Não é seu filho - Capítulo 89
O xixi que atingiu o topo da cabeça de Sheyman, escorria em câmera lenta.
As gotas translúcidas caíram e deixaram o cabelo prateado de Sheyman molhado.
— …..!
O belo cabelo prateado ficou molhado.
Sheyman observou o fluxo, que escorria de seus cabelos, petrificado.
Era impressionante que mesmo encharcado de xixi, sua beleza ainda era tão maravilhosa quanto o orvalho matutino.
— Pfff
“Oh, não posso rir.”
Kalia ficou cabisbaixa, de boca fechada, mas mal conseguiu abafar a risada.
Um rosnado escapou enquanto tentava segurar o riso.
“Não ria, não ria, não ria, Kalia Tacskate!”
— Cof
Enfim, Kalia mordeu a língua e o Sheyman, que estava petrificado, penteou seu cabelo para trás, devagar.
— Você.
Ele suspirou em voz calma.
Sheyman olhou para o bebê, incapaz de dizer nada, como se estivesse sem palavras.
Shasha, o culpado pela situação, quebrou o silêncio:
— Abuuuu
O bebê moveu sua boca é pequena língua e balbuciou um som estranho e irreconhecível.
Piscando seus olhos, ele se virou para olhar exatamente nos olhos de Sheyman.
Como se gostasse do cabelo lustroso, Shasha esticou seus braços para ele.
Seus dedos gordinhos, que estendeu, tentavam alcançar e agarrar o Sheyman.
— Uh, uhg, buuba.
Ele balbuciando e esticando seus dedinhos parecia com um filhote desesperado por comida.
— ……
Sheyman, que o olhava em silêncio, se aproximou e segurou as mãos do bebê.
— Minha nossa.
O bebê agarrou o dedão de Sheyman e o chacoalhou, e depois sorriu para ele.
Era algo estranho.
Pois Shasha era um recém nascido, e bebês tão novos assim não sabiam sorrir ainda…
Mas aos olhos de Kalia, Shasha parecia sorrir para Sheyman. Parecia que o olhava diretamente, sorrindo para ele.
“Você sabe quem ele é?”
Era o rosto que Kalia mostrava para ele todo dia enquanto ainda estava em sua barriga.
“Você o reconheceu através de meus olhos? Ou é o poder do sangue?”
Sheyman sentiu algo estranho e continuou olhando para o bebê, mesmo molhado.
A mão de Sheyman balançava com a força do bebê.
Sheyman, que deixou sua mão com o bebê, sorriu.
Seu sorriso parecia triste, mas continha uma estranha sensação de satisfação.
— Você é igual a sua mãe, não é?
— Parece que nunca ganho.
Kalia observou por de trás de Sheyman enquanto ele sussurrava para o bebê.
Apesar de estar molhado, o rosto dele não aparentava nenhum desconforto.
Na verdade, o jeito como olhava o bebê segurando sua mão era bem carinhoso.
De alguma forma, Kalia não conseguia tirar seus olhos dele.
***
“Pai, Pai…”
Sheyman saiu, dizendo que iria tomar banho, e Kalia, que ficou para trás, ficou pensativa enquanto deitava Shasha, que adormeceu depois de mamar, ao seu lado.
“Estive com o Sheyman desde criança, mas acho que não conheço o Sheyman de agora.”
“Que consegue rir mesmo molhado.”
“Não acreditava ser possível.”
“Será que o entendi mal?”
Kalia balançou a cabeça.
“Às vezes era isso que ele queria mostrar.”
Ele a fez pensar que odiava bebês.
Até então, ela era infertil.
Por ela, que queria um bebê com um corpo que não poderia ter um, Sheyman a fez pensar que ele odiava bebês.
“É só que… Eu te amava desde aquele tempo.”
“Eu não conseguiria ver a mulher que eu amo se sentir vazia vendo aquilo que ela não poderia ter.”
A voz do Sheyman, que calmamente falava isso, sussurrava em seu ouvido.
Com seus olhos fechados, Kalia relembrava a voz várias e várias vezes.
“Eu te amava desde aquele tempo.”
“…a mulher que eu amo…”
Só de pensar na voz dele, estremecia seu corpo todo.
O cheiro de bebê a confortava e a voz de Sheyman, que dominava sua mente, relaxava seu corpo inteiro.
“Mas Sheyman… Eu não precisava desistir de você só porque não poderia ter um bebê.”
Ela não conseguia acreditar que não poderia ter um bebê e até ele tentou desistir da ideia.
“Até onde a mente de Sheyman foi…?”
“…Pai.”
Talvez ele imaginou até quando ele estivesse velho e morrendo com ela?
“Já me passou pela cabeça que talvez o Sheyman seja um homem bom demais para mim.”
“O melhor homem do mundo, que consegue fazer um móbile sozinho e até ser um pai bom o bastante para trocar as fraldas sozinho.”
Quanto mais Kalia conhecia Sheyman, mais ela gostava dele.
Não só como uma boa pessoa, mas como um bom parceiro e parte da família.
Então, talvez Sheyman estivesse mesmo tentando seduzi-la.
“Você é um cara esperto.”
Com seus olhos fechados, Kalia ergueu os cantos de sua boca.
“Seria mais feliz com o seu pai? Não, nós seremos mais felizes com o Sheyman.”
Deixando para trás esse pensamento, balançando a cabeça, Kalia adormeceu.
Foi depois de três horas que Kalia, que adormeceu profundamente, abriu seus olhos.
***
— Buáá Buáá
O triste choro do bebê ecoou na madrugada.
O som que entrou em seus ouvidos, imediatamente despertou a consciência de Kalia.
— Shh, shh… Bom menino. Pare de chorar, Shasha. Se continuar, vai acordar a mamãe.
E a voz de um homem que tentava acalmar o bebê.
— Sheyman?
Kalia, abriu seus olhos e viu as costas do homem que carregava o bebê e tentava o acalmar.
Sua altura criou sombras alongadas com a iluminação do quarto.
Ele continuava sussurrando, colocando a cabeça do bebê em seus largos ombros.
— Shasha. Shasha. Shhh. Quer que eu cante para você dormir? Troquei sua fralda…. Por que está chorando? Não chore, não chore. Kalia irá acordar.
Seu nervosismo era aparente em sua voz.
Kalia, admirada com Sheyman rodeando o quarto carregando o bebê, saiu do transe e o chamou.
— Sheyman.
— Oh, meu Deus, você acordou? Veja só, Shasha. Mamãe acordou. Eu pedi para resolvermos isso entre homens.
Sheyman ergueu o bebê e resmungou, como se fosse uma piada. Shasha chorou de novo, como se não gostasse do que ele disse.
— É brincadeira, cara. Brincadeira. Não tenho de pregar uma peça em você.
Sheyman, surpreso, olhou para Kalia e deitou Shasha em seu ombro de novo.
— Vou colocá-lo para dormir de novo, de algum jeito.
— Por que está aqui?
— Eu vim porque ouvi o bebê chorando. Você deveria estar cansada, Kalia. Não era algo que não conseguiria ouvir… É por que fazia tempo que não bebia?
— Oh, verdade. Eu bebi mais cedo.
Depois que Sheyman saiu, Kalia terminou de beber o copo com arrependimento. Não importava se ela bebesse álcool, porque Shasha estava bebendo leite da mamadeira.
— Durma mais. Vou fazer o Shasha dormir.
— Bem, não. Me dê o Shasha. Ele deve estar chorando porque está com fome.
— Quê? Não faz tanto tempo que mamou, faz?
Kalia sorriu para Sheyman, que estava surpreso, e perguntou:
— Nessa época, os bebês comem a cada duas ou três horas, independente se for dia ou noite. Shasha tem um hábito bom de comer.
Ela se levantou, encontrou e pegou a fórmula de leite que havia guardado.
Sheyman a empurrou de volta para cama, pegando a mamadeira de sua mão no processo.
— Vou amamentá-lo, durma mais. Ouvi que se exercitou hoje e que ficou com Shasha ontem a noite. Durma por hoje.
— Está tudo bem. Me sinto descansada por ter dormido um pouco.
— Mentira. Seus olhos ainda estão sonolentos. Quando voltar para a capital, ficará muito ocupada por isso, enquanto estiver aqui viva mais relaxada.
— Acho que estou bem relaxada.
— Está longe de ser o suficiente. Ouvi que dar à luz é como reencaixar um osso no seu corpo…. É fisicamente desgastante, mas você não descansa o suficiente.
“Não sinto que me esforcei tanto assim.”
“Para ser honesta, sinto que estou mais à vontade que qualquer mãe do mundo.”
Tem uma babá para cuidar do bebê, a Hemming para ajudar, um pediatra e até o Sheyman.
— Você é abençoado, meu Shasha.
Era natural que uma mãe fosse ver seu bebê.
E, talvez, Sheyman tenha a mesma ideia que ela.
Kalia dizia que não o reconhecia como pai, mas quer ela tenha o feito mesmo ou não, o próprio Sheyman começou a perceber que era o pai da criança.
Bem, de qualquer maneira, ela não tinha motivos para impedi-lo, já que ele estava tão pró-ativo.
Kalia deitou-se na cama, como Sheyman falou.
— Você deve ajustar a temperatura para 40 graus, caso contrário, ele terá problemas no estômago.
— 40 graus? Ok.
Sheyman segurou a garrafa de vidro e elevou lentamente a temperatura em sua mão.
— Sou um bom mago, por isso manterei na temperatura certa.
Kalia encostou a cabeça no travesseiro de novo e olhou para Sheyman, que ainda segurava a mamadeira com a criança cuidadosamente em seus braços.
O quarto estava pouco iluminado, com a luz do luar o penetrando.
A aparência de Sheyman segurando o bebê, que estava mordendo a mamadeira, sob a luz que Sheyman deixou acesa parecia um pouco estranha e incomum.
“Nunca imaginei que o veria assim.”
“Também é o filho de Sheyman.”
“Nós fomos irmão, colegas, amigos que se trompavam…”
Era algo estranho, ridículo e estranhamente proveitoso.
Kalia, que estava olhando o Sheyman em silêncio, abriu sua boca:
— Sheyman.
— Sim?
— Você me ama?
Os ombros de Sheyman se ergueram e tremeram.
Ele olhou para ela e disse, como se estivesse estupefato.
— Se não acredita em mim, te diria toda vez que fizermos contato visual.
— Não, não estou falando que não acredito.
— Então?
— Eu só… Não consigo acreditar.
Sheyman, que estava segurando o bebê, se virou e olhou para Kalia.
Era impressão dela ou parecia que seus olhos dourados estavam girando?
— Não consegue acreditar, Kalia?
— O quê?
— … Quer que eu te faça sentir como se fosse real?
Tradução: Kaon.
Revisão: Michi.