Não é seu filho - Capítulo 81
Após cerca de 10 dias na carruagem, Borph chegou ao seu reino, Akan.
As ruas de Akan estavam movimentadas como de qualquer outro reino. É claro, havia diferenças entre as ruas. Algumas eram sujas e outras, limpas. Algumas eram calmas e silenciosas, outras, movimentadas, cheias de pessoas.
Borph percorreu uma rua que somente nobres tinham acesso, olhando o palácio real, que ele conseguia enxergar mesmo de longe.
Faltava apenas uma hora para ele chegar ao palácio, mas agora, ele era incapaz de abrir seus olhos direito devido a uma dor de cabeça.
Mas seu maior problema não era sua tediosa dor de cabeça. Uma voz, que ele não queria ouvir em seus ouvidos, suprimiu sua latejante dor, murmurando.
“Borph, meu querido bebê. Não se esqueça de sua mãe. Mamãe falou que foi por você. Mamãe ainda te ama.”
Cansado e enjoado de ouvir isso.
Um dedo frio tocou o espaço entre suas sobrancelhas.
— Ainda está ouvindo coisas?
— É frustrante.
— Bem, …
Daimon lançou um feitiço de recuperação sob ele. Mas a alucinação visual e auditiva, que o incomodavam, não foi curada.
Borph colou a mão sob seu coração que batia acelerado.
Coisas que lhe pertencia, mas não eram dele, estavam constantemente tentando consumí-lo.
Ele a estava guardando por mais de 20 anos, mas ainda não era seu.
Quando o efeito do remédio de Lyric diminuía ou seu contato com “aquilo” aumentava, suas alucinações ficavam mais fortes.
Nas palavras de Lyric, isso ocorria por causa de duas forças opostas colidindo.
“Meu bebê, Borph. Olhe para mamãe. Não pode fazer isso. Ouça a voz da mamãe. Venha para a mamãe, querido.”
— Pare de dizer bobagens.
Ele cerrou os dentes enquanto murmurava e abriu os olhos para encarar o objeto de sua alucinação auditiva.
Uma mulher com longo cabelo ruivo e só em esqueleto agachou-se e olhou para ele.
Ironicamente, a coroa da rainha estava sobre o cabelo do esqueleto.
— …Estou cansado disso.
Enquanto a mandíbula do esqueleto rangia e se movia, ele ouviu mais vozes em seu ouvido.
“Bebê.”
Um verme saiu da cavidade dos olhos do esqueleto.
Borph estava tão cansado de ver essa cena, que a visão repulsiva nem o comovia mais.
Um pequeno bebê se mexeu no ombro do esqueleto sombrio.
“Borph, Borph.”
Diferente do esqueleto bizarro, ele era uma criança com um sorriso angelical.
Com cabelo ruivo, semelhante ao do esqueleto e seu coração estava faltando.
A criança sem coração, pisou no esqueleto da mãe e abriu seus braços para Borph.
“Me dê um abraço, Borph.”
Borph encarou friamente o rosto de sua infância.
Sua dor de cabeça já estava insuportável e seu coração batia como se fosse explodir.
— Desapareça.
Ele murmurou com uma voz insidiosa.
A criança e o esqueleto se olharam e caíram na gargalhada.
Ele não queria ouvir.
Esse riso parecia enlouquecer Borph.
Grrr grrr.
Ao lado de Borph, que cerrava os dentes, Daimon o olhou com pena.
— Meu pobre príncipe.
Atrás de sua bela figura havia uma terrível tragédia.
O olhar de Daimon, que o olhava com tristeza, logo mudou.
Ela pôs a língua para fora e limpou o lábio inferior.
— …É por isso que é ainda mais belo, meu trágico príncipe.
Ela o tinha na palma da mão, mas ele não era seu.
Ela o queria muito.
“O quão perfeita era sua expressão de dor?”
“Como eu poderia ter este homem por completo? Até o tempo para pensar sobre isso é proveitoso.”
Apesar de ela parecer preocupada com ele, por dentro ela estava pensando em consumí-lo.
E havia um outro homem no castelo que era tão apegado a ele quanto ela.
Olhando com o canto do olho para a janela, Daimon sussurrou carinhosamente, acariciando a testa de Borph.
— Ainda bem que o castelo não está longe. Ele irá sumir com a sua dor.
“Aquele médico horrendo e louco.”
***
— É Sua Alteza, o Príncipe!
Antes que Borph pudesse atravessar os portões, alguém correu para recebê-lo.
Um homem de meia-idade, alto, com cabelos grisalhos e óculos.
O homem era bonito o suficiente para impressionar as pessoas, e ele vestia o jaleco branco de médico.
— Lyric.
Quando Borph o reconheceu e o chamou pelo nome, o homem chamado de Lyric correu para Borph sem hesitação.
— Obrigado por todo seu trabalho árduo!
Ele deu um leve tapinha no ombro de Borph, tratando o príncipe do reino como seu próprio filho.
Havia carinho no toque, usado para o examinar cuidadosamente, igual a um pai.
Deveria haver de especial na vida que ele salvou.
— Como você está? Oh meu Deus, você foi atacado pelo Rei das Fadas?
Borph balançou a mão no ar e falou brevemente.
— Remédio. Agora.
— Suas alucinações estão intensas? Hum… Entendo. Trouxe-o comigo por precaução.
Ele imediatamente tirou uma poção preta e uma seringa do bolso.
Uma gota de líquido preto escorreu pela agulha.
Lyric não hesitou em inserir todo o líquido preto da seringa direto no coração de Borph.
Borph cerrou os dentes com a força que o remédio penetrou seu coração.
Ele podia sentir suas veias se contraindo e expandindo.
Todo o seu corpo tremia e, ao mesmo tempo, seu coração, que estava batendo de um jeito que parecia que iria explodir, começou a morrer.
“Acha que isso irá nos fazer desaparecer? Não. Eu não desaparecerei! Não vou!”
“Borph! Borph! Venha comigo!”
Também sentiu que as alucinações auditivas e visuais que o assombravam começaram a se dissipar.
— A Vossa Alteza está bem?
Lyric perguntou com uma voz preocupada.
Borph, que estava recuperando seu fôlego, respirou fundo e endireitou sua coluna.
Respirando intensamente, a letargia se espalhava por seu corpo.
Então, a testa franzida de Borph se endireitou.
— É sempre melhor.
Sorriu languidamente, como se estivesse satisfeito, e começou a se movimentar.
— Vamos para meu pai primeiro.
***
O grande quarto era escuro, mesmo sendo construído no local mais ensolarado.
O velho e frágil rei estava no centro do lugar, onde nenhuma luz alcançava por causa das grossas cortinas cobrindo as janelas.
Daimon não o acompanhou porque ela odiava a existência de quem ele iria encontrar, então seguiu silenciosamente o príncipe Lyricman.
Borph entrou no quarto do rei e olhou para o corpo de seu pai.
O corpo do rei estava deitado na cama, com longos cateteres pendurados.
— Parece uma marionete.
Borph se aproximou do ouvido do rei e sussurrou.
— Belgian.
Palavras de outro mundo pareciam como um sibilo.
Borph, que ficou horrorizado com as palavras da linguagem desconhecida, lentamente se afastou do rei.
Nesse momento, os olhos do rei se abriram.
— …Uau.
O rei se levantou e arrancou os cateteres de seu corpo debilitado e forçou sua cabeça.
[Eu me sinto desconfortável sempre que venho aqui.]
Havia outra voz misturada ao do velho rei.
Era a voz de Belgian, da tribo demoníaca, que assinou contrato com Borph.
[Ei, doutor. Por que não me dá um corpo? Ou eu posso te fazer rei?]
— Ha ha ha. Me recuso. Não sou um instrumento do rei.
Lyric sorriu polidamente para Belgian e ficou atrás de Borph.
“O trono deste reino maluco… É demais para mim.”
Foi Lyric que viu do começo ao fim o reino de Akan enlouquecer.
Ele também era um dos pilares do reino.
Seus olhos estreitos sorriam friamente encarando o corpo do velho rei, ocupado por Belgian.
“O poder é assim. Quanto mais o quer, mais ele lhe tira.”
Ele sorriu friamente e abaixou seus olhos. Ele viu um príncipe que foi ressuscitado pelas suas próprias mãos.
Ele foi salvo por sua pesquisa, que foi rejeitada pelo Império.
Ele, de sangue de uma nobre família real.
Sempre que via Borph, Lyric tremia com satisfação.
Ele gostava deste reino sob o controle de Borph.
Um lugar onde podia sentir a doçura do poder enquanto satisfazia sua curiosidade, mais que em qualquer outro lugar.
Além disso, é um lugar que pode levantar a lâmina da vingança contra o Império.
“Oh, poderia haver outro reino tão corrupto neste mundo?”
Lyric se curvou, gargalhando.
Borph olhou para o demônio que habitava o corpo de seu pai, cujo cérebro estava morto e cujo corpo mal sobrevivia.
— Acho que precisamos de mais corpos experimentais.
[Deve haver uns 30 demônios que foram enviados para você.]
Apesar de Belgian ser um demônio superior, o poder de que dispunha aqui, no outro mundo, não era tanto.
Ainda, para invocar e enviar os demônios inferiores era necessário um esforço enorme.
Os demônios inferiores só podiam adaptar seu corpo para o outro mundo.
A maioria deles permanecia como um corpo de vontade de matar e de ganância, sem nenhuma consciência.
— Não é o suficiente. Há algo de errado.
Borph falou calmamente e se sentou na cadeira de frente para a cama.
Ele olhou friamente para o demônio que habitava o corpo de seu pai.
— Belgian, o grande feiticeiro.
O próprio demônio que roubou o coração de Borph.
Os desejos mal orientados e a arrogância da rainha Catarina acabaram fazendo-a invocar os demônios.
Há cerca de 25 anos, ela invocou um demônio feiticeiro que estava selado no reino há muito tempo.
O “círculo mágico de sangue” era feito com o sangue de 40 pessoas.
Cerca de 100 jovens escravos foram preparados para o demônio invocado.
— Faça do Reino de Akan o império mais poderoso do mundo. E faça de mim a Imperatriz e não uma rainha.
A princesa de um reino pequeno, que foi forçada a se tornar rainha pelo saque do rei, odiava o velho rei, que se tornou seu marido.
Então, ela queria virar o próprio rei, e mais, queria virar a Imperatriz.
A única coisa que ela amava naquela terra era o pequeno príncipe a quem deu à luz.
Como para ela, todos eram um inimigo, exceto o príncipe.
Quem poderia fazê-la Imperatriz?
A única resposta eram os demônios.
Mas o demônio que foi invocado lhe deu uma resposta decepcionante.
— Isso é impossível. É difícil para um demônio exercer tal influência. Os deuses deste mundo não ficarão parados assistindo.
Com a resposta do demônio, a rainha exclamou num frenesi:
— Você é inútil! Fraco! Um demônio inferior incompetente!
Tradução: Kaon.
Revisão: Michi.