A Relação simbiótica entre uma lebre e uma pantera negra - Capítulo 126
‘Não vou precisar… Espera, não!’
Quase aceitei naturalmente a frase antes de me cobrir de novo com o lençol.
“Não concorda?”
Como ele pode dizer algo assim, de modo tão descarado? Era um pantera negra depravado que sorria gentilmente para enganar sua presa.
Ele tocou a ponta do meu nariz, e quando percebi que a distância na qual estávamos fazia nossas respirações se misturarem, engoli em seco. Me afastei um pouco e pude ver o rosto de Ahin, sombreado pelas lamparinas.
A luz difusa fazia os olhos vermelhos parecerem mais escuros. O olhar penetrante, o pomo de adão proeminente e os braços firmes ao redor de minha cintura estavam bem diferentes dos de um ano e meio atrás.
Os músculos dele, que eu podia sentir através do lençol, também provavam que a luta contra o clã dos lobos tinha sido difícil.
Pensei que o artista tinha exagerado quando vi um retrato dele, desenhado na capa do jornal, ao lado de Rune. A mudança de aparência, com o fim de todos os traços joviais de antes, me fazia vê-lo de uma maneira diferente.
‘Não consigo olhar para ele…’
Enquanto eu lambia meus lábios secos, meu olhar pousou nos dele. Talvez já tivesse imaginado que quando nos encontrássemos novamente nossa relação mudaria. Não seria necessário suprimir nossos instintos, já que haviam os feromônios sexuais.
Meus olhos trêmulos passaram pelos olhos puros de Ahin, seu nariz e lábios, um após o outro.
Estava preocupada sobre como iria lidar com um predador cujo corpo tinha o dobro do tamanho do meu. O que restou após essa agonia foi tensão e confusão. Não suportei mais o silêncio. Evitando o olhar dele, eu falei.
“Ahin.”
“Fale.”
“Antes, você falou… que ficaria aos meus pés.”
Ahin, piscando algumas vezes perante a frase inesperada, logo respondeu com humor na voz.
“Estou aos seus pés.”
“E você também falou que estaria domesticado por mim.”
“Sim, estou.”
Onde? Assim que vi a espada embainhada, encostada ao lado da cama, estreitei os olhos.
Da perspectiva de alguém que puxa a espada primeiro e conversa depois se a outra pessoa fizer um erro sequer, de fato, ele parecia ser obediente. Também parecia que ele estava tentando ocultar os caninos, tanto quanto possível.
“Então, você não deveria obedecer o que eu digo?”
“Obedecerei a tudo, exceto a te deixar me trair com Aulong.”
“Por que falar de Alan, do nada? Aliás, o que há com esse nome…”
“Você não deveria flertar com os outros.”
O tempo passava e as acusações injustas permaneciam. Comecei a tentar me desvencilhar aos poucos. Precisava chegar ao closet.
“Bem, vou colocar uma camisola… Ah!”
Ahin havia agarrado meu tornozelo. Perdi o equilíbrio e caí de cara na cama, deitada. Percebi que ia ter que desistir. Estava lutando, mas era uma resistência patética.
“O que estou dizendo é que estou chateado porque você não para de tentar fugir.”
Uma voz que não soava chateada falou em cima de minha cabeça.
“Por isso, não vou te obedecer hoje. Porque estou chateado.”
Senti a cama abaixar quando Ahin se deitou ao meu lado, apoiando o rosto com os braços. Me esquecendo de respirar, nem mesmo consegui virar o rosto para o outro lado. Tenho certeza que meu rosto estava muito vermelho.
“Vivi…”
“Sim…?”
Quando Ahin afastou meu cabelo para o lado, minha nuca foi revelada.
“Você se humanizou definitivamente sem mim.”
Dedos frios passaram pela cicatriz em forma de flor na parte de trás do meu pescoço.
“E, quando nos reencontramos depois de tanto tempo, você fingiu ser um animal. Me enganou. Sabe como me senti?”
“…Eu entendo que você esteja chateado, mas…”
“Você sabe do que eu estou falando. Vai me fazer chorar outra vez?”
O cabelo prateado dele se aproximou dos meus ombros, cobertos com o lençol. Logo, os lábios tocaram meu ombro e se afastaram.
‘Isso é tão…!’
Eu estava tentando ser paciente para protegê-lo. E controlando a tentação. Mas tudo tinha um limite.
Enquanto eu apertava a borda do lençol com força, a mão se Ahin parou na minha nuca. As cicatrizes da mordida tinham desaparecido totalmente devido aos feromônios curativos, mas a marca da mordida anterior, que ele tinha feito de propósito, continuava ali.
“Doeu muito…? Não ficou nenhuma marca.”
Por um instante, os dedos de Ahin tremeram. Ele devia estar se lembrando da mordida que quase me matou. Pensei comigo mesma que tive que aguentar a dor sozinha, mas não queria reclamar.
“Doeu muito.”
“Quanto?”
“Ao ponto em que o céu azul parecia amarelo.”
Ahin tocou minha nuca suavemente. Eu queria ver a sua expressão, mas quando girei, percebi que ele estava falando algo inacreditável.
“Vou arrancar fora os meus caninos.”
“…Como?”
Somente porque eu tinha me queixado um pouco, ele tinha chegado a essa conclusão terrível. Frustrada, tentei acrescentar.
“Eu senti dor, mas fiquei inconsciente a maior parte do tempo…! Quando acordei de vez, estava quase totalmente curada, então não foi nada demais…”
Ahin tocou seus dentes, sem responder. Ele não ia realmente arrancá-los fora, ia?
Surpresa, percebi porque ele não tinha acreditado quando eu falei que tinha me curado rapidamente. Ele ainda não sabia que eu agora podia usar os feromônios curativos para curar a mim mesma.
“Vivi.”
Tentei acrescentar essa explicação, mas Ahin falou antes de mim.
“Isso não vai mais acontecer. Se algo parecido começar a ocorrer, vou me matar antes de qualquer outra coisa.”
“Isso é ridículo!”
“Por isso, não desapareça outra vez.”
Ao mesmo tempo, sem aviso, a mão dele entrou por debaixo do lençol. O toque da palma grossa contra minha pele nua fez todos os músculos do meu corpo se contraírem.
Toda vez que os dedos calejados tocavam minha pele, não conseguia evitar de suspirar.
“Haa… Ha…”
Aquela mão começou a varrer todo o meu corpo, alcançando lugares que nunca tinham sido tocados antes. Ele era gentil, mas fiquei confusa pelo movimento repentino. E a minha voz parecia estranha para mim mesma.
“…Ahin… espera um minuto…”
“…Por quê?”
Ao contrário da resposta dele, que foi lenta, suas mãos continuavam firmes. O meu corpo estava quente, o que fez com que os lábios afundando em meu pescoço parecessem gelados.
Logo, feromônios que eu nunca tinha experimentado antes começaram a fluir do meu abdômen. O odor que tomava o quarto só podia vir dos feromônios sexuais. Usei todas as minhas forças para encará-lo, sem dizer nada.
“Já te falei, quando você me olha assim eu fico emocionado.”
Com um grande sorriso, ele pegou um punhado de cabelo branco e o beijou. Os olhos vermelhos escondidos por trás do sorriso mostravam uma sede distinta.
“…Outro dia você me falou que não usasse feromônios sexuais…”
“Eu não disse isso. Só fiquei irritado porque você aprendeu com outra pessoa, e não comigo.”
Ahin mostrou uma cara de desdém, como se estivesse bravo outra vez. Só que, ao mesmo tempo, continuava lançando aqueles feromônios densos, perigosos o bastante para me fazer perder a razão.
“Vivi, está me olhando com olhos traiçoeiros outra vez.”
“Eu não…”
Evitei o olhar dele, mas logo franzi a testa. Não era uma contradição ouvir isso de uma besta selvagem, como se ele próprio não tivesse nenhum desejo? Fiz contato visual com Ahin outra vez.
“Quero te ver também. Tem algo de errado com isso?”
Esta Vivi podia ser bem direta às vezes, Ahin piscou sem expressão, surpreendido por minha atitude. Logo, ele tocou meu olho com o polegar.
“Por que está chorando enquanto diz isso?”
“Ah, isso…”
Eram lágrimas que tinham surgido naturalmente graças ao que estava acontecendo. Ahin, pegando a lágrima com o dedo, a lambeu devagar.
“Bem, de todos os modos, não importa.”
Ele colocou a mão debaixo do lençol, o afastando. Então, subiu em cima de mim, sorrindo e revelando sua sede irrestrita.
“Porque mais lágrimas virão depois dessas.”
Ai, meu Deus.
***
Quando acordei socando um travesseiro, arregalei os olhos, supresa pela força que minha mão estava colocando no golpe, por si mesma. Parece que, mesmo após me humanizar por completo, meus maus hábitos de sono tinham permanecido.
Piscando, olhei para a janela. As cortinas estavam fechadas, o que não me permitia perceber que horas eram. Pelos meus cálculos, tinha conseguido dormir ao nascer do sol.
Apurei os ouvidos e consegui escutar os criados em seus afazeres matinais.
‘Onde está Ahin?’
Inconscientemente tocando o colchão, percebi que havia um som de água correndo vindo do banheiro.
Essa besta selvagem, com sua energia interminável… Encarei o banheiro com raiva enquanto voltava a deitar e abraçava meu corpo dolorido.
Quando me lembrei da dor que quase não pude suportar, vindo junto de uma voz rouca que pedia que eu chamasse o seu nome, minhas orelhas ficaram vermelhas outra vez. Com o quanto eu tinha sofrido e derramando lágrimas, senti que isso tinha sido muito mais difícil que o treino de feromônios.
Foi só ao nascer do sol que eu tinha conseguido fechar os olhos e dormir. Não, talvez a expressão “desmaiado” seja mais apropriada. Nem podia lembrar em que momento tinha apagado.
‘Esse louco…!’
Maldito pantera negra. Um predador completamente maluco. Praguejei enquanto mordia os lábios. Não tinha maneira de eu conseguir acompanhar o ritmo dessa besta e sua energia inesgotável.
“Chore mais.”
Todo lamento que eu deixava escapar só o provocava mais.
‘O que é isso…?’
Assim que chequei meu corpo, não pude esconder meu assombro. Me enfiei nas cobertas, engolindo meu ressentimento, que só crescia. Ahin tinha mordido meu corpo todo. Minha pele estava um desastre.
Ele não tinha mordido meu pescoço, mas compensou de um modo que pensei que ia me devorar.
Tinha deixado marcas por todas as partes. Estava preocupada em como eu ia aparecer usando meu uniforme da Academia. Teria que usar calças por debaixo da saia…
‘Ah! A Academia!!’
Me lembrei que tinha sido sequestrada pelo maldito Evelyn. O fato de que estava na mansão Grace, longe do meu local de ensino, me fez me levantar de supetão. Não podia faltar, ou ia perder a presença, e se Russell acordasse e não me encontrasse, ia se sentir sozinho. E se isso chegasse aos ouvidos do vovô…. seria um desastre.
“…”
Nos reencontramos há apenas um dia. Me perguntei se Ahin concordaria que eu voltasse para a Academia.
‘Não tem possibilidade.’
Quando cheguei a essa conclusão, comecei a caminhar sem fazer barulho, coberta pelo lençol. Fui assediada, sem poder usar uma peça de roupa sequer, desde a noite anterior.
Click. Girei a maçaneta do closet. Como Ahin tinha dito, estava cheio de roupas, e à primeira vista, todas pareciam pertencer a mim.
Satisfeita, sorri sem perceber que alguém se aproximava por trás de mim.
“Vai embora em segredo?”
Respondi por reflexo, sem pensar.
“Estou considerando o assunto. Tenho alguns dias de aula antes das férias de verão.”
“Está dizendo que agora que já conseguiu o que queria de mim, vai me jogar fora?”
“Tenho que fazer o que eu tenho que fazer.”
“Sua coelha casanova que não presta.”
“Não importa o quão rude você queira ser…”
Enquanto respondia com raiva, tapei a boca com ambas as mãos. Podia saber quem era o dono da enorme sombra que se assomava atrás de mim, sem ter que checar.
Tradução: Nopa.
Revisão: Holic.
Lucien
Ahhhhhh vem q podia ser +18 queria ter lido kkkkkkkkk e o final 🤣🤣❤️