A Relação simbiótica entre uma lebre e uma pantera negra - Capítulo 132
Escutar o nome “Vivi” sair da boca de Evelyn me pareceu estranho. Nesse momento, percebi que era a primeira vez que ele me chamava pelo nome. Com o coração apertado, segurei seu dedo indicador com a pata dianteira.
<Vai parar de usar o apelido estranho de ‘Senhorita Coelha’?>
“Mas… ainda assim… A Senhorita é cruel. Podia ao menos ter escrito uma carta para este Evelyn durante este um ano e meio!”
Evelyn, mudando radicalmente de atitude, me deu um golpezinho na pata com o dedo indicador.
“Passei todo esse tempo aqui, angustiado na mansão Grace, sem saber notícias suas!”
<Isso…!>
Eu não conseguia escrever para ninguém daqui, porque, quando eu pensava nos caninos, minhas mãos tremiam demais para escrever. Ele não compreendia.
Com raiva, fiquei de pé nas patas traseiras. No entanto, Evelyn segurou minha pata traseira com o dedo, e perdi o equilíbrio, caindo sentada.
“Sei que a Senhorita me odeia. Range os dentes toda vez que me vê.”
<Argh! Ele me dá nos nervos!>
“Mas quero dizer que escutei muita coisa hoje na Academia. Inclusive quando você falava sobre amor com aquela mulher-besta do clã dos porcos.”
Eu estava sussurrando quando contei aquilo para Hendry, e ele estava do lado de fora! A audição dessas panteras negras me dava calafrios.
Com os olhos arregalados, encarei minhas patas de algodão. Talvez não tivesse sido uma coincidência que aqueles predadores tivessem caído desmaiados hoje mais cedo. Enquanto hesitava, olhei para o rosto de Evelyn e uma memória do dia em que o conheci surgiu.
“Para o Senhor Ahin trazer um coelho para o quarto dele, deve haver uma razão especial. Acho que você é um lanche emergencial.”
Se não fosse por esse lunático, minha posição não teria decaído de coelho resgatado para lanche de emergência.
<Se essa habilidade secreta realmente existir, que se ative… Agora!!>
Com raiva, fiz um punho na direção de Evelyn. Ele o olhou sem expressão por alguns segundos, e logo em seguida caiu no chão, agarrando o estômago.
<Evelyn!!>
Corri até ele e ergui suas pálpebras, mas os olhos não se moveram. Não esperava que fosse realmente funcionar…
Tremendo, abri e fechei o punho. Acho que realmente tenho poderes ocultos.
***
Felizmente, Evelyn se recuperou e conseguiu cambalear de volta para o seu quarto. Depois de praticar o meu punho algumas vezes, voltei à forma humana, alongando os braços. Como tinha ficado na forma de lebre para conseguir entrar na mansão dentro da mochila, em segredo, estava com os músculos doloridos. Era por isso que os homens-besta não gostavam de voltar às suas formas verdadeiras.
“Permita-me ajudá-la, Senhorita.”
Atrás de mim estava a criada exclusiva da Senhora Valence. Ela me ajudou a trocar de roupa para ir para a cama com movimentos de mestra, e então me levou até aquele quarto tão familiar.
De pé ali, segurei a barra de minha camisola cor-de-rosa. Do outro lado, estava a Senhora Valence, lendo um livro em sua cama. A lamparina acesa ao seu lado tingia seu rosto de escarlate.
‘Eu vou dormir na mesma cama que ela…?’
Tinha pensado que me arrumariam uma cama separada! Escondendo minhas mãos trêmulas, olhei para a cama. Me lembrei de meus hábitos de sono horríveis, e de como frequentemente acordava no chão do dormitório por ter rolado demais.
‘E se eu chutar o rosto da Senhora Valence enquanto durmo, como fiz com Ahin… O que aconteceria…!?’
Imaginei uma lebre acorrentada sendo arrastada para a forca, sentindo o sangue se drenar do rosto.
“O que foi? Não disse que iria dormir comigo essa noite?”
‘Mas não pensei que iríamos compartilhar a cama…’
A expressão da Senhora Valence era muito alegre. Incapaz de revelar para ela o que estava pensando, agarrei a barra da camisola. Quanto mais tempo eu passava ali, mais meus ombros afundavam.
“Não consegui preparar uma camisola com estampa de cenoura, porque não deu tempo…”
“Não é isso!”
“Ou…. Você não quer dormir ao meu lado?”
Os olhos dela ficaram tristes. O lindo rosto, que se parecia com o de Ahin, se entristeceu. Então, engoli minhas lágrimas e me deitei cuidadosamente do outro lado da cama.
Nunca pensei que chegaria o dia no qual uma coelha iria dormir na cama da chefe do clã das panteras negras. Coloquei as mãos sobre o estômago.
“Faz tempo que não compartilho a cama com alguém, desde que Ahin era bem jovem.”
A Senhora Valence, abaixando o livro, olhou para mim. Virei para olhar para ela também.
“Tomou alguma decisão sobre a reunião do conselho de anciões?”
“…Ainda não.”
“Se for algo difícil de encarar, não precisa provar habilidade nenhuma. Eu os persuadirei para que vão embora.”
A Senhora Valence sorriu e colocou as mãos sobre as minhas. Suas mãos eram tão ásperas quanto as de Ahin, calejadas pela espada. Enquanto eu as olhava, ela acariciou as costas de minha mão com seu polegar.
“O peso dessa posição pode te assustar. No momento em que você se tornar a esposa do líder do clã, sua vida nunca mais será igual.”
A voz suave como a noite tocou meu ouvido.
“Você vai deixar de se surpreender com mortes, e talvez até perca suas emoções com o tempo. Não é uma decisão fácil, por isso me conforta que você parece compreender esse fato.”
“…”
“Foi por isso que eu o rejeitei no começo. Não queria que Edith tomasse essa posição. Ele era tão gentil que, mesmo quando brigávamos feio, no dia seguinte aparecia com um buquê de flores para mim.”
“Como um pedido de desculpas?”
“Não. Eu também pensei nisso, mas ele dizia que apenas as viu e pensou que se pareciam comigo por serem belas.”
Aparentemente ele era orgulhoso demais para pedir desculpas diretamente com facilidade. Descobri que Ahin tinha puxado isso do pai.
Me lembrei do retrato de Lorde Edith, que o vovô tinha me mostrado. Ele era tão bonito que os olhos do espectador pareciam ser golpeados apenas ao enxergar a pintura.
“A conversa está complicada, bebê, mas sei que você nunca será alguém insensível ao sofrimento dos outros. Suas mãos salvam vidas.”
“…Isso é um exagero…”
“Bem, talvez a combinação de feromônios de dominação e feromônios de cura tragam uma nova fase para o território das panteras negras.”
A Senhora Valence, balançando nossas mãos entrelaçadas, fez um “olhar de líder de clã” por um momento. Então, voltou a sua expressão gentil e continuou.
“Não há pressa, então pode pensar com calma. Se não fosse por você, em primeiro lugar, esse tempo que temos hoje não existiria.”
Porque Ahin não teria sobrevivido. A Senhora Valence casualmente colocou essa hipótese assustadora.
“Bebê… eu te mandei para longe daqui. Você me odiou por isso?”
A voz dela, que ressoou após um momento de silêncio, parecia hesitante.
‘Isso nunca aconteceria…!’
Engoli em seco e olhei diretamente para os olhos vermelhos. Foi só por causa do suporte incondicional da Senhora Valence que eu pude conhecer o mundo durante esse um ano e meio.
Me lembrando desses dias, me movi com cuidado e entrei nos braços dela. Felizmente, a Senhora Valence não me afastou, me abraçando.
É assim que se sente o abraço de uma mãe? Era um calor que eu nunca tinha sentido antes. Como se tivesse percebido isso, a Senhora Valence alisou minhas costas por um longo tempo.
“Bebê.”
Depois de um longo silêncio, sua voz solene ressoou.
“Você não tem um músculo nesse corpo. Todos os herbívoros são moles assim?”
“Quê…?”
“Devo te ensinar a usar a espada?”
A mera imagem de uma lâmina que fazia tremer, e agora isso? Estremeci, incapaz de apresentar objeções. A Senhora Valence, rindo baixinho, apagou a lamparina do seu lado da cama.
Dentro dos braços dela, não consegui dormir por um tempo, devido a um pensamento fixo.
‘Espada… Casamento… Conselho de anciões… Feromônios de cura… Espada…’
Foi uma noite cheia de preocupações.
***
Na sala de reuniões da mansão Grace.
A luz do sol entrava pela janela, brilhando sobre o presidente do conselho de anciões. Ahin, sentado na cabeceira da mesa, observava a situação inesperada.
Lillian, que tinha saído da Academia durante a madrugada, estava presente à mesa. A essa altura, a chance de que uma luta corporal da terceira idade começasse era alta.
“Nosso conselho de anciões não aceitará um casamento com uma mulher-besta do clã das lebres. Se vocês ficarem em silêncio, tentando esconder a existência dela, não teremos opção a não ser expor o caso para todos os nobres do território.”
A declaração do presidente iniciou a discussão. Os comentários duros dos outros membros seguiram. Os punhos de Lillian tremeram à medida que as críticas a Vivi aumentavam. Ele pacientemente alisava a barba.
“Não há fundamento…”
“Herbívoros inferiores…”
“Feromônios inúteis…”
Ahin observou veias saltarem na testa de Lillian. Então, no momento em que elas pareciam prestes a estourar…
“O que diabos vocês estão falando da minha nora?!”
Ahin pensou que a reunião ia ser um sucesso.
“Estão falando que ela é inútil? Como ousam?! Por acaso estão loucos??”
Bam!
Lillian, com o rosto vermelho, golpeou a mesa da sala de reuniões e se levantou.
“Lorde Lillian, se acalme. Nos explique sobre a origem dessa mulher…”
“Vocês não merecem saber!!”
“Mas onde ela nasceu? Os seus feromônios…”
“Ugh! Vocês não são dignos de escutar!”
A bengala de madeira de Lillian se rompeu em duas com um som agudo.
“Quem quebrou minha preciosa bengala??”
Os membros do conselho de anciões pensaram ‘foi você mesmo’ em uníssono, parecendo enjoados. Tentando lidar com Lillian, que tinha pavio curto, eles começaram a fazer mais perguntas, da maneira mais cavalheiresca possível. Eventualmente, uma briga se iniciou entre Lillian e os membros do conselho de anciões.
Ahin, com o rosto apoiado no queixo, ficou observando a reunião, pensando que tudo estava correndo bem. A essa altura, ele talvez nem precisasse sacar a espada, que tinha afiado especialmente para isso.
Ele tinha permitido a presença de Lillian não porque o respeitava como avô, mas porque, mesmo estando sozinho contra tantos homens, ele ainda conseguia ganhar. O olhar satisfeito de Ahin se focou na bengala de Lillian, partida pela metade.
Então, os olhos vermelhos se estreitaram. Ahin, desviando o olhar de Lillian, que gritava, se virou. Colocando de lado sua satisfação, haviam duas coisas estranhas.
A primeira era Valence, sentada na cadeira do líder. Uma de suas bochechas estava vermelha, como se tivesse sido golpeada, mas ele não podia perguntar sobre isso nessa situação.
A segunda coisa era Evelyn, que estava parado ao seu lado e estranhamente quieto. Seu olhar estava fixo na porta da sala, que estava firmemente fechada. Ahin, olhando para a porta também, apontou com o queixo e falou.
“Está esperando por Vivi?”
“Quê?”
Evelyn, pensando que ele tinha acertado na mosca, deu de ombros. Seu mestre era louco, mas muito esperto.
“Eu falei que ninguém deveria deixar Vivi escutar sobre o conselho de anciões. Não pensei que tinha um traidor bem do meu lado.”
“Não é verdade, meu Lorde. Este Evelyn pertence ao Lorde, de corpo e alma.”
“Não adianta puxar meu saco. Se divertiu ontem na Academia?”
Evelyn se perguntou se os feromônios de Ahin lhe permitiam ler mentes.
“Eu não estou lendo sua mente.”
“Ah, pensei que…! Como sabia?”
“Já achei suspeito que Ash tivesse saído junto com você, mas, ainda por cima, meu avô veio para a mansão esta manhã. Era óbvio.”
Ahin sorriu, falando baixo.
“Vivi não poderá entrar, de qualquer maneira.”
“Posso perguntar o porquê, meu Lorde?”
“Aumentei a segurança em toda mansão. Falei que qualquer coelho que aparecesse deveria ser capturado imediatamente.”
Evelyn, disfarçando sua expressão facial, escondeu as mãos suadas atrás das costas. Ahin parecia ter adivinhado que ela havia se transformado em lebre para entrar na mansão. Pensando que era uma questão de tempo até que tudo fosse revelado, ele juntou as mãos e falou.
“Eu o traí por seu próprio bem, Lorde Ahin. No passado, o senhor mesmo disse que ter um traidor do seu lado era emocionante e não era nada mau.”
“Mas não quando diz respeito a Vivi.”
A conversa entre Ahin e Evelyn, que seguiram se provocando, parou rapidamente. Foi porque Vivi colocou a cabeça para dentro da porta da sala de reuniões, que agora estava entreaberta.
Com uma expressão determinada, Vivi olhou ao redor da sala. O cavaleiro encarregado estava batendo na porta para anunciar a entrada dela, mas, no meio dos gritos, ninguém pôde escutar e ela começou a entrar.
“Que tipo de família ignora a autoridade do conselho de anciões?!”
“Peça perdão por ter ofendido a minha nora com suas palavras ofensivas de baixo calão!!”
“Quando foi que eu usei tais palavras?!”
Os olhos lilás claro tremeram enquanto ela assistia a discussão. Então, a cabeça dela deslizou para fora e a porta se fechou outra vez.
Teria sido uma ilusão? Ahin, que estava observando tudo como se estivesse anestesiado, se levantou da cadeira em um salto.
Tradução: Nopa.
Revisão: Holic.
Geovane
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