Não é seu filho - Capítulo 92

— Minha nossa!

Seu coração disparou, parecendo que sairia pela sua boca.

O menino encarou a mão que agarrou seu pulso.

Então, seu olhar moveu-se ao longo da mão que segurava seu pulso encontrou o rosto de um homem alto com um manto em seu ombro.

— Quem é? Quem é?

Seus lábios trêmulos mal conseguiam falar.

O manto que o homem vestia, deslizou.

Cabelo cinza escuro, quase preto.

Sob a luz da lua, os olhos azuis do homem brilhavam como os de um animal selvagem.

O homem agarrou a mão do menino que segurava o remédio.

O menino foi levemente levantado pelo seu pulso.

— O que é isso?

Sua voz era bem grave.

— Me conte, guri.

O corpo do menino estremeceu com as ondas de poder que sentiu.

— O que é isso que tem um cheiro nojento?

O menino só queria desmaiar.

* * *

O amanhecer passou, o que poderia ter sido aterrador para alguns, ou emocionante para outros.

O sol da manhã surgiu como de costume, como se nada tivesse acontecido no dia anterior.

A silenciosa  luz do sol entrava pelas cortinas bem fechadas, iluminando a cama.

Na confortável cama, havia muito cabelo cor de limão-siciliano esparramado, e longos braços esticados debaixo da cabeça dela.

Era Sheyman, com seus ombros à mostra, e Kalia, usando apenas uma camisa de seda folgada.

Uma pequena lacuna se formou entre eles quando estavam virados um para o outro.

Adormeceram com a testa pressionada de tal forma. 

— Ubu, guu. Wooa!

O bebê acordou, batendo os braços e as pernas, brincando com a luz do sol que pairava no ar.

— Shasha.

Kalia, que abriu os olhos, pegou a mão redonda do bebê, que brincava com a luz, e a beijou.

— O meu bebê é esforçado.

A voz de Kalia era quase um murmúrio.

Foi o resultado da noite passada.

— Kalia, por favor, durma mai”.

Sheyman murmurou, beijando a testa de Kalia, onde os raios do sol cintilavam.

E ele não se esqueceu de segurar o bebê deitado inocentemente entre eles.

Kalia deu o dedo para Shasha e olhou para o rosto de Sheyman, que estava brincando.

Uma partícula de poeira voou, flutuando sobre os longos cílios de Sheyman.

Sob seu nariz, podia-se ver os seus belos lábios sorrindo.

Na noite anterior, os lábios vermelhos e inchados de Kalia ficaram um pouco rachados devido a suas travessuras.

Haviam marcas de dentes em seu queixo, sua clavícula e em seus definidos ombros.

 Kalia murmurou com uma voz rouca, inconscientemente.

—  Se Shasha não tivesse acordado…

Como se perguntasse o que aquilo significava, Sheyman levantou seus lindos olhos dourados e olhou para ela.

— Se Shasha não tivesse acordado no meio… Consegui ficar acordado a noite toda.

Depois da última palavra, Kalia riu do espanto de Sheyman.

— Você…

Era uma manhã quente.

Como se para satisfazer sua fome um pelo outro, os dois se devoraram apressadamente várias vezes.

“Desse jeito, acho que não conseguirei satisfazer essa explosão de desejo em apenas uma noite.”

Foi ao ponto em que não era suficiente, mesmo que ela queimasse a noite inteira.

No entanto, devido a Shasha acordar no meio, a ação das duas pessoas que estavam prestes a começar a terceira rodada parou.

— Ei. Hehe. Ahh…

Era o amanhecer mais escuro, pouco antes do nascer do sol.

O choro triste de um bebê faminto acordando.

Sheyman e Kalia, que congelaram como gelo, resistiram sem respirar, apenas olhando nos olhos um do outro.

“Então percebi que o choro do bebê não iria parar e caí na gargalhada.”

— Espere. Deixarei o bebê com a babá da próxima vez…

— Próxima? E terá uma próxima vez?

Na pergunta de Sheyman, Kalia perguntou seriamente com os olhos abertos.

— Então? Você pensou que era o fim, Sheyman?

Ao ouvir isso, Sheyman finalmente sorriu alegre.

Ele pulou, abraçou Kalia com força, loucamente, e se aproximou do bebê rapidamente, entregando a mamadeira.

— Deite-se, que eu já vou.

Kalia deitou de lado na cama, nua, e olhou para Sheyman, que estava segurando o bebê para dormir.

Sheyman segurava o bebê, vestindo apenas a camisola que foi fornecida, e estava sussurrando algo baixinho no ouvido do bebê.

“O que você está falando?”

Ela estava curiosa, mas não queria interromper aquele momento.

“Um homem que sabe como amar um bebê desse tanto, demonstrou tanta antipatia por mim.”

De repente, um lado do seu coração palpitou.

Era deprimente e comovente, mas ao mesmo tempo também era salgado.

Ela sentiu que continuaria a sentir o mesmo sempre que visse Sheyman segurando o bebê no futuro.

Demorou vários minutos para Kalia olhar para Sheyman com aqueles olhos gentis.

No momento em que suas pálpebras, exaustas de esperar, lentamente se fecharam, Sheyman suspirou e a chamou.

— Kalia.

— Sim?

— … Shasha não está dormindo.

FuuuuI

Sheyman soprou sua franja despenteada com um suspiro, e olhou para ela com um sorriso impotente como se perguntasse o que fazer.

— Minha nossa.

Com um sorriso no rosto, ela suspirou e abriu os braços, levantando o cobertor fino que a cobria.

— Venha aqui, Sheyman. Com o Shasha.

Então os dois se acariciaram com o bebê entre eles e ficaram conversando.

Seus olhares se encontraram e se encararam; eles se beijaram e adormeceram juntos enquanto conversavam sobre como esse momento era estranho.

Isso foi mais ou menos na hora em que o sol nasceu, então os dois provavelmente acordaram de um cochilo de uma ou duas horas.

Talvez por ter acordado à noite, Shasha dormia profundamente.

— Kalia, já faz um tempo desde que você se aqueceu, então não deve exagerar. Na verdade, fui vendado e atacado, mas… Eu me importo.

Parecia um pouco ansioso. Seu rosto murmurante e sorridente era embaraçoso.

— Mas eu estou bem?

— Só por precaução. É a sua primeira vez dando à luz. Sua vontade é importante, mas acho que o mais importante é não sobrecarregar seu corpo.

— Sheyman, não é um pouco tarde para dizer isso? Por que você não pensa em como você estava apenas algumas horas atrás?

— Hum…

A nuca de Sheyman ficou ligeiramente vermelha com as palavras provocativas de Kalia.

Traços da intensa noite anterior permaneceram nos corpos dos dois.

Em particular, sempre que Sheyman via as cicatrizes no corpo de Kalia, ele agia como se estivesse impaciente por não poder beijá-la.

Era maravilhoso beijá-la tateando delicadamente suas cicatrizes, como um cachorro lambendo suas feridas.

Sheyman pegou Shasha, que não se mexeu, e o levou para o berço. Então ele voltou para a cama onde Kalia estava deitada e deitou-se novamente com ela presa em seus braços.

— Vamos ficar assim por um tempo.

— Hemming virá em breve.

— Não tem problema.

Na verdade, a hora para Humming e a babá virem já havia passado.

Era estranho que as duas tivessem vindo antes mesmo do sol nascer, mas elas não tinham aparecido até então, quando a cor da luz do sol ficou dourada.

Kalia estava pensando em se teletransportar e expulsar Sheyman, mas as duas ainda não haviam chegado, então ela desprezou a ideia.

Era bom sentir pele na pele assim.

Kalia riu e se apoiou confortavelmente no ombro de Sheyman.

— Na verdade, eu também não me importo.

— Uau…

Com essa palavra, Sheyman, que estava deitado de frente para a Kalia, esfregou sua testa.

— Estou realmente enlouquecendo.

Ele murmurou no ar com uma voz fraca, lambendo os lábios para acalmar seu nervosismo.

Como se para suportar alguma coisa, Sheyman aproximou sua testa da de Kalia e a abraçou.

— Se você acordar mais tarde e pedir desculpas de novo… Eu realmente vou te matar, não importa o quão difícil seja, Kalia.

— Quê?

Kalia olhou para Sheyman como se não soubesse o que ele queria dizer, e Sheyman sorriu preguiçosamente e mordeu o nariz dela.

— Nunca peça desculpas. Entendeu?

— E se eu fizer algo de que me arrependa?

— Não faça isso, ok? Não precisa se desculpar, Kalia.

— Não, mas isso é algo humano.

— Não. Definitivamente. Se você não quiser me enlouquecer, absolutamente não.

Ao ouvir isso, Kalia olhou para Sheyman como se ele fosse um pouco ridículo.

Mesmo assim, a expressão de Sheyman não vacilou.

— Por favor, não me faça culpa-lá. Mesmo que você fizesse isso… Não se desculpe. Não se sinta mal. E fique ao meu lado, sem vergonha alguma. Você nunca deve partir sem dizer uma palavra.

— …

— Porque eu estou bem, apenas fique ao meu lado não importa o quê, ok? Responda-me, Kalia, rápido.

“Por que o rosto de Sheyman parecia tão desesperado quando ele estava apresentando argumentos absurdos?”

Kalia hesitou por um momento com uma expressão meio envergonhada, então assentiu.

— Não vou fazer nada para me desculpar e não vou sair do seu lado sem dizer uma palavra. Eu prometo.

Só então o rosto tenso de Sheyman relaxou.

Sheyman, que estava olhando para ela com os olhos abertos, afrouxou seu abraço e tocou a testa de Kalia.

Os dois olhos, que haviam se aproximado, olharam para os na frente deles.

— Farei o melhor. Eu sou mais… Eu vou tentar ser um bom homem.

— Sheyman…

— Vou tentar ser um bom pai.

— …

— Então nunca mais pense em me deixar. Jamais.

No final, Kalia abraçou Sheyman.

Seu coração batia dolorosamente.

Ela não estava triste, mas não sabia por que seu coração estava apertado.

E por que o Sheyman implorando era tão afetuoso e lamentável? Talvez por isso parecesse tão fofo.

Dando tapinhas em suas costas, Kalia sussurrou em seu ouvido.

—E-Eu disse a você ontem à noite que tinha algo para lhe dizer, lembra?