A Relação simbiótica entre uma lebre e uma pantera negra - Capítulo 135
A conversa de Vivi e Lile durou mais de uma hora.
“Até a próxima, Lile.”
Só então, Vivi, percebendo que era tarde da noite, correu para fora do estábulo. Seus passos se detiveram quando ela atravessou o chão de terra batida, porque haviam dois filhotes de pantera negra deitados ali.
“Que fofos… Apesar de serem predadores, são só bebês.”
Talvez tivessem se cansado de brincar e dormiram. Os lábios de Vivi se ergueram num sorriso ao ouvir os pequenos roncos.
Paf.
Sem piedade, Ash, que tinha vindo por trás de Vivi, os acordou com uma patada, e os dois filhotes piscaram, sonolentos. Então, após se despertar por completo, foram se queixar para quem estava no topo da cadeia alimentar.
<Lebre, sua subordinada nos atacou!>
<Ela é malvada! Dê uma punição a ela!>
Eles moveram as patas, tentando expressar suas intenções.
“Ah, vocês estão com fome?”
Para Vivi, parecia que estavam fazendo gracinhas. Cercada pela família de panteras negras, ela caminhou até o prédio principal da mansão. Enquanto isso, os filhotes continuaram afoitos, arranhando os seus sapatos e miando sem parar.
“O que tem de errado com vocês?”
Vivi, olhando para baixo, abismada, parou de andar. Ahin, que estava sentado na escadaria que ficava na frente da entrada do prédio principal, entrou em seu campo de visão.
‘Ele estava me esperando?’
Julgando pelos olhares nervosos dos cavaleiros, ele parecia estar ali há um tempo, olhando para o nada com um ar misterioso.
Vivi conseguiu acalmar a família de panteras negras – que mostrou total indiferença ao ar tenebroso de Ahin – e mandá-los embora. Pensando que ele deveria ser o rei das panteras, respeitado por todos, ela ficou confusa.
Soltando um suspiro preocupado, ela olhou para as longas pernas estendidas na escadaria.
“Vivi?”
Ahin, percebendo só então a presença dela, se moveu. A brisa noturna movimentou seu cabelo prateado. Vivi apertou o buquê de rosas que estava segurando.
Os olhos dela se moveram das rosas para os olhos dele. Toda vez que via aqueles olhos vermelhos, percebia que eles realmente eram de clãs diferentes. Ele tinha ideia de quanta coragem ela tinha precisado para ficar de pé naquele pódio?
Talvez, no caminho para ela chegar ao nível de Ahin, a oposição do conselho de anciões seria só a ponta do iceberg.
No entanto, ela tinha salvado a vida de Ahin e ele tinha lhe dado uma nova vida. Por isso, decidiu não fugir nunca mais.
‘Devo estar louca.’
Quando os sentimentos dela tinham ficado tão grandes? Seja como coelha ou como pessoa, ela amava a voz grave que chamava seu nome, como um céu estrelado.
Ela amava o rosto inocente que a encarava. Ao contrário das mãos, que eram ásperas, os lábios eram delicados. Sua testa que se enrugava quando ele estava triste ou irritado. Ela até mesmo amava o jeito como ele dizia que estava entediado.
Vivi, aceitando esses sentimentos desconhecidos e vastos, se aproximou de Ahin.
“Ahin…”
‘Obrigada por me tirar daquela cesta e me recolher.’
‘A partir de agora, quero compartilhar minha vida com você. Vamos caminhar juntos.’
Ela não sabia como expressar seus pensamentos da maneira certa. Enquanto ela hesitava, Ahin a encarou. Como ele imaginava, ela tinha feito um buquê e agora estava em silêncio por um longo tempo.
“Não. Meu parceiro será outra pessoa.”
Outra pessoa… Quando ele se lembrava da brutalidade da coelha infiel, ele queria ranger os dentes, mas seu coração já tinha amolecido quando a viu carregando o buquê de flores.
Mesmo que Vivi seja perversa, o destino dele era se colocar aos pés dela, sem hesitar. Ahin, pensando que isto não era nada mau, decidiu ignorar o que ouviu.
Ao ver uma Vivi angustiada em sua frente, a raiva se dissipou e ele a perdoou de imediato. Era impressionante que uma coelha assustadiça tivesse ficado de pé numa sala cheia de predadores. Mas, graças à ideia ultrajante de perfurar seu próprio braço, tudo que ela tinha ouvido o dia todo foram críticas.
Se sentindo fraco perante essa Vivi desencorajada, Ahin tomou uma decisão interna. Se Vivi confessasse para ele sobre esse parceiro para o baile, ele iria lidar com isso discretamente.
“Vivi. Por acaso tem algo para me dizer?”
No entanto, a voz dele ainda demonstrava uma certa raiva que não pôde ser escondida.
“…Algo para dizer?”
“Sim, algo pelo qual queira se desculpar.”
Os dedos de Vivi, que começaram a tremer em reação à ira que sentiu, se paralisaram. Ela já tinha recebido uma bronca enorme de Lillian antes.
‘Eu já refleti sobre meus erros, então, podem parar de falar nisso? Pantera maldosa.’
Vivi apertou as rosas, ocultando seus pensamentos perversos.
“Eu já disse que nunca mais vou me ferir de propósito.”
Ahin, recebendo o buquê de rosas vermelhas, olhou para Vivi. Os olhos lilás claro estavam rebeldes.
“Não estou falando sobre o que aconteceu no salão de reuniões. Falo sobre algo relacionado à Academia.”
Quando Ahin disse isso, Vivi se estremeceu.
‘À Academia? O que eu não contei para ele sobre a Academia…?’
Depois de engolir em seco, ela olhou para Ahin com cuidado. Ele estaria falando sobre como ela escondeu dele que estava matriculada por todo esse tempo? Ou iria continuar insistindo em estudar lá também, como da última vez? E se não for isso… Estaria dizendo que não iria deixá-la voltar para lá?
Vivi, pensando em tudo isso, o olhou, nervosa. À medida que o silêncio prosseguia, o mal entendido de Ahin se aprofundava. Quem era esse parceiro de baile que ela tanto queria ocultar?
“Ele é mais bonito que eu?”
Ahin, sem nunca falar nada sobre parceiros ou sobre o baile da Academia, soltou essa pergunta.
“…?”
Por isso, Vivi entendeu tudo errado, tapando a boca com as mãos.
‘Se ele está falando que é algo relativo à Academia e pergunta se “ele” é mais bonito… está duvidando da minha relação com Alan outra vez?’
Fazia muito tempo e Ahin ainda insistia nisso. Pantera teimosa. Mais uma vez ela estava sendo taxada de casanova. Sempre era falsamente acusada. Convencida que sua conclusão era a correta, Vivi apertou os punhos, determinada a provar sua inocência.
“Então você quer falar de Alan?”
“Aulong?”
“Não tenho nada mais para te dizer sobre isso. Ele apenas era persistente demais…!”
Vivi, se lembrando do último confronto com Alan, continuou a dizer frases ambíguas, pois não explicou o antes nem o depois. No entanto, suas bochechas coradas e seus olhos trêmulos de raiva podiam ser interpretados como a reação de alguém que foi pego traindo. Ahin estreitou os olhos perante a desculpa fraca da coelha sem-vergonha.
‘Se for Aulong…’
Ahin se lembrou do homem-besta pantera negra que ele tinha encontrado na frente da torre do relógio da Academia. Então ele era o parceiro dela… Ahin não conseguia se lembrar da aparência do garoto, pois não tinha lhe prestado a menor atenção.
Vivi, olhando sem expressão para Ahin, que começou a voltar para o quarto sozinho, correu para segui-lo.
“Ahin, espera!”
Ele não cedeu, apesar de ela o chamar desesperadamente. Estaria tudo bem para Vivi, que estava o seguindo, apenas ir com ele? Um homem e uma mulher que não estão casados poderiam continuar compartilhando um quarto? Apesar do coração impuro, Vivi era uma coelha de mente conservadora.
No entanto, já que ela tinha sido um coelho bebê todo esse tempo, até mesmo todos os criados consideravam a questão do quarto como algo normal. Ansiosa, ela continuou seguindo Ahin, tentando se livrar das falsas acusações.
“Cumprimentamos o Lorde Ahin.”
Os cavaleiros na frente do quarto o saudaram.
“Ahin, precisamos conversar…”
Mal tendo conseguido alcançá-lo, Vivi o agarrou pelo pulso antes que ele passasse pela porta do quarto.
“Aulong…”
“…?”
“Ele é bonito, não é?”
Como Ahin poderia saber como era a cara de Alan? Esse pensamento atrasou a resposta de Vivi, que, então, sacudiu a cabeça com tanta força que suas bochechas voaram.
“Não acho. Nunca pensei nele como bonito.”
Ahin, vendo a negação enfática, riu.
“Vivi, sabia que suas sobrancelhas se erguem quando você mente?”
“Quê?”
“Então você já pensou que ele era bonito.”
Frustrada, Vivi tapou ambas as sobrancelhas com as mãos.
“…”
“Vejo que a resposta é sim. Coelha lixo pervertida.”
Ahin, com um olhar gélido, passou por Vivi e entrou no quarto. Somente quando ele fechou a porta, ela percebeu que tinha sido deixada sozinha do lado de fora.
‘Por que tenho que ficar ouvindo esses absurdos o tempo todo?’
Quando Vivi, ainda frustrada, tocou as suas sobrancelhas, os olhos de ambos cavaleiros ficaram cheios de suspeitas.
Desde a antiguidade os coelhos eram conhecidos por enganar e mentir, e, quando estavam entediados, eram famosos por flertar com o sexo oposto.
***
Depois de ter trocado de roupa para dormir, fiquei rolando na cama. Abaixei o cobertor com cuidado para espiar, e ouvi o som de uma caneta riscando papel. Ahin estava em sua mesa, trabalhando em uns documentos.
Quando ele entrou no banheiro, pensei que era para se preparar para dormir, mas ele colocou outro paletó. E não bastasse ir ao escritório e voltar com uma pilha de documentos, ele estava trabalhando sem parar há uma hora.
‘Isso é uma batalha para ver quem aguenta mais tempo ou o quê?’
Abaixei o cobertor e estreitei os olhos.
“Ahin, você não vem dormir…?”
Quando consegui fazer a pergunta, com dificuldade, Ahin apenas me encarou e voltou a olhar os documentos.
‘Somente imaginar o nome de Alan o incomodou a este ponto?’
Ele estava claramente fazendo birra. Se não, não iria atuar de uma maneira tão indiferente. Percebendo o impasse, comecei a tentar atrair a atenção dele.
Me fingi de morta, sacudi os braços de um lado para outro, baguncei a cama de propósito. Mas tudo o que recebi foi uma fria indiferença.
‘Isso já é demais…’
Ele nem mesmo tinha expressado alegria ao receber o buquê. Não consigo me explicar porque ele não me ouve. Me sentindo magoada por ser tão ignorada me levantei da cama, levando um travesseiro.
Não sou tão generosa a ponto de dormir ao lado de alguém que, nesse exato momento, eu odeio.
Caminhei até meu closet, colocando vários cobertores empilhados no chão. Então, joguei o travesseiro por cima e dei uma última olhada para Ahin.
Agora ele estava olhando para mim, com os olhos arregalados. Bem, ainda que peça desculpas agora, não vou mais aceitar.
“O que está olhando?”
Sem evitar o olhar dele, comecei a fechar a porta do closet. Quando a luz da lamparina desapareceu pela fresta, o rosto de Ahin, que ainda estava parcialmente visível, foi sumindo à medida que a porta fechava.
Enquanto me deitava no chão, sobre os lençóis, enterrando a cara no travesseiro, comecei a ouvir passos do lado de fora, como se Ahin estivesse caminhando. Eles foram ficando mais altos e pararam na frente da porta.
“Vivi.”
Logo, uma voz grave ressoou através da porta fechada do closet.
“Pensei que, depois de se humanizar, você não ia mais continuar com esse hábito de se esconder em espaços pequenos.”
‘Pensa que é fácil deixar de lado um hábito de 20 anos?’
Rebatendo em minha mente, permaneci em silêncio.
“Não vai sair? Aí dentro deve ser muito apertado.”
“….É melhor do que eu pensei. Me deixe em paz.”
Então, ouvi um som de “pffft” através da porta fechada, como se ele estivesse tentando não rir.
“Então, eu vou entrar.”
“Quê…?”
Assim que levantei o rosto do travesseiro, a porta do closet se abriu.
Tradução: Nopa.
Revisão: Holic.
Gabriela
Gente eu amei essa maratona, pode vir que tô preparada
Geovane
Eu gostei desse mal entendido
Xicalina
Gente… o que um bom diálogo não faria kkkk