Seduzindo o Duque do Norte - Capítulo 40
— Não se mexa.
— Está ardendo…
As pontas dos dedos de Kalcion, que se moviam cuidadosamente, pararam, com os lamentos de Selena. No entanto, logo voltaram a se mover.
Após terminar de cortar e lixar as unhas de Selena como se estivesse lidando com um material precioso, endireitou as costas.
— Obrigada…
Selena deu um pequeno sorriso enquanto olhava para as próprias unhas limpas e lisas.
— Você se machucou enquanto trabalhava para mim, então é minha responsabilidade. Não precisa agradecer.
A resposta direta foi tão graciosa que Selena começou a rir, esquecendo-se imediatamente de toda a tensão que sentiu antes.
Ela endireitou as costas e examinou o próprio corpo.
Agora que suas feridas foram tratadas, percebeu que o seu corpo inteiro estava machucado. Havia esparadrapos por todos os lados, e o cheiro de remédio pinicava em seu nariz, ao invés do cheiro usual de perfume. Deu uma risada desanimada ao pensar em como estava ridícula.
— Parece que sou uma paciente gravemente ferida.
— Você poderia ter se ferido gravemente.
— Eu sei. Poderia ter morrido, haha.
Ela deu uma risada indiferente. Quase não conseguia acreditar.
— Sim, você poderia ter morrido.
Kalcion ter concordado causou arrepios na espinha dela.
Não era mentira, realmente poderia ter morrido.
Calafrios voltaram a percorrer o corpo dela. O tremor voltou.
Kalcion ficou sentado ao lado dela, embora o tratamento tivesse acabado. Quando percebeu que ele o fazia por ela, Selena se apoiou nele, sentindo-se desmoronar. Ela se aconchegou e abraçou a cintura de Kalcion.
— !
Kalcion se surpreendeu e seu corpo enrijeceu. Até mesmo, tinha certeza de ter ouvido o som do próprio coração caindo no chão. No entanto, mesmo que procurasse pelo chão, não tinha nada parecido com um coração jogado.
Os ombros de Selena tremeram um pouco, enquanto tinha o rosto enterrado no peito dele.
Kalcion ponderou qual seria a resposta adequada para a situação. Nunca em sua vida tinha precisado se preocupar com suas ações.
Quando encontrava soldados com crise de pânico como Selena estava tendo, normalmente, Kalcion poderia agir de duas formas. A primeira, ele os forçava a se mover, ordenando “Se recomponha!”. Se não funcionasse, simplesmente o arrastava pelo campo de batalha até que os olhos do soldado se acostumarem com a cena e ele pudesse superar o medo.
Entendia o medo deles, mas isso não significava que eles deveriam se render. Kalcion acreditava que todas as pessoas eram capazes de superar os próprios medos.
Mas não pôde agir de tal forma com Selena.
Era impossível arrastá-la a algum lugar para enfrentar os medos, já que esse lugar não existia, e sentia que se desse a ordem “Se recomponha!” para ela, receberia um sermão de mil palavras sobre porquê não deveria tratá-la assim.
Nunca tinha feito isso na vida, mas pensou que talvez seria melhor consolá-la. No entanto, como Kalcion nunca tinha sido consolado, não tinha ideia de como poderia fazer isso também.
A única vez que tinha consolado alguém foi quando um cavaleiro o desafiou cem vezes e perdeu, então Kalcion o disse: “Não é uma vergonha não conseguir me derrotar”. Nessa situação, deveria falar: “Não é uma vergonha ter medo por quase ter sido assassinada”? Pensou que não. Selena não parecia envergonhada em seus olhos.
Kalcion observou os ombros esbeltos e costas de Selena. Os tremores estavam aumentando, o que o preocupou.
Ela tinha se secado e vestido roupas secas, o quarto estava um pouco frio, mas estava quente perto do fogo. Apesar disso, por que ela não deixava de tremer? O que ele deveria fazer para acalmá-la?
Kalcion vacilou por um momento, mas logo uma de suas mãos envolveu o ombro dela, tentando transmitir um pouco de calor corporal.
O corpo dela, que era tão pequeno que ele conseguia envolver com um braço, tremia como um cachorro na chuva. Ele sentiu pena instintivamente.
O tremor diminuiu gradualmente, talvez por causa do calor de Kalcion.
Após uma boa noite de sono, ela se acalmaria, por isso, ele não estava preocupado. Achava que não era necessário fazer nada. Mas ainda assim, Kalcion ficou aliviado quando ela relaxou.
Selena hesitou um pouco antes de afastar. Suas bochechas e testa estavam vermelhas por ter ficado com o rosto tão perto do peito de Kalcion por bastante tempo.
— …Estou me sentindo melhor. Obrigada.
— …Ainda bem.
Kalcion não queria tirar a blusa ligeiramente molhada, porque pensou que estaria ruborizado também até o peito.
— Você realmente acha que eu poderia ter morrido?
— Não previ esse tipo de situação. Não, na verdade, nunca pensei que eles se aproximariam dessa forma.
— Então, por que você não estava surpreso?
Kalcion tinha chegado correndo, mas não estava surpreso. Assim como uma pessoa correndo na chuva repentina para comprar um guarda-chuva,mas sem estar incomodado com a chuva em si.
— É porque tentativas de assassinato sempre acontecem, já se tornou uma rotina.
— Sempre acontecem?!
Ela não conseguia acreditar que ele estava falando isso de forma tão despreocupada. Ele falava como se estivesse dizendo “tomo café todas as manhãs”. Como ela ficou exasperada com a resposta, Kalcion pensou por um momento e se corrigiu.
— Nem sempre, mas às vezes.
— Mas não aconteceu apenas uma vez, certo? Já que você nem mesmo se surpreende, deve ter acontecido mais de uma vez.
— Sim. Não entro mais em pânico. No entanto, eu não esperava que eles fossem atrás de você ao invés de mim.
Kalcion ficou surpreso com essa parte.
Era um alívio que o quarto dele estava próximo do banheiro, caso contrário ele só encontraria o corpo dela.
Um soldado, que estava de guarda, também foi correndo quase ao mesmo tempo ao perceber a agitação. Porém, mesmo se apressando e chegando rápido, havia uma possibilidade de que Selena não sobrevivesse.
Apenas então o desgosto que ele havia esquecido por um tempo, se apoderou dele.
Como eles ousavam fazer isso de novo?
A mesma coisa quase havia acontecido de novo. Chamas surgiram nos olhos dele.
— Quantas vezes você já passou, por isso, Duque?
Era a segunda vez que atacam a pessoa ao lado dele, mas houve inúmeras vezes em que ele tinha sido o alvo. Kalcion olhou para o teto e se perdeu em memórias.
— Bem… Quantas vezes foram? Já nem faz sentido contar.
— Uau, como vou conseguir me manter viva assim?
Selena suspirou, dando uma fungada.
— Não, hoje foi um acidente. Relaxei porque estamos no território do Norte, e eu não pensei que você seria o objetivo, por isso fui negligente com sua escolta. Não vai se repetir. Não há com o que se preocupar.
— Então quer dizer que com escolta ou não, alguém tentará me matar? Como posso não me preocupar sabendo disso?
— É possível predizer as intenções do suspeito apenas analisando a situação. Sabendo disso, dá para se preparar para qualquer coisa. Então, não é um alívio?
— …Você pode predizer?
Selena perguntou desconfiada, e Kalcion assentiu com confiança.
Normalmente, os assassinos que almejavam Kalcion eram bem elaborados ou radicais. No entanto, todos falharam mesmo sem serem capazes de ver a sombra de Kalcion.
Para um assassino ter sucesso, era preciso conhecer bem o alvo e se infiltrar em seu espaço pessoal o mais silenciosamente possível, mas Kalcion não passava muito tempo com outras pessoas por não ter muitas amizades.
Embora realizar um assassinato não fosse fácil por natureza, no caso de Kalcion, a dificuldade era maior do que o normal.
A abordagem radical era mais um ataque terrorista do que tentativa de assassinato. Como não havia chance de vitória na abordagem um-a-um de qualquer forma, eles tentavam lançar chuvas de flechas de uma distância segura ou instalar explosivos nas carruagens.
No entanto, esse método era fácil de rastrear. Só utilizaram essa tática duas vezes, e em ambas o criminoso foi facilmente identificado, o que levou à destruição das famílias culpadas. Desde então, não houve mais tentativas desse gênero.
Uma tentativa de assassinato do território dele não era muito diferente do que enviar um assassino para morrer. Portanto, Kalcion nunca prestou muita atenção nestes ataques, só se importava com os que aconteciam na capital. Por isso, decidiu pela rota da viagem mais longa, passando mais tempo em seu território.
Ainda assim, um incidente aconteceu em suas terras. E não foi com ele, mas com Selena.
O assassino não tentou matá-la usando uma arma ou veneno, deixando claro que sua intenção era afogá-la. Era improvável que seu alvo fosse Kalcion, já que ninguém no mundo conseguiria afogá-lo com as próprias mãos.
Ainda que fingisse estar relaxado na frente de Selena, como se não fosse grande coisa, ele convocou todos os soldados e residentes da cidade para que procurassem pelo assassino.
— Pode me dizer como ele tentou te matar, quando ele apareceu, sua aparência e o que mais lembrar? Tenho certeza que isso ajudará a encontrá-lo.
Selena franziu as sobrancelhas e buscou em sua mente. Não era difícil de lembrar, já que,tinha acontecido há pouco tempo.
— Quando todas as criadas saíram para buscar os itens para o meu banho, as luzes se apagaram de repente e uma pessoa surgiu na escuridão. Pensei que tudo estaria acabado se ele me pegasse ainda na banheira, então saí quando tive a oportunidade…
No momento em que o cabelo dela tinha sido agarrado, pensou que tudo tinha acabado.
— Essa foi uma boa escolha.
Selena virou a cabeça em confusão com o comentário. Ela não tinha conseguido nocautear o agressor, então por que estava recebendo um elogio?
— Se ele usasse uma arma, teria sido difícil encobrir como suicídio. O afogamento era a única solução para a situação. Então foi uma boa escolha você ter saído da banheira.
Apenas após ouvir a explicação ela conseguiu entender.
— Mesmo que você tivesse morrido, saberíamos que não teria sido suicídio.
— Ahh…
Era uma tentativa de assassinato, que seria encoberto como suicídio.
Irelle, a ex-noiva de Kalcion, surgiu em sua mente. Kalcion acreditava firmemente que sua morte tinha sido causada por um assassinato, mas foi anunciada como suicídio.
— Talvez ele tenha sido contratado pela mesma pessoa que mandou matar Irelle?
Os olhos de Kalcion brilharam. Ele parecia ter chegado à mesma conclusão.
— Isso é altamente possível.
— Se capturarmos o assassino, encontraremos uma pista do suspeito.
Os olhos de Selena brilharam como os de Kalcion.
— Por acaso, você ouviu a voz dele?
Tradução: Holic.
Revisão: Bússola.