Romance - 03 Mohiresien - Capítulo 23
Capítulo 23
Depois de cuidar das coisas que não conseguiu resolver enquanto esteve ausente por um tempo, Mohiresien voltou para o quarto e viu que o vaso na mesa de cabeceira ao lado da cama estava cheio de hortênsias.
As pequenas hortênsias em flor tinham pequenas gotas de água em cada pétala, talvez por terem ficado expostas à leve chuva noturna, ou porque a empregada se enganou ao regá-las.
Enquanto ela olhava para as hortênsias azuis, se lembrou do significado incomum da linguagem floral das hortênsias.
“Eram bonitas quando as vi de manhã, mas não agora.”
Outro significado floral da hortênsia era “caprichoso”. Por capricho, Mohiresien negou a beleza das flores, arrancou as hortênsias do vaso e abriu a porta da varanda.
Uma empregada tentou impedir Mohiresien, sem saber o que fazer, mas ela não se importou e jogou o buquê para fora da varanda.
Os cachos de hortênsias se espalharam e caíram no chão. Mohiresien assistiu a cena com satisfação, depois se virou e entrou no quarto, fechando a porta.
À primeira vista, ela pensou ter visto um rosto de um homem debaixo das hortênsias caindo, mas era claramente uma ilusão dela.
Isso porque não havia homem em nenhum lugar do mundo que oferecesse flores à rainha consorte Mohiresien.
Se houvesse, também seria apenas uma ilusão.
* * *
O encontro de Mohiresien com o rei foi um acidente não intencional.
Depois de retornar do palácio Mnya, ela fez o possível para evitar cruzar com o rei. A menos que supervisionasse pessoalmente os cortesãos e lhes desse instruções, ela não saía do palácio da rainha consorte antes de saber do paradeiro do rei.
Até agora, não houve nenhuma situação em que a rainha consorte tivesse evitado o rei. Foi a primeira vez que ela tentou fugir dele, e mostrava claramente sinais de desconforto.
Por causa disso, espalharam-se rumores pelo castelo real de que ela estava com medo da ira do rei.
Até mesmo um cavalheiro santo ficaria zangado quando fosse submetido a uma violência tão injusta. E o Rei Graceus III?
Ele suportou inúmeras ameaças de assassinato injustificadas e tentativas de crime de traição. Ele salvou e respeitou uma mulher que não merecia ser sua mãe, e se curvou primeiro, mas o que ela lhe deu em troca foram maldições e violência.
Se a paciência do rei chegasse ao fim, era natural que os inimigos de Mohiresien ficassem felizes. Foi a rainha consorte Mohiresien quem tinha que implorar por misericórdia com tristeza e medo.
Mohiresien confirmou esses rumores. Ela estava realmente assustada. Ela estava com muito medo de que, se encontrasse o rei novamente, aquelas palavras terríveis iam sair de sua boca novamente.
Não importa o quanto ela pedisse, o destino sempre a ignorou cruelmente, e o Deus pelo qual ela orou depois de dez anos não estava do seu lado.
Um enorme castelo. Mesmo em uma situação onde havia inúmeras pessoas que nunca se cruzaram ao longo de suas vidas, Mohiresien e Graceus III se encontraram de frente.
Mohiresien respondeu a este encontro fatídico, mas inútil, com desdém.
Graceus III, que a cumprimentou com um rosto machucado e manchado como uma montanha de outono, era tão interessante para ela quanto a armadura que decorava os corredores do castelo.
“Mãe.”
Uma voz verdadeiramente desagradável a chamou, mas Mohiresien não olhou para trás. Porque Mohiresien nunca teve um filho assim.
Os rostos dos cavaleiros que seguiram Graceus III ficaram terrivelmente distorcidos pela atitude de Mohiresien, mas isso não era do interesse dela.
“Mohiresien.”
A palavra dita naquela voz vulgar causou arrepios na nuca dela. Mesmo que quisesse ignorar, ela não poderia.
Mohiresien. O nome dela. Menosprezar o nome precioso que sua família lhe deu e chamou com amor era como ignorar completamente o carinho que ela recebeu no passado. Não haviam duas Mohiresien no mundo.
Talvez por isso tenha sido frustrante demais.
Mohiresien puniu o homem ousou chamar seu nome. Não, ela tentou fazer isso, mas foi impedida.
Graceus III segurou seu pulso levantado e falou calmamente.
“Seus ossos estão machucados.”
“Então, poderia me emprestar a espada que você tem na cintura?”
“Porque eu sou o rei, não posso lhe dar minha espada, mas posso lhe dar a bainha.”
Então, ele ofereceu a ela sua bainha. Antes que Mohiresien pudesse abrir a boca, os cavaleiros bloquearam o espaço entre eles. Mohiresien não tirou os olhos do rosto do homem escondido atrás dos altos cavaleiros que pareciam bloquear o caminho até Graceus III.
De repente, o cheiro das hortênsias que haviam sido jogadas fora pela chuva há poucos dias chegou à ponta do seu nariz. Não importa o quanto ela olhasse ao redor, não havia uma única pétala de flor, mas aquela ilusão surgiu. O leve perfume das flores era o cheiro do medo.
Mohiresien recuou lentamente. Ela não podia fugir. Ela não poderia mostrar as costas primeiro. Não seria isso a mesma coisa que perder uma luta?
Embora Mohiresien estivesse destinada a perder a luta, ser pendurada em uma árvore, esfolada e massacrada, ela não enrolaria o rabo entre as pernas. Havia tal crença.
Mas seu corpo virou-se contra sua vontade e começou a correr. Como um cervo que encontra o leão mais temível do mundo, Mohiresien correu, sem prestar atenção ao seu corpo cambaleante.
Ela tinha que fugir. Para um lugar onde ela estivesse segura, para um esconderijo onde pudesse evitar aquela pessoa cruel.
Existia um lugar assim?
Não existia em lugar nenhum. Não havia lugar para Mohiresien se esconder neste vasto castelo.
Sua pele ficou branca de medo, e o lugar que ela finalmente alcançou foi o palácio da rainha consorte.
Assim que chegou ao quarto, declarou categoricamente que a intrusão do rei não era permitida. No entanto, apesar das suas ordens, os cortesãos curvaram-se e deixaram o rei entrar.
Mohiresien ficou coma a mente branco e olhou ao redor. Não havia para onde ir. Ela tinha que fugir para algum lugar, algum lugar.
Foi inevitável que Mohiresien abrisse a porta da varanda e se apoiasse nela.
“Mãe!”
Ela sabia que aquela pessoa cruel não iria machucá-la. Ela sabia que ele não iria rasgá-la em pedaços com suas garras afiadas e fortes e engoli-la.
Ela sabia que ele não conseguia nem chegar perto e apenas olharia para ela alguns passos atrás.
Mas seus olhos a matariam. As palavras que sairiam de sua boca a matariam. A mão que ele estenderia cuidadosamente a mataria. Era pior do que morrer.
Uma vergonha e desgraça pior que a morte.
Não era como se ela arriscasse a vida apenas esperando por algo assim. Mohiresien caiu da varanda mais rápido do que Graceus III conseguia correr.
Os longos braços de Graceus III mal roçaram Mohiresien, e ela falou com o jovem tolo.
Era uma voz baixa, então não chegou até ele, mas foi bom porque ela era a única que sabia o que estava dizendo.
“Eu não quero ver seu rosto mesmo se eu morrer.”