A Vilã, Cecilia Sylvie, decidiu se travestir - V4 03 - A Natividade e o Mercado Naissance (4)
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“Ela tem Huey para protegê-la, no entanto. O que pode ser um obstáculo suficiente para o Príncipe Janis. É improvável que ele consiga machucá-la, mesmo que tente alguma coisa.”
Isso deixou Cecilia um pouco mais à vontade. No entanto, também a fez pensar.
Como o objetivo de Janis era arruinar o Reino de Prosper, ele certamente interferiria na Cerimônia de Seleção, visando Lean.
“Mas vamos continuar no assunto. O que eu queria lhe dizer é que seu plano para banir as Obstruções se tornou inviável.”
Estranhamente, ouvir isso em voz alta não chocou Cecilia. No fundo, ela devia estar pensando o mesmo. Ela olhou para os pés, desanimada.
Depois de uma pausa anormal para respirar, Grace continuou:
“Se você ainda assim não quer desistir, há outra coisa que você pode tentar.”
“Eu farei qualquer coisa!”
“Se não conseguir encontrar Janis, você terá que forçá-lo a sair do esconderijo. Ele é um príncipe, não um fora-da-lei. Ele não ignoraria uma convocação oficial.”
“Você não quer dizer…”
Cecilia foi tomada pela ansiedade. Havia muito poucas pessoas no mundo com autoridade para convocar um príncipe e fazê-lo realmente aparecer.
“Você precisará da cooperação de Oscar para isso. Diga-lhe a verdade. Não há outra solução que eu possa pensar.”
* * *
Três dias se passaram desde então. Cecilia estava na floresta nos arredores de Algram.
À sua esquerda havia um rio que fluía na margem depois das chuvas recentes. À sua direita, havia penhascos íngremes. A estrada que ela estava tomando era larga o suficiente para uma carruagem puxada por cavalos, mas não era pavimentada, então poças se formavam aqui e ali.
“Sinto muito por incomodar você com isso…”, desculpou-se Elza.
Ela estava diante de um grupo de seis: Cecilia, Lean, Huey, Jade, Oscar e Dante. Cecilia balançou a cabeça.
“Não há problema nenhum. Além disso, nós nos oferecemos para ajudar!”
“Mesmo assim… eu normalmente seria obrigada a recusar ajuda de estranhos, mas é uma questão de urgência…” Elza baixou o olhar para o chão.
O assunto em questão era um problema que a abadessa descobrira na noite anterior. Ela chegou à cidade com várias freiras para fazer os preparativos para o Mercado Naissance.
O mercado durava quase um mês inteiro, então elas precisariam de estoque suficiente para durar pelo menos alguns dias até que pudessem receber uma nova entrega. O santuário deveria ter enviado as mercadorias naquele dia, mas elas esperaram e esperaram em vão.
Agora elas não tinham nenhuma mercadoria para vender em sua barraca.
As freiras ficaram preocupadas com a possibilidade de algo ter acontecido com o transporte e, por fim, um mensageiro veio avisar que a carroça havia ficado presa em uma vala. Pior ainda, estava muito danificada, por isso, mesmo que a colocassem de volta na estrada, não faria diferença.
“Pelo menos a carroça ficou presa perto de Algram. Nosso primeiro pensamento foi ir buscar os pacotes sozinhas…”
Só que as irmãs não conseguiram chegar lá com outra carroça porque ela também ficaria atolada na lama. Elas teriam que carregar os pacotes para fora da floresta apenas com os músculos, o que era uma tarefa difícil para um grupo de mulheres que não estavam acostumadas a atividades físicas extenuantes.
Havia apenas cinco delas, então não havia como levar todos os pacotes para fora da floresta em só uma viagem. Alguns podiam até ser pesados demais para serem levantados.
O carroceiro teria que ficar com sua carroça quebrada até a chegada de ajuda, então elas não podiam contar com ele.
Felizmente o período letivo tinha terminado e Cecilia e seus amigos estavam visitando o Orfanato Cigogne, onde Elza e as freiras também estavam hospedadas. Huey estava ajudando nos preparativos do mercado, Jade e Lean discutiam a publicação de seu próximo romance, Oscar estava dando uma olhada e Dante o seguia. Quando souberam do problema de Elza, ofereceram-se para ajudar imediatamente, e aqui estavam eles.
“Muitas rotas florestais estão intransponíveis de carroça neste momento devido às fortes chuvas”, comentou Jade, olhando para as nuvens escuras que cobriam o céu. Parecia que poderia começar a chover novamente a qualquer momento.
Elza baixou a cabeça novamente.
“Vossa Alteza, é uma honra me ajudar com esta tarefa tão mundana. Até trouxe soldados para o trabalho pesado…”
“Não mencione isso. E as tropas se beneficiarão com algum exercício”, respondeu Oscar, num tom rígido e formal.
Elza baixou a cabeça novamente.
Os soldados e as freiras caminhavam um pouco à frente do resto do grupo. Cecilia os observou distraidamente, pensando no que Grace lhe contara três dias antes.
“Você precisará da cooperação de Oscar para isso. Diga-lhe a verdade. Não há outra solução que eu possa pensar.”
“Fácil para ela dizer…” Cecilia murmurou baixinho.
Lean havia apontado anteriormente que Oscar não representava mais uma ameaça para ela, e ela concordava. Cecilia poderia contar a ele sobre sua verdadeira identidade. Isso poderia ferir seus sentimentos, poderia fazer que ele a odiasse, mas ele não tentaria prejudicá-la. Pelo menos assim ela acreditava.
‘Mas contar a ele agora, depois de tudo o que aconteceu…’
Como Oscar reagiria quando soubesse que a pessoa de quem ele se tornou amigo íntimo, que ele pensava ser um cara, era na verdade sua noiva? Depois de lançar aquela bomba, ela não poderia pedir-lhe um grande favor como: “E eu também sou uma candidata à Donzela Sagrada! E estou em apuros! Então, por favor, por favor, por favor me ajude!”
‘Eu me sentiria usada se alguém fizesse isso comigo.’
Sendo leal e generoso, Oscar não recusaria um pedido de ajuda de um amigo, não importa o que acontecesse, mas Cecilia não queria atropelar os sentimentos dele em prol dos seus próprios interesses.
Ela suspirou, avançando com a cabeça baixa. Ela estava tentando imaginar diferentes cenários em que se abrisse para Oscar, mas nenhum deles era bom.
Lean percebeu que algo estava incomodando sua amiga.
“Qual é o problema? Você não está bem?”
“Estou bem. Só estou estressada com algo que Grace me contou.”
“Tem a ver com o Punhal do Destino? Ela encontrou alguma coisa?”
“Não, nada. Parece que o progresso que pensávamos ter feito está perdido…”
Cecilia não sabia o que dizer à amiga. Grace havia mostrado a ela um caminho a seguir, mas era mentalmente desgastante para Cecilia sequer considerar isso.
Lean estreitou os olhos, insatisfeita com a resposta vaga de Cecilia.
“Não fazer progresso não significa que perdemos alguma coisa, certo? Ah, por outro lado, ouvi uma história interessante das freiras!”
“Me diga, me diga.”
“Dizem que o fantasma de uma freira assombra o santuário há alguns meses! Muitas irmãs o viram!”
Cecilia olhou para Lean de lado. Cada prédio antigo trazia uma história de fantasmas. Havia até um sobre o antigo anexo da academia deles.
“Não me parece tão estranho.”
“Mas o problema é o seguinte…! Esse fantasma parou de aparecer depois da noite em que fomos procurar o punhal!”
“Hmm…” Cecilia deu uma resposta para mostrar que ainda estava ouvindo, mas não tinha ideia de onde sua amiga queria chegar com isso.
Lean cruzou os braços e baixou ainda mais a voz para garantir que ninguém além de Cecilia pudesse ouvi-la.
“O que me fez pensar que esse fantasma poderia ter sido o Príncipe Janis!”
“Como é?!”
“Ele poderia estar procurando o punhal todas as noites, usando o hábito de freira como disfarce!”
Lean colocou o dedo indicador no nariz de Cecilia e deu um sorriso maroto, como um detetive inteligente que acabou de resolver um caso. Cecilia congelou por alguns segundos enquanto processava a reviravolta na história. Então ela tirou o dedo de Lean do nariz dela.
“Você está viajando na maionese.”
“Por quê?”
“Claro, Janis tem um rosto bonito, mas não se pode confundi-lo com uma mulher. Ele tem ombros largos e é muito alto. Não tem como ele enganar as freiras!”
“E o guarda-costas dele, então? Eu não o vi, mas talvez ele pudesse ter conseguido?”
“Não, ele também é bem fortão. Não é tão diferente de Janis.”
“Ah bem…”
Lean retraiu a mão, parecendo um pouco desapontada.
“Eu também não acho que um estranho possa entrar no santuário tão facilmente. Tivemos que passar por verificações, embora tivéssemos uma carta-convite oficial. Não vejo como alguém poderia entrar e sair todas as noites sem ser detectado.”
O intruso teria que invadir de alguma forma, mas a segurança no santuário onde morava a Donzela Sagrada era rígida.
Lean colocou as mãos nos quadris, irritada.
“Mas Janis conseguiu entrar de alguma forma! Como ele fez isso então? Ele se disfarçou como alguém do santuário?”
“Por que você está me perguntando isso…?”
Era um mistério. O mesmo aconteceu com a forma como ele descobriu sobre o Punhal do Destino, escondido nas profundezas do santuário – algo que apenas as pessoas que transmigraram do mundo de Cecilia poderiam saber.
“E se-“
“Cuidado, Cecil!” Jade gritou antes que Cecilia pudesse terminar a frase.
Ela olhou para cima e viu uma pedra enorme rolando pelo penhasco. Cecilia se afastou por instinto e conseguiu se esquivar. A rocha passou por ela estrondosamente e caiu no rio. Muitas pequenas pedras se seguiram.
“Céus…! O chão está instável por causa de toda a chuva!”
“Cuidado, pessoal! Tem mais pedras caindo!”
Cecilia ativou seu artefato para proteger seus amigos. AA pulseira criou uma cúpula invisível ao redor deles. Pedras pequenas se estilhaçaram ao entrar em contato com ela, enquanto as grandes ricochetearam. Mas a cúpula não se estendia muito longe…
“Ah!”
“Elza!”
A abadessa, que caminhava à frente deles, estava fora da cúpula protetora. Ela se agachou de medo, cobrindo a cabeça. Uma massa de pedras rolava em sua direção.
“Fique com isso!”
Cecilia pressionou seu artefato na mão de Lean. A amiga protestou, mas Cecilia não lhe deu atenção. Ela pulou para fora da cúpula e correu até onde Elza estava encolhida no chão.
“Você está bem?”
“S-sim…”
Cecilia pegou a mão dela. A clériga estava tremendo, assustada.
“Você estará segura lá! Vamos!”
Mas assim que ela tentou fazer Elza se levantar, o chão deslizou debaixo dela.
“Cecil! Elsa!” Lean gritou.
Cecilia percebeu que desta vez foi um deslizamento de terra. Toda a massa de terra em que estavam começou a deslizar em direção ao rio.
“Não!”
“Ah…”
Cecilia agarrou o braço de Elza, levantou-a e empurrou-a para dentro da cúpula. Dante a pegou nos braços. Então Cecilia gritou acima do barulho do deslizamento de terra.
“Mantenha-os seguros, Lean!”
“O quê? Não, você vem…”
Cecilia não ouviu o resto.
Ela desmaiou.