A Relação simbiótica entre uma lebre e uma pantera negra - Capítulo 103
Ahin, que se levantou de sua cadeira, rapidamente deu apoio ao meu corpo, que cambaleava.
Conseguindo me equilibrar, olhei para ele em seu paletó azul-marinho. Ele nem mesmo tinha trocado de roupa para dormir, devido ao trabalho acumulado.
Ele estaria ocupado amanhã o dia todo por causa do banquete, então hoje era a minha última oportunidade para tentar convencê-lo.
O encarei como uma hiena procurando comida. Com os olhos brilhando, abracei Ahin, o aprisionando para que não pudesse se afastar. Ele foi forçado a ficar ali, sem conseguir se mover.
As franjas e adereços do paletó me cutucavam. Seu dorso musculoso, que eu podia sentir através da roupa, fez com que eu involuntariamente contraísse os dedos do pé. Tentando não ser falsamente acusada de ser uma coelha pervertida, fingi que não percebi isso e falei.
“Eu quero…”
No entanto, minha voz ficou abafada porque minha cara estava enterrada contra o paletó.
“Vivi, não te entendo.”
“Eu quero ir junto.”
“Vamos nos acalmar primeiro…”
Apertei Ahin com mais força para o caso de ele tentar se afastar. Entrelacei os dedos por trás das costas dele enquanto pensava no que mais podia dizer para convencê-lo, mas nada surgia.
Eu já tinha falado que até mesmo aceitaria ser carregada em uma cesta. Como ele podia seguir me rejeitando? Me senti amargurada.
“Se você me afastar agora, vou fugir de casa.”
Ahin, que estava tentando se desvencilhar, se congelou.
“Não diga absurdos…”
Vendo que a ameaça tinha funcionado, pude ver o qual mole ele era quando se tratava de mim. No início, ele era uma besta brutal que tentou tragar minha pata dianteira, mesmo que eu o empurrasse com todas as forças com as patas traseiras.
E hoje, ele não conseguia nem mesmo me afastar, e não queria me levar para o território dos ursos. Era claro que existia outra razão além da desculpa de que a viagem seria perigosa.
“O que há de errado?”
Se ele tinha feito algo mal, que pedisse logo desculpas. Devagar, ergui minha cabeça, que estava grudada no peito dele.
Nesse mesmo momento ele olhou para baixo e nossos olhares se encontraram. Não consegui ler sua expressão.
“…Me leve junto.”
Ele quase se desvencilhou de mim, mas apliquei tanta força nos dedos entrelaçados que as pontas ficaram brancas.
“Essa é a razão pela qual eu estive praticando com meus feromônios de cura todos os dias. Eu sou a única pessoa que pode fazer isso. Por que você quer me deixar pra trás?”
Felizmente, Ahin parou de tentar escapar do meu abraço.
“O que eu faço se você for para o território dos ursos sozinho? E se tiver um ataque enquanto está longe de mim? Eu devo ficar aqui, sentada, esperando?”
Não quero isso. Enquanto falava sem parar, respirei fundo. Sem perceber, uma ansiedade profunda tinha se enraizado em meu coração. Senti que Ahin também tinha algo semelhante.
Voltei a enfiar o rosto no paletó dele.
“Vamos juntos.”
“….”
“Se me deixar para trás, vou te seguir com Ash e Barra. Colocar Meimi ou Quinn para dormir não é nenhum problema para mim agora.”
Quanto mais eu insistia teimosamente, mais rígido ficavam os braços de Ahin.
“O vovô falou para eu ficar do seu lado o tempo todo, então ele vai me ajudar se eu pedir. Como fez quando eu fui para o território das lebres.”
“Você adora se meter em situações perigosas.”
“Se não quer isso, então me diga o que está escondendo e porque quer me deixar para trás. Pare de esconder as coisas de mim!”
Enquanto falava, eu o golpeava no peito com as mãos, mas as palavras ainda valiam. Engoli a vontade de pisotear o chão como fazia com minhas patas traseiras na forma de coelha.
Tic toc. A espera até que Ahin respondesse era agonizante. Parecia durar uma eternidade.
E se a resposta fosse não, de qualquer maneira? Mordendo os lábios de impaciência, decidi jogar minha última cartada.
Não queria dizer isso porque sentia que estava ficando com um parafuso solto, igual a essas panteras negras loucas.
“…Se você me deixar para trás, nunca mais vou dar tapas em seu traseiro.”
“De jeito nenhum isso pode acontecer.”
Como ele pode responder isso com uma cara tão séria? Se seguiu um silêncio. Fiquei tão atônita que soltei as mãos que estavam prendendo Ahin.
‘Ele está falando sério…’
Era um lunático escondido atrás de um rosto angelical. Uma mera coelha não era capaz de lidar com um maluco desse calibre. Com uma expressão cansada, dei um passo para trás sem perceber.
“Ack!”
A parte de trás do meu joelho bateu em algo e eu caí sentada no sofá de veludo.
“Para onde vai? Não estava me abraçando e implorando?”
“….! Eu não estava implorando!”
Ahin, caminhando com passos largos, ficou pairando sobre o sofá. Ele não se sentou, e sua sombra caiu sobre mim. Somente seu rosto mantinha a expressão inocente.
“…Eu não implorei…”
“É mesmo?”
“Sim.”
“Então não posso responder o que decidi para uma coelha que nem mesmo sente desespero.”
Essa besta maldosa!!
“Foi um pedido.”
Quando Ahin tentou se afastar, me apressei e agarrei a parte da frente de seu paletó. O sorriso dele, que ficou mais travesso, me fez ficar nervosa.
Quem precisava de feromônios de cura neste momento não era ele? O que há com essa situação, que parece totalmente invertida, com a doadora implorando para receberem a doação? Mas não podia dizer isso, então esperei ele continuar.
“…Soube que há registros de um homem que tinha feromônios de dominação no território dos ursos.”
“Mesmo??”
Sem perceber, me inclinei, ficando próxima do rosto de Ahin. Rapidamente me afastei, mas o predador se inclinou mais, colocando o braço no assento do sofá, próximo à minha cintura. O cabelo prateado caiu sobre as orelhas dele.
“…Por isso, vou buscar informações no grêmio local pessoalmente.”
Ahin estava usando sua beleza intencionalmente para me distrair. Me foquei, estreitando os olhos.
“Talvez eu possa obter informações sobre os ataques de feromônios. Com sorte, eles até saibam de uma cura…”
“É mais uma razão para que eu vá junto com você!”
Se é uma informação sobre os ataques… Apertei o punho com força, decidida a não desistir de persuadi-lo.
“Antes disso, quero te fazer uma pergunta.”
Ahin, ignorando minha determinação, inclinou a cabeça e seguiu falando.
“Não foi cansativo quando você usou seus feromônios para acalmar o meu ataque?”
Cansativo? Frente à pergunta inesperada, parei para pensar.
Todas as vezes que eu tinha acalmado os ataques de Ahin, eu tinha adormecido logo depois, sem perceber. Talvez fosse porque isso demandava um esforço grande…
Ele sorriu enquanto examinava minha expressão.
“A sensação que eu tinha era de estar sugando os feromônios de cura, e não apenas os recebendo.”
“…”
Ahin, com uma voz que demonstrava anseios, continuou, tocando minha nuca com o dedo indicador.
“E eu sentia uma vontade incontrolável de estraçalhar esse local.”
Percebendo que isso significava literalmente morrer sob as presas de um predador, por reflexo, tapei a cicatriz na parte de trás do meu pescoço com a mão. Percebendo minha reação, ele afastou devagar seu dedo.
“Acho que é uma resposta instintiva do meu corpo, que quer obter mais e mais feromônios de cura.”
Eu não respondi, sentindo que o sangue tinha se esvaído de meu corpo. Eu nem tinha o que dizer.
“Por isso, fiquei com medo de que eu pudesse fazer algo com você.”
A palavra “medo” e Ahin não combinavam, criando uma sensação de estranheza no que ele tinha acabado de dizer. Ele falou, com a voz grave, se inclinando ligeiramente para mim.
“Num estado de loucura, não há garantia que eu possa me controlar. E se eu te ferir em um outro território, sem termos um médico de prontidão, pode acontecer algo irreversível.”
Quando ouvi algo tão difícil de aceitar, abri e fechei a boca, sem conseguir dizer nada. A mão que cobria meu pescoço tremia.
De acordo com Ahin, todas as vezes que ele teve um ataque, até agora, eu corri o risco de ter o pescoço estraçalhado. O vago receio foi fortificado pelos meus instintos herbívoros, nublando meu julgamento racional.
Tentando parar de tremer, fechei a cara. Foi porque Ahin, me olhando, estava com um sorriso triunfante.
‘Não me diga que…’
Ele deve ter falado isso tudo buscando essa reação de mim. Para garantir que eu não o seguiria.
Mas, naquele momento, mais do que medo da pessoa que estava na minha frente, rindo, e que no segundo seguinte poderia estar mordendo minha garganta, senti que ele estava tentando se distanciar de mim.
Whoosh.
Minha mão avançou e agarrou os pulsos de Ahin. Coloquei ambas as mãos dele em meu pescoço. Os olhos vermelhos se arregalaram quando as palmas calejadas tocaram a pele suave.
Então, o olhei nos olhos e falei, demonstrando que não voltaria atrás.
“…Não estou com medo, em absoluto.”
Minha voz tremeu um pouco, no entanto. Ignorei e segui.
“Você sabe que a minha especialidade é fugir.”
“Eu não estava brincando quando falei que-”
“Eu também não estou de brincadeira. Se algo acontecer, eu vou te nocautear com meus feromônios e fugir.”
“…”
“Você sabe que sou boa nisso. Além disso, a probabilidade de você ter um ataque é maior do que a de eu ser mordida.”
Ahin piscou, passando um longo tempo sem dizer nada. Minhas esperanças eram pequenas. Me vendo refletida nos olhos dele, eu parecia frágil e assustada. Mas decidi ignorar isso tudo.
Ahin retirou as mãos do meu pescoço.
“Normalmente, nesse tipo de situação…”
Os lábios vermelhos se abriram depois de muito tempo. Ansiosa, olhei para ele.
“Você não deveria dizer “não me importo de morrer se for em suas mãos” ou algo assim?”
“De jeito nenhum. Vou fugir se isso acontecer.”
Ahin sabia muito bem até onde chegava minha coragem. Ele riu baixo.
“Vivi.”
Ele curvou os olhos enquanto me olhava e eu o evitava.
“Para injetar meus feromônios dominantes em você, há duas opções – pelo sistema respiratório ou através de uma ferida, entrando na corrente sanguínea.”
“Por que está falando algo que eu já sei, do nada? Não tente mudar de assunto sobre o território dos ursos-”
“Quando eu te encontrei naquela barraca, humanizada, pela primeira vez… nunca se perguntou porque eu elegi injetá-los através do seu pescoço, quando podia ter mordido qualquer outro local?”
Lambi meus lábios secos perante essa questão, algo que eu nunca tinha pensado.
“Eu te perguntei da outra vez. O que significa quando um predador morde o pescoço de alguém?”
As pontas dos dedos que roçavam em meu pescoço estavam geladas. Ahin continuou sorrindo.
Esse interrogatório era brutal. Toda vez que ele passava o polegar, devagar, pela cicatriz em minha nuca, meu corpo se petrificava.
“É uma área usada pelos predadores para sinalizar as presas como suas. É como uma marcação.”
“O que é isso?”
Era uma expressão que eu nunca tinha ouvido no território das lebres, pois herbívoros não faziam isso. Fiquei com calafrios e senti um suor frio se formando. Quando ele começou a escorrer pelas minhas costas, uma voz rouca ressoou em meus ouvidos.
“Posso fazer outra vez?”
Tradução: Nopa.
Revisão: Holic.