A Relação simbiótica entre uma lebre e uma pantera negra - Capítulo 108
“Aqui, é um presente.”
Rune colocou a guirlanda que tinha feito em cima de minha cabeça, como uma coroa.
Ainda com o rosto abaixando, encarei o meu buquê e suas flores misturadas. Qualquer resposta que eu desse seria cruel para ele. O mero pensamento de dizer em voz alta o que eu sentia por Ahin fazia meu coração doer, e Rune parecia que já tinha sido apunhalado várias vezes.
No silêncio da estufa, apenas o rugido baixinho de Ash podia ser ouvido.
“Assim que o banquete acabar, vou voltar para o território dos leões.”
Depois de muito tempo, ele falou.
“Durante a noite?”
“Meu avô não para de falar nesses jornais de fofocas sobre a Coelha Ninfa. É melhor eu ir embora antes que eles lancem mais alguma reportagem irritante.”
Só então eu levantei o olhar, devagar. O rosto de Rune, que antes estava vermelho escarlate, tinha voltado a sua expressão tranquila de sempre.
“…Vai passar um bom tempo antes que eu volte para a mansão Grace, depois de hoje.”
“Por minha causa?”
Falei antes de perceber e rapidamente tapei minha boca, a cobrindo com o buquê. Talvez a aliança entre os clãs fosse terminar por causa disso. Além das expressões de Rune, eu não tinha outras pistas.
“Sim, é por causa de Vivi.”
“…”
“Quando passar um tempo, e meus sentimentos desaparecerem…. Quando eu conseguir te olhar novamente…”
Talvez ele estivesse com as mãos doendo por ter trançado a guirlanda de flores, pois se alongou. Fiquei olhando para os braços dele enquanto os flexionava.
“Eu não sou bom para lidar com os altos e baixos da vida. Minha personalidade é entediante, não acha?”
Os olhos de Rune brilhavam com uma luz dourada, mesmo com a iluminação fraca da estufa. O encarei, pensando que ele não era nada entediante, mas fingi não ter essa opinião.
“Sim, sua personalidade é muito entediante.”
“Seria educado mentir em uma situação dessas. Que coelha cruel.”
Eu me esforcei, e o resultado foi ele me chamar de coelha cruel. Tentei colocar uma expressão suave no rosto, mas sem perceber, franzi as sobrancelhas.
Rune, enquanto me olhava, estava com a boca tremendo para não rir. Ele sorriu. Mas era um sorriso triste, sem comparação com o meu sorriso constrangido.
“A minha oferta para você ir ao território dos leões ainda está de pé. Então, se um dia se cansar das panteras negras, pode vir.”
“Isso..”
‘Se eu for, sinto que não vão me deixar sair.’
Não consegui falar que não pretendia ir ali de jeito nenhum. Talvez Rune já soubesse e estivesse falando essas coisas só para preencher o silêncio.
Peguei uma flor amarela do meio do meu buquê. Sua cor me lembrava dos olhos dourados.
“…Obrigada, Rune.”
Houveram vários momentos nos quais eu teria tido dificuldades se não fosse por Rune. Aceitando a flor sem dizer nada, ele se levantou, espanando a poeira da roupa.
“Dar uma coroa de flores no território dos leões significa desejar felicidades à outra pessoa. Você sobreviveu no território das panteras negras com um corpo de coelho bebê. Sei que logo será capaz de alcançar a humanização definitiva, Vivi.”
Acenando, Rune caminhou até a porta da estufa. Ele não olhou para trás. Vendo sua maneira de caminhar, relaxada e sem formalidades, eu segurei o buquê com mais força.
“Ela é uma mulher-besta que apenas está na forma animal, não é?”
Ele não pensou em mim como uma coelha, mas como uma pessoa. Foi o único que me tratou como um ser humano do início ao fim.
“Se o Grace estiver te mantendo lá contra sua vontade, ou caso não tenha para onde ir, pode vir comigo.”
No fim, ele era o único que tinha estendido a mão para mim, sem impor nenhuma condição.
Os sentimentos amargos de ser colocada em uma cesta e abandonada por minha família voltaram à tona. Se ao menos fossemos amigos, não teríamos que dizer adeus assim.
Foi o primeiro adeus que experienciei na vida como um ser humano.
***
Felton e Millon, os guardas que protegiam a entrada da estufa, estavam com problemas.
Jane, a égua do Lorde Ahin, estava de mau humor e os encarava com desdém, como se procurasse alguém.
Eles tinham visto um leão dançarino há pouco, e agora, uma égua no meio da mansão. O que viria depois?
Mas isso era o de menos. O pior foi que, tendo desmontado da égua, Ahin imediatamente sacou a espada, como se estivesse pronto para matar alguém ali mesmo. Seu olhar assassino não combinava com o elegante traje de baile.
“Lorde, meu Lorde…!”
Felton e Millon bateram continência, segurando sua vontade de tremer e abraçar um ao outro.
“Cadê ela?”
Ahin, encarando os dois guardas que pareciam prestes a desmaiar, falou. Vivi era uma mestra do esconde-esconde.
Até mesmo Yuan, que ele tinha colocado para segui-la, tinha a perdido de vista. Depois de ouvir de um criado que ela tinha corrido na direção da estufa, ele tinha ido ali. Mas a reação bizarra dos guardas tinha esgotado sua última gota de paciência.
“Onde está Vivi?”
“E-ela entrou na estufa, senhor… está aí dentro…”
“Sozinha?”
“Não, estava comigo.”
Rune, respondendo no lugar dos cavaleiros, saiu pela porta da estufa. Ahin, encarando a flor amarela que ele havia colocado atrás da orelha, franziu o rosto.
“Meus olhos vão cair, que horror.”
“Que cruel. Foi Vivi quem me deu essa flor.”
A provocação direta aumentou a sede de sangue da Ahin. Os cavaleiros, sentindo o perigo, começaram a se afastar disfarçadamente, se movendo alguns centímetros por segundo. Não era exagero dizer que os olhos do Lorde estavam revirados de ciúmes.
“Bem, então será um presente para você levar ao outro mundo, quando morrer.”
“Quem chegou atrasado não tem direito de dizer nada.”
Ahin sacou a espada e a apontou para o pescoço de Rune.
“Então basta eu matar quem chegou antes. Assim, não estarei mais atrasado.”
Felton e Millon tremiam ao olhar para Ahin. Eles estariam em graves problemas se tentassem parar a briga agora, mas, se não fizessem nada, a aliança entre territórios poderia acabar.
“Então, vou me livrar de você de uma vez por todas.”
Ahin, ignorando o dilema e sofrimento dos guardas, continuou falando.
“Eu serei o único que será golpeado na bunda por Vivi.”
‘Lorde, a sua dignidade….!!’
É o que Felton e Millon estavam gritando, internamente.
Enquanto isso, Rune, apesar de estar com a lâmina da espada encostada no pescoço, não parecia assustado. Ele falou com uma voz sem emoção.
“Deve estar com pressa para entrar aí dentro, hein?”
Ele empurrou a espada com a ponta do dedo indicador.
“Lorde Grace, pensa que fui o único que Vivi encontrou essa noite?”
Os olhos vermelhos de Ahin, que estavam calmos até então, tremeram ligeiramente. Parando para pensar, a tal raposa não tinha aparecido no banquete até agora. Ele empurrou Rune para longe e se aproximou da porta da estufa.
Pensando que Ahin ficava mais burro quando Vivi estava envolvida, Rune falou.
“Ahin Grace.”
“Estou ocupado.”
“Você me perguntou, na noite do baile, meses atrás, se algo tinha acontecido, lembra? E eu disse que não tinha acontecido nada…”
Ahin, que estava prestes a entrar na estufa, inclinou a cabeça.
“E…?”
“Na verdade, era mentira. Foi nessa noite que eu fui a primeira pessoa a ver Vivi humanizada.”
“Não, na verdade nada aconteceu.”
“Quê?”
“Eu fui o primeiro a ver Vivi na forma humana, em uma cabana. Não vou abrir mão de nenhuma primeira vez para um leão sujo.”
“…”
Ahin chutou a porta da estufa e entrou, como se não valesse mais a pena perder tempo ali.
‘Como pensei, ele já sabia o que eu vi naquela noite?’
Deixando para trás os guardas atônitos, Rune limpou o sangue que tinha surgido quando a lâmina encostou em seu pescoço.
Enquanto isso, Ahin, que tinha mentido, estava enfurecido pelo fato de que ele não tinha sido o primeiro a ver a forma humana de Vivi.
Logo antes de abrir a porta, ele lançou uma onda de feromônios de dominação em cima de Rune. Se o poder do leão não fosse defensivo, ele teria desmaiado.
‘Quando se está apaixonado, todo o senso comum desaparece…’
Pensando assim, Rune se alongou, pensando que um peso tinha sido retirado de seus ombros.
“….Mas de qualquer maneira, você ainda é um louco.”
Ele começou a se afastar, pensando que era melhor ir antes que Ahin puxasse a espada outra vez. A cada passo que dava, sentimentos estranhos nasciam. Ele sentia isso todas as vezes que precisava desistir de algo que queria, mas hoje, estava muito mais difícil do que o normal.
Foi uma noite triste e pesada.
***
O cheiro forte das plantas da estufa dificultou a localização do cheiro de Vivi.
Ahin, procurando por todas as partes, chegou aos fundos da estufa. Logo, enxergou Vivi agachada na frente de um canteiro de flores, sozinha, sem nenhuma raposa à vista.
Tarde demais, ele percebeu que o leão tinha mentido para enganá-lo. Ele praguejou em sua cabeça.
Meimi, que foi a primeira a percebê-lo, se inclinou em uma reverência. Ahin, vendo uma pantera negra esguia o saudar, tentou adivinhar o que estava acontecendo ali, mas não conseguiu.
Ele piscou e Meimi, compreendendo o sinal, direcionou Ash e Barra para fora, silenciosamente.
No entanto, mesmo mais cedo, na enfermaria, Ash havia teimosamente ficado arranhando a porta quando tinham mandado que esperasse. Estando particularmente desobediente hoje, ela grunhiu e se sentou no chão.
Era um comportamento que ela ocasionalmente mostrava quando Vivi deixava de demonstrar afeto a ela por um tempo. Só depois que Meimi a empurrou com a cabeça, Ash aceitou sair hesitantemente.
Enquanto isso, Vivi estava olhando para um buquê em suas mãos, com os olhos enevoados. Ahin guardou a espada sem fazer ruído. Apoiado contra uma pilastra, ele esperou por Vivi, que parecia perdida em pensamentos.
Imaginando que ela poderia ter ido ali para preparar um presente para ele, Ahin resolveu não estragar os planos ambiciosos da coelha romântica.
Os olhos dele passearam do buquê à coroa de flores que ela usava na cabeça. Enquanto o buquê era feito de flores de várias cores aleatórias e ervas amontoadas, a coroa era perfeita. Quem fez era bem habilidoso.
‘Um dos dois é trabalho daquele leão sujo.’
Decidindo que daria para Quinn comer as flores arranjadas por Rune, fossem elas o buquê ou coroa, ele apoiou a testa contra a pilastra. Como podem acontecer tantos perigos sem ela nem mesmo sair da mansão?
Ahin estava irritado que tantas pessoas fossem atrás dela. Quando estava na forma de coelha, era tão frágil que ele se preocupava que fosse se partir. Quando estava na forma humana, se preocupava que os olhos de todos se voltassem para ela.
Ele chegou a ter a ideia maluca de uma Vivi humana, porém do tamanho de um coelho bebê, que ele pudesse carregar em seu bolso. Essa imagem não lhe pareceu nada mal.
Enquanto traçava um plano para esconder Vivi, Ahin percebeu que olhos lilás estavam o encarando.
O silêncio imperou na estufa, onde só haviam os dois. Vivi olhou Ahin com os olhos arregalados, mostrando uma expressão que parecia que estava se perguntando de onde ele tinha surgido.
Ahin logo pensou que ela sempre tinha expressões diferentes. Sem falar nada, ele ergueu uma sobrancelha. Então, o imitando, Vivi ergueu a sua.
Pensando que ela estava fazendo piada com ele, Ahin franziu a testa. Imediatamente, Vivi apertou a sua com tanta força que as rugas desenharam letras em sua testa. A coelha sempre era extrema em tudo.
Ahin acabou sorrindo quando ela copiou suas expressões com tanto entusiasmo. Ele ergueu um canto da boca, sarcasticamente.
Vivi, com um canto da boca erguido, também sorriu, curvando os olhos. O sorriso foi tão radiante que seus olhos lilás desapareceram por baixo das pálpebras curvadas.
Naquele momento, Ahin, olhando para aquele sorriso, sentiu uma bola em sua garganta, a qual ele teve dificuldade de engolir. Aquilo era amor.
Tradução: Nopa.
Revisão: Holic.
Undy
Não creio que parou na melhor parte.
Sinto pena do Túnel, é muito triste não ter o amor correspondido, mais quero que ahin e vivi fiquem juntos, como já sei que ficam.
Xicalina
Simmm
Xicalina
Eu amooo essa estória