A Relação simbiótica entre uma lebre e uma pantera negra - Capítulo 88
A combinação de Ash e Barra deixou os criados comendo poeira. Graças a isso, cheguei na estufa muito mais rápido do que se viesse andando. Comecei a alisar minhas roupas e percebi que arrumar minha aparência nesse momento seria muito mais difícil do que tinha sido me vestir. Não queria repetir essa experiência de novo, nunca mais.
Os braços que tinham segurado o pescoço de Barra estavam tremendo do esforço e meu cabelo parecia ter saído de um furacão. Caminhando devagar pela tontura, tentei me arrumar o tanto quanto pude e me aproximei da entrada.
Dois cavaleiros, usando roupas pretas, endireitaram as costas. Eram os mesmos dois que sempre guardavam a estufa e eu já sabia que tinham aprendido a dormir de pé. Eles olharam entre Ash e Barra, então um para o outro, e não falaram nada. Inclinei a cabeça para eles.
“Com licença…”
Depois, tentei entrar na estufa com naturalidade. Infelizmente, os cavaleiros se apressaram e bloquearam meu caminho.
“Essa… Senhorita… Como…”
Eles balbuciaram palavras sem sentido. A presença de Ash, Barra e minha aparência eram provavelmente a razão, mas ignorei isso.
“Por favor, me deixem passar.”
Encarei os dois cavaleiros, cujos olhos vermelhos tremiam violentamente. Então, me dirigi a eles.
“Felton.”
“Sim! Não, como..?”
“Quero te dizer que se eu comer uma cenoura inteira, vou passar mal. Por isso, apreciaria se parasse de me dar tantas escondido.”
O rosto de Felton empalideceu.
“Eu sei que você tem boas intenções, mas elas precisam ser raladas para se tornarem comestíveis. E, Milon, eu sempre quis te dizer isso, mas…”
Milon estava boquiaberto.
“Sobre o apelido ‘Branquinha’ que você me deu… você precisa trocá-lo.”
“Ah, como…”
“Felton me confessou que ele acha esse apelido completamente ridículo.”
Milon deu um passo para trás, cambaleando. Os dois pareciam traumatizados e pararam de bloquear meu caminho. Passando pela entrada, vi que a estufa estava em plena floração. O ar quentinho me cercou.
Tirei a capa que usava e segui pelo caminho de pedra, andando sem fazer barulho. Ash e Barra me seguiam, cada um de um lado. Uma das coisas que eu tinha aprendido das aulas era que Lillian costumava vir à estufa nesse horário, todos os dias. Parece que ele gostava de tomar chá sozinho. Se eu estivesse certa, ele deveria estar aqui agora mesmo.
Após afastar umas folhas, vi o vovô sentando na mesa. Ele sempre usava capas ou paletós, mas hoje estava com uma túnica preta simples. Não querendo me precipitar, alisei a barra do vestido lilás. Tinha pegado a primeira roupa que vi, mas agora estava pensando que teria sido melhor usar algo preto, ou talvez um vestido mais arrumado.
“Você parece que faz parte do clã das panteras negras, andando por aí com duas panteras ao seu lado.”
Quando ouvi a voz grave, larguei o vestido e levantei a cabeça. Ele me reconheceu imediatamente.
“Ora, o que vejo? Certamente não é uma ninfa. Que tipo de ninfa ia andar por aí com o cabelo todo desarrumado?”
“Ah, isso…”
Meu cabelo branco não mostrava sinais de que iria se desembaraçar, mesmo quando tentei passar os dedos entre os fios. Assistindo eu lutar contra o cabelo, ele falou calmamente.
“Venha aqui e sente-se.”
Era uma atitude casual, nada diferente de como me tratava quando era coelha. Após hesitar, me sentei na cadeira na frente de Lillian. No entanto, ele se levantou e ficou de pé atrás de mim.
“Tem algum penteado em particular que prefira?”
Ele ia arrumar meu cabelo? Sendo um nobre de alto ranking, nunca esperei que fosse fazer esse tipo de serviço. Ele pareceu ler minha mente e sorriu.
“Você não arrumou meu cabelo no dia em que nos conhecemos? Vou retribuir as marias-chiquinhas daquele dia. Apesar de que sempre uso meu cabelo numa trança.”
Evitei o olhar dele, pensando no ato ousado que eu tinha cometido. Mas ele foi tão malvado naquele dia… Como pôde querer me colocar em uma cesta? Não consegui me expressar, então em vez disso dei uma resposta malvada.
“…Um penteado que me faça parecer uma ninfa, por favor.”
“Gosto de um desafio. Mudando de assunto, fez a tarefa de casa? Quem criou a teoria dos feromônios ambulantes?”
“O Doutor Philip Iris.”
Tenho certeza que a Senhora Valence falou que meu tutor me ensinaria coisas básicas. Mas o vovô estava ensinando coisas que nem os estudantes da Academia aprendiam.
“Essa parte está no final do capítulo, então você deve ter lido até o final. Ao menos isso.”
Ao contrário das palavras ásperas, as mãos dele em meu cabelo eram delicadas. Apesar de ele ficar resmungando o tempo todo por estar muito embaraçado. Bem, não podia explicar que cheguei aqui cavalgando em Barra, então sorri e me foquei no toque em minha cabeça.
“Por que está rindo? Julgando pela sua despreocupação, acho que devo aumentar o número de aulas.”
“Quê?”
Eu realmente estava me esforçando para gostar dele. Fazendo uma cara séria, olhei para ele com o canto do olho.
“Quando eu te vi, pensei que era um coelho amaldiçoado.”
Ele puxou meu cabelo para trás e hesitou.
“Mas você é uma moça bonita. Como acabou com um louco como Ahin? Se estiver com problemas, fale comigo. Eu te ajudarei.”
Acho que essa era a maneira dele se desculpar pelo dia em que nos conhecemos. Me senti um pouco aliviada, como se tivesse tirando um peso dos ombros. Sorrindo de novo, girei a cabeça para olhar Lillian melhor.
“Em vez disso, diminua o número de tarefas, por favor.”
“Já que me pediu com um sorriso… vou dobrar a quantidade de amanhã.”
Besta malvada. Parando de sorrir de novo, o olhei nos olhos.
“Vovô… Ah, não, Lorde Lillian…”
“Pode me chamar de vovô. O meu neto real me chama de “velho”, afinal.”
O pôr-do-sol coloria as folhas em um tom avermelhado.
“Vovô.”
“Sim?”
“Na verdade, vim aqui porque queria te perguntar algo.”
A mão dele, que estava trançando uma mecha, parou no ar.
“Vovô, o senhor aceitou ser meu tutor porque queria me fazer perguntas, não é?”
“Você é esperta. É verdade. Então, posso perguntar?”
“Não.”
“…Quê?”
“Se eu responder, não poderá me ignorar como fazia antes, tudo bem?”
“Que tipo de pessoa faria algo assim? Só se for meu neto desgraçado, que parece um cão sarnento.”
Se Ahin, que afinal era um homem-besta felino, escutasse isso, seus olhos iam se arregalar. Dei um pequeno sorriso. Assim que o percebeu, Lillian fez “tsk” com a língua e começou a falar.
“No dia em que eu cheguei na mansão Grace, me queimei no pulso com chá, e foi bem feio. Já estou velho, então demora muito para sarar, mesmo recebendo tratamento.”
O vovô, então, enrolou as mangas e me mostrou o pulso.
“Mas, depois de nossa ‘batalha’ na biblioteca, quando acordei, estava curado. Só ficou uma pequena marca.”
Franzi os olhos para ver uma minúscula marca na pele.
“Foi a primeira vez que vi feromônios como os seus, então fui estudar pela primeira vez em muitos anos. Seus feromônios têm poderes curativos.”
Ouvindo a voz calma dele, assenti.
“É um feromônio muito raro e poderoso. E parece que você não é capaz de controlá-lo. Estou errado?”
“…Não, tudo é verdade.”
“Por isso quis ser o seu tutor. Vou te ensinar a lidar com seus feromônios.”
Acho que ele estava focado demais nos livros para isso. Quando o olhei com desconfiança, ele tossiu, acrescentando.
“Bem, eventualmente vou te ensinar.”
“Aceito.”
“É impossível que Valence ou meu neto te ensinem. Sabe, eles são monstros que controlam seus feromônios super poderosos por puro instinto, então não entendem como funciona o processo para explicá-lo, em absoluto.”
Conseguia entender. Quando a Senhora Valence tinha tentado me ensinar a controlar meus feromônios pela primeira vez, tinha falado para eu segurar a respiração e forçar minhas veias, o que parecia mais um manual para a morte certa.
“E também…”
O vovô respirou fundo.
“Quero te ajudar a controlar seus feromônios com segundas intenções.”
“…Eu sei. Queria perguntar sobre isso.”
Me levantando, fiquei cara a cara com ele.
“O que quis dizer quando falou que Ahin precisa ficar ao meu lado o tempo todo?”
Talvez meus feromônios curativos tivessem algo a ver com a diminuição dos ataques de feromônios dele. Após um silêncio, o Vovô, me encarando, massageou as têmporas.
“Que relação você e meu neto tem, afinal?”
“…!”
Uma pergunta tão repentina… Oficialmente, somos predador e presa, mas, com o coração confuso, desviei o olhar.
“Não precisa me responder. Estive pensando isso faz um tempo, mas suas expressões faciais são impressionantes. Nem precisa abrir a boca.”
Eu não tinha muita prática em controlar minhas expressões humanas, com licença!
“Você sabe que Ahin tem feromônios com poder de dominação. É um segredo, mas muitos já sabem. E o dia de hoje, sabe qual é?”
“O aniversário de morte de Edith…. o pai de Ahin.”
“Sim. Ele era meu filho. Nossa família Fayant sempre teve um ranking alto entre a nobreza, mas Edith não tinha os requisitos necessários para ser o marido da líder do clã. No entanto, ele ganhou o amor de Valence, e, superando ofertas de matrimônio arranjado que ela recebeu, acabaram se casando.”
Então, a mesma Senhora Valence que eu conhecia tinha recusado ofertas mais vantajosas e casado por amor? Vendo meus olhos desconfiados, o Vovô acrescentou.
“Ele era mais bonito que meu neto. Para começar, tinha cabelos loiros, o que é raro no clã das panteras negras. Ele também sabia como se arrumar para ficar ainda mais formoso. Ele superou as brigas por poder e conquistou Valence sozinho.”
Um rosto ainda mais bonito que o de Ahin…? Se fosse o caso, tudo fazia sentido. Cobri a boca com as mãos, chocada.
“Mas Edith era um fracote. Ele não conseguia controlar os próprios feromônios, então frequentemente ficava de cama.”
“Não acredito…”
“Sim. Ele tinha o mesmo tipo de feromônio de dominação que Ahin. Felizmente, o menino herdou a força da linhagem de Valence. Se não, a essa altura, estaria um morimbudo.”
A ansiedade aumentou em minha cabeça e apertei os punhos. Minhas mãos estavam suadas.
“Mas Edith não tinha saúde frágil desde o começo. Na verdade, ele começou a ter ataques de feromônios logo após noivar com Valence. Ele tinha 18 anos…”
O vovô, suspirando, olhou para o teto da estufa.
Tradução: Nopa.
Revisão: Holic.
Xicalina
Aiiiii NÃO! Meu Ahin!!!