A Relação simbiótica entre uma lebre e uma pantera negra - Capítulo 138
O ajudante, abrindo a caixa, começou a tirar as coisas de dentro, uma por uma. Um medicamento feito pelo clã dos guaxinins, que mudava a cor dos olhos, e uma peruca loira, que parecia feita de cabelo de verdade.
Por fim, o ajudante tirou uma máscara, deixando a caixa vazia. Máscaras eram um acessório comum em bailes, especialmente as que imitavam animais.
‘Mas, isso…’
A mão do ajudante, segurando a máscara de coelho branco, tremeu. Máscaras de coelho não eram incomuns, mas essa tinha um laço vermelho em uma das orelhas e uma expressão raivosa. Era fácil adivinhar quem tinha sido a modelo para a confecção do acessório.
A peruca e o remédio para mudar a cor dos olhos tinham sido preparados com diligência, mas, a essa altura, a máscara colocava todo o plano na direção do fracasso. Se o Lorde Ahin fosse descoberto usando tal coisa em público, sua reputação estaria arruinada…!
Por isso, o ajudante enviou um sinal desesperado para que Evelyn fizesse alguma coisa. Ele seria capaz de impedir o futuro líder do clã de usar essa máscara. Felizmente, o ajudante notou que Evelyn parecia ter captado o sinal, porque estava encarando a máscara com olhos penetrantes.
Depois de muito tempo calado, Evelyn finalmente falou.
“…Lorde Ahin. Se me permite dar minha humilde opinião, creio que é melhor não usar essa máscara.”
“Por quê?”
“Porque eu a quero para mim.”
“Eu sabia.”
Entre Evelyn, que começou a listar 10 razões pelas quais ele deveria receber a máscara, e Ahin, que estava disposto a protegê-la até a morte, o ajudante silenciosamente a recolocou dentro da caixa.
Foi uma tarde na qual ele cogitou pedir demissão.
***
Lanternas decorativas estavam penduradas ao longo do caminho. Depois de se desvencilhar de um Evelyn reclamão, Ahin tinha conseguido chegar na Academia Belhelm, mas seu plano já estava em perigo.
“Mil perdões, Lorde Ahin. Eu juro que verifiquei o compartimento de bagagem antes de partir da mansão…”
Lile, que tinha descido da carruagem para pegar as bagagens, abaixou a cabeça. Era porque ali dentro estava uma família de panteras negras, encarando os dois.
“Ash, quem te ensinou a usar sua cabeça desse jeito?”
Ahin, usando a máscara de coelho, se agachou, se aproximando das panteras.
Tudo tinha acontecido da seguinte forma. Ash, que tinha suspeitas sobre o que Ahin poderia estar planejando, entrou em segredo no compartimento de bagagens depois que Lile, o cocheiro, tinha acabado de verificá-lo e tinha passado a olhar as rodas.
Naturalmente, Barra entrou junto, e os dois filhotes, que ficaram do lado de fora choramingando, iam acabar atraindo muita atenção, e por isso Ash os mordeu pela pele do pescoço e os colocou para dentro também.
“É minha culpa…”
Lile, soltando lágrimas enormes, abaixou a cabeça outra vez. Ash, vendo isso, se colocou na frente do homem-besta cavalo, para protegê-lo de Ahin.
“…Agora prefere até mesmo ele do que eu?”
Fascinado com a mudança de comportamento da pantera, Ahin estirou a mão para Ash. A mão dele, determinada a puxar um bigode como punição, acabou arrancando o pêlo de Barra, que saltou na frente.
Logo, Lile estava atrás de quatro panteras negras zangadas, pois os filhotes tinham se unido aos pais. Pensando que os bebês, por serem filhos de Ash e Barra, seriam úteis no futuro, Ahin decidiu perdoar generosamente o bando e se levantou.
“Gorila, leve eles de volta para casa… Não, espera.”
Com suas elegantes luvas de cetim, ele acariciou as panteras negras. Um bom uso para eles tinha surgido em sua mente.
“Primeiro eles me ajudarão com uma coisinha. Depois, podemos voltar todos juntos.”
Pensando que o plano de Ahin envolvia ser malvado com Vivi outra vez, Ash bufou, sem esconder sua rebeldia.
Ahin, passando a mão na cabeça dela, sorriu misteriosamente.
***
O baile de encerramento de semestre era um evento ao ar livre organizado pela Academia, e acontecia na época exata em que o clima do início do verão estava agradável, porém não quente demais.
Alan, que estava andando pelo campus a caminho do local da festa, entrou numa área deserta. Seus passos começaram a acelerar, e logo ele estava quase correndo. Apesar de ser de um clã de predadores, ele não conseguia se livrar da sensação de que algo perigoso estava o caçando naquele momento.
Sem parar de correr, ele olhou por cima de seu ombro, mas tudo o que podia ver era mato. A luz dos prédios da Academia à distância trazia uma fraca iluminação para a estrada deserta.
“Ack!!”
Alan, que estava correndo sem olhar para a frente, colidiu com uma árvore e caiu no chão.
“Ugh, droga…”
Ele se sentou e estava começando a espanar a poeira das roupas quando congelou. Aquilo que podia ver saindo de um arbusto era claramente os olhos amarelos de um predador.
Logo, a besta, tendo obtido sucesso em encurralar sua presa, se aproximou com passos arrogantes. Ash tinha sido a primeira a localizar Alan, conforme Ahin havia comandado. Zangado, Alan apontou para Ash.
“Você não é a pantera negra que estava com aquela lebre no outro dia…?”
Imaginando que Vivi tinha decidido eliminá-lo em segredo e enviado sua subordinada para fazer o trabalho, ele saltou, se pondo de pé. Apesar de estar atordoado, não deveria ser difícil para ele enfrentar apenas uma pantera negra, considerando que ele era um homem-besta com feromônios fortes.
Logo, Alan parou de sorrir quando um som ecoou por suas costas. Uma segunda pantera negra, muito maior que a primeira, apareceu por trás dele, e pulou para atacá-lo segundos depois.
“Quê…?”
Alan cambaleou após ter conseguido evitar os dentes de Barra por centímetros. Logo, os dois estavam andando em círculos em torno dele, como se estivessem encurralando sua presa.
“Que diabos são esses animais..?”
Os olhos vermelhos dele tremeram enquanto olhava as panteras o rodeando, com os dentes expostos. Logo, eles se prepararam para saltar outra vez. Alan começou a reunir seus feromônios nas pontas dos dedos, com um olhar confiante.
“Seus…!”
Nesse momento, uma voz ressoou.
“Ei, Aulong.”
Só uma pessoa no mundo o chamava daquele jeito… Alan, girando o pescoço, ficou sem palavras.
‘O que diabos é essa máscara ridícula?’
Só de olhar para o acessório, ele ficou irritado. A máscara com um laço vermelho não era bonita e não combinava nem um pouco com o físico largo do homem, que tinha cabelos loiros. Atônito, Alan abriu a boca depois de hesitar.
“Lorde… Ahin… Grace?”
“Para onde você vai?”
Ahin, levantando a máscara, perguntou, com uma expressão tranquila. Alan, o encarando, se sentiu constrangido.
‘Essa cor de olhos e de cabelo….?’
Apesar do rosto ser de Ahin Grace, os olhos lilás claro e o cabelo loiro o pegaram de surpresa. Depois de ficar boquiaberto por vários segundos, ele se recuperou e respondeu.
“V-Vou para o baile da Academia…”
“Hm. E você tem uma parceira?”
“Quê? Ah, s-sim, tenho…”
Alan assentiu, sentindo que a atmosfera em torno de Ahin se escurecia. Era mera impressão ou ele tinha murmurado um palavrão? Enquanto Alan pensava, agoniado, Ahin falou para Ash.
“Ash, sabe de uma coisa? Vivi teve várias dificuldades aqui na Academia, tudo por culpa desse cara.”
As orelhas de Ash, estremecendo ao ouvir o nome de Vivi, ficaram eretas. Ao escutar essas palavras, Alan se sentiu nervoso. Que tipo de relação a lebre suspeita tinha com o Lord Ahin, para que o nome dela saísse de sua boca?
Se lembrando dos rumores sobre Ahin Grace e uma misteriosa mulher-besta lebre há dois anos atrás, o rosto de Alan empalideceu.
“Ash, se Vivi começar a andar com esse cara, ela não vai mais voltar para a mansão Grace e você não poderá mais vê-la.”
Ao ouvir esse prognóstico terrível, o nariz de Ash começou a tremer. Ao mesmo tempo, Barra e os filhotes arregalaram os olhos, encarando Alan com sede de sangue. Logo, a família inteira de panteras negras estava unida, pronta para atacar.
“Ash, esse Aulong é… vamos dizer que ele é um inimigo. Não acha melhor se livrar dele antes que Vivi seja roubada para sempre?”
Antes que Ahin acabasse a frase, a família inteira de panteras havia saltado sobre Alan e estava destroçando seu traje de gala.
“Aargh!!”
Alan, que ficou cheio de mordidas e com as roupas em farrapos, permaneceu deitado no chão enquanto os animais atacavam. Sabendo que eles estavam seguindo ordens de Ahin Grace, ele não ousou lutar contra eles.
“O que estão fazendo….! Sabem o quão caro foi esse paletó… Ah! Não!!”
Alan, que estava praticamente pelado a essa altura, apenas ficou gritando. Sentando-se ao lado dele, Ahin falou com firmeza.
“Eu sou o único parceiro de Vivi.”
“Quê…? Do que está falando?”
“Estou dizendo que eu sou o único que pode apanhar dela no traseiro. Sua cabeça não serve para nada?”
Parceiro… traseiro? Alan, sem entender nada do que Ahin dizia, logo compreendeu. Era absurdo admitir, mas parece que os rumores de que Ahin Grace havia se apaixonado por uma mulher-besta lebre eram verdade. E, julgando por suas palavras e ações, ele tinha confundido Alan com o parceiro de baile dessa lebre.
Ainda assim, como ele podia tratar o segundo filho de um nobre dessa maneira? Alan percebeu que as várias histórias sobre Ahin ter um parafuso a menos não eram exageros.
“A lebre… Eu não sei quem é o parceiro dela, mas não sou eu.”
“Mentira.”
“É sério!! Minha parceira é do clã das panteras negras, a filha da família Roosevelt!”
Ahin encarou Alan, que parecia desesperado, e pausou. Ele bem que tinha achado estranho que Vivi tivesse aceitado ir ao baile com alguém com quem tinha um mau relacionamento.
Parando para pensar, Vivi apenas disse que pensava que Alan era bonito, mas nunca tinha dito diretamente que ele era seu parceiro para o baile.
O cérebro de Ahin, que tinha tido o funcionamento prejudicado pelos ciúmes, voltou gradualmente ao normal.
“…Então, quem é o parceiro de Vivi?”
“Como eu poderia saber?”
Alan negou com a cabeça. Recolocando a máscara, Ahin girou nos calcanhares e começou a se dirigir na direção das luzes do baile. Quanto mais ele corria, mais brilhante ficava a iluminação, e logo ele enxergou o salão de baile ao ar livre.
Ahin, recuperando o fôlego, procurou Vivi com os olhos, por debaixo da máscara. A escala do baile era espetacular, graças ao apoio financeiro do diretor, Lillian. Apesar de estar escondido nos fundos do salão, Ahin logo percebeu que Vivi não estava ali, uma vez que não conseguiu detectá-la nem mesmo pelo cheiro.
Ocultando seu nervosismo, ele deslizou para o lado ao perceber que muitos olhos estavam grudados nele por alguma razão – para ser exato, as pessoas estavam olhando para a sua máscara.
Aceitando uma taça de vinho de um garçom, ele se aproximou de um grupo de garotas discretamente e escutou sua conversa.
“Vocês ouviram? O parceiro da Senhorita Roosevelt não apareceu! A deixou plantada no salão.”
Apurando os ouvidos, Ahin deixou as vozes das estudantes entrarem.
“Ah, e sobre Hendry! Soube que ela armou um escândalo numa boutique no outro dia. O que aconteceu?”
“Não sei direito, mas ouvi que teve a ver com aquela nova aluna que se tornou a número um da Academia. Sabe, a mulher-besta lebre?”
Ahin, reagindo às palavras “mulher-besta lebre”, se focou em ouvir essa conversa.
“Bem, me disseram que essa lebre tinha algum relacionamento com Rune Manionz.”
“O irmão da futura líder do clã dos leões?”
“Sim. Os rumores dizem que ela é… você sabe. A coelha ninfa daqueles rumores. Hehehe.”
“Será que ele vai ser o parceiro dela no baile de hoje?”
As garotas continuaram fofocando e dando risadinhas, enquanto olhavam ao redor, ansiosas.
Rune Manionz… Ahin, apertando a taça de vinho com tanta força que quase a quebrou, lambeu os lábios. Aquela coelha casanova, que tinha esfregado a testa contra ele tantas vezes…
Pensando no que faria com essa lebre pervertida, ele percebeu que as conversas das garotas tinham parado e elas estavam olhando todas para o mesmo lugar.
Ahin, naturalmente voltando os olhos para a mesma direção, encontrou Vivi, e sua cabeça ficou em branco.
Tradução: Nopa.
Revisão: Holic.
Lucien
Coitada da vivi casa nova kkkkkj