Não é seu filho - Capítulo 84
— Eu deveria te ensinar a usar a espada, mas sinto muito que só te ensinei a trabalhar duro. Hemming, sem você, não consigo nem imaginar o quão difícil seria este ano que passou.
— Oh, minha nossa. Hum.
Hemming, que estava evitando os olhos de Kalia, olhando aqui e ali, respondeu, apertando a bainha de sua roupa:
— Se você falar isso, fico envergonhada. Eu fico feliz e orgulhosa de te servir. E… Eu posso descansar um pouco.
Hemming sorriu para Kalia, que a olhou gentilmente como se perguntasse o que isso significava.
Hemming continuou em uma voz meio recatada:
— Seja sincera, depois de eu fazer tudo isso, você não me abandonaria, certo? E eu penso nisso como uma terapia, então não se sinta culpada.
Hemming, que falou mais alto, franziu a ponta de seu nariz:
— Sobre as atividades oficiais de uma escudeira, quando você voltar, dificulte-as. O mesmo vale para a espada. Não será tarde demais. Mas este é o único momento em sua vida que seu bebê é pequeno assim, então aproveite agora.
Hemming cerrou seus punhos e balançou sua cabeça, como se tivesse que inspirar para falar.
Então, sua sinceridade vazou com suas últimas palavras:
— Família é importante. É algo que não se deve perder. Eu sabia que ficaríamos juntos para sempre, mas talvez não fiquemos…
Os olhos de Hemming lacrimejaram, mas ela habilmente se acalmou.
Chorar não resolvia nada.
Lágrimas não trariam sua família de volta.
Era a sua vida que importava.
Ela sentia muita falta de sua família, mas era isso.
Eles não poderiam voltar de qualquer maneira.
Hemming estava se confortando e sendo dura consigo mesma.
Mas ela só tinha vinte anos para se pressionar tanto assim.
— Então, eu deveria agradecer a você ainda mais.
Kalia se abaixou um pouco enquanto falava, e fez contato visual com Hemming.
— Hemming, você é minha família agora.
Seu rosto sorridente era aconchegante. Tão aconchegante que a ponta do nariz de Hemming ficou gelado.
— …
Hemming fechou a boca sem perceber.
Ela o fez porque as lágrimas que estava segurando surgiram.
Antes que elas escorressem, Hemming rapidamente virou sua cabeça e falou.
— Já vou, já vou. Kalia, se algo acontecer, me chame.
Ela abriu a porta e saiu correndo.
Tatata, era o som do eco dos passos acelerados de Hemming.
Depois disso, Kalia ouviu o choro de uma criança.
***
— Minha nossa!
Kalia olhou para a porta por onde Hemming saiu correndo.
O choro além da porta fez seu coração doer.
— Shasha, sua mãe não quer que você cresça muito rápido. Ela quer que você seja apenas uma criança e cresça.
Talvez sentindo o desejo de sua mãe, Shasha, que estava adormecendo, abriu os olhos e olhou para Kalia.
A sua expressão mudou por um momento, como se ele estivesse aprendendo a sensação de fazer expressões faciais.
Ele tinha uma expressão séria, mas, de repente, sorriu e chorou de novo, então ele ficou ocupado em desenvolver a sensação de mover seus músculos faciais.
Kalia murmurou, emocionada, como se ele fosse o bebê mais incrível do mundo.
— Oh, meu Deus, como pode ser tão fofo? Como pode ser tão fofo? Esse nível de fofura é possível? Huh? Shasha. Nosso Shasha. Você precisa responder a mamãe rápido, okay?
Kalia apertou suas bochechas com a ponta dos dedos e falou, cheia de alegria.
Os olhos do bebê, uma misteriosa mistura de verde e dourado, seguiram Kalia num borrão.
— Oh, meu bebê. O que devo te ensinar? Quer aprender a arte da espada? Não, não quero que tenha bolhas nas mãos… Então, o que acha de estudar? Deve ser legal ser um doutor como o Allen. Ou, por que não faz nada?
Kalia, que pensou nisso, balançou a cabeça.
Uma pessoa deve ser capaz em tudo.
Seria bom se fosse excelente, mas mesmo que não o fosse, desde que fosse sincero, ficaria satisfeita.
Kalia não queria que Shasha tivesse uma vida difícil por enfermidades, mas também queria que ele fosse alguém que fizesse bem o seu trabalho.
Não importava se ele não fosse um aristocrata.
Mesmo que ela caísse em outro mundo, nua, ela só queria ser uma pessoa que pudesse comer bem e viver bem.
Ninguém sabe como será a vida. Ela podia ter algum segredo de nascença que ela nem sabia que existia.
— Faça o que quiser. Vou fazer com que faça o que quiser. Faça o seu melhor, filho. Trabalhe duro. É inaceitável ser desleixado.
Enquanto Kalia falava gentilmente, ela esfregou seu nariz na testa do bebê.
Ela ouviu uma voz estranha, do nada.
[Mãe, eu acho que quero aprender magia.]
— …O quê?
Kalia, que ergueu sua cabeça abruptamente, olhou ao redor.
Só havia ela e o bebê no quarto.
Ela voltou a si e sentiu os sinais à sua volta.
Não sentiu nada.
Ela não conseguia sentir nenhuma magia.
Eec, eec, eec, eec, eec, eec.
Kalia estreitou os olhos e olhou para a porta fechada.
Então, uma voz clara veio por trás da porta de novo.
[Eu quero aprender magia com o meu pai. Ele é um grande feiticeiro!]
Uma voz familiar, imitando uma criança.
— Olá?
Quando Kalia ficou imóvel, ele adicionou rapidamente, um pouco nervoso, atrás da porta.
A voz soou mais perto do que antes.
[…Então ficarei com a mamãe e o papai. Soube que faz bem para as crianças passar tempo junto com os pais!]
Kalia ficou surpresa.
Sheyman tinha a coragem de se chamar de “papai” com a própria boca.
Não havia uma decisão definitiva ainda.
Ele não hesitou em chamar Kalia de “mamãe”.
Kalia respondeu, casualmente, sentindo o calor subindo o seu rosto.
— Pai? Papai? Shasha, você não sabe quem é seu pai ainda. Não sei do que você está falando.
[…]
— Então… Que tal viver feliz só com sua mãe? Bebê? Não é como se sua mãe não tivesse a habilidade de te criar sozinha.
Ela falou num sussurro para o bebê, imediatamente respondendo para a porta.
Sheyman arrombou a porta como se não aguentasse mais e gritou em voz alta.
— Droga, Kalia. Como dizer que o bebê não tem um pai, quando ele sempre está ao seu lado? Isso é terrível!
Kalia olhou friamente o Sheyman, que entrou no quarto com elegância.
Havia um rosado em suas bochechas, mas os olhos de Kalia estavam frios.
— Que tipo de educação é essa? Sheyman?
— …O quê?
— O que você faria se eu estivesse amamentando-o agora? Como pode abrir a porta tão abruptamente?
— Oh.
Sheyman, intrigado, mordeu o lábio inferior, ligeiramente avermelhado, e mudou de expressão, como se finalmente tivesse sentido algo.
“Bem…”
Sheyman, que suspirou brevemente com uma expressão sutil, rapidamente se virou e saiu do quarto, coçando a cabeça.
Seus movimentos eram barulhentos, mas ele fechou a porta cuidadosamente.
Talvez se passaram três segundos.
Toc, toc, toc.
Exatamente três batidas foram ouvidas.
Ele falou, se sentindo hesitante:
— Sou eu, posso entrar?
— Sim, entre.
Quando Kalia deu permissão, a porta se abriu rapidamente e Sheyman entrou.
Dessa vez, o rosto da Kalia estava com um sorriso de satisfação.
— Sim, sim, Sheyman, por favor, mantenha sua educação.
O sorriso de Kalia fez com que a expressão de Sheyman se derretesse e ele sorriu meio descontente.
Ele endireitou seus ombros e se sentou do lado dela. Se inclinou para trás lentamente e olhou para Kalia, murmurando em uma voz baixinha:
— Bem. Como eu posso te vencer?
Ao contrário de suas palavras, um sorriso estava em seu rosto.
Kalia, que encarava Sheyman, sentiu uma repentina coceira em seu coração.
Não era um sentimento forte, mas ela se preocupou que ele podia se espalhar.
Ela falou para Sheyman, franzindo a testa:
— Não sorria tanto.
— …O quê? O que isso significa? Do nada?
Sheyman falou, olhando-a.
Kalia falou com uma expressão mais séria:
— Não sorria tanto, Sheyman.
— O que aconteceu?
— …Não sei, meu coração ficou coçando.
Mas se piorar, algo fora de seu controle acontecerá de novo.
Quando ela o encontrou pela primeira vez, o seu coração não bateu tanto quanto daquela vez, mas um canto de seu peito ainda coçou.
Kalia olhou fixamente para o belo rosto de Sheyman e suspirou.
O rosto de Sheyman ficou sério com essa reação de Kalia.
— Kalia, olhe para mim.
Uma linda mão pálida, diferente da dela, ergueu seu queixo. Seus dedos eram tão delicados que nem pareciam rudes.
“…Será que fiz algo de errado? Meu comportamento na colina foi inconveniente?”
A voz dele estava cheia de impaciência.
Sheyman a olhou com um olhar que parecia dizer que ele ficaria magoadíssimo se Kalia o evitasse.
“É realmente confuso.”
Kalia não conseguia acreditar nesta mudança de Sheyman.
Ela não acreditava que aquele Sheyman arrogante, que sempre a olhava como se ela estivesse devendo a ele, poderia se ferir com suas palavras.
Kalia ficou novamente abalada em um canto de seu coração.
As batidas continuaram, mas não tão altas como da última vez.
Kalia, que olhava nos olhos de Sheyman, balançou sua cabeça.
— Não foi desconfortável, Sheyman. Não acho que consiga me sentir desconfortável com você. Não faria sentido.
Sheyman ficou visivelmente relaxado com o sorriso dela.
Olhando o queixo levemente fino de Sheyman e seus olhos profundos, Kalia esticou sua mão e acariciou a bochecha dele.
Kalia foi a primeira a tocar Sheyman dessa forma.
Sheyman se estremeceu de susto.
Sempre foi Sheyman que se aproximou dela, desde que se conheceram.
Foi a primeira vez que Kalia tomou a iniciativa de tocá-lo, mesmo que um gesto tão pequeno.
— Não foi isso, Sheyman.
Era algo cômico, ela tê-lo evitado por dois dias, então Kalia reagiu honestamente à Sheyman.
Sheyman se comoveu um pouco.
Ele falou, estremecendo um pouco e se inclinando na mão de Kalia, que tocava sua bochecha:
— …Então o que foi?
Tradução: Kaon.
Revisão: Michi.