A Relação simbiótica entre uma lebre e uma pantera negra - Capítulo 86
O lugar designado para a primeira aula de Lillian e Vivi foi a biblioteca. Parado em frente à porta vermelha, Lillian olhou para os cavaleiros que guardavam a entrada do local, cada um de um lado do portal.
“Boa tarde, Lorde Lillian!”
Eles cumprimentaram e anunciaram que a estudante ansiosa já estava lá dentro.
“…Já faz um tempo.”
Vivi, olhando para ele, continuava sendo um coelho incomum. O pelo, antes branco como a neve, estava cheio de pintas pretas, e ela estava usando uma gravata borboleta que Meimi tinha arranjado, para ficar à altura da ocasião. Sentada em cima da mesa retangular, ela educadamente inclinou a cabeça. Ao contrário de Lillian, que estava relutante em cumprimentar, ela se inclinou tanto que sua testa bateu no tampo da mesa.
<Ai!>
Mesmo antes de entrar, ele tinha decido observar o comportamento suspeito da coelha. No entanto, o próprio senso comum de Lillian estava em jogo ao aceitar ser o tutor dela, em primeiro lugar.
“É um pouco tarde, mas vou me apresentar. Sou Lillian Fayant, o pai do esposo de Valence, Edith, e avô de Ahin. Também sou diretor da Academia Belhelm. Mas acho que você já sabia.”
Houve um silêncio constrangedor depois que ele se sentou. Era o tipo de silêncio que poderia durar para sempre, até que Lillian tossiu e falou.
“Eu ainda acho que você é suspeita.”
<Eu sei.>
Vivi não esperava se sentir confortável com ele. No entanto, devido a Ahin, eles tinham interesses em comum. Tentando não se sentir desencorajada, ela assentiu com firmeza.
“Lorde Lillian, não esqueça que a Senhorita Coelha derrubou o pantera negra Barra sozinha, só com a força do espírito. Há rumores que ela é a reencarnação de um general…”
‘Por que fico escutando a voz daquele desgraçado?’
Lillian, se lembrando da lavagem cerebral que Evelyn tentou aplicar nele, sacudiu a cabeça. Ainda assim, ele concordava que o tamanho do espírito dessa coelha, cujo corpo era menor que o seu punho, não era normal.
“Antes de começar a aula, quero te fazer uma pergunta.”
Lillian puxou uma cópia daquele jornal de fofocas do seu paletó cinzento.
“A mulher-besta lebre que chamam de “a dançarina ninfa” neste artigo… é você?”
Os olhos de Vivi tremeram ao encarar o artigo que ela não queria nunca mais ver.
“Senhorita Ninfa, ouvi dizer que irá virar uma estudante. Preparei uma mochila para a sua aula.”
“Evelyn, não seja maldoso. A ninfa não está gostando disso.”
Ahin e Evelyn tinham rido da cara dela por causa daquele jornal, mas isso era o de menos. Ela sacou uma minúscula caneta de sua mochila. Ela tinha sido feita sob medida a mando de Ahin, especialmente para ser usada por uma pata de coelho. Ela se aproximou do jornal enquanto Lillian observava, boquiaberto. Vivi desenhou um círculo sobre a palavra “mulher-besta lebre” e escreveu um grande Xis sobre a palavra “ninfa”.
“Então está dizendo que você é a mulher-besta do artigo, mas não é uma ninfa.”
Vivi, abaixando a caneta, assentiu.
“Eu não acreditei em uma palavra deste artigo.”
Vivi desesperadamente queria escutar isso de alguém, mas, quando Lillian falou, ela se sentiu desconfortável.
“Não sei os detalhes, mas ouvi de meu neto que a única coisa que ele quer na vida agora é uma pedra de Ferenium.”
Pegando uma caneta ele mesmo, Lillian sublinhou a parte do artigo que dizia que Ahin deu uma mansão de presente à dançarina.
“O preço de uma pedra de Ferenium é muito maior que o de uma mansão mediana.”
Os olhos de Vivi tremeram ao escutar esse fato. Ela tinha imaginado que seria caro, mas nunca pensou que chegaria a esse ponto. Se algum dia Ahin cobrasse de volta o que tinha pago, em vez de apenas endividada, ela ia acabar virando uma salada de coelho.
“O que houve, está passando mal?”
Lillian, que tinha falado sem pensar muito, ficou constrangido quando a reação de Vivi foi muito além do que ele tinha imaginado.
<Não, estou bem.>
Vivi sacudiu a cabeça e se endireitou. Ela sacou da mochila um presente de Evelyn. Era um minúsculo bloco de notas que ele tinha feito colando pequenos pedaços de papel, para que ela escrevesse o conteúdo da aula. Lillian, entendendo que o gesto significava que ele podia prosseguir e começar a ensinar, assentiu.
“Primeiro, quero medir seu nível. Ouvi falar que lê muito por aqui. Me mostre que livros andou lendo.”
Lillian tinha muitas perguntas, mas decidiu adiá-las até que o Ferenium fosse obtido. Afinal, era muito mais eficiente perguntar a um ser humano. Vivi obedientemente subiu na mão de Lillian para que ele a abaixasse da mesa para o chão. Tremendo um pouco no início, ele logo recuperou a compostura e colocou Vivi no chão. Então, eles caminharam pela biblioteca, lado a lado. Os raios de sol vindos da janela tornaram a atmosfera entre os dois um pouco mais serena. Lillian colocou Vivi na prateleira para a qual ela começou a apontar. Repetidamente, ele a colocou no chão e de novo nas prateleiras. A cada vez que sentia a bola de algodão em sua mão, se sentia conflitado. Depois de muitas repetições, havia uma pilha de livros sobre a mesa, tão grande como uma torre.
“A história do Continente: versão aprofundada”. “Um resumo da evolução dos homens-besta aquáticos”, “A revolução dos homens-besta herbívoros”…
Os olhos vermelhos de Lillian passaram por cada volume.
“Tem certeza que leu todos estes?”
Vivi, outra vez sentada sobre a mesa, coçou o pescoço, envergonhada. Ao ver o coelho bebê abaixando a cabeça, Lillian se perguntou se estava sonhando ou aquilo era real.
“Vamos ver.”
Sentando-se, ele escreveu os números de 0 a 9 nos papéis minúsculos que Vivi trouxe. Então, ele começou a recitar.
“A guerra de Errington.”
Os olhos de Vivi cintilaram quando entendeu as intenções dele. Chack, chack. Ela apontou para os números de modo a formar o ano no qual a guerra tinha começado.
“…Nada mau.”
Considerando que podia ter sido sorte, ele fez uma pergunta mais difícil.
“O ano no qual a rebelião do clã dos cervos contra Gragor começou.”
Chack. A pata dianteira sinalizou o número perfeitamente, sem hesitar. Um suor frio escorreu da têmpora de Lilian.
“O ano no qual o doutor Euston criou a teoria da evolução aquática.”
Chack.
“O ano em que escolheram o primeiro presidente do comitê de neutralidade do Continente.”
Chack.
A velocidade das perguntas e das respostas foi aumentando gradualmente. Cerca de uma hora depois, ambos Lillian e Vivi, que não tinham se rendido, estavam sem fôlego.
“Você não aceita a derrota…”
<Digo o mesmo para o senhor, vovô…>
Vivi, que tinha colocado todas as suas forças naquilo, estava exausta.
“Bem, você foi bem… Todas as respostas estavam corretas. Uma pontuação perfeita.”
Como diretor da Academia, Lillian sentiu uma alegria incomparável. Com o nível dela, poderia ingressar em uma classe avançada, e talvez até se formar antes do tempo previsto. O objetivo dele de investigar a coelha suspeita estava desaparecendo. Se ela tivesse o apoio adequado, iria brilhar. Ela tinha talento o bastante para isso.
“Bem, vamos começar a aula em si, então.”
Lilian, empilhando os livros, estava emocionado pelo prodígio inesperado que tinha encontrado.
***
A minha relação com o vovô ainda precisava ser trabalhada, mas com as aulas, nossa distância diminuiu significativamente. Ele era um educador excelente, incluindo compreender as limitações da condição física de um coelho em um curto espaço de tempo. Ele não expressou diretamente, mas pareceu estar satisfeito com os conhecimentos que eu adquiri lendo. Já que não podia sair, obtive muito conhecimento sobre o passado. Mas descobrir sobre o presente e o futuro com as aulas dele seria interessante.
“Você não tem muito conhecimento sobre predadores. Qual é a razão?”
Eu não podia responder. Não conseguiria dizer que evitava os livros sobre eles porque tinha medo das figuras e descrições de bestas que continham.
Hoje, Lillian não estava, então a aula tinha sido substituída por auto-estudo. Depois de terminar o que tinha pra ler, caminhei pelo corredor com minha mochila nas costas e olhei para trás. Apenas as duas panteras negras me seguiam, pois Meimi parecia estar ocupada, o que era raro.
“Senhorita Coelha, onde está indo?”
<Para o quarto de Ahin!>
Indiquei com a cabeça em resposta ao cavaleiro que me cumprimentou.
<Mas, está acontecendo algum evento hoje?>
O número de criados estava maior, e o clima na mansão estava diferente do normal. Ahin não tinha dito nada em especial essa manhã. No entanto, eu senti que tinha algo. Não entendi o que era até chegar na porta do quarto. Os empregados da mansão Grace estavam com roupas diferentes das de sempre, vestidos inteiramente de preto. Os cavaleiros e guardas normalmente usavam armaduras prateadas com o escudo da família. No entanto, os cavaleiros que guardavam a porta do quarto de Ahin também estavam completamente vestidos de preto hoje.
<O que é isso?>
Parando para pensar, Ahin e Evelyn também estavam de preto hoje de manhã… Olhando sem expressão para a porta fechada do quarto, franzi a testa. Na noite passada, Ahin, enrolado em seu casulo, demorou muito tempo para dormir. Fiquei acompanhando para ver se era um ataque de feromônios, mas não era. Ele eventualmente dormiu e quando me aproximei e toquei em sua testa, para medir a temperatura, ele deu um sorriso inocente enquanto dormia, o que esmagou meu coração de coelha.
<Ash, Barra.>
As duas panteras negras prestaram atenção quando estirei a pata dianteira.
<Me levem pra dentro.>
Precisava passar pelos cavaleiros que guardavam a porta do quarto. Ash e Barra começaram a morder a barra de suas calças e puxá-los para longe.
“Não podemos deixar o nosso posto!”
Mas eles resistiram, teimosos. Esses dois eram umas das poucas pessoas que tinham me visto na forma humana. Pausei com um olhar maligno. Então, me joguei no chão dramaticamente.
“Senhorita Coelha… o Lorde Ahin nos advertiu para não cair nos seus truques. O chão está frio, então, por favor, se levante.”
Eu estava no meio de uma guerra psicológica, então precisava ter paciência. Tentei respirar o mais discretamente o possível, para minha barriga não subir e descer muito. No entanto, uma variável inesperada aconteceu. Ash, que acreditou que eu tinha morrido, entrou em pânico e começou a me lamber com tanta força que todo meu corpo se moveu.
<Ash…>
Ela estava chorando. Por dentro, me desculpei por surpreendê-la e continuei firme, me fingindo de morta.
“Senhorita Coelha…?”
A voz do cavaleiro falhou, me chamando, ansioso.
“Senhorita Coelha!!”
Logo, ouvi dois pares de pés de aproximando, apressados. Nesse momento, me girei, entrando no espaço entre os dois e fazendo um movimento rápido..
“Não pode fazer isso…!”
<Vamos entrar!>
Os dois cavaleiros cambalearam e caíram no meio do corredor. Um deles, vendo que tinha tropeçado em algo, agarrou a calça que estava no chão em sua frente e a sacudiu.
“De onde saiu essa calça!?”
“Ah, essa…”
O outro cavaleiro entendeu imediatamente ao olhar a mão do colega. Parecia que ele próprio não estava completamente vestido.
Tradução: Nopa.
Revisão: Holic.