Como esconder o filho do imperador - Capítulo 54
O marquês de Calenberg pediu formalmente ao Imperador por uma audiência. Disse que se reuniria com o Imperador e pediria a ele pessoalmente para que os deixasse retornar primeiro.Como era um ancião doente pedindo seriamente, ele não poderia se negar.
Mas Astella não tinha nenhuma expectativa.
́Será que não permitiria, mesmo se meu avô pedisse?´
Na noite do baile, o Imperador estava irritado com Astella e por isso a recusou na hora, mas agora deveria já ter se acalmado, assim que ela teve esperança de que ele poderia permitir. Mas mesmo a menor fagulha de esperança fracassou miseravelmente.
Kaizen recusou a solicitação de seu avô para uma audiência.
A razão da negativa foi que não podia permitir se reunir com conhecidos, já que tinha muito trabalho para fazer.
“Isso já é demais.”
Ela estava tão atônita que quase se enfureceu. Astella se viu obrigada a resistir à crescente ira enquanto perambulava pela residência do anexo.
Theor, entediado de estar no quarto com Astella, brincava com o urso de pelúcia e lhe perguntou.
— Quando iremos para a capital?
— Como?
— Vamos para a capital agora?
Os olhos azuis estavam cheios de expectativas.
Há alguns dias atrás,Theor começou a dizer que queria ir para a capital. Talvez tenha sido depois do sequestro. Quando Kaizen o encontrou no jardim, ele devia ter falado para Theor sobre a capital. Astella suportou tudo com um suspiro e se aproximou da cama com Theor.
Sentada com os joelhos dobrados, ajustou seu rosto para que seus olhos ficassem nivelados com os de Theor e disse com a voz suave:
— Theor, você não vai para a capital. Você tem que voltar para casa com o vovô.
— Por quê?
— Porque a capital é muito longe e não é boa para as crianças.
Theor sacudiu o braço do urso de pelúcia e emitiu uma voz levemente decepcionada.
— Eu também queria ir para a capital..
Astella acariciou a cabeça e Theor com um toque carinhoso.
— Escute o seu avô e brinque bem com Blynn em casa. Trarei muitos presentes da capital.
— Certo!
O som da palavra presentes, Theor pareceu se sentir melhor novamente. Se sentou com seu urso de pelúcia no colo e agitou a mão para falar.
— Pode me trazer um urso de verdade da capital?
— Isso é… trabalhoso. Trarei um urso de pelúcia no lugar do de verdade.
Astella virou o olhar para a janela.
Era um belo dia. Uma nuvem fofa flutuava no céu, brilhante e ensolarado. A luz do sol adicionava uma atmosfera calorosa ao verde vívido do jardim. A árvore carregada com folhas verdes brilhava suavemente sob a luz do sol.
Astella sugeriu saírem para animar a Theor.
— Então, que tal fazermos um piquinique hoje?
Próximo do palácio havia um bosque que costumava ser utilizado como área de caça. Era um bosque dedicado ao Imperador, por isso ninguém poderia entrar nele sem sua permissão.
Kaizen não tinha saído para caçar aqui, então, se ela desejasse sair para caminhar e passear, ele certamente permitiria.
‘Bem… Não me diga que também não irá me permitir fazer nem mesmo isso.’
Theor se animou com a palavra piquenique.
— De verdade? Vamos poder ir ao bosque nos divertir?
— Sim. Vá na frente e chame o vovô também. Vou à cozinha fazer alguns lanches.
Theor saiu correndo, animado. Astella admirou a pequena figura com amor.
O bosque era um lugar que raramente iam as pessoas, por isso deveria estar cheio de ervas e flores silvestres.
‘Tenho que fazer mais do remédio de Theor antes de enviá-lo de qualquer forma.’
O medicamento que muda a cor dos olhos já tinha sido produzido em quantidade suficiente. Mas a mansão do seu avô materno ficava a uma grande distância dali, há mais de dez dias de viagem.
Era melhor fazer a maior quantidade de remédio possível e enviar junto com seu avô, para caso ocorresse algo. Afinal, ela deixaria seu filho com o vovô durante muito tempo, e queria preparar tudo o que pudesse para eles, portanto queria ir ao bosque e obter mais ervas, se lhe permitissem.
‘Agora não sei quando vou obter a permissão.’
Mesmo assim, não seria mau deixar as coisas prontas antes.
Astella arrumou o quarto e se dirigiu à cozinha. Como o anexo era uma casa pequena, a cozinha não era grande. Mas tinha tudo o que se podia pensar. Astella pegou pão integral, queijo e presunto, e fez um sanduíche cortando o alface. Era um simples lanche feito com queijo picante, presunto salgado e alface fresca e crocante, e polvilhou com molho doce.
Também embalou o que sobrou do bolo de maçã do café da manhã.. Pingou um xarope dourado entre as rodelas de maçã. Pegou uma cesta de piquenique e cobriu com um pano, colocando junto suas ferramentas para coletar ervas.
A comida foi embalada em um papel. Ela acomodou nos espaços vazios leite e limonada. Parecia uma cesta de piquenique decente.
— Isso deve ser o suficiente.
Astella deixou a cesta em cima da mesa da cozinha e saiu para chamar um servo.
— Diga a Sua Majestade que peço permissão para passear com o menino no bosque próximo daqui.
‘Tenho certeza que ele vai concordar.’
Astella pensou e foi buscar Theor.
* * *
— Aonde ela vai?
Kaizen, que examinava alguns documentos, perguntou nervoso.
O servente repetiu novamente e solicitação de Astella:
— A Senhorita Astella lhe pergunta a Vossa Majestade, se pode dar uma caminhada no bosque…
Kaizen, sem escutar mais, levantou a mão para deter o servente.
Murmurou irritado, enquanto largava os papeis.
— Não posso acreditar que ela esteja levando uma criança e um idoso ao bosque sozinhos…Mesmo depois da última vez.
‘Que demônios Astella está pensando?’
Kaizen continuava murmurando, irritado.
Enquanto olhava os documentos, Vellian levantou o olhar delicadamente e olhou o semblante de Kaizen.
O bosque do norte era uma área de caça para o palácio, portanto ninguém poderia entrar sem a permissão do Imperador. Tinha uma fronteira ao redor do bosque e os guardas vigiavam. Era seguro o suficiente, mas…Vellian não tinha tato suficiente para argumentar isso.
— O Marquês se recuperou muito. E faz um tempo que a Senhorita Astella não sai com seu avô e o sobrinho…
O humor de Sua Majestade estava decaído desde a noite do baile, e Astella parecia ter estado um pouco desolada também, e não tinha saído até agora.
A origem de tudo isso era o menino, Theor.
No dia do baile, Astella pediu publicamente a permissão para enviar seu sobrinho e o seu avô materno para casa. Mas Kaizen parou na frente de todos e recusou redondamente a solicitação de Astella.
Todos os que observavam ficaram chocados.
‘Foi uma recusa que nem uma mente comum pode entender.’
Mas Vellian conhecia a mente de Kaizen. Sua Majestade parecia estar querendo persuadir o menino e o velho com a ideia de ir à capital, para atrair Astella.
‘Teve um resultado…Completamente danoso.’
Depois de negar sua petição, Astella parou no meio do salão de banquetes como uma estátua de pedra fria. Sua expressão era terrível. Vellian se aproximou, mas nem sequer pôde se desculpar.
A relação entre o Imperador e Astella, que pouco a pouco ia se cicatrizando, se havia quebrado e pulverizado novamente. Agora, mesmo que seu jovem sobrinho e o avô estiverem na capital, era provável que Astella voltasse ao campo sem olhar para trás assim que completasse o testamento.
‘É uma pena.’
Vellian olhou o Imperador com olhos compassivos, logo sacudiu a cabeça e admirou o céu que aparecia pela janela. Um céu azul claro, sem um aglomerado de nuvens.
Um dia brilhante o suficiente para cegar qualquer um. Por conta disso, Vellian decidiu ajudar o Imperador. Era uma ideia peculiar, mas dita por pura lealdade a Sua Majestade. Naturalmente, também foi dita porque o Imperador estava de mal humor, e isso tornava muito difícil trabalhar com ele enquanto permanecia dessa maneira.
— Está um tempo ótimo. Que tal ir se divertir e caçar?
— Do que está falando?
Kaizen olhou Velian como se o que disse tivesse sido a coisa mais estúpida que já ouviu.
— Como posso ir caçar quando Astella irá fazer um piquenique no bosque?
Se alguém vai fazer um piquenique no bosque, não se pode ir caçar. Era senso comum, naturalmente.
Afinal, as pessoas estariam caminhando ao redor da área, e se alguém fosse atingido enquanto caçavam ao lado, seria um grande problema.’
‘Então, no final ele vai lhe permitir fazer o piquenique. ‘
Vellian sugeriu algo de novo, dessa vez sendo cauteloso com Kaizen:
— Então, vamos ao piquenique com Astella. Desde que Vossa Majestade chegou aqui, não teve um dia de descanso, não é?
— …
Kaizen não respondeu, só olhava para os papeis com um olhar desagradavel no seu rosto.
Ele não tinha visto Astella desde a noite do baile. O velho Marquês lhe pediu uma audiência, mas ele ignorou.
Seu coração ainda ficava pesado quando lembrava do baile. A voz de Astella, que escutou no jardim nessa noite, ficou gravada na sua memória.
─ Pode até pensar que é livre para fazer o que quiser, mas tem coisas no mundo que nunca poderá desfazer.
Era a sinceridade de Astella. Uma verdade que tinha sido enterrada no seu coração, e que recentemente tinha pensado pela primeira vez. Estava irritado com o que ela lhe disse, mas à medida que passava o tempo, via que Astella tinha razão.
‘Não foi isso que eu queria.’
Kaizen voltou a se sentir patético.
Há seis anos atrás, a primeira coisa que ele pediu para Astella foi o divórcio. Antes mesmo que saíssem do salão de casamento, ele deixou a mulher que esteve com ele durante uma década sem nem piscar.
Astella também aceitou se divorciar, por isso, ele pensou que tinha feito o certo e se esqueceu do assunto durante esses seis anos. Ele sabia que o passado era irreversível. Mas agora, ele queria se desculpar com Astella pelo que aconteceu naquela noite. Mas não tinha uma oportunidade adequada.