Como esconder o filho do imperador - Capítulo 37
‘você disse que eu poderia assistir. ‘
Astella olhou em silêncio o envergonhado Kaizen.
—Sinto muito, se dissesse que vais assistir e não quer que eu esteja presente, não irei.
— Isso não é o que eu quis dizer.
Só então a expressão de vergonha desapareceu de seu rosto esculpido.
Em troca, mostrou uma expressão de irritação e desgosto a qual já estava acostumada.
— Acha mesmo que vou te dizer isso? Se eu não quisesse que viesse, simplesmente te ordenaria para não vir. Não é meu passatempo perder tempo com pretextos…
A voz irritada gradualmente perdeu a força e foi cortada.
Ondas nos seus olhos vermelhos se agitaram, como o sangue, e as emoções de vergonha oscilaram.
Astella não disse nada.
Durante mais de uma década de compromisso, Astella assistiu a todos os eventos sociais, festas a noite, bailes, jantares, tudo como parceira de Kaizen.
Estiveram um ao lado do outro incontáveis horas durante numerosos banquetes e salões de baile.
Kaizen sempre seguiu os padrões do mundo social.
No dia do baile tomava a iniciativa de se aproximar de Astella para que fosse sua companheira.
Astella ficava intoxicada com seu sorriso cordial, e sua solene solicitação. E a cada vez que isso acontecia, segurava sua mão feliz.
‘Disse a verdade pelo menos uma vez na vida?’
Se deu conta, sem perguntar.
‘Toda essa amabilidade era demais para ser fingida.’
No passado, cada vez que sorria e estendia a mão, teria ocultado um desgosto por trás, enquanto esperava que Astella recusasse sua mão.
Kaizen também parecia estar recordando as memórias daqueles tempos.
Seu lindo rosto expressava um amargo remorso.
Seus lábios, que pareciam desenhados por um pincel, se abriram várias vezes, mas não pôde dizer nada.
‘Bem, terei que lhe dizer algo agora.’
Um silêncio pesado caiu sobre o corredor. As lembranças dos velhos tempos que tinham chegado sem serem anunciadas e os envolveu em um silêncio soturno.
Foi Astella quem rompeu a atmosfera primeiro.
— Se não se importa, assistirei ao baile.
Olhos surpreendidos se voltaram para Astella.
Não tinha anseios de participar de eventos como bailes.
Mas quando Astella escutou que seria realizado um baile, se deu conta de que era uma oportunidade inesperada.
´O baile pode ser uma grande oportunidade.´
Se é o baile, haverá muita gente ao redor.
E muita gente, significa, muitos olhos observando.
Astella, aos olhos do mundo, é uma pobre ex-Imperatriz abandonada pelo Imperador.
Se perguntasse seriamente na frente de todos: “Quero enviar o meu avô doente e o meu pequeno sobrinho para casa, na frente.”, Kaizen não teria como negar, inclusive pelo seu próprio bem.
́Na verdade, não tem um porquê para ele negar… Então, qualquer outra reação seria vista como estranha.´
Por isso, escolher um baile, com a maior quantidade de pessoas possíveis no salão é o melhor momento para obter a permissão de sua majestade.
Sem conhecer tais intenções, Kaizen pareceu surpreendido novamente quando disse que assistiria.
Observou Astella por um momento, e afastou o olhar.
— Sim, obrigado por assistir.
— …
´Isso é como o cumprimento que o Anfitrião faz aos seus convidados quando os encontra no salão de baile. ́
Dizer isso lhe fez sentir como se já estivesse no salão de baile.
Astella dobrou ligeiramente os joelhos e lhe respondeu:
— É uma honra que tenha me convidado, Vossa Majestade.
— Não brinque comigo.
Só então voltou para as respostas desagradáveis.
— É confuso, estava negando ir, e agora, de repente, simplesmente está aceitando o convite, é estranho que tenha mudado de ideia.
Disse usando um tom sarcástico.
́Sei que me neguei, e queria continuar negando desde o início. ́
E o motivo é que pediu coisas inúteis.
Astella queria negar, mas no lugar disso, apenas disse em voz baixa.
— Também não quis dizer sempre não. Mas se fosse um convite receptivo, já teria aceitado.
— Está dizendo que houve um problema com minha proposta?
Não sabe? De verdade?
Tinha tanta curiosidade que quase lhe perguntou: “Realmente, está me perguntando por que não sabe?”
Mas a resposta de Astella foi interrompida pela voz clara de uma criança:
— Tia Astella.
Theor, que abraçava o urso de pelúcia pelo corredor, os encontrou e correu.
E o grande filhote seguia Theor.
— Theor, não pode correr pelo corredor, é perigoso.
Theor se agarrou na borda da saia de Astella, e em voz baixa entre soluços reclamou:
— Não vou fazer isso mais.
— Sim, deve ter cuidado porque pode cair.
Blynn, que chegou logo em seguida, moveu o rabo enquanto olhava para Kaizen e Astella.
Theor, que segurava a saia de Astella, também cumprimentou Kaizen:
— Olá, Vossa Majestade.
— Sim.
Kaizen acariciou a cabeça de Theor como se fosse um filhote, bagunçando seu cabelo.
E Theor por sua vez, fechou os olhos e começou a rir.
Quando a mão de Kaizen se afastou, a criança levantou a cabeça e perguntou inocentemente:
— Majestade, por que está aqui?
Kaizen olhou para o outro lado e logo se dirigiu a Theor novamente:
— Suplicava à sua tia que viesse ao baile.
́Uma súplica. Não acredito que tenha sido uma solicitação muito humilde. ́
Theor estava interessado no assunto do baile.
— Irás ao baile, tia?
— Sim.
Theor sorriu lindamente. Fazendo aparecer as suas covinhas nas bochechas brancas e suaves do seu rosto.
— Posso ir contigo?
— Quê?
— Eu também quero ir ao baile.
No lugar da desconcertada Astella, Kaizen sorriu e perguntou:
— Sabe o que é um baile?
— Sim, vi em um livro de contos de fadas. As pessoas dançam com roupa bonita.
— Sim, é verdade.
´Bom, se fala muito de bailes em contos de fadas.´
O pequeno Theor parecia muito interessado.
Afinal, Theor nunca tinha visto um baile antes. Astella o acalmou rapidamente antes que Kaizen dissesse algo inútil:
— Você é muito novo ainda para ir a um baile. Mas te levarei quando for mais velho.
Antes disso, Theor mostrou um olhar sombriamente triste.
Sacudiu os braços do urso de pelúcia e disse em voz baixa:
— Eu também queria ir a um baile.
Esteve por um instante pensando em como acalmar o menino, mas Kaizen tomou a dianteira.
Se sentou, dobrando os joelhos, sorrindo na mesma altura dos olhos de Theor.
— Não posso te levar ao baile. Mas no lugar disso, quer que eu te mostre o jardim?
—Sério? Posso sair do cercado do jardim?
—Cercado? Quem te disse que não podia sair?
Kaizen perguntou por curiosidade e virou para o lado em que estava Astella.
Astella desviou os olhos.
Desde que veio aqui, Astella manteve Theor neste anexo.
Tinha medo de que acontecesse de novo o mesmo da última vez com o pavilhão de caça.
´Lhe pedi que brincasse só no jardim do anexo e que nunca cruzasse os limites do cercado.´
Astella não disse nada, mas Kaizen estalou com a língua brevemente, para que não notasse.
— O jardim é grande e colorido. Te mostrarei os arredores, então vamos juntos.
Theor olhou Astella com seus olhos brilhantes.
— Posso ir?
´Creio que seria melhor tirá-lo daqui por um tempo, ao invés de deixá-lo morrer de tédio.´
Não tem nada perigoso se estiver perto do anexo.
Não importa com quem se encontre de qualquer forma, afinal como estará com Kaizen não terá que se preocupar com inconvenientes.
Naturalmente, não pretendia enviar Theor sozinho com Kaizen.
Astella sorriu e agarrou a mão de Theor.
— Está bem. Vamos ver o jardim juntos.
Nesse momento, a boca de Kaizen pareceu ter um rastro de satisfação.
Astella o olho de novo. No entanto, já não tinha nenhuma emoção diferente no rosto.
***
Haviam dois caminhos desde o anexo oeste até o centro do palácio.
Um estava conectado por um corredor plano e longo, e o outro era um caminho através de um jardim.
Astella levou Theor pelo caminho de jardim.
O sabueso*, filhote de cão de caça Blynn, também estava junto de Theor e caminharam assim, juntos. Kaizen estava ao seu lado, a somente alguns passos de distância.
O brilhante jardim ensolarado era muito lindo.
Tinha alguns caminhos laterais pequenos no meio do jardim, e quando entravam no caminho lateral, tinha mais jardins de flores e estufas.
Depois de caminhar durante muito tempo, Astella se entediou e foi no caminho do meio.
Tinha um pequeno salão de chá.
— O que é esse lugar?
— É um salão de chá. Um lugar para tomar o chá da tarde.
Era um salão de chá no formato de um octógono, com oito colunas de cor azul claro que sustentavam o teto. As paredes verdes claro continham a luz do sol do jardim, fazendo brilhar suavemente.
E ao lado do salão de chá, havia uma grande acácia*. Cujo as ramas se estendiam até o céu e projetavam pétalas brancas e puras no teto verde do salão.
Cada vez que soprava o vento, o fresco aroma de acácia impregnava o ar junto do calor do sol.
— Uau…É lindo.
Theor esticou as pernas e as mãos para cima para tentar pegar as flores de acácia, formada em camadas de cachos.
Os cachos de flores brancas que se sacudiram com o ar, não chegavam às mãos de Theor.
Theor levantou mais as mãos e tentou pegar as flores.
Se via lindo e divertido.
Kaizen, que estava ao seu lado, sorriu levemente.
Astella levantou Theor e lhe permitiu tocar as flores de acácia.
—Tem que ter cuidado, porque possuem espinhos.
Astella olhou ao redor do salão de chá, e voltou ao caminho do centro do jardim. E caminharam por um bom tempo.
Quando passaram por um pequeno lago, Theor sinalou um edifício verde que se encontrava próximo do lago.
— Tem uma casa estranha ali.
— É um pavilhão, não uma casa.
— O que faz um pavilhão aqui?
Esse pavilhão, era o grande pavilhão do jardim.
Foi utilizado principalmente como sala de descanso ou sala de chá, mas foi feito com o propósito de ser como uma sala de exposição, com janelas de vidro juntas.
— Bom, foi feito para olhar o lago. Tem um caminho ali, por que não vamos ali? Só é um pouco além do caminho permitido, quer ir?
— Sim, quero ir.
Astella pensou que a porta estaria fechada porque se usava como sala de exposição, mas se abriu inesperadamente com facilidade.
*Sabueso ou sabujo é o nome de raças de cães farejadores conhecidos por serem treinados para a caça por sua habilidade, pertencem a esse grupo: foxhound americano, beagle, o Bloodhound e o Basset hound, dentre outros. (fonte google)
*Acácia é uma planta ornamental.
Tradução: Olimir.
Revisão: Michi.