Seduzindo o Duque do Norte - Capítulo 58
Selena parou na frente da porta e correu os olhos pelo quarto.
Embora o tamanho e a estrutura fossem aproximadamente os mesmos em comparação ao quarto do Duque, as cores, tipos e padrões de papel de parede e os móveis colocados, eram totalmente diferentes. Era um pouco mais brilhante, mais colorido e mais encantador.
— Este é o gosto da sua mãe?
— Talvez. Escutei que Irelle adicionou algumas coisas, mas a maioria foi minha mãe quem deixou.
— Posso ver sua personalidade com só um olhar no quarto. É bonita, ambiciosa e quer atenção.
— É verdade.
Kalcion assentiu com uma careta de desprezo.
Neste quarto, entrava raramente quando era menino e mesmo depois que Irelle estava nele nunca entrou.
Na manhã em que escutou pela primeira vez sobre o acidente, neste momento, não podia se permitir prestar atenção na decoração do quarto.
— Irelle estava deitada no meio da cama, — Kalcion começou a evocar a lembrança desse dia — Com o vestido para a cerimônia de noivado que usaria no dia seguinte, cortes afiados percorriam do pulso até o cotovelo em seus dois braços. Demorou para reconhecê-la corretamente, porque o corpo de Irelle estava completamente ensanguentado…
Pensaram que teria alguém que usaria o quarto uma próxima vez? As manchas de sangue se apagaram sem deixar rastro e os lençóis também foram substituídos por outros limpos.
— As janelas estavam fechadas, e as portas também estavam na chave pelo lado de dentro. A única forma de entrar no quarto era através do quarto conjugado, onde se alojava a senhora Janet, a menos que fosse aberta por dentro…
Kalcion sinalizou a porta lateral do quarto. Era onde a criada ficava para correr e atender a sua senhora a qualquer hora no meio da noite, por isso a porta se conectava ao quarto do proprietário.
— Neste dia, a senhora Janet também dormiu com a porta do quarto fechada, o que tornava impossível a entrada de um assassino pelo quarto conjugado.
— Então, se tivesse que deduzir um culpado, não seria a senhora Janet?
Apesar de ser a pessoa mais provável de se ser o criminoso, Kalcion nem sequer a tinha posto na lista de suspeitos.
— Tem alguma razão para que a senhora Janet o fizesse?
— Ela poderia pensar que Irelle não fosse adequada para a família e para a honra do Duque de Lembord… Ou algo assim…
Selena se deu conta enquanto falava.
Também era uma questão de honra, que a noiva da família Lembord fosse assassinada no dia anterior ao seu noivado.
Então, ela faria algo que desonraria a família Lembord? A situação não se encaixava.
E, em primeiro lugar, a senhora Janet não era uma pessoa tão estúpida, para pensar que não podia ser interrogada como a principal suspeita. Por mais que parecesse um suicídio, uma mmorte em um lugar em que só ela era capaz de entrar, não é como se confessasse o próprio crime?
E se fosse como Kalcion explicou, as feridas não foram cortes acidentais e fáceis de fazer, mas sim limpos. Então, quem no mundo ficaria em silêncio e observaria, enquanto vê que estão lhe cortando os braços?
— A propósito, isso também não é estranho? Se estiver consciente de que estão tentando te matar, não vai simplesmente se limitar a esperar enquanto alguém corta os seus pulsos dessa maneira.
— Sim, é estranho para mim também.
Pouco a pouco, sentia como se caísse em um labirinto. Nem o suicidio nem o assassinato estavam claros. A resposta estava muito distante, e parecia que o caminho até ela estivesse girando.
— No entanto, posso assegurar que a ferida que Irelle tinha não era algo que uma mulher que nunca empunhou uma espada pudesse fazer em si mesma.
— Bem, estou certa de que o corpo de Irelle não era de ferro… Se ela tiver se decidido, talvez pudesse fazer.
Os dois olharam seus antebraços, no entanto, não importava quantas vezes o observasse, não conseguiam entender a situação.
Ao olhar seu antebraço branco, os pensamentos e as emoções de repente se misturaram.
Selena, naturalmente, também teve momentos difíceis. Não uma, mas sim muitas vezes. Houve momentos em que realmente tentou se matar. Cada vez que estava cansada o suficiente para desejar a morte, seu coração a parava e dizia: “Aguente mais um pouco, o máximo que puder”.
Se não fosse um assassinato, o que poderia ter incomodado tanto Irelle que nem mesmo o assento de Duquesa e a glamurosa vida que a esperava foram suficientes para pará-la?
— Para machucar a si mesma, teve que estar completamente decidida. — Kalcion levantou a cabeça e olhou para Selena que continuava — Digamos que Irelle se suicidou, mas quem a levou a tal ação? E se alguém a obrigou a morrer?
— …
— Esse não seria o criminoso?
— Ele é o criminoso.
A resposta chegou sem vacilar.
— E se quem a levou à morte… Não foi só um, mas sim todo mundo que ela conheceu? Inclusive as pessoas que fizeram vista grossa e se abstiveram de ajudá-la?
— Todos eles são culpados.
— E você que não sabia nada até então?
— …
Os olhos dos dois se encontraram bruscamente.
Por um momento, Kalcion criou uma ilusão ter Irelle, quem estava ressentida com ele, o enfrentando cara a cara.
A única coisa que o incomodava era que a futura Duquesa foi assassinada na sua casa, às vésperas do noivado. Kalcion se concentrou apenas nisso e não pensou em mais nada.
Não sabia nada sobre a mulher que seria sua noiva, não se preocupava realmente por Irelle que foi assassinada. Jamais se interessou em como ela era, qual era sua situação, o que se passava pela sua mente e o que estava sentindo.
— …Eu também sou um pecador. — Kalcion murmurou abatido — Ela ia ser minha esposa, ninguém mais. Mas eu não sabia nada dela. Fui negligente.
Admitiu sinceramente.
Não teria considerado um pecado se Irelle continuasse viva. Na verdade, essa era a maneira comum de se relacionar e uma com a qual Kalcion já estava acostumado.
Seus pais faziam assim, da mesma forma que muitos casais nobres. Ele simplesmente ia conforme o fluxo da sociedade. No entanto, sua indiferença excessiva também foi um pecado. Logo, se deu conta de que o preço da sua indiferença foi a vida de Irelle.
Ao ver os olhos de Selena que o apunhalaram diretamente no seu coração, só pode admitir que definitivamente cometeu um pecado.
— Como te ocorreu tal coisa? Como pensou nisso?
Depois de escutar a pergunta de Kalcion, Selena piscou os olhos e seu olhar mudou como se despertasse de um longo transe, algo como uma hipnose. E em um instante, os olhos que estiveram revirados com o rancor dos mortos, voltaram a ser os vigorosos e ingênuos olhos de Selena.
— Ah? Oh… Hehehe devo ter me envolvido demais sem perceber.
Falava com um sorriso, mas claramente estava envergonhada. Até este ponto, parecia que tinha misturado a si mesma com os sentimentos de Irelle, sem perceber.
Ficar inconsciente, se colocando no lugar de outra pessoa, não era uma questão apenas de atuação ou de empatia. Kalcion pronunciou um pensamento repentino.
— Alguma vez teve uma experiência semelhante?
— …Não sei.
Selena, se esquivou do tema vagamente.
— Não estou te obrigando a responder, foi apenas algo que passou pela minha mente.
— Se for isso, vai me dar um presente de consolação?
— Se for preciso.
— Já tenho tudo o que preciso, é só que… — Depois de sorrir e recusar o presente, Selena olhou para a cama e voltou a pensar. — Todas as pessoas pensam nisso pelo menos uma vez na vida, não é? Sente que o mundo inteiro te odeia, acredita que sua existência é insignificante, ou pensa que sua vida não tem nenhuma influência neste mundo. O que estou fazendo viva? Não seria mais útil para o mundo desaparecer? Não é difícil simpatizar, porque alguma vez na vida me senti assim…
— Quem te fez pensar assim?
— Bom… É difícil dizer quem foi. Como no caso de Irelle. Por exemplo, pessoas que eu nem sabia o nome me acusando de coisas que eu não fiz, ou criando rumores maldosos. Quero dizer, eu tinha que seguir com a vida, mas ninguém me ajudou de alguma forma, e ainda assim tive que suportar todo tipo de comentários e ações desprezíveis da parte de pessoas que nem sequer conhecia. No final, não tive mais escolha além da de abaixar a minha cabeça e olhar ao meu redor para encontrar o meu lugar.
Ao relembrar do passado, sentiu muitos sentimentos turbulentos. Ela sorriu inconscientemente ao ver a confusão no olhar de Kalcion.
— Tudo está no passado. Suportei, resisti e finalmente me converti em uma grande atriz amada por todo o mundo. Realmente não me importa o que passou.
Disse Selena levemente.
No entanto, a expressão de Kalcion não se suavizou. Pelo contrário, se afundou mais violentamente.
— Neste mundo não precisa suportar, aguentar e resistir.
— O que deveria fazer então?
— Só me diga se acontecer qualquer coisa. Não há razão para que tenha que suportar tudo.
— Se eu te disser, vai bater na pessoa que me incomodar?
— É o suficiente só bater nela?
— Então, tem mais?
— …
Kalcion não respondeu.
— …?
O sorriso desvaneceu no rosto de Selena.
— Espera um minuto, por que não está respondendo? Vai fazer algo além de bater? Como matar?
— Quem sabe.
Por que não diz que não? Era mais suspeito, sendo que Kalcion só respondia com o silêncio. Sério, ele iria matar alguém se cometesse um erro?
— Por que não responde? Isso é estranho,não?
— Inclusive se nesta situação,matar pessoas não é algo que deva se vangloriar
A boca de Selena se abriu.
— …É sério?
— Posso fazê-lo, sempre que não for uma vingança pessoal. Sempre se tem conflito entre terras e normalmente se travam batalhas locais. Cada vez que ocorre isso, é inevitável que aconteçam sacrifícios e que alguém perca a vida pelo bem da maioria.
— Oh… Não é ilegal.
— Felizmente. Graças a isso, pude ser uma ameaça verdadeira para aqueles que me incomodam.
Na mente de Kalcion passaram os rostos daqueles que tinham escutado uma “ameaça real”. Enquanto se lembrava, de repente em seu rosto se formou um sorriso estranhamente mais satisfatório do que os que tinha visto nos últimos dias.
Não sabia quem era, mas Selena sentiu pena da pessoa que estava na sua mente.
Logo depois de simpatizar com os estranhos que passavam pela mente de Kalcion, subitamente se deu conta de que fazia parte desse grupo.
***
No dia seguinte, Selena recebeu uma mensagem de Di Arte.
Tradução: Bússola.
Revisão: Holic.