A Relação simbiótica entre uma lebre e uma pantera negra - Capítulo 105
A raposa caída não mostrou nenhuma reação. À medida que o tempo passava, a expressão fria de Meimi me fez ficar com calafrios.
‘Será que ela não estava desmaiada, e sim morta?!’
Cheguei a esta terrível conclusão e empalideci. Enquanto tirava meu chapéu, para expressar condolências, Meimi segurou a raposa como um cavalheiro levaria uma dama.
“Meimi?”
“Ela está inconsciente. Melhor levá-la à enfermaria.”
Meimi, não querendo me deixar sozinha, lançou um olhar pedindo compreensão.
“Pode vir junto, Senhorita? Não é seguro nos separarmos, já que hoje há muitos desconhecidos na mansão.”
Assentindo, comecei a andar na direção da enfermaria, quando percebi um tecido vermelho jogado no chão, próximo de onde a raposa estava.
‘Isso…’
Era um vestido de baile e acessórios.
“Esperem, preciso levar isso.”
Percebendo que eram as roupas que a mulher-besta raposa estava usando antes de se transformar, me sentei no chão para recolhê-las.
“Senhorita Coelha!”
“Grr!”
Meimi e Ash exclamaram de surpresa.
“Estou bem.”
Rolar pelo chão era normal para mim. Espanei a poeira da saia e segurei o que tinha recolhido do chão nos braços. Julgando pelo design do vestido, chamativo e bem decotado, assim como as joias pesadas, imaginei que talvez essa pessoa fosse a mulher-besta raposa que soltou aqueles feromônios sexuais em Ahin há meses atrás.
A explicação sobre como ela tinha 5 maridos ficou flutuando em minha cabeça.
“Se eu for ao seu território, vou acabar virando a presa de vocês, raposas.”
“Adoraria se pudesse ser a minha.”
Meu estômago estava queimando, estranhamente. Uma sensação pesada em meu coração, que não consegui entender, fez com que eu tivesse dificuldade em caminhar.
***
Restin, o secretário de Rune, estava em problemas. Já fazia duas horas que ele não sabia onde seu mestre, o representante da família Manionz no evento, tinha se metido.
Estava quase na hora do banquete, mas as vestes de gala ainda estavam penduradas no cabide. O cabelo loiro trançado para um lado do secretário voava enquanto ele corria.
Na noite passada, Rune tinha murmurado que “não estava a fim de ir nesse banquete”, o que somente aumentava a ansiedade de Restin.
“Lorde Rune, por favor…”
Estaria ele realmente determinado a roubar a coelha, como a sua irmã tinha sugerido? Até mesmo o avô materno de Rune, Ezran, parecia preocupado sobre o que ele faria em relação à coelha.
No fundo do salão de banquetes, entre convidados que iam e vinham, Restin olhava freneticamente ao redor, procurando Rune em todas as partes. Evelyn, vestido em um terno preto, apareceu em seu campo de visão.
‘Evelyn Rudd.’
A pele do secretário brilhava sob as luzes do salão. Graças à sua aparência naturalmente bela, os convidados de outros territórios o encaravam, corando. Restin lamentava que eles não tivessem idéia da personalidade distorcida e podre por trás daquele rosto solene.
Estremecendo, ele arrumou os óculos e apurou a visão. Evelyn estava fazendo movimentos suspeitos. Desconfiado, Restin o seguiu, escondido. Logo, Evelyn chegou até um bolo de três camadas, oculto debaixo de um grande tecido e sobre um carrinho, o qual ele começou a empurrar pelo salão de banquetes. Ele abriu caminho entre os homens-besta ao seu redor sem mudar de expressão.
‘Não creio…’
Restin, se escondendo na multidão, engoliu em seco. Teria Evelyn colocado algo suspeito ali, ou teria algum plano oculto? O olhar enigmático de Evelyn dava suporte a essa hipótese.
Logo depois, chegando ao centro do salão, Evelyn puxou o tecido, expondo o bolo na frente de todos.
‘Quê…?’
Restin, que estava encarando tudo cheio de suspeitas, cobriu a boca de susto. Era um bolo esculpido no formato de um coelho bebê gigante.
“Senhor Evelyn, que diabos é isso?!”
Cheio de fúria, Restin caminhou até Evelyn, querendo saber a razão de suas ações.
“Oh, há quanto tempo, Senhor Restin.”
“Não é hora de trocar gentilezas! O que há com isso que colocou no meio do salão?”
“É um bolo de coelho.”
Frente à resposta dada com naturalidade, Restin, ainda mais bravo, apontou para a escultura.
“O prestígio da família Grace vai ser ridicularizado!”
“Isso não acontecerá, não se preocupe. A Senhora Valence vai adorar.”
“Não diga absurdos!”
“É por isso que sua reputação de covarde não para de se espalhar, Senhor Restin.”
“Como disse?!”
Evelyn, segurando o pulso do outro com força, o puxou para um lado. Se congelando por reflexo, Restin se deixou guiar.
“Se me permite, vou te dar um conselho, como seu semelhante.”
Evelyn sussurrou para ele, falando em uma voz grave.
“A família Grace está completamente sob o comando da Senhorita Coelha, então eles não têm outra opção a não ser expressar seu amor por ela usando maneiras como essa.”
“Mas que diabos…!”
“Saiba que ontem, a criada chamada Meimi, que serve a Senhorita Coelha, foi promovida a uma posição imediatamente abaixo da governanta principal da mansão. Foi ordem direta da Senhora Valence.”
Restin, sem responder, arregalou os olhos. Se ela estava imediatamente abaixo da governanta, tinha até mesmo mais poder do que a criada exclusiva da líder do clã.
“Além disso, o Lorde Ahin já foi derrotado pelas patas da Senhorita Coelha há um bom tempo. Lorde Lillian ainda está resistindo, mas creio que irá cair muito em breve. Essa era em que estamos é a era da pata de coelho.”
Evelyn sussurrou como um diabinho, enquanto os lábios de Restin tremiam.
“Se tudo der certo nessa aliança, quem sabe a Senhorita Coelha não mexa seus pauzinhos para te promover a uma função de secretário principal? Vamos preparar tudo para que ela compareça à próxima reunião da aliança entre clãs. Prepare uma cadeira de coelho, documentos em tamanho miniatura e umas pilhas de feno para ela.”
Restin, que já estava fazendo a lista de itens mentalmente, se deteve. Recobrando a sanidade, ele afastou a mão de Evelyn com um tapa. Não iria cair nessas mentiras outra vez.
“Por favor, pare de falar absurdos toda vez que me encontra!”
“Que pena, parece então que vai preferir perder a oportunidade… Falando nisso, o que faz aqui no salão, Senhor Restin?”
“…”
Só então Restin se lembrou de seu propósito original e voltou a olhar ao seu redor.
“Você por acaso viu o Lorde Rune?”
“Ele está bem ali.”
Evelyn apontou para a janela do salão, que dava para o jardim da mansão.
“Quê? Como assim…”
Restin girou a cabeça e, sob as lamparinas, viu um leão enorme, caminhando em sua forma animal, pela grama. Com os olhos tremendo como um terremoto, Restin desviou o olhar. Ele queria fingir não ter visto aquilo. Evelyn comentou, despreocupado.
“O Lorde Rune deve estar tramando algo perigoso. Será que vai sobreviver?”
“Lorde Rune…!!”
Ao ouvir o grito do seu secretário, Rune olhou para trás e acenou com a pata, seguindo na sua caminhada. Restin, preocupado, cogitou arrastar o leão de volta, se perguntando por que ele teria voltado à sua forma original.
Ignorando sua melancolia, os músicos do salão de banquetes começaram a tocar uma bela valsa.
***
“Ela está exausta. Seu corpo retornou à forma original por um instinto de defesa. Após descansar, vai se humanizar naturalmente.”
O médico da família Grace, após terminar o exame da raposa, saiu da enfermaria após inclinar a cabeça.
Ela tinha trabalhado tanto que entrou em colapso e não voltaria ao normal até descansar… Fiquei impressionada que tivesse vindo ao banquete nessas condições.
Pouco depois, a raposa despertou, e ficou me encarando com um olhar bem expressivo. Só tendo visto esse animal em livros, desviei o olhar para a parede. Raposas comiam roedores. Então, apesar de serem pequenas e graciosas, para mim, que era uma coelha, não deixavam de ser predadores perigosos.
Ash, que tinha sido barrada de entrar na enfermaria por “razões de higiene”, ficou arranhando a porta. Pensando que já tinha feito minha parte, e que poderia evitar essa situação constrangedora, me levantei da cadeira e falei.
“Que bom que a senhora já está melhor. Então, vamos nos retirar…”
Comecei a puxar a saia de Meimi, mas parei quando a raposa se sentou na cama, acenando com a pata dianteira graciosamente.
‘Por que está me chamando?’
Sentindo vontade de chorar, esfreguei os olhos. A raposa então deu tapinhas na lateral da capa da enfermaria com sua pata.
“Quer que eu me sente aí?”
A julgar pelo comportamento nervoso de Meimi, era claro que essa pessoa era uma nobre de alto ranking do clã das raposas. Hesitando, me sentei na cama, petrificada.
Nesse momento, o corpo da mulher-besta começou a brilhar e mudar de forma.
“Ai, meu deus!”
Apressadamente, puxei um lençol para cobrir a raposa. Quando a luz desapareceu, vi um cabelo escarlate flutuando. Pisquei ao perceber que estava próxima demais dela.
“Não precisa ficar tão desesperada para cobrir meu corpo.”
A mulher-besta raposa, nua exceto pelo lençol fino que eu havia jogado sobre ela, sorriu, curvando os olhos.
Como esperado, ela era a pessoa que tinha liberado os feromônios sexuais em Ahin naquele dia.
“Obrigada pela ajuda. Isso acontece frequentemente comigo. Sempre estou exausta por ter que dar conta do meu harém… Tenho muitos homens e mulheres para satisfazer.”
“….”
Franzi a testa, sem compreender de imediato o que ela tinha falado.
‘….Oh.’
Assim que entendi as palavras dela, corei até as orelhas. A mulher colocou um braço para fora do lençol e sua mão pegou uma mecha de meu cabelo branco.
“Que graça. Você não é o coelho bebê que vi com o Lorde Grace da última vez? Mas que estranho, uma mulher adulta ter a forma animal de um bebê…”
A voz suave dela ecoou.
“Sua cara assustada me agrada bastante. Adoraria te ver chorando.”
Algo extraordinário saiu da boca da raposa. Fiquei paralisada.
‘Essa besta também é completamente louca…!’
Todos os predadores são especializados em sedução, ignorando o gênero? Considerando o fato de que ela tinha acabado de declarar que no seu harém tinham mulheres, fiquei preocupada.
“Nunca tinha visto um herbívoro assim tão de perto. Por que não vem para minha mansão?”
Logo percebi que ela estava liberando feromônios sexuais no ar. Felizmente, eu já estava humanizada e consegui repeli-los com pouco esforço.
‘Ainda assim, essa pessoa é perigosa.’
Não me diga que as pessoas do clã das raposas saiam seduzindo a todos, não importa o gênero? Enquanto tentava me levantar para me afastar dela, sua mão desamarrou a fita que prendia minha capa, expondo meu pescoço por baixo dos fios brancos.
“Oh, pobrezinha. Machucou o pescoço?”
“Ah, isso…”
Fiquei vermelha imediatamente, tocando as ataduras que Meimi tinha enrolado sobre meu pescoço marcado. Pensando em alguma desculpa, estremeci quando uma mão gelada acariciou a minha nuca.
“Quero te fazer uma pergunta.”
Enquanto eu tentava deter os calafrios, a raposa sussurrou, de modo que somente eu pudesse ouvir.
“Se você tem uma marca de humanização permanente, porque sua forma animal é um coelho bebê?”
A marca de humanização permanente surgia na nuca das crianças ao completar 3 anos e chegar definitivamente em suas formas humanas. Ao ouvir isso, senti como se tivesse sido atingida por um martelo.
Ao agarrar meu pescoço apressadamente, senti uma curva estranha que nunca tinha sentido antes.
Tradução: Nopa.
Revisão: Holic.
Undy
Eu ri muito com esse capítulo.
Por favor continua logo.
Gabriela
Teve cap extra, MT obrigada vocês são demaisss
Xicalina
AAAAAHHHHHHHHH
Lucien
Eitaa q essa raposa é braba