A Relação simbiótica entre uma lebre e uma pantera negra - Capítulo 130
A sala de aula foi gradualmente se enchendo de alunos. Depois de ter feito todos os meus preparativos para quando a aula começasse, deitei a cabeça na mesa um pouco.
O retorno para a Academia tinha sido uma jornada árdua. Começou quando Ash e Barra, seguidos por seus dois filhotes, subiram na carruagem como se fosse a coisa mais natural do mundo.
Não era como se eu não quisesse ficar junto com Ash, mas como poderia trazer uma família de panteras negras para viver comigo no dormitório?
Finalmente consegui convencer Ash de que, após 20 noites, eu retornaria. Então, quando pensei que poderia relaxar, assim que pisei na Academia, tive que consolar a Russell, que estava chorando e esperneando no chão desde que eu tinha “desaparecido”.
Para piorar, Alan ainda estava me encarando do lado de trás da sala de aula.
“Haa….”
Massageei as têmporas para acalmar o estresse acumulado de vários dias. Para completar, Ahin, que nunca aceitaria isso calmamente, estava estranhamente quieto.
‘Ele nem ao menos respondeu a carta que eu mandei….’
Besta malvada. Será que eu estava sendo muito cruel com Ahin, que não queria se separar de mim? Mas não havia nada que eu pudesse fazer a respeito.
Olhei para a pele do meu pulso. Felizmente, todas as marcas no meu corpo tinham sido apagadas quando usei meus feromônios curativos em mim mesma.
Pensei que se Ahin soubesse disso, ficaria chateado. Seria melhor eu usar meias-calças e mangas longas por enquanto, só para garantir? Enquanto eu pensava nisso, com o rosto enterrado nas mãos, de repente senti um clima melancólico ao meu redor.
Quando girei a cabeça, Hendry, minha colega de classe do clã dos porcos, estava sentada ao meu lado, exatamente na mesma posição de derrota.
O que havia com ela? Me endireitando, a observei com cautela.
“…Hendry?”
“Vivi…”
Retirando o rosto que estava enterrado nas mãos, ela me olhou.
“O que aconteceu com a sua cara?”
Os olhos dela estavam inchados, como se ela tivesse chorado um dia inteiro. Toquei o ombro de Hendry, tentando imaginar a razão.
“Isso tem a ver com o estudante do clã das panteras negras com quem você estava saindo?”
A expressão dela, que me dizia que eu tinha acertado, gradualmente mudou quando ela começou a chorar.
“…Ele é uma má pessoa.”
“O que aconteceu?”
“Eu escutei que, no dia que ele tinha marcado para sair comigo, ele se encontrou com três outras garotas…!”
Hendry, levantando a voz, puxou um lecinho e começou a secar os olhos. Pensando em como eu podia consolá-la, dei tapinhas em suas costas com uma mão, enquanto coçava a parte de trás do meu próprio pescoço com a outra.
“Eu te falei, as panteras negras são…”
“Eu não acreditei nas suas palavras, Vivi. Afinal, você nem tem um namorado…”
Que tipo de lógica era aquela? Dei um soquinho na mesa.
“Bem, eu nunca disse que não tinha um…!”
“Então você tem?!”
“…Sim…”
Não deveria falar sobre Ahin aqui. Depois de assentir uma vez, fechei a boca. Além disso, quando o rosto dele surgiu em minha mente, fiquei vermelha involuntariamente. Hendry começou a tremer ao me observar.
“Vivi, é realmente verdade…?!”
“Todos, silêncio.”
O professor entrou na sala e a conversa se encerrou. Apenas a voz dele, recitando dados do livro, ressoava pela classe.
Estava focada em anotar tudo quando recebi uma cutucada nas costelas de Hendry. Olhei para ela, que cochichou com uma expressão impaciente.
“Quando você dizia que ia na biblioteca ou no coelhário, estava indo se encontrar com o seu namorado?!”
Eu não queria dar detalhes sobre o fato de que Ahin não estudava aqui, ou surgiriam mais perguntas. Pensei que estaria bem deixar isso em aberto, então assenti. Hendry se estremeceu e começou a gritar “kyaaa” em silêncio.
“Você fala tão mal do clã das panteras negras! Não me diga que ele é de lá?!”
Apenas olhei para ela sem expressão, mas o rosto de Hendry estava cheio de convicção. Interpretando meu silêncio como uma resposta positiva, ela cochichou, colocando o cabelo azul atrás das orelhas.
“Vivi, sua relação não vai bem? Você está sofrendo? Pelo que você fala do clã dele, não deve ser boa pessoa também. Vamos, Vivi, me conte os detalhes…!”
Hendry, com os olhos em chamas, apertou minha mão nas dela. Eu não estava sofrendo por Ahin. Comecei a negar com a cabeça para indicar que era um mal entendido, mas então parei, franzindo a testa.
“…Ele não respondeu minha última carta.”
Quando eu tinha recebido um pássaro mensageiro da família Grace, sem ser Quinn, enviei logo uma carta para Ahin. Parando para pensar, me sentia mais chateada do que tinha percebido.
“…Ele me chama de coelha pervertida…”
“É uma relação abusiva…!”
Sem conseguir responder, murmurei palavras incompreensíveis.
“Continue.”
Hendry, com a cara fechada, assentiu.
“E ele diz que eu sou uma casanova, e que flerto com outros…”
A empatia de minha amiga me encorajou, e minhas mágoas começaram a sair, uma por uma.
“Ele me acusa de ser infiel… E quer me ver chorando.”
“…Então quer dizer que ele quer te ver triste…?!”
“…”
“Esse cara é um lixo!!”
Zangada, Hendry me agarrou pelo colarinho. Era uma ação radical comparada com os modos polidos que ela tinha mostrado até esse momento.
“Não me diga que o seu parceiro para o baile vai ser esse cretino?!”
Fiquei com os olhos tremendo enquanto ela ainda me agarrava pela roupa. Bailes eram eventos que aconteciam na Academia para celebrar o início e o fim do semestre. Minha boca tremeu ao me lembrar do vestido que tinha sido enviado pela senhora Valence, o qual estava em meu dormitório naquele momento.
“…Ah, não, ele não será meu parceiro. Irei sozinha.”
Na verdade, ele não podia vir porque seu rosto e status eram conhecidos por todos. Os olhos de Hendry faiscaram ao entender errado minha explicação vaga.
“Não me diga que essa relação tem fins matrimoniais…?”
“Estudante Vivi. Estudante Hendry.”
Olhamos para cima, vendo o professor nos encarando de sua mesa, e rapidamente enterramos o nariz no livro “A história do continente”, o qual detalhava todas as conquistas da família Grace, da família Manionz e dos líderes de cada território.
Desviando o olhar do livro, espiei pela janela da classe. Senti uma vertigem quando Hendry mencionou casamento. Até agora, estive correndo na direção da humanização e do coração de Ahin, mas até lá, ainda havia um caminho longo e espinhoso.
No fim das contas, Ahin era um homem cujo nome ficará na história, mesmo após morrer, e eu sou apenas uma coelha que se humanizou tarde demais devido ao uso de drogas.
No entanto, eu tinha escutado planos da senhora Valence e do vovô para mudarem essa situação. Parecia que a senhora Valence pretendia anunciar a relação entre os feromônios de dominação e os de cura, deixando o mundo saber que eu tinha salvado a vida de Ahin. Enquanto isso, o vovô tinha me oferecido o ingresso à Academia como um meio para que eu pudesse obter um status equivalente ao de um nobre.
Não conseguia esconder minha tristeza, então sacudi a cabeça. Nenhum deles tinha mencionado nada sobre um casamento – nem ao menos sobre um noivado – para mim.
A senhora Valence tinha brincado dizendo algo como “sentarei na cabeça do líder do clã das lebres até que ele aprove”. Mas eu sabia que essa questão não podia ser resolvida assim. O quão mais forte fosse a linhagem, mais estável seria a família.
Mesmo a família Labian, que eram apenas nobres intermediários, já tinha certa preocupação em selecionar o “melhor” filho como sucessor. Não fazia nenhum sentido que o próximo herdeiro da família Grace não tivesse uma noiva.
‘Será que poderei suportar o peso da coroa?’
Era difícil ficar com um encargo tão importante quando eu tinha acabado de começar a aprender as coisas. Era uma posição que lidava com a sobrevivência do território.
Mas, ao imaginar outra mulher-besta ao lado de Ahin, me sentia como uma coelha patética ardendo em chamas de ciúmes.
Enquanto olhava para o lado de fora da janela, pisquei. Talvez por estar pensando sobre o clã das panteras negras, podia jurar que estava vendo uma no gramado.
‘Ash…! Ela deixou Barra cuidando dos filhotes e veio para cá?!’
Ash, me cumprimentando com a pata na posição de “sentido!”, se moveu. Atrás dela, estava Evelyn. Ele ergueu um cartaz para que eu pudesse ler.
[Senhorita Coelha, por favor, venha à sala do diretor após as aulas.]
Tendo sido tapada de minha visão pelo papel, Ash mordeu a cabeça de Evelyn. Um fio de sangue começou a escorrer da testa dele.
Enquanto eu assistia à cena, horrorizada, bati com força na mesa. A dor em minha mão confirmou que não tinha sido um sonho.
“Estudante Vivi.”
Me surpreendi pela voz ríspida do professor.
“Ah, é que… uma pantera negra…!”
Quando apontei para o lado de fora com o dedo, não havia mais nada ali.
“Quero dizer… o dia está bonito…”
O professor, que olhava para a janela, apontou com firmeza para a porta.
“Para fora.”
***
Evelyn tinha ido escondido para a Academia Belhelm, tendo dito a Ahin que ia tirar uma folga. Para conseguir o feito, ele tinha colocado remédios para dormir nos morangos de Quinn, o espião. No entanto, não conseguiu se desvencilhar de Ash, que tinha o seguido como um espírito obcecado.
Após ter conseguido chegar à sala do diretor, ele contou a história completa sobre o “sequestro” de Vivi para Lillian, sem parar para respirar.
‘Esse velho enganador, forjou os documentos de admissão da Senhorita Coelha. Por isso eu não conseguia localizá-la na lista de alunos.’
Lillian escutou tudo parado perto da janela, com os braços atrás das costas e uma expressão de desaprovação. Evelyn acompanhou o olhar dele. A vista do campus da Academia era grandiosa.
Nos últimos dias, Ahin tinha estado irritado devido à insistência do conselho de anciãos. O sorriso dele crescia cada vez que eles gritavam que não aceitariam a coelha sem provas de suas habilidades. Esse sorriso era um sinal terrível de que ele estava prestes a eliminar o conselho inteiro.
A verdade é que tudo seria resolvido se Vivi demonstrasse suas habilidades com os feromônios curativos para eles. Mas Ahin estava estranhamente relutante em deixá-la saber da existência e das demandas do conselho.
“Senhorita Ash, não concorda que é melhor contar tudo para ela?”
Frustrado, Evelyn segurou a pata dianteira de Ash. Ela o ignorou solenemente, olhando para a porta e claramente esperando que Vivi aparecesse.
“Há uma razão pela qual meu neto está fazendo isso.”
Lillian falou, fazendo “tsk” com a língua.
“Ele tem medo que a coelha fuja após ser colocada contra a parede para se casar. Tem medo da rejeição. Que patético.”
“Lorde Lillian, o senhor é tão cruel. Roubou a Senhorita Coelha de nós. O Lorde Ahin teve pesadelos todas as noites desde que se separou dela.”
“Bem, o mesmo se aplica a ela!”
Evelyn, que tinha se levantado, encarou Lillian, que tinha se colocado a favor de Vivi e contra Ahin.
“Então, por que veio até aqui?”
“O conflito com o conselho de anciões não é bom para nós a longo prazo. Por isso, bolei um plano em segredo.”
Amanhã seria o dia da reunião formal do conselho com Valence. Nesse momento, Evelyn cortaria seu próprio corpo, e surpreenderia a todos ao apresentar Vivi, que o curaria em seguida. Era óbvio que, depois disso, as negociações iriam correr tranquilamente, uma vez que eles presenciassem o valor dela.
“Aquele…!”
Enquanto isso, Lillian, que ainda olhava pela janela, falou com rispidez.
“O que houve?”
Preocupados, Evelyn e Ash se aproximaram do parapeito.
“Alan Fredian, outra vez.”
“Ele tem alguma relação com a Senhorita Coelha?”
Vivi estava cercada de estudantes, liderados por Alan, apertando as alças da mochila com força. À primeira vista, parecia uma cena de bullying.
“Naturalmente, eles serão nocauteados. Minha nora pode acabar com todos com os olhos vendados. Mas… oh, céus! Se ela revelar seus feromônios nesse momento, será horrível! Tenho que ir lá interferir!”
“Espere.”
Evelyn bloqueou o caminho de Lillian.
“Se for lá, meu Lorde, será apenas uma solução temporária para o problema.”
“Então está dizendo para não fazermos nada?!”
“Quem pensa que eu sou?”
“Não me importa quem você é!!”
“Este competente Evelyn tem uma ideia.”
Os olhos de Evelyn cintilaram enquanto ele abria a janela.
Tradução: Nopa.
Revisão: Holic.
Xicalina
Ansiosa para a continuação!!!
Lucien
A amiga chamando de relação abusiva kkkkkkkk