Como esconder o filho do imperador - Capítulo 16
Velian desceu as escadas e viu Astella no fim do corredor.Estava conversando com um servo do imperador.
Mesmo de longe ele pode ver que o rosto elegante e tranquilo de Astella agora estava pálido.
Velian se aproximou de surpresa.
— Lady Astella?
Tinha ido ver se havia acontecido algo,mas quando chamou Astella.
Astella virou em sua direção alguns segundos depois e sorriu calmamente.
— Oh, conde. Bom ver-lo novamente.
Seu rosto não estava mais pálido,como um fantasma. Voltou lentamente ao de sempre.
“Foi impressão minha?”
Quando se voltou para o servente de meia-idade, ele explicou rapidamente a situação.
— Sua majestade levou o jovem mestre Theor para o pavilhão de caça. Estava informando a Lady Astella sobre isso.
— O que?
— Aquela criança?Não, por quê?
A cabana de caça é um lugar remoto no meio da floresta.
A floresta é densa e rodeia o pavilhão de caça, ele foi construído para quando o imperador não conseguisse retornar ao castelo depois de caçar.
Não é o lugar ideal para se levar uma criança para passear.
Além disso, Kaizen não gosta de crianças.
“Por que ele está agindo assim. Tão repentinamente?”
Velian, duvidoso, olhou para Astella ao seu lado em silêncio, imovel e concluiu a resposta.
“Não me diga que…É por causa dela?”
— Conde, quanto tempo demora para chegar ao pavilhão a cavalo?
— A cavalo chegaria em uma hora.
Astella ponderou.
“Uma hora… se eu sair agora, vou chegar lá a tempo?”
O efeito da poção já terá acabado mesmo assim.
Os dedos dela tremiam e ela os escondeu nas mangas cumpridas e voltou o olhar para Velian.
Ela se esforçou para manter a expressão tranquila. Não poderia demonstrar sinais de preocupação perto desse homem.
Não devia entrar em pânico.
Certamente as coisas se solucionarão rapidamente.
“Não entre em pânico. Eu não sei o que pode ou não acontecer.”
— Como eu disse,Theor ficou doente a pouco tempo. Ele precisa tomar o remédio na hora certa
Astela falou impassível com um sorriso sereno.
— Ah, sim, eu me lembro.
— Não é nada para se preocupar, mas eu gostaria de ir até o pavilhão de caça e lhe dar o remédio.
O clima estava nublado, poderia chover a qualquer momento, mas ela queria ir até a cabana de caça.
Velian estava um pouco surpreso. Ele pensou que nem uma mãe biológica iria tão longe.
Ou ela não confiava no imperador?
“Ela tem medo que a criança se machuque?”
Apesar de Kaizen ser um grande imperador que governava bem seu império, ele não era um homem que sabia cuidar de uma criança. Ainda sim, havia cavaleiros e servos na cabana.
“Bem, eu não tenho um motivo para não permitir.”
Vellian queria continuar em bons termos com a antiga imperatriz. Ele percebeu que o imperador estava interessado nela.
— Tudo bem. Preparem uma carruagem e-
— Não -Astella o interrompeu –- Eu prefiro andar a cavalo do que em uma carruagem numa distância tão grande.
Não era um pedido tão inusitado mas Vellian desconfiou.
“Por que você está agindo assim tão de repente? Por que é tão urgente ver a criança?”
Vellian observou cuidadosamente Astella, mas sua expressão sorridente não denunciou nada suspeito.
Não havia urgência ou impaciência em seu semblante.
Vellian assentiu.
— Sim, Lady.
***
Pela janela era possível ver que chovia pesadamente.
O tempo estava bom até chegarem a cabana mas logo começou a chover forte, como se o céu tivesse se aberto.
— Tá chovendo de novo…-Theor murmurou sem ânimo, ao lado da janela.
A pequena mão deixou uma marca no vidro embaçado.
Kaizen estava sentado na mesa de seu escritório, olhou para fora da janela.
— Quer que eu te mostre o urso?
Assim que Kaizen disse isso, Theor se aproximou com olhos cintilando.
— O urso tá aqui?
Kaizen sorriu e se levantou.
— Sim, tem um aqui.
Theor seguiu Kaizen, animado.
No quarto no meio da cabana havia vários ornamentos.
Kaizen levou Theor até um grande ornamento pendurado na parede.
A parede estava cheia de armas de caça. E havia um urso tão alto que quase atingia o teto.
Era um urso empalhado de mais de 2 metros, com um pêlo marrom grosso e garras afiadas.
Na sua boca enorme, haviam presas ameaçadoras.
Theor fitou o urso, inexpressivo.
O urso que Theor conhecia não era assim.
Ele pensava que era macio, fofinho e com um sorriso alegre…como um urso de pelúcia.
Mas longe disso, era uma besta assustadora.
Theor olhou para Kaizen.
— Isso é…um urso?
— Sim, é a primeira vez que você vê um de verdade?
Era um urso de verdade, muito diferente do que ele imaginava.
Theor se aproximou com cautela. Mesmo esticando a mão, seus dedos nem alcançavam a cintura do animal.
Theor tocou a perna do urso e sentiu o pelo áspero. Ele cuidadosamente pressionou a perna, mas ela não se mexeu. O urso continuava imóvel como uma pedra com braços e boca abertos.
Ele recolheu as mãos e perguntou:
— Por que o urso não se mexe?
— Claro que não se mexe.
— Por quê?
Theor piscou inocentemente os olhos azuis.
Kaizen não tinha noção do quanto suas palavras afetariam a criança, então disse sem pensar:
— Porque ele está morto.
Theor se virou atônito, os olhos arregalados, os lábios tremendo. Ele perguntou como se seu mundo tivesse entrado em colapso:
— …o urso…por que está morto?
A voz da criança tremia de choque.
Kaizen foi um monarca que liderou a guerra aos 20 anos e levou à vitória. Ele foi um imperador poderoso, com dignidade, que manteve sua compostura mesmo diante de vários nobres grandes. Mas, quando ouviu a criança, que estava chocada e trêmula com seu rosto choroso, Kaizen não teve coragem de dizer a ele: ‘eu matei o urso’.
— Oh… Oh sim. Aqui está a arma de caça que meu avô costumava usar
Envergonhado, Kaizen apontou para uma longa arma de caça, pendurada atrás do urso para chamar a atenção do Theor.
— É uma arma velha. Ela se quebrou há muito tempo, então eu tirei o detonador de dentro e deixei apenas a carcaça.
Ele nunca lidou com uma criança, mas talvez esse menino gostaria de uma arma ou algo assim.
Kaizen explicou o máximo que pôde para fazer com que a criança desviasse sua atenção.
— Eu vou pegá-la, então você pode tocar. Não posso colocar uma bala dentro de qualquer forma, então você pode brincar com ela.
Não era nada perigoso, mesmo que a criança brincasse com ele, já que é usado apenas como decoração.
Mas Theor não respondeu.
Mesmo Kaizen apontando para a arma na parede e explicando isso e aquilo, Theor abriu a boca vagamente e olhou para ele. Kaizen percebeu isso tardiamente.
“Esse garotinho não entende o que isso significa, se é uma arma de caça ou uma bala ou qualquer outra coisa. E não tem vontade de saber.”
A criança ainda estava em choque, remoendo apenas um fato: que o grande urso estava morto.
Graças a isso, mesmo que Kaizen dissesse que lhe mostraria uma arma de caça rara, ele não demonstrou nenhum interesse. Estava longe de estar feliz.
Os olhos azuis que tremiam começaram a ficar molhados.
A criança parecia querer chorar.
Tradução: Harumi.
Revisão: Bússola.