Não é seu filho - Capítulo 82
Os demônios, por natureza, não eram generosos e nem precisavam ser.
O demônio sorriu friamente à declaração da rainha, que não temia nada.
— Por que estava tentando usar essa minha habilidade inútil? E sabe que deve pagar o preço por invocar um demônio para este mundo, não?
— O seu pagamento são estes escravos!
— Você me chamou sem meu consentimento, então, tomarei o que eu quiser. O pagamento que quero…
O demônio riu brutalmente e turvou seu corpo negro.
— Tomarei o coração de seu pequeno filho.
Logo, seu corpo desapareceu completamente e um grito ecoou pelo quarto onde o pequeno príncipe brincava.
Borph perdeu seu coração para o demônio e foi Lyric, o médico do Império, que o salvou.
Ele veio para Akan, expulso do Império por estudar quimeras.
Aproximou-se do palácio ao ouvir notícias do príncipe sem coração.
O que ele trouxe consigo, para a surpresa de todos, era o coração de uma fada viva.
Ele removeu o núcleo da fada, embutido no coração, e deu para o príncipe para eliminar os espíritos malignos, e transplantou o coração da fada para o pequeno príncipe, que voltou à vida.
O conflito entre os espíritos malígnos e o poder das fadas enfraqueceu Borph, que passou a viver com alucinações auditivas e visuais, mas que, pelo menos, continuava vivo.
[Irônico, não? Terminar nessa situação em que teve que invocar o demônio que tentou te matar.]
Cansado de ser fraco, Borph invocou novamente o demônio.
A “maga das trevas”, Daimon, o ajudou bastante.
— Isso é um contrato injusto. Poderia invocar o demônio novamente, mas eles têm muitas restrições.
O demônio já havia sido invocado com o sangue de mais de 40 pessoas, mas voltou a aceitar o pagamento sem conceder nenhum desejo.
Belgian se protegeu com o corpo do velho rei.
— O rei das fadas interrompeu. Tenho a sensação que ele continuará a interromper… Não tem outro jeito?
Uma sombra escondida na mão de Borph apareceu e mostrou a cena do dia em que Shasha nasceu.
O demônio observou com um olhar curioso.
Uma mulher, um recém-nascido e o rei das fadas.
O demônio que observava curioso, estreitou os olhos e murmurou.
[Não consegue trazer a mulher e o bebê?]
— É impossível. Para você também.
[Hummmm… Gostaria de consumí-los… Acho que será mais saboroso que seu coração.]
Borph olhou para o demônio friamente.
O demônio no corpo de seu pai sorriu e acenou com as mãos.
[É brincadeira. Nem me lembro do gosto do seu coração, Borph. Não precisa fazer essa careta. A propósito…o rei das fadas…]
O demônio expressou um sofrimento exagerado, gesticulando um círculo.
— O que foi?
[Preciso ter cuidado se tiverem relação com o rei das fadas. Sua lança tem o poder de destruir demônios. A linhagem de sangue do rei… tem o poder de purificar espíritos malignos. Apesar de não ser tão efetivo quanto o poder divino.]
Enquanto o demônio falava tremendo, Borph encarou silenciosamente o rei das fadas na sombra.
Consequentemente, pôde ver Kalia deitada ao lado dele.
— Quem raios é ela?
Estranhamente, ele estava preocupado.
Muito mais do que com o rei das fadas ao lado dela e mais ainda do que com o bebê a quem ela deu à luz.
Seu lento batimento cardíaco parecia ficar mais ativo sempre que a via.
Ele nem sequer tem um coração de verdade para sentir amor de verdade…
Próximo a Borph, que coçava o queixo, estava o demônio.
Ele encarou a sombra na escuridão e inclinou a cabeça.
[A propósito, essa sombra está um pouco esquisita…]
Belgian esticou sua mão e encostou seu dedo na sombra.
[Venha aqui…]
A sombra, que estava parada mostrando a cena, se moveu e parou na frente dele.
Belgian encarou a sombra e murmurou para si mesmo:
[Eu não sei.].
[Eu posso sentir uma energia ruim.]
Pssss!
Naquele momento, a mão de Belgian adentrou a escuridão solidificada.
***
— Pai, qual o problema? Estamos ocupados no momento…
Hoa foi a primeira a chegar com o chamado de Kalekshia.
Ela entrou correndo na tenda de Kalekshia, segurando a lã macia em suas mãos calejadas.
Depois dela, Puriosa e Gannini também entraram com as mãos cheias.
— Nos chamou?
— Bem a tempo. Queria te perguntar algo.
Enquanto preparava-se para partir, Kalekshia virou e olhou para seus três filhos.
Seu olhar parou nos objetos que cada um dos três trouxe.
— O que é isso?
— Oh, isso?
Uma sorridente Hoa mostrou uma pequena luva em sua mão, que parecia ter menos que metade de seu tamanho.
— Sinta a textura da luva! Darei ao bebê. O que achou? Não é bonita? Assim que voltei à floresta, eu que o fiz. É bem resistente.
A rainha da floresta castigava seus filhos obrigando-os a tricotar quando crianças.
No caso de Gannini e Puriosa, o castigo era raridade, mas Hoa, que era inquieta, precisava tricotar uma vez por mês.
Graças a isso, sua habilidade no tricô melhorou cada vez mais e, agora, tricotar se tornou um hobbie de Hoa.
Os pássaros de cauda longa de enfeite na meia também foram suas criações.
Desta vez parecia que ela estava fazendo meias e luvas para o Shasha.
Enquanto ela falava, o olhar de Kalekshia caiu na boneca nas mãos de Puriosa.
— Oh, isto é a boneca favorita de Shasha. Hahaha.
O cabelo comprido da boneca e seus olhos verdes pareciam estranhamente com Puriosa.
Diferente de Hoa, as mãos de Puriosa estavam cheias de furos de agulha, devido a sua péssima habilidade de costura.
Ele olhou Puriosa com um olhar de pena ao se aproximar dela.
— E você? O que trouxe?
Diferente de suas irmãs, o que Gannini trouxe era bem pesado.
Ele encarou as duas e não se moveu, mas o que ele trouxe parecia um pequeno carro.
Sem saber o que era tão urgente que fez seu pai chamá-los, achou a situação bem interessante.
— Isto é um carrinho de bebê. Você pode carregar o bebê aqui e ir para qualquer lugar. E será útil ter um mobile instalado nele e um cesto embaixo, para carregar coisas. Foi feito não só para o Shasha, mas para Kalia também.
O olhar de Gannini passou como se estivesse zombando, pela luva e boneca de suas irmãs.
“Viram isso, irmãs? Enquanto pensavam apenas no bebê, estava pensando em Kalia. E isso é a diferença entre vocês e eu.”
O olhar de Gannini parecia dizer isso enquanto o rosto de Hoa e Puriosa ficava vermelho e azul.
— É uma luva com magia para esfriar e esquentar! Droga! Oh, meu Deus, você é tão insuportável!
— A minha boneca está viva e se mexe, irmão! Irá cantar e dançar!
Rindo da raiva de suas irmãs, Gannini checou as rodas do carrinho de bebê.
— Eu vim empurrando-o até aqui, mas suas rodas estão meio emperradas quando eu viro.
Kalekshia, que olhou seus filhos agindo assim, balançou sua cabeça.
— Vocês são uns tolos!
Parecia que ele havia esquecido que havia limpado um terço do tesouro da família para dar para Kalia.
O sangue não mentia.
— Eu já avisei Tokan e Nua. Tokan está em Solania e levará um tempo para chegar aqui, mas Nua chegará em breve.
Os irmãos, que pareciam competir pelo elogio de Kalekshia e se encaravam, viraram seus olhos.
Percebendo que o sobretudo que Kalekshia usava era diferente.
— Pai, você está indo lá agora?
Hoa perguntou, suspeita.
Kalekshia olhou seus três filhos e concordou com um breve aceno de sua cabeça.
— Tenho alguns lugares para visitar. Pedi que se reunissem, pois tenho um favor para pedir enquanto eu estiver fora.
— Vai ficar fora por muito tempo?
— Não será por muito tempo. Mas as circunstâncias exigem urgência.
Os três irmãos fizeram contato visual com expressões rígidas.
Os gritos dos espíritos que ouviu por Sheyman durante aquela reunião ainda estavam vívidos em seus ouvidos;
“Alguma coisa” estava acontecendo lá fora. E estava sacrificando seres da natureza…
— Será que a história de 300 anos atrás está prestes a se repetir? – “Mas quem menos quer guerra é o pai.”
O primeiro a perguntar foi Gannini, que estava com Kalekshia a mais tempo.
Ele era o mais parecido com seu pai, por isso conhecia muito bem sua natureza.
“Ele preservará a paz, mas ele é impiedoso no conflito por ela. Tentará colocar tudo em ordem antes que fuja do controle.”
Com a expressão tensa, ele apontou para a mão de seu pai, escondida no sobretudo.
— Posso perguntar o que aconteceu com seu dedo?
— Isso é…
Ele levantou sua mão esquerda e mostrou seu mindinho faltando.
Uma curta risada escapou de sua boca, cujo canto subiu levemente.
— É o preço do contrato.
Ele disse que “lançou uma sombra com o dedo”.
Mas não havia como a cauda de uma sombra digerir o dedo do rei das fadas.
Então, a sombra a que ele se referia era o dono da cauda.
— Parece que ele é um demônio ganancioso, pois engoliu o dedo sem hesitar.
Ele devorou o poder de seu inimigo natural, o rei das fadas.
Ele não sabia se isso seria um veneno ou um remédio para ele?
Bem, isso não deveria ser algo em que deve ter pensado.
— Enquanto estiver fora, tem algo que precisam fazer.
— Pode falar.
— Primeiro, cuidem de sua mãe, pois ela logo acordará para ver o movimento incomum da árvore. Segundo, protejam a Kalia. Se revezam para cuidar da criança. Por último, protejam a floresta. Como sempre, a floresta é tudo que temos.
Era um favor bem natural.
Gannini, Hoa e Puriosa concordaram, com os olhos brilhando.
— E não deixem que os anciões saibam de Kalia. A situação não está bem clara ainda.
Ao final deste pedido, ele enviou Hoa e Puriosa para fora.
Então, antes de Gannini sair, Kalekshia o segurou pelo ombro e sussurrou algo em seu ouvido.
— …!
Suas palavras deixaram Gannini tenso, mas foi instantâneo.
— Entendi, pai.
Kalekshia sorriu para Gannini, que respondeu sério, com um olhar de paisagem.
O corpo de Kalekshia, que estava encostado no ombro de seu filho, brilhou.
— Então, já vou.
A existência do Rei das Fadas sumiu neste instante.
Tradução: Kaon.
Revisão: Michi.