A Relação simbiótica entre uma lebre e uma pantera negra - Capítulo 142
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- Capítulo 142 - História Extra 1
Enquanto eu tentava espiar o que estava acontecendo pela brecha do colete de Evelyn, Ahin virou para a minha direção e nossos olhares se encontraram.
Ele arregalou os olhos. Eu tinha sido pega espionando. Ahin, com uma expressão levemente surpresa, logo sorriu. Ele parecia não ter adivinhado que eu estava escondida ali até então, o que era uma prova de que estava deprimido e desatento.
“…Evelyn. O que você comeu no café da manhã hoje? Coelho assado?”
“Lorde Ahin, queria te dizer antes, mas há uma espiã nesta sala.”
Evelyn descaradamente puxou o colete, revelando minhas orelhas. Então, assim que o plano tinha falhado, ele tinha escolhido o caminho da traição.
“Eu sou inocente! Só cooperei porque fui ameaçado!”
Ele fingiu chorar, enterrando o rosto nas mãos. Suspirei pesadamente, agora sendo tachada de espiã que ameaça. Maldito pantera negra. Ele que inventou essa ideia para que eu pudesse conferir o que Ahin realmente pensava!
Quando me preparei para punir Evelyn com um chute poderoso nas costelas, meu corpo foi erguido no ar. Ahin, que tinha se aproximado do nada, me afastou de Evelyn.
Quando percebi que era a primeira vez que ele me tocava em muitos dias, me senti triste. As mãos calejadas me pareciam estranhas.
“…Vivi.”
O rosto de Ahin surgiu na minha frente enquanto ele me erguia. Ele estava tão calmo e belo que parecia uma estátua. Ao contrário de mim, que estava agitada e cheia de emoções.
Me senti constrangida, olhando esse rosto inexpressivo de perto pela primeira vez em um longo tempo. Ontem, e anteontem… todo o comportamento de Ahin desde que eu tinha retornado à mansão no final do outono passou em minha cabeça como um panorama.
<Por que está me evitando? Eu fiz algo de errado?>
Não consegui afastar os sentimentos de desapontamento e tristeza com facilidade.
“Eu sei que está brava comigo.”
Pendurada no ar, desviei o olhar de Ahin e girei a cabeça para a parede.
“Mas não precisava entrar nas roupas de Evelyn, também.”
<…É isso que ele quer discutir?>
Podia ouvir meu fio de sanidade se rompendo. Passei dias agonizando sobre a razão dele se afastar. E ele não me dizia nada??
<Já chega.>
Me evite ou não, não me importo com mais nada.
“Vivi, o que houve com sua cara?”
<Me solta.>
A tristeza que eu tinha represado até agora transbordou e, impulsivamente, mordi o dedo de Ahin.
Perante esse evento inédito, os olhos vermelhos se nublaram de choque e surpresa. O mesmo aconteceu com Evelyn e os ajudantes, que taparam as bocas com as mãos.
<Vou embora.>
Sinalizei com a pata para que ele me colocasse no chão. Quando Ahin, estupefato, se abaixou mecanicamente, saltei da mão dele e corri até a porta do escritório.
No entanto, com um corpo de lebre, era impossível abri-la.
Olhando para a porta, de repente, percebi que, ao lado dela, na parede, estava pregada uma pintura que eu nunca tinha visto. Era uma coelha fazendo ginástica no campo de treinamento.
Pensei que tinha me livrado de todas as pinturas, mas tinham feito outra, e de uma cena tão embaraçosa, ainda por cima. Me sentindo muito irritada, puxei a barra da calça de um dos ajudantes.
“A Senhorita quer a pintura…?”
Entendendo meus gestos, o ajudante retirou o quadro da parede apressadamente e o colocou no chão, na minha frente. A coelha ginasta foi destroçada por minha pata dianteira afiada.
“Ei! Essa pintura é única no mundo!”
Ahin, mostrando alguma reação, se aproximou.
<Fique longe de mim!!>
Não permitindo que ele viesse, empurrei a ponta de seu sapato com toda a força de minhas patas dianteiras.
<Argh…!>
Mas, claro, tudo que consegui foi cair de bunda no chão.
“Você está bem?”
<Depois de me evitar por tanto tempo, não venha! Não me toque!>
Me levantei e estapeei a mão que Ahin me oferecia. Graças a isso, os olhos dele, arregalados pelo choque por uma segunda vez, tremeram.
Determinada, saltei, usando a mão de um ajudante como apoio e consegui chegar até a mesa. Dali, fui ao sino que Ahin usava para chamar os guardas e usei minhas patas dianteiras como martelos de algodão, soando o sino sem parar.
Nesse momento, Ash, que estava me esperando do lado de fora da porta, irrompeu dentro do escritório. Eu tinha combinado esse sinal com ela mais cedo, como garantia, caso eu fosse descoberta espiando.
Com raiva, dei uma última olhada para trás e vi Ahin me olhando enquanto nós fugíamos.
***
Era madrugada. Um passo leve tocou no parapeito da varanda que levava ao quarto de Valence.
O som dos passos ligeiros do intruso ressoou, parando dentro do quarto, frente à enorme cama.
“Para ter coragem de invadir o quarto da líder do clã, creio que você tem dois pescoços…”
Naquele momento, a elegante voz de Valence quebrou o silêncio.
“…Ahin.”
“Você já não sabia que era eu, no momento que entrei?”
“Bem, é verdade.”
Valence, que se sentou na cama com um sorriso, acendeu a lamparina. O quarto foi banhado em uma tênue luz alaranjada e uma mulher-besta lebre adormecida foi revelada.
Sentando na cama, suavemente, Ahin olhou a coelha fugitiva, que tinha se ocultado dele por dois dias.
Vendo que a cabeça dela estava voltada para o lado errado da balaustrada da cama, ele adivinhou que ela tinha dado uma volta de 180 graus enquanto dormia, outra vez.
Ele tentou alisar a bochecha branca com seu dedo indicador, mas parou. Foi porque se lembrou do incidente no qual Vivi mordeu seu dedo.
Ele sabia que ela só mordia as pessoas que odiava. Ser odiado era emocionante, mas nessa situação, não era algo que ele queria.
Ahin tirou os olhos de Vivi, que dormia com o rosto franzido, e olhou para Valence.
“Mãe, sua bochecha está inchada.”
Enquanto colocava vinho em uma taça, ela tocou sua bochecha avermelhada.
“Fui chutada por um pé de coelho por descuido. Como não foi um ataque consciente, não consegui me esquivar.”
“Parece ter doído.”
“Está ardendo um pouco. Ela é provavelmente a única pessoa no continente que consegue me atacar.”
Valence, fazendo uma brincadeira que tinha fundo de verdade, levou a taça à boca. Um momento depois, falou.
“Então, qual é o problema?”
Ahin, não entendendo o significado oculto por trás da pergunta, ficou calado.
“Bem, não pensei que me diria, de qualquer jeito.”
Valence, que não esperava uma resposta, apontou para a porta usando a taça.
“Já que já viu o rosto dela, vá embora agora.”
“Mais um pouco.”
“Se você não suporta a distância, a ponto de invadir meu quarto, não sei por que se afastou da coelha, para começar.”
“…”
“Não faça ela sofrer demais. Não é complicado para mim escondê-la de você uma segunda vez.”
Levantando uma sobrancelha, Ahin encarou Valence. No momento, ele se sentia miserável, só porque Vivi tinha mudado de quarto. Uma experiência de vida ou morte como aquele um ano e meio já bastava pela vida toda.
Valence o encarou de volta. A expressão insensível de Ahin às vezes a fazia se lembrar de Edith.
“Não entendo o que você está pensando.”
Ela sorriu suavemente, compreendendo completamente a frustração de Vivi.
Provavelmente o que ele escondia não eram novos ataques de feromônios. Ahin tinha quase perdido Vivi uma vez, e por isso não repetiria o mesmo erro de esconder os ataques.
Valence observou Ahin, que estava com os dedos tremendo para tocar Vivi, mas ainda se afastando. Então, ele olhou para o rosto adormecido de Vivi. Parecia ansioso, como se estivesse prestes a perder tudo.
Se focando na testa franzida dela, Valence se lembrou do que Vivi tinha falado antes de dormir.
“Ahin parece deprimido esses dias.”
Mas, sem nenhuma razão? Enquanto pensava nisso, Valence viu um calendário com o canto do olho. Estavam no fim do inverno, e logo seria a cerimônia de formatura de Vivi, e, na primavera, a cerimônia de casamento.
“Ahin, por acaso está sentindo marriage blues?”
“Marriage blues?”
“É quando pessoas que estão apaixonadas e prestes a se casar começam a ficar deprimidas sem razão quando se aproxima a cerimônia.”
Ahin apertou os lábios, como se isso fosse absurdo.
“Claro que não.”
“Bem, pensei que você sentiria. Eu e Edith não tivemos nada disso.”
“Isso é óbvio. Ainda falam sobre o seu casamento, até hoje.”
A mais jovem líder do clã das panteras negras se apaixonou pelo homem mais belo do continente. Lillian costumava odiar fofocas sobre Edith, mas contava essa história com orgulho. Era a história de amor do século, e Ahin a escutava desde que era bem pequeno.
“Mas a razão pela qual não senti isso é oposta à sua.”
Valence, sorrindo significamente, deu de ombros.
“Oposta?”
Ahin, que estava cutucando o nariz de Vivi, que seguia adormecida, olhou para ela. Ele não compreendia o que Valence estava dizendo.
“Afinal, o nosso casamento foi realizado por contrato, sem nenhum sentimento, para começar.”
“….?”
“Por isso, não havia razão para sentir algo como marriage blues.”
“…??”
Se Lillian ouvisse isso, quebraria algumas dúzias de bengalas. Boquiaberto, Ahin bloqueou o nariz de Vivi, sem perceber.
Tendo dificuldades de respirar, graças a ele, ela chutou a cama, sonhando que estava se afogando enquanto nadava no mar.
***
Com 20 anos de idade, Valence era uma mulher nobre disciplinada, que priorizava a honra e o poder. Ela também não tinha tolerância para com invasões em seu território e não deixava de punir severamente quem merecia.
Para alguém como ela, a existência de Edith era uma heresia. Como o terceiro filho da família Fayant, ele era relativamente livre de responsabilidades, e a palavra honra não existia em seu vocabulário. No entanto, era irritante como ainda assim ele era admirado por todos, simplesmente por ser bonito.
Será que era por suas personalidades opostas? Desde a infância, toda a vez que se encontravam em eventos sociais, a atmosfera ficava gelada.
Era óbvio para os dois. Para Edith, Valence era uma carrancuda, e para Valence, Edith era um garoto frívolo e arrogante. No entanto, devido a sua diferença de status, apenas Valence podia mostrar abertamente seu desagrado.
“Já está na hora de resolver isso!”
Num certo dia, os membros do conselho de anciões estavam insistindo que ela precisava se casar e dar à luz a um sucessor rapidamente, o que tinha irritado Valence.
Enquanto se perguntava se deveria explodir o salão de reuniões que o conselho costumava usar, ela furou um buraco no documento que assinava, sentada em seu escritório.
“Esse documento não é importante?”
Uma voz inesperada a fez olhar para a janela. Um homem estava sentado na beirada. A lua, coberta pelas nuvens, revelava um cabelo loiro que ela conhecia bem, voando ao vento.
Valence desviou o olhar e voltou a assinar documentos, perguntando.
“Você sabia que a penalidade para entrar aqui sem permissão é ter a garganta cortada?”
“Que cruel. Eu vim com meu pai, que veio participar da reunião do conselho de anciões. Além disso, sou um nobre, então você não pode aplicar essa punição sem um julgamento.”
“…”
“E eu não pensei em nenhuma outra maneira de falar com você à sós além dessa.”
Realmente, eles tinham se visto em eventos sociais centenas de vezes, mas era a primeira vez que tinham uma conversa só com os dois.
Valence, continuando a manusear e assinar documentos, falou.
“Então diga o que você quer, antes que eu te puna.”
“Você vai se casar.”
“…”
“Comigo.”
Tuk. A caneta tinteiro que estava deslizando pelo papel caiu. Erguendo a cabeça, Valence olhou para Edith, sentado na beirada da janela.
Ele estava sorrindo, após ter dito palavras tão absurdas. O sorriso era tão belo e radiante que ela pensou que era um mal presságio.
Tradução: Nopa.
Revisão: Holic.
Lucien
O Edith parece top kkkkk