.”
Assim que conseguiu extrair uma promessa de mim, ele girou e me deu as costas com uma bufada.
‘Esse maldito…!’
Incapaz de controlar minha raiva, dei um tapa em sua bunda. Realmente, não conseguia lidar com ele.
***
O ciclo de ataques de feromônios de dominação estava ficando cada vez mais frequente. Ahin, tendo voltado a sua forma original em um quarto desabitado, após sofrer com o ataque por um tempo, havia retornado para o próprio quarto auxiliado por Yuan.
No meio da madrugada, tendo voltado à forma humana naturalmente com o passar do tempo, Ahin piscou com as pálpebras pesadas. Tocando sua testa suada, ele se sentou. O lençol deslizou para baixo, revelando a parte de cima de seu corpo.
Ahin olhou ao redor, procurando a coelha dançarina. Graças ao fato de que ela não estava na forma de bola de algodão, foi fácil localizá-la, do outro lado da cama. Ela havia mostrado ao leão uma dança que ele próprio nunca tinha visto. Enquanto contemplava o que faria com essa informação, Ahin sentiu os feromônios de Vivi no ar, e sua cabeça começou a girar.
Ele sentiu sua consciência indo embora, como quando havia recebido os feromônios de cura durante o último ataque. Era uma sensação perigosa.
Seu olhar se moveu para o pescoço de Vivi, que estava exposto sob a camisola. Uma necessidade primal de morder a carne surgiu nos olhos vermelhos, que foram perdendo o foco.
Tradução: Nopa.
Revisão: Holic.
ABlossom
Tudo por causa do Rune?? Kkkkkkkkk
Obrigada pela tradução 🥰🥰