Como esconder o filho do imperador - Capítulo 90
Kaizen silenciosamente se virou e saiu da mansão.
A visão de suas costas se afastando parecia desolada e lamentável.
Ele parecia ter ficado profundamente magoado por não ter sido reconhecido por Theor como seu pai, embora não o tenha expressado externamente.
No entanto, Astella não se envolveu muito. Ela abraçou Theor.
— Então, a verei na próxima vez, Lady Astella.
Lyndon também se despediu de Astella e Theor e saiu atrás de Kaizen.
— Mãe? Por que o Imperador diz que é meu pai?
Depois que Kaizen saiu com os cavaleiros, Theor levantou a cabeça nos braços de Astella.
— Meu pai está no céu, não está?
Theor inclinou a cabeça, como se estivesse confuso com o que Kaizen havia dito.
—Theor.
Astella abraçou Theor afetuosamente e beijou sua testa.
Estava aliviada pela criança ter voltado em segurança, mas ao mesmo tempo, olhando para o futuro à frente.
Ela falou baixinho, abraçando o menino.
— Eu ia te contar depois… quando você fosse mais velho.
Ela planejava explicar a situação dentro de pelo menos cinco ou seis anos. Essa era a única maneira de ele entender completamente a situação.
Mas agora tinha que contar a verdade a Theor.
Depois que Astella fosse nomeada Imperatriz, Theor iria se tornar o príncipe herdeiro.
No mínimo, ele tinha que saber quem era seu pai e sua linhagem.
Astella suspirou, abraçando Theor enquanto subia as escadas.
— Vamos para o quarto primeiro. Hannah, prepare as roupas de Theor.
— Sim, Lady Astella.
Hannah, que os observava em silêncio, aproximou-se de Theor. Ele olhou para ela e acenou por cima do ombro de Astella.
— Olá, Hannah.
— Estou feliz que você voltou com segurança, querido Jovem Mestre.
Lágrimas de alívio encheram os olhos de Hannah. Theor ergueu a mão, surpreso.
—Não chore, Hannah.
— Mas… é porque estou muito feliz.
Hannah sorriu e segurou a mão de Theor.
— Está com muita fome, não está? Também prepare uma refeição e um banho.
— Sim, eu tenho fome.
Hannah riu.
Astella sorriu também. Ela o abraçou e Theor subiu para o segundo andar.
Hannah foi rapidamente buscar a água do banho e algumas roupas para ele vestir.
Astella dobrou os joelhos e sentou Theor na cama para alcançar o nível dos olhos da criança.
—Theor, passou por muita coisa, não é? Tudo está bem agora. Aqui é seguro.
— Mãe, e o vovô? O vovô me colocou no armário e sumiu.
Theor tinha uma expressão preocupada no rosto.
Astella deu um tapinha no ombro de Theor e o tranquilizou.
— O vovô está bem. Ele virá mais cedo ou mais tarde.
— De verdade?
— Claro.
Talvez ele tenha brigado com os sequestradores depois que escondeu Theor. Então ele os machucou e eles o machucaram.
Quando ela pensou em seu avô sendo ferido, a raiva de Astella disparou contra seu pai.
*Passos…Passos…Passos.*
Panqueca encontrou Theor no quarto e saiu correndo, latindo alegremente para ele.
— Panqueca!
Theor abraçou o pescoço do cão e enterrou o rosto no pelo macio e dourado.
Panqueca também ficou feliz em reencontrar Theor, então sua cauda balançou suavemente de um lado para o outro.
Enquanto Theor abraçava o cachorro, ele sussurrou com uma voz tão animada que parecia o reencontro com um parente que não via há mais de uma década.
— Panqueca, senti sua falta.
Panqueca lambeu a bochecha de Theor como se respondesse ao seu comentário. Theor riu alto.
— Panqueca sentiu muito sua falta enquanto você estava fora.
Desde a partida de Theor, o cachorro estava deitado no quarto de Theor sem energia, e não queria comer em todos esses dias.
Hannah e Astella tentaram levá-lo para passear, mas ele estava andando fracamente com o rabo caído e depois voltava rapidamente para o quarto de Theor.
Astella tirou uma pomada da gaveta e examinou o pescoço de Theor.
Olhando de perto, era ainda pior. As veias estavam muito machucadas, a ponto de estourar. Astella perguntou ansiosamente, examinando o hematoma.
— O que aconteceu com seu pescoço?
— O homem mau me agarrou pelo pescoço.
— Quem?
Theor respondeu sem hesitar.
— O homem chamado ‘Duque’.
— …
Com apenas essa palavra, ela podia adivinhar o que havia acontecido.
‘O que teria acontecido se Theor não fosse filho de Kaizen?’
Se Theor realmente fosse um filho ilegítimo nascido de Astella, seu pai teria trancado Theor no sótão e o deixado sozinho.
Ele teria usado sua vida para ameaçá-la. Considerando a personalidade fria e implacável de seu pai, era bem possível.
Astella aplicou a pomada no pescoço de Theor.
— Primeiro vou colocar um remédio, vamos tomar um banho e depois reaplicar a medicação.
Theor esperou silenciosamente que Astella aplicasse o remédio.
Ela colocou o remédio pegajoso em suas mãos e gentilmente o aplicou no pescoço. As pontas dos dedos que tocaram sua pele eram macias.
O pescoço do menino era fino e frágil o suficiente para segurar com uma mão.
Ao aplicar o remédio, a raiva dela disparou novamente. Como é possível que ele trate uma criança com tanta severidade a ponto de causar tal hematoma?
Ele era seu único neto. Depois de ela se divorciar e ser expulsa de casa, a afeição do Duque por sua filha claramente desapareceu, mas Astella ainda tinha desejado ao pai uma vida segura nos últimos seis anos.
Porque se algo acontecesse… Astella também não estaria segura. Mas as coisas mudaram agora. Ele havia ferido seu avô e sequestrado Theor.
Ela não poderia perdoá-lo.
Pelo bem de Theor, ela não podia deixar seu pai correr livremente. Astella pretendia privar seu pai de seu título e poder.
‘Não posso acusar a família.’
Pelo bem de Astella e Theor, o nome do ducado não podia ser manchado.
Mas seu pai tinha que desaparecer.
Sua voz inocente a chamou quando ele se levantou com a tampa do unguento.
— Mãe.
Theor, que estava acariciando Panqueca, quando olhou para Astella.
— O que é que você disse que ia me contar?
— …
Astella enfiou os joelhos embaixo da cama e ajoelhou-se na altura dos olhos de Theor.
—Theor.
Astella fez uma pausa e segurou as mãos do menino na cama.
— Eu não tinha te contado antes porque temia que fosse perigoso se as pessoas descobrissem.
Astella parou por um momento para evitar que o menino ficasse chocado. Então, lenta e cuidadosamente, continuou.
— A verdade… é que… Sua Majestade é seu pai. Você é o filho do Imperador.
Os olhos de Theor se arregalaram. Theor, apesar de ser um garoto inteligente, ainda estava em uma idade em que não conseguia compreender completamente o quão importante era a linhagem da família imperial.
Theor ponderou e perguntou.
— Então é por isso que eu tenho olhos vermelhos?
— Sim.
— Mas por que ele não estava conosco?
Theor inclinou a cabeça como se não pudesse entender.
— Sua Majestade odeia viver conosco?
— …
Astella abraçou Theor gentilmente.
Ela não podia contar tudo para o jovem Theor, e seu coração doía com isso.
Em vez disso, Astella disse:
— Não é isso. É que Sua Majestade não pôde viver conosco porque ele estava muito ocupado e havia muitos perigos.
— De verdade?
Astella acariciou o cabelo preto do menino.
— Sim, mas agora está tudo bem. Agora iremos ao Palácio Imperial e viveremos com Sua Majestade.
Ele não sabia quando, mas logo eles entraram no palácio.
Ela não queria ir ao palácio, mas já que era preciso, era melhor fazê-lo rapidamente.
Era mais seguro ficar no Palácio Imperial do que nesta mansão.
Theor perguntou, se contorcendo nos braços de Astella.
—Então não vamos para casa?
— …
Astella não conseguiu responder à pergunta por um momento.
Os seis anos que passaram no interior foram difíceis, mas tranquilos.
Astella ficou feliz em ver Theor crescer com seu avô materno. Eles nunca mais poderiam voltar àqueles dias.
Com o coração partido ao pensar que a felicidade tranquila e simples desapareceu para sempre, Astella disse amargamente, olhando para Theor.
— Sim. Não poderemos mais ir para casa.
* * *
No dia seguinte, Astella convidou Fritz para a mansão.
Na verdade, ela nem precisou convidá-lo. Porque assim que estava mandando o convite, Fritz chegou na Mansão.
— Chegou cedo.
Fritz parou na porta e olhou para Astella com olhos pesados.
Seus olhos mostravam preocupação e reprovação porque ela havia escondido tal segredo.
Fritz falou um momento depois.
—Theor está bem?
— Sim, depois de uma noite de sono tudo fica melhor.
Theor parecia bem na superfície, mas ele estava cansado de passar por tantas coisas.
Então, deu banho no menino e ele adormeceu assim que jantou.
Felizmente, depois de acordar de manhã, estava brincando com Panqueca no quarto.
— Lamento não ter conseguido resgatar Theor antes. Isso não teria acontecido se eu o tivesse encontrado primeiro.
— Não precisa se culpar pelo que já aconteceu.
Astella estava prestes a se tornar imperatriz e entrar no palácio. Não tinha mais tempo para se preocupar com o passado.
Fritz olhou para Astella com um olhar de dor.
— Ouvi dizer que aceitou o matrimônio. Você está bem?
— Queria falar com você sobre isso de qualquer maneira, irmão. Eu tenho algo que lhe dizer.
Então, Astella falou calmamente.
— Quero que meu pai abra mão do título. Vou obrigá-lo a fazer isso. Então, por favor, assuma o controle do ducado no lugar dele.
Fritz abriu a boca com cara de surpresa com a enorme proposta.
—Isso é… isso é possível? O nosso pai nunca vai desistir de ser o chefe da família.
—Temos que fazê-lo.
Claro, seu pai diria que ele preferia morrer a desistir de seu título.
Mas Astella conhecia bem seu pai, e o Duque de Reston era alguém que ia desistir de seu título ou qualquer outra coisa para escapar no momento em que ele visse que sua vida estava realmente sendo ameaçada.
— Preciso da sua ajuda. Vou te dizer como depois de entrar no palácio. Você pode fazer o que eu peço?
Fritz parecia estar desacordo por um momento: expulsar seu pai biológico e tomar o controle do ducado…
Foi difícil decidir tão facilmente. No entanto, o momento de preocupação foi curto.
Ele ainda estava arrependido de não ter feito nada quando Astella foi embora.
Fritz jurou na frente de Astella.
— Vou ajudá-la com tudo o que puder.