A Relação simbiótica entre uma lebre e uma pantera negra - Capítulo 107
O relógio de bolso de Ahin virou sucata e a bengala de Lillian estava partida ao meio. Ezran, com os olhos arregalados como pratos, alternou o olhar entre a bengala e Lillian, perguntando a ele.
“Como assim, fugindo de um leão? Estão falando do meu Rune?”
“…No clã das lebres, a poligamia é legal? Você sabe?”
“Por que está me perguntando isso, do nada?”
“Apenas responda.”
“Bem, pelo que sei, a poligamia e a poliandria são ambos costumes comuns por lá.”
O rosto de Lillian, que estava pálido, ficou azul. Então era por isso que a coelha estava pressionando aquele servo contra a parede no outro dia… tudo fazia sentido agora.
Ele balançou a bengala partida, apontando para a escultura de coelho no topo do bolo.
“Que nora mais infiel!”
O grito desesperado dele ressoou pelo salão de banquetes. Naturalmente, o bolo não respondeu nada.
Tendo ganhado o rótulo de infiel graças a Evelyn, o tagarela, o nome de Vivi estava circulando ainda mais que o normal.
***
Vivi ficou encarando o animal parado na sua frente. Seria uma ilusão pensar que os olhos do leão pareceram tristes por um momento?
Ela não tinha tido a intenção de fugir, mas, agora que tinha se acalmado, parou para pensar na razão pela qual Rune tinha voltado à sua forma original. Talvez estivesse doente ou exausto, como aquela raposa.
Tendo chegado a essa conclusão, falou devagar para que ele pudesse ler seus lábios através do vidro.
<Está passando mal?>
Rune olhou uma Vivi preocupada, captando a expressão em seu olhar.
‘Se eu disser que estou doente, talvez ela preste mais atenção em mim…’
Rune queria ser mais ambicioso, mas não tinha talento para mentir sem piscar um olho, como Ahin Grace, que era maligno de nascença. Além disso…
Percebendo que o olhar de Rune estava focado em algum ponto atrás dela, Vivi girou a cabeça. Ash e Barra tinham entrado na estufa e se posicionado atrás dela. Os dois estavam tranquilos, olhando ao redor.
Mas, quando Vivi voltou a olhar para Rune através do vidro, ficando de costas para eles, ambas panteras negras arreganharam os dentes para o leão, sem fazer ruído.
Rune, se perguntando o que tinha feito de errado, suspirou. Ele não poderia chegar mais perto que isso com os dois guarda-costas presentes.
“Agora que o sucessor do clã foi decidido, saiba que tudo é para sua irmã. Não pense em querer nada além do que já tem.”
“Você é tão preguiçoso e acomodado, que irritante!”
Se Rune tivesse tido uma vida diferente e aprendido a ir atrás do que queria, ele teria agido diferente quando conheceu Vivi?
<Ela me perguntou se estou doente…>
Quando Rune percebeu, Vivi havia ido até o vidro que os separava, grudando sua testa nele, e estava dando batidinhas para chamar sua atenção, o olhando com um rosto preocupado.
Então, Rune sentiu o cheiro de Meimi se aproximando dele pelo lado de fora. A criada, que havia voltado para sua forma de pantera negra, entregou uma trouxa de roupas que carregava na boca para ele, sem emitir nenhum som.
Sua postura indicava que ela não tinha intenções de ir embora novamente. Das três panteras presentes, não seria ela a mais perigosa?
Rune, suspirando, moveu sua pata dianteira. Naturalmente, os olhos de Vivi e das três panteras seguiram seu movimento.
O leão, com uma expressão vaga, fez um floreio com suas patas dianteiras, continuando com passos alegres e movimentos de cabeça.
<Nada mau.>
Talvez por estar no território das panteras negras, ele estivesse mais ousado. Rune mexeu os bigotes, sentindo que estava no centro do mundo enquanto dançava. Mais do que qualquer coisa, ele queria transmitir sua mensagem.
Vivi o estava observando, vidrada. Os olhos dele passaram pelo pescoço dela, enrolado com bandagens. No passado, Rune tinha visto que Ahin tinha a mordido ali, para deixar uma marca.
<…Pantera cretino.>
Um predador comum não compreenderia essa marca. Não se tratando de animais selvagens, mas sim de homens-besta racionais, eles não fariam algo como deixar uma cicatriz permanente em outra pessoa sem nenhuma razão.
No entanto, era claro que Ahin Grace, tendo deixado essa marca, tinha uma razão para fazê-lo. Será que Vivi, sendo uma herbívora, entendia o quão egoísta e ganancioso isso era? Ficando cada vez mais bravo, Rune começou a perder a razão.
“Você é um imbecil que não entende o charme que tem os coelhos.”
Por que ele se lembrou do boneco de coelho que Ahin carregava por todos os lados?
Lembrando-se do moleque que brincava com ele todos os dias, Rune rangeu os dentes.
“Se não consegue conquistá-la, porque não volta à sua forma original e faz uma dança de acasalamento para ela?”
Pela primeira vez em sua vida, ele ergueu suas patas no ritmo. Sua juba balançava ao mesmo tempo que seus quadris. A paixão dos movimentos do leão até mesmo criou um vento ao seu redor.
“Ah, não acho que ele esteja doente.”
Mas, estaria bem da cabeça? Admirando a força das rotações de juba, Vivi se esforçou para compreender que mensagem Rune poderia estar tentando passar. Ela sabia mais do que ninguém como era frustrante quando os outros não entendiam o que ela queria passar em sua forma animal.
“Ei, Felton.”
Millon, um dos dois guardas que protegiam a estufa e que estava assistindo a cena desde o começo, chacoalhou o ombro de seu parceiro.
“Parece que mandaram trazer um leão dançarino para animar o banquete de aniversário.”
“Parece que sim.”
“Felton, é possível ensinar um animal a dançar desse jeito?”
“Acho que ele é um homem-besta.”
“Mas que tipo de homem louco faria algo assim, então?”
A discussão continuou por muito tempo enquanto Rune fazia a dança tradicional do clã dos leões, sendo observado por uma mulher-besta lebre e três panteras negras, que seguiam todos os seus movimentos com os olhos.
***
Depois de fazer os movimentos estranhos por muito tempo, Rune pegou as roupas que Meimi tinha trazido para ele com a boca e desapareceu.
Após desistir de compreender o que aconteceu, caminhei pelo interior da estufa. O fato de que eu pretendia vir para cá desde o começo da noite era um alívio dentre as complicações que tinham surgido.
‘Que horas são…?’
Me sentindo nervosa, chequei o relógio de pulso com Ferenium, que estava usando enrolado como um bracelete. Faltavam cerca de duas horas para o banquete terminar.
Chegando em um setor onde haviam vários tipos de flores, me agachei e comecei a trabalhar. Meimi, Ash e Barra ficaram um pouco afastados, pois tive receio que eles estragassem as flores.
Enquanto colhia vários tipos de flores, olhei para Meimi, um pouco envergonhada. Sempre me perguntei como seria sua forma verdadeira, mas senti que não tinha permissão de olhar.
Parada ali, sempre profissional, a pantera Meimi estava alerta. Não se esquecendo do que realmente importava, ela usava uma cinta em torno do corpo, e, enfiada ali, estava uma adaga.
“Meimi, não vai voltar para a forma humana?”
“…”
Ela, que na forma humana era uma pessoa de poucas palavras, como pantera, era ainda mais silenciosa. Girando, voltei para as flores.
Talvez porque estava pensando que Rune poderia voltar, fiquei distraída. Ele tinha recebido roupas, mas isso não queria dizer que tinha ido embora.
‘Eu não tenho tanto tempo assim.’
Duas horas não era muito. Me focando nas flores, pensei em Ahin, que às vezes se afastava estranhamente. Talvez tivesse medo de que acontecesse o mesmo com ele que aconteceu com seu pai. Percebi que ele nunca tinha falado sobre o futuro comigo.
Por isso, pensei em dar a ele algo que diminuísse sua ansiedade no dia de seu aniversário. Devia dizer as coisas que não pude porque estava na forma de coelha. Olhando para o nada, franzi as sobrancelhas.
‘Obrigada por ter me recolhido?’
Não, eu não podia dizer algo tão direto, ia ser vergonhoso demais. Ao contrário das panteras negras, que só pensam em devorar, as pessoas do clã das lebres valorizavam os procedimentos de cortejo e romance. Quando se dava um buquê de flores a alguém, isso significava que você estava dedicado a essa pessoa, e ao entregá-lo, devia-se dizer palavras bonitas e elogiosas.
Coçando o queixo, percebi que estava com problemas. Não consegui pensar nada para elogiar em Ahin.
‘Dizer que ele é louco não é um elogio.’
Não tinha nada a dizer além disso… Pensei em me focar em sua aparência. O seu cabelo prateado brilhava como a lua, seus olhos eram brilhantes, e tão vermelhos como seus lábios. O corpo dele era ainda mais belo do que o rosto…
“Ah…. É melhor apenas dar as flores sem dizer nada.”
Engoli em seco, sentindo o cheiro de flores que invadia meu nariz, o que me fez ficar relaxada. Eu já tinha sido chamada de coelha pervertida, por Evelyn, e sempre o neguei, mas no fim das contas, talvez ele tivesse razão.
A coisa mais importante era ir para um lugar separado. Ahin ficará feliz quando eu mostrar para ele as pétalas da marca de humanização definitiva que estão começando a aparecer. Meu coração disparou quando me lembrei da curva que senti em meu pescoço.
“Seu gosto é terrível. Está empilhando essas flores de cores diferentes de propósito?”
Me petrifiquei com a avaliação cruel que escutei soar pelas minhas costas. Era a voz de Rune, que tinha se humanizado. Meimi bloqueou Ash e Barra, que mostraram os dentes e começaram a grunhir para ele.
“Você nunca fez um buquê antes, verdade?”
A roupa que ele usava, tendo sido trazida por Meimi às pressas, era simples e branca. Ele se agachou na minha frente, pegando uma flor do buquê que eu estava montando e piscando sem foco.
Senti uma sensação de perigo diferente de quando ele era um leão.
“…Rune, por que você tinha voltado pra sua forma original?”
“Às vezes me dá vontade.”
Ele deve ter bebido vinho demais durante o banquete. Mas não sentia cheiro de álcool… Assenti calmante e continuei a juntar flores.
“Eu não estou bêbado, viu?”
Os feromônios dele tem o poder de ler a mente das pessoas? Enquanto eu o olhava com suspeita, Rune sorriu e balançou a flor lilás que segurava.
“Você está dizendo com os olhos que eu sou um predador esquisito, não é?”
Pensei que tinha conseguido disfarçar, mas nada estava dando certo hoje. Meio desistindo, olhei para Rune, que estava habilidosamente trançando os caules de várias flores.
“Bem, acho que você está certa. Quero dizer, é estranho um leão se apaixonar por uma coelha, não é?”
“…Quê?”
Isso era muito repentino. Sem palavras, fiquei olhando para Rune sem expressão. Os olhos dourados continuaram fixados nas flores, que ele trançava em uma guirlanda. Logo, seu rosto ficou cada vez mais vermelho e ele falou.
“….Eu disse isso antes de Ahin Grace, não foi?”
“….”
“Vendo que não há resposta, acho que é verdade. Bem, com a personalidade dele, não me surpreende.”
Sorrindo, ele adicionou uma flor branca à guirlanda. Fiquei olhando, atônita.
“É a primeira vez que digo isso a alguém. E acho que foi a primeira vez de Vivi escutando, não foi?”
Do que ele estava falando? Como isso aconteceu, e quando? Nós mal nos conhecemos, e nem passamos tanto tempo juntos. Sem conseguir responder nada, fiquei olhando a guirlanda nas mãos de Rune.
Agora que penso nisso, Rune não sabia. Que, apesar de não ser correspondida, eu tinha sentimentos por Ahin, e que nem eu mesma sabia o quão profundos eram.
Engoli em seco várias vezes e abri a boca, com dificuldade.
“Eu… Ahin…”
“Eu sei, você não precisa dizer. Isso me deixa tão louco que, na raiva, planejei te roubar e te levar para o meu território.”
“Quê…?!”
“Mas mudei de ideia quando te vi fazendo essa abominação de flores.”
Ele não precisava ser tão direto sobre a falta de beleza do meu buquê. Um pouco deprimida, o escondi atrás das costas.
“É a primeira vez que te vejo fazer essa expressão.”
Sem saber que cara eu estava fazendo, abaixei a cabeça para esconder o meu rosto. Logo, Rune me ofereceu sua guirlanda, feita exclusivamente de flores brancas e lilás.
“Não queria que a sua vida se arruinasse, ficando para sempre no território das panteras negras.”
Tradução: Nopa.
Revisão: Holic.
Lu
Fiquei com pena do rune, ele dançou para ela kk
Lucien
Nós próximos caps vai ser a morte do rune kkkkkkkkk e mano eu amo o Evelyn kkkkkkkk cara 🤣❤️