A Relação simbiótica entre uma lebre e uma pantera negra - Capítulo 133
A sala de reuniões ficou tão silenciosa que parecia que todos tinham recebido um balde de água fria na cabeça. Ahin, que tinha se levantado, olhou para Valence. Lillian e os anciãos, que tinham parado de discutir, estavam olhando para a porta com os olhos vermelhos arregalados. Então, eles voltaram a abrir suas bocas, como se fossem começar uma nova rodada.
“Aquilo…”
Nesse momento, a porta da sala de reuniões abriu de supetão, silenciando a todos outra vez. A única coisa que se podia ver, por causa da contra-luz, era a silhueta de uma pequena mulher.
Vivi, que tinha aberto a porta com toda a força, entrou e começou a caminhar até o centro da sala, se concentrando em suas pernas trêmulas. Logo, os olhos de todos estavam nela, que se posicionou no pódio semi-circular, próprio para quem estava com a palavra.
“…É a mulher-besta lebre…”
Os olhos lilás claro não eram a única evidência que os levou a essa conclusão. Era difícil ver um predador com longos cabelos brancos e formas arredondadas.
E além disso, os tornozelos que podiam ser vistos por baixo da barra do vestido, assim como os braços expostos, estavam temendo. Era uma reação natural para uma lebre que estava cercada de predadores por todos os lados.
Vivi escaneou as dúzias de olhos que a encaravam. Os anciões, tentando manter suas dignidades, a olharam com expressões chocadas.
‘Ahin.’
Então, sentindo como se o tempo tivesse parado, Ahin e Vivi fizeram contato visual. O um ano e meio que tinha se passado pareceu se refletir naquele momento. Sentindo uma mistura de emoção e animação, os dois apenas se olharam. Vivi encarou a orelha direita de Ahin.
“Vivi, você sabia? No território dos porcos, quando um casal divide um par de brincos, significa que ficarão juntos para sempre.”
“Hendry, você quer comprar esses brincos? Que besteira… Russell, afaste a carteira dela, agora!”
Ela tinha colocado dentro da carta, a qual Ahin ainda não tinha respondido, um brinco prateado que tinha comprado na loja da Academia, ficando com o outro para si. Ela tinha ficado fascinada pela explicação de Hendry, e ver Ahin usando o pequeno brinco, sem saber o seu significado, fez cócegas em seu coração.
Enquanto isso, Ahin tentava não rir ao se lembrar da mochila que tinha visto Ash carregar na noite anterior. Não podia crer que Vivi tinha entrado escondida na mansão dentro de uma mochila pela segunda vez. Como o corpo dela havia crescido demais para caber em um bolso, tinha mudado seu meio de transporte para as mochilas.
Após conseguir não rir alto, ele formou as palavras com os lábios, para que ela pudesse ler do pódio, à distância.
<O que pretende fazer?>
Entendendo que ele queria que ela lesse seus lábios, Vivi franziu a testa. Ela estava tão nervosa que não conseguiu entender o que foi dito. Então, ela fez uma mímica de uma pessoa sentando e formou palavras com seus lábios também.
<Essa Vivi cuidará de tudo.>
Ahin, entendendo, se sentou devagar e falou para os anciãos.
“Vocês estão se envergonhando na frente de Vivi.”
Lillian, que não queria perder, se sentou na mesma hora, tossindo para disfarçar.
‘Céus…’
Os membros do conselho, que ainda estavam todos de pé, se entreolharam, pasmos. Com um gesto da mulher, Lillian havia se sentado, assim como o louco do futuro líder do clã. Ambos estavam dóceis como cordeiros.
Em particular, a aparência de Lillian era a do cavaleiro mais gentil do continente, como se nunca tivesse puxado sua barba de raiva.
“Lorde Lillian, não tinha nos dito que não havia nenhuma mulher-besta lebre aqui na mansão?”
“Eu disse isso? Bem, bem. Vocês todos, se sentem de uma vez. Não creio que vocês são as pessoas que dizem dominar toda uma geração.”
Lillian respondeu, não economizando no veneno. Os anciões, engolindo um suspiro, se sentaram nas cadeiras, um a um. O clima na sala de reuniões estava começando a se acalmar. Valence, que estava assistindo tudo calada até então, falou.
“…A mulher-besta lebre que vocês queriam ver tanto apareceu. Não permitirei nenhuma pergunta até que eu tenha terminado de falar.”
“Isso é…”
Os anciãos começaram a protestar, mas calaram as bocas de repente. Por trás do sorriso tranquilo de Valence, eles puderam ver furacões e tempestades. Ela estava mais poderosa do que nunca. Além disso, ela tinha conseguido inúmeros feitos que tinham ficado registrados nos livros de história, então não havia nenhuma vantagem em torná-la sua inimiga, pois tinha a forte confiança de todos no território.
Já tendo discutido com Lillian todo esse tempo, eles apenas tossiram para disfarçar.
“Então….”
Valence sorriu quando viu que ninguém mais estava retrucando.
“Quanto à identidade e informações pessoais da lebre, iremos discutir esse tipo de detalhe mais tarde. Espero que deixem de lado preocupações tolas com pedigree, pois já deixarei claro que ela tem sangue nobre. Mas mais do que isso, há algo que precisa ser dito.”
Valence fechou os olhos e voltou a abri-los lentamente. Em sua mente, o amado cabelo loiro e os olhos travessos de Edith tinham aparecido.
“Ele teria sido capaz de viver mais tempo se tivéssemos conhecido a Vivi antes…”
Valence seguiu explicando a verdadeira causa da morte do seu marido, a relação entre os feromônios de dominação e os de cura, e as habilidades de Vivi.
“Disse… ataque de feromônios…?!”
À medida que a história avançava, as expressões dos anciões mudava a cada minuto.
Alguns deles começaram a chorar, comovidos pela morte de Edith, enquanto outros pareciam chocados. Muitos esqueceram de fechar as bocas.
Quando Valence chegou na parte em que Vivi salvou Ahin, que estava à beira da morte, os anciãos começaram a tremer. O único sucessor legítimo quase tinha se perdido…
Após acrescentar que em breve iria publicar o resultado do estudo que tinha sido encomendado sobre a relação entre os feromônios de dominação e os de cura, Valence concluiu seu discurso. Então, os olhos de todos se voltaram para Vivi.
No meio do silêncio indescritível, um dos anciões, com os lábios trêmulos, conseguiu formular uma pergunta.
“Então…. Não existe mais o risco do futuro líder do clã ter outro ataque de feromônios?”
“Já faz mais de um ano sem detectarmos nenhum sinal. Seguiremos observando.”
Ahin, que respondeu de modo desinteressado, fez “tsk” com a língua. Na verdade, a chance de os seus feromônios de dominação – que agora o obedeciam por completo – causarem outro ataque era praticamente nula.
No entanto, ele tinha que deixar claro para esses velhos que os feromônios de cura ainda podiam vir a ser necessários. Agitados, os anciãos começaram a cochichar entre si.
Então, o presidente do conselho, após tomar a opinião do grupo, ficou de pé para falar.
“…Gostaríamos de pedir uma comprovação do poder dos feromônios de cura da senhorita.”
Vivi, vendo que tinha chegado a sua vez, endireitou as costas. Ela limpou a garganta e, apertando a lateral do vestido, falou.
“Peço perdão por ter entrado na sala de reuniões sem seguir o procedimento adequado. Agora, prosseguirei demonstrando minha habilidade.”
A voz dela ecoou pelo salão.
“A oratória de minha nora está perfeita…!”
Lillian gritou, se segurando para não aplaudir. As capacidades de Vivi de falar em público eram tão boas que ela podia tomar a posição de presidente do conselho estudantil da Academia agora mesmo.
Vivi, abaixando o rosto, respirou fundo.
‘Ai, meu Deus…’
Por que todos eles tinham que ter caninos tão horríveis? Já que a sala de reuniões era redonda, parecia que ela estava cercada de panteras negras por todos os lados. Vivi cerrou os punhos.
De todos os modos, os predadores respeitavam bastante a hierarquia de poder. Agora que ela tinha uma chance de provar a força de seus feromônios de cura, precisava demonstrar o melhor de suas habilidades.
Se esforçando para impressionar, Vivi de repente teve uma ótima ideia. Com toda a força, ela fez um punho e apontou na direção da mesa.
“Hey!”
Os anciões, olhando a ameaça do nada, piscaram, chocados. Evelyn e Lillian, os únicos presentes no salão que compreenderam o que Vivi estava tentando fazer, abaixaram a cabeça para esconder seus rostos corados.
Eles não pensaram que ela iria tentar a nova técnica aqui. Se fosse real, seria fácil para ela ser eleita a rainha de todos os coelhos. Os ombros de ambos os homens tremeram enquanto tentavam conter o riso.
Como nada estava acontecendo, Vivi, envergonhada, recolheu a mão e a esfregou na barra do vestido. Teria sido um acontecimento único?
‘Não consigo mais fazer…’
Então, retornando ao plano que ela tinha formulado na noite anterior, ela sacou uma pequena adaga que estava pendurada em sua cintura.
Quando Vivi se despertou naquela manhã, Valence, que tinha acordado primeiro, não estava por perto. Então, ela havia pegado a arma do quarto dela, sem pedir. Ela ofereceu desculpas silenciosas por isso.
A lâmina, exposta ao ser removida da bainha, brilhava. Pensando que era perigoso que Vivi usasse aquilo, Ahin olhou para o seu lado.
Evelyn estava enrolando as mangas da camisa, expondo seus braços, calmamente. Talvez tivessem combinado de que Vivi o cortaria e o curaria logo em seguida, como um espetáculo para os velhos assistirem.
“Evelyn, você vai pra lá?”
“Sim, meu Lord. Quer trocar de lugar comigo?”
“Não, essa tarefa combina com você.”
“Esse Evelyn fará o seu melhor para não chorar. Para que meu Lorde não fique tão nervoso.”
Evelyn, com os braços expostos, respondeu com uma voz totalmente inexpressiva. Ahin, assentindo, penteou seu cabelo prateado para trás. Era uma tarefa irrelevante, mas por que ele estava nervoso?
Segurando sua vontade de impedir tudo, ele voltou a olhar para frente. Mas, ao contrário do que se esperaria, o olhar de Vivi estava em Valence, e não em Evelyn.
‘…A bochecha da Senhora Valence…?’
Os olhos lilás claro tremeram quando ela percebeu que a bochecha de Valence estava ligeiramente inchada.
‘Não me diga que… eu realmente a chutei enquanto dormia?! Malditos hábitos de sono…!’
Vivi sacudiu a cabeça, esperando estar enganada. Ela trocou olhares com Valence, que parecia estar ansiosa.
‘Só vai durar um instante…’
Vendo que a líder do clã mordia os lábios, Vivi pensou que ela parecia ter adivinhado o seu plano.
‘Mas talvez Ahin não tenha percebido.’
O fato de que ela podia usar seus feromônios de cura para sanar suas próprias feridas… Tinha uma grande chance de que a Senhora Valence e o vovô não tivessem contado nada sobre isso a Evelyn e Ahin.
Se ela tinha conseguido esconder deles a sua humanização até o final, não teria lhes contado algo como isso.
‘Será que ficarão surpreendidos?’
Provavelmente ninguém tinha imaginado o que ela planejava fazer, ou teriam a impedido, inclusive, de entrar na sala de reuniões.
Pelo menos Ash não estaria ali para ver. Isso lhe trazia um certo alívio. Logo, Vivi, tendo se decidido, pediu permissão com o olhar. Relutante, Valence assentiu.
‘Vamos lá.’
Lambendo os lábios secos, Vivi agarrou a adaga com força em sua mão direita.
‘Eu devia ter praticado…’
Na hora H, sua mente estava em branco e seus olhos, nublados de medo. Mas essa era a maneira mais eficiente de demonstrar suas habilidades.
Por essa razão ela havia descartado as formalidades e usado um vestido sem mangas. Após hesitar, ela ergueu a adaga, determinada.
A lâmina foi apontada na direção da própria Vivi, e não de alguém mais.
“Espera…”
Ahin compreendeu seu mau pressentimento, se levantando de supetão e jogando a cadeira para longe.
“Vivi…!!”
A lâmina correu o ar rapidamente, mas, para ele, parecia que o tempo estava desacelerado. A adaga, empurrada sem piedade pela própria Vivi, cortou o seu antebraço.
Pela primeira vez em sua vida, Ahin sentiu seu sangue congelar.
Tradução: Nopa.
Revisão: Holic.
Xicalina
Acho q repetiu o 132 😵
Geovane
Repetiu o capítulo
Bruna
Ahhh repetiu o capítulo 😪😔😔
Vanny
Repetiu
Xicalina
Agora tudo ficou melhor explicado! <3
Lucien
Aii eu sinto a dor do ahin