A Relação simbiótica entre uma lebre e uma pantera negra - Capítulo 137
Suspirei fundo quando minha colega de classe, Hendry, me arrastou até a cidade acadêmica de Belhelm para visitar a boutique de um designer famoso.
Eu sabia que ela estava ansiosa pelo baile que se aproximava, mas o vestido vermelho que Hendry estava experimentando era muito extravagante e até mesmo doía nos olhos.
Me lembrando do vestido que a Senhora Valence tinha me enviado, o qual estava guardado no meu dormitório, elogiei em silêncio o seu excelente gosto. Ele não era muito enfeitado, sendo mais discreto. Ela deve ter adivinhado que eu não tinha intenções de me destacar muito na Academia.
‘Não tem nada de bom em atrair o olhar de predadores, afinal.’
No entanto, um certo vestido vermelho iria chamar os olhos de todos eles. Enquanto pensava isso, Hendry gritou de dentro do provador.
“Vivi, não vá a lugar nenhum! Estou colocando o próximo vestido…”
“Mais um?!”
“Como assim? É apenas o segundo que experimento…”
“Do que está falando?! É o vigésimo!”
“Ai, meu Deus. Como a aluna número um da Academia não sabe nem mesmo contar?”
Essa porca. Fingindo ser inocente. Me controlando, afundei no sofá da boutique. Encarando as decorações amarelas no teto, a imagem do rosto de Ahin começou a se formar em minha mente. Acho que começo a ver coisas quando minha mente relaxa…
Ao mesmo tempo, quando as memórias de ser levada à exaustão naquele closet voltaram, me tornei uma lebre sem misericórdia. Aquela besta selvagem, que desconhece o conceito de “moderação”… Aquela aparência pura era pura enganação.
Eu estava quase desmaiando quando saí do closet e consegui ir para o quarto, mas ele me seguiu com uma expressão provocativa. O problema é que os maus hábitos de Ahin continuavam existindo, sendo de dia ou de noite…
‘Foi minha culpa por ter caído em tentação.’
Comecei a me lembrar do que ele tinha me falado antes de começar.
“Por isso, tenho medo todos os dias.”
Ahin se sentia nervoso por minha causa, o que me fazia ficar feliz. Era como uma compensação por todos os dias do passado, quando ele me segurava em cima de sua boca e fazia “ahhh” ou ameaçava me entregar para o cozinheiro grelhar.
De repente, notei que estava agitando as pernas e sorrindo como uma lunática, o que fez com que todos na boutique começassem a me encarar. Tossi para disfarçar.
Na verdade, comecei a olhar para o teto porque estava ansiosa. A verdade é que eu estava preocupada com o que Ahin poderia vir a fazer. Mesmo quando eu era só uma coelha bebê, ele tinha colocado Quinn para me monitorar.
Quando eu disse a ele que não queria que ninguém na Academia soubesse sobre a nossa relação, Ahin não reclamou. Na verdade, ele sugeriu vir junto comigo em sua aparência verdadeira, como se eu pudesse assistir às aulas com uma pantera negra ao meu lado sem problemas.
‘Como ele pode ter pensado que isso daria certo?’
Não tem nenhuma mulher-besta lebre no mundo que tenha uma pantera negra de estimação. Toda vez que eu partia para a Academia já tinha que lutar contra Ash, que queria vir junto a qualquer custo. Mas, no caso dele, que tinha a inteligência de um ser humano, deveria ser capaz de compreender isso… Minha cabeça latejava.
‘Deveria desistir e lhe dizer que faça o que quiser?’
Estava prestes a parar de me importar e aceitar que ele viesse para a Academia, mas então neguei com a cabeça.
“Não, não.”
Se eu queria me formar mais cedo, mantendo minha posição de número um, precisava ser o mais discreta possível, sem que me descobrissem. Por outro lado, o vovô estava com a ideia fixa que eu deveria me tornar a presidente do conselho estudantil e desistir de me formar mais cedo. Ainda assim, eu queria voltar ao lugar onde tantas pessoas me esperavam o mais rápido possível.
Se eu aparecesse do lado de Ahin, que é famoso por diversos motivos… Se a nossa relação fosse revelada… Alan, que já espalhava falsos rumores que eu queria ameaçar a todos os predadores, podia criar ainda mais fofocas, considerando que o diretor da Academia é avô de Ahin.
Por isso eu fiz de tudo para esconder a existência do baile dele. Durante o café-da-manhã, a Senhora Valence e o vovô tinham o distraído para que nada sobre o baile fosse mencionado.
‘Mas também não quero que Ahin se sinta nervoso por muito tempo.’
Por isso, depois do baile, quando começassem minhas férias, decidi retornar à mansão Grace e pedi-lo em casamento. Enquanto traçava esses planos ambiciosos, olhei pela vitrine, vendo o sol que brilhava do lado de fora.
E então enxerguei uma coelha caminhando na rua. Ela parou e olhou ao redor, parecendo alegre por estar desfrutando do cenário ao seu redor. Não tinha nenhum sentido que houvesse um coelho sozinho no meio da rua da cidade acadêmica de Belhelm.
‘O que será isso?’
Fiquei olhando para a coelha branca, me grudando no vidro da vitrine. Ela era muito parecida com o coelho que eu tinha salvado na floresta fronteiriça, no território das lebres. Então, o animalzinho sentou no meio da rua de pedras ensolarada, como se quisesse aquecer o seu bumbum.
‘Se ela for atropelada por uma carruagem, será um grande problema…!’
No momento em que senti essa ansiedade, um homem apareceu e carregou a coelha, de um modo tão natural que pensei que devia ser o seu dono. “Você não pode sair por aí sozinha!” ele disse, repreendendo a coelha, a qual chutou a boca dele com a pata traseira.
Me endireitando, ainda grudada contra o vidro, apertei os olhos. Era Rune. Nunca pensei em encontrá-lo em um lugar como esse.
Ele devia estar a caminho de algum lugar e ter feito uma parada em Belhelm, já que ali era uma interseção entre vários territórios. Fazia dois anos que eu não o via, e ele parecia estranhamente diferente.
Não apenas estava mais forte, mas seus olhos dourados estavam mais maduros, e seus traços de garoto tinham desaparecido por completo, assim como aconteceu com Ahin. A coisa estranha era que ele estava apanhando de uma coelha. Depois de segurá-la com uma mão, ele girou a cabeça enquanto passava o polegar em seu lábio ferido.
“…”
Os olhos dourados se arregalaram quando ele me viu através da vitrine, mas logo voltaram ao seu tamanho original. Parada ali, dei um sorriso amarelo. Deveria sair e dizer oi? Rune falou casualmente.
“Como você tem estado?”
Assenti levemente quando consegui ler os lábios dele.
“Nesse tempo que passou, você virou uma lebre maior.”
Isso é algo que apenas um predador diria.
“Eu me humanizei definitivamente!”
Falei, furiosa, socando o vidro. Então, Rune apontou para minha roupa.
“Você está frequentando a Academia?”
Olhando para baixo por reflexo, percebi que estava usando o uniforme preto. Quando voltei a olhar para frente para responder, vi que a coelha, nos braços de Rune, me encarava com uma expressão que combinaria mais com um gangster.
<…Tá olhando o quê?!>
Era tão diferente da expressão feliz que ela tinha quando estava se aquecendo na rua. Agora, ela mexia os bigodes como se tivesse encontrado sua pior inimiga.
Como se estivesse participando de um concurso de encaradas, só despertei depois que Rune deu uma batidinha no vidro. Sua boca tinha um leve sorriso, mas seus olhos não o refletiam. Ele abriu e fechou a boca como se quisesse dizer algo, mas então, desistindo, ele tocou a bochecha da coelha com seu longo dedo.
“Essa é minha namorada.”
Era uma mulher-besta? Não, não importa o quanto eu analisasse, aquilo era um coelho normal.
“Gah!”
Sem piedade, a coelha mordeu o dedo que tocava sua bochecha. Fiquei encarando os dois, até que uma voz ressoou por trás de mim, me surpreendendo.
“Rune Manionz…?”
Era Hendry, usando mais um vestido de baile, e parecendo chocada.
“Ele é igualzinho ao retrato no jornal…! Vivi… esse é o seu namorado maligno?”
“Hendry, não! Não é nada disso…”
“Eu vi vocês dois flertando pelo vidro, não tente me enganar! Não importa o quão importante ele seja, não pode deixar ele te tratar com lixo, Vivi!”
Fiquei pálida enquanto agitava as mãos. Mas ela me ignorou, segurando a barra do vestido.
“Tenho que falar algo para esse cara. Mesmo que ele seja um nobre importante. Então não me impeça, Vivi!”
“Hendry, se acalme!! Rune!!”
Olhei para Rune, desesperada, pedindo com os olhos que ele desse uma explicação. Mas ele apenas me olhou de volta, com um olhar melancólico. Quem visse entenderia que ele estava admitindo todas as acusações.
“Esse leão está tentando te usar! Tenho certeza disso! Vivi, vai defender alguém como ele agora?”
Hendry me puxou com uma mão e agarrou uma estátua decorativa com a outra, como se fosse usá-la como arma.
“Você arrumou uma boa amiga. Até mais.”
O leão, vendo tudo de longe, levantou a pata da coelha para dar um pequeno adeus.
“Ele está usando esse coelho para rir da minha cara!”
“Hendry…!”
Eventualmente, os funcionários da boutique chegaram e conseguiram acalmá-la, e, quando olhei, Rune já tinha desaparecido.
***
Tak. Tak.
Os passos de Rune, que deixou a boutique quase como se estivesse correndo, gradualmente desaceleraram.
Parando no meio da praça da cidade acadêmica, ele voltou o olhar para a direção da boutique. Ele tinha acabado de ver como Vivi tinha mudado nesses dois anos. Ela parecia muito mais bonita e madura do que ele esperava, e parecia ainda mais fora de seu alcance.
Seu rosto tinha perdido a forma redonda infantil, e o seu nariz estava mais afilado. Ainda assim, os longos cabelos brancos e os adoráveis olhos lilás claro que tinham o capturado desde a primeira vez estavam iguais.
Rune ergueu a coelha que segurava acima de sua cabeça e falou.
“Obrigado.”
Graças a ela, ele tinha podido ver o rosto de Vivi. Os chutes e mordidas que ele tinha levado não eram importantes. A coelha observou a expressão misteriosa, que ela nunca antes tinha visto no preguiçoso Rune.
<Qual é a diferença entre eu e essa mulher-besta lebre?>
Quanto mais ela pensava, mais se sentia enjoada. Se seus braços e pernas não fossem curtas bolas de algodão, ela poderia abraçar esse rosto sorridente que dava vontade de chorar?
“O que foi? Se sente mal?”
E Rune nem mesmo entendia o que ela pensava. Chateada, a coelha deu mais um chute na bochecha desse homem irritante.
Em sua pequena cabeça, ela não conseguia compreender o que era um amor não-correspondido.
***
Na mansão Grace, de pé na frente da mesa de trabalho, Evelyn deu uma espiada em Ahin. Ele estava usando uma roupa de gala azul-marinho, sentado com os olhos fechados e o cenho franzido.
‘Tem algum banquete na agenda do Lorde hoje?’
Evelyn lançou uma olhadela para os três ajudantes, de pé junto à parede do escritório. Entendendo o olhar em segundos, os três fizeram um X com os braços.
‘Não tem nenhuma festa na agenda?’
Evelyn, pensando no assunto, percebeu que naquela noite seria o baile de fim de semestre da Academia Belhelm. Então, ele quebrou o silêncio.
“Meu Lorde, aqui está o relatório da investigação que ordenou.”
Um documento fino foi apresentado a Ahin.
“Aí está tudo que descobri sobre Alan Fredian. É o segundo filho da família Fredian, pensa que as atitudes da Senhorita Coelha são suspeitas e tem propensão a praticar bullying.”
“Mas por que Vivi aceitaria o convite dele?”
“Perdão, mas o relatório não inclui os pensamentos internos da Senhorita Coelha.”
Ahin, lendo as informações detalhadas sobre Alan, coçou o queixo.
“Por que Vivi ter pegado emprestado livros da biblioteca iniciou o bullying?”
“Parece que a Senhorita Coelha levou para o seu dormitório livros sobre como domar predadores e como dominar panteras negras.”
“Bem, entendo porque isso pareceria suspeito.”
“Na minha humilde opinião, ela não tem necessidade desse tipo de leitura.”
Evelyn, gesticulando, expressou sua opinião.
“Por quê?”
“Bem, ela não já domou o futuro líder do clã das panteras negras?”
Chocados com a afirmação ousada, os três ajudantes cobriram a boca com as mãos. Mas Ahin deu um sorriso envergonhado e curvou os olhos em um sorriso.
“Uns dias atrás, ela me ameaçou me agarrando pela gravata. Foi emocionante.”
“Meus parabéns, meu Lorde. Posso perguntar o conteúdo da ameaça?”
“Ela disse que não sabia o que faria caso eu aparecesse na Academia.”
“…Entendo.”
Evelyn, compreendendo a razão de ela ter dito tal coisa, encarou a roupa de gala de Ahin com olhos cheios de reprovação.
“Já que ela chegou ao ponto de ameaçá-lo, não creio que seja uma boa ideia comparecer ao baile, meu Lorde.”
“Não se preocupe. Só pretendo ir lá para lidar discretamente com esse parceiro de baile playboy. Falei com o velho e ele até mesmo me deu um convite.”
“Os jornais mostraram seu rosto inúmeras vezes, meu Lorde. Seria impossível estar ali sem chamar a atenção.”
“Não, é possível sim.”
Ahin respondeu com um sorriso radiante. Ele indicou com o queixo para um dos ajudantes, o qual apressadamente retirou uma caixa de debaixo da mesa.
O ajudante, carregando a caixa, deu um passo na direção de Evelyn, lhe lançando um olhar desesperado.
Tradução: Nopa.
Revisão: Holic.
Xicalina
Meu Deus… Ahin o que está planejandoo?
Lucien
O time antes chamava o ahin de loucoz agora ele q ficou louco kkkk