Não é seu filho - Capítulo 78
— Hum? Hã?
Kalia inclinou sua cabeça enquanto tentava dar leite para o bebê faminto.
— O que foi, Shasha?
— AI! Ai! Ai! É mesmo! Oh, meu Deus!
O bebê virou a cabeça e chorou alto, como se não tivesse a intenção de se alimentar.
Kalia pressionou seu peito contra a boca do bebê, com pressa, mas o bebê fechou seus olhos, surpreso, e chorou amargamente.
— Por quê? Por que está fazendo isso?
Kalia gostava de ver Shasha resmungando com leite em seus pequenos lábios.
Era estranho e inimaginável ver algo tão pequeno e delicado resmungando em seus braços. No entanto, ele costuma comer bastante, mas, de vez em quando, se recusa a amamentar-se.
Pode ser um engano, mas parece que isso acontecia toda vez que tinha uma chama nos olhos de Shasha.
Ele come bem enquanto dorme mastigando seus lábios, mas se ele acorda, isso é o que acontece.
Não havia jeito quando ele recusava assim.
Eventualmente, Kalia deu a mamadeira, que a babá deixou com ela, para Shasha.
Rapidamente, o bebê mordeu o bico da mamadeira, como se não tivesse se recusado a mamar antes.
— O que foi, humm?
Kalia, frustrada, bateu na ponta do nariz dele, enquanto ele mamava.
O bebê arregalou os olhos e tentou afastar a mão de Kalia.
Ela riu e abraçou o bebê.
— É verdade, tudo o que deve fazer é comer e crescer.
Cresça bastante. Forte e saudável.
Quando ela ouviu um sussurro, a babá, que estava ao seu lado, sorriu e perguntou.
— Parece de bom humor. A visita trouxe boas notícias?
— Oh.
Ela estava falando dos visitantes que vieram mais cedo, os parentes consanguíneos de Kalia.
Kalia apenas sorriu.
As borboletas, que nem sabia que tinha, estavam voando em um canto de seu coração.
“…Mas não consigo acreditar que sou parte da família das fadas. Gaia… Não, quero dizer, deveria chamá-la de mãe agora? Não… Ele disse que ela não era completamente sua mãe. Sua alma é uma escultura baseada em suas memórias de infância.”
Mesmo assim, Gaia instintivamente notou Kalia.
Era tão estranho que ela se sentisse completa.
Gaia não a abandonou.
“Então, por que eu estava abandonada num beco?”
Kalia estava imersa, olhando para Shasha, que tinha esvaziado metade de sua mamadeira em questão de segundos.
“É por que não tenho um núcleo espiritual em meu corpo? Por que sou uma meio humana?”
Meio humana.
Obviamente, Gaia se apaixonou por um humano. Depois, Gaia desapareceu.
“Será que a mãe de Gaia está seguindo seu pai?”
Mas… Não tem como o rei, não, seu avô, não saber disso.
“Ai meu Deus. Avô?”
Era estranho, embaraçoso, até vergonhoso.
Kalia sentia vergonha de si mesma por não ouvir ninguém.
No entanto, agora que a relação foi assumida, ela não podia o chamar de Rei das fadas ou Kalekshia.
Ela tinha que se acostumar com a palavra “avô”.
“De qualquer forma, vô, como poderia não conhecer o homem que minha mãe amava? Mas por que não disse nada? …Meu pai está vivo?”
Pensando nas palavras de Kalekshia de que voltaria em breve, Kalia queria perguntar sobre a existência de seu pai.
Claro, ela não sabia se teria respostas.
— Com licença, senhorita Kalia.
Quando Shasha estava esvaziando a mamadeira, Allen entrou no quarto com o remédio de Kalia.
— Você está bem?
Assim que ele entrou, ele aferiu a temperatura da Kalia e do Shasha e examinou a condição dela em detalhe.
Primeiro, perguntou à babá, Hemming e Kalia sobre Shasha.
Qual o som do choro, qual a sua frequência, ou se ele se mexia muito durante a noite.
Kalia falou que Shasha não queria seu leite.
Allen riu como se nada tivesse acontecido.
— Algumas vezes os bebês são assim. Beber leite materno é mais difícil do que parece. Alguns bebês preferem a mamadeira porque elas foram feitas para serem mais fáceis para os bebês.
— Sério? Mas às vezes ele come bastante. E a babá falou que leite materno ainda é o melhor para bebês…
— Ha ha ha. Claro, nada é melhor que leite materno para os bebês. Mas isso não significa que outro leite seja ruim, então não se preocupe. Além disso, todo o leite que Shasha bebe é preparado e checado por mim, para que tenha todos os nutrientes necessários.
Kalia não se preocupava com o leite especial de Allen.
É só que ela estava meio desapontada.
Mesmo assim, quando Allen falou que não havia nada de errado com Shasha, Kalia aceitou, dizendo:
— Entendi.
Então, Allen focou sua atenção de Shasha para Kalia e examinou sua condição.
— Diga “Ahhh”. Sua garganta não está inchada. Seu pulso está bom e não está com febre…
Allen observou atentamente a condição de Kalia, como se não pudesse ser mais delicada.
Era incrível como ele conseguia fazer isso todos os dias, sem faltar um dia sequer.
Quando Kalia perguntou porque ele estava tão preocupado quando o bebê tinha nascido saudável, Allen sorriu e disse:
— Este é meu trabalho. E é o melhor que eu posso fazer por Shasha e você.
Após hesitar, Allen acrescentou uma longa sentença:
— Eu sou um homem também, então não conheço a dor de ter filhos em detalhes. Porém, eu fiquei comovido pelo fato de que Sheyman cerrou os dentes e suportou a dificuldade apenas olhando-a. Não importa o quanto eu passe por isso, a emoção não diminui.
Aparentemente, Allen nasceu para ser médico.
Talvez, porque eles passaram um tempo como família, Allen olhava para Shasha como se ele fosse seu próprio filho.
— Então, não há nada de errado. Vou descansar até que as ervas que encomendei cheguem.
Ele tinha terminado seu exame e estava arrumando suas coisas quando Kalia, que o observava de perto, o parou.
— O que houve? Algo está estranho.
Allen sobressaltou com as palavras hesitantes de Kalia.
“Hã? Para onde está indo? Não é assim tão bom, não é?”
— …Vamos dar um passeio, Allen?
***
“O quê? O que isso significa?”
Próximo ao castelo do lorde tem uma colina com vista panorâmica do mar.
Uma grande árvore florida ocupava o centro da colina, e haviam bancos e cadeiras de balanço rústicas sob ela.
Allen parou com as palavras de Kalia, que subia a colina.
— Ter um bebê faz com que seu coração fique esquisito?
— Sentiu algo de errado com ele?
Allen perguntou sério e Kalia assentiu com a cabeça.
— De vez em quando, meu coração bate errático. Eu suo frio… às vezes minha boca fica seca e minha garganta inflamada.
— Então, você está suando e seus lábios ressecando? Seria um problema com as veias ou com o coração mesmo? Mas não havia nenhuma anormalidade no exame.
Allen parou de subir a colina e pensou profundamente.
Kalia mordeu os lábios com um rosto preocupado.
— Poderia ser mais específica? Começou logo após o parto?
— Sim, estou assim desde que dei à luz. Na verdade, eu estava confusa, também… Um dos sintomas é que meu coração acelera sozinho e parece que está batendo em minhas costelas. Às vezes me sinto inquieta e tonta. E acima de tudo, é ótimo…
Kalia, que disparou ao falar de seus sintomas, encarou Allen antes de seu último comentário.
Allen suspeitou por causa dos óbvios sinais de hesitação de Kalia.
Ele se perguntou o quão sérios deveriam ser seus sintomas para ela estar tão ansiosa.
Allen raramente via Kalia hesitante.
— Está tudo bem. Por favor, seja honesta. Desse modo, poderei pesquisar sobre eles e te ajudar.
— Está certo. Serei honesta. Sim.
— Sim, senhorita Kalia.
— Então, su…
Fuuuuu. Kalia respirou fundo, olhou direto para Allen como se tivesse se decidido, mais que o normal.
— Eu acho que estou sempre pensando obscenidades.
— …Huh? Desculpa?
Allen piscou os olhos e olhou para os lados e para cima.
Claro que nada aconteceu. Ele olhou um pouco incrédulo e polidamente perguntou à Kalia:
— Eu não sei se ouvi direito, então poderia repetir por favor?
— Acho que é por isso que estou tão atrevida. Devo dizer que é um sentimento atrevido? A Sra. McKenna disse que isso acontece por causa dos hormônios da gravidez. Mas será assim mesmo depois de dar à luz?
— Sim? …Oh, sim. Hormônios. É isso mesmo, ha. Hormônios.
O rosto de Allen ficou pálido e vermelho, e retornou a sua expressão calma.
A questão é “quem”.
Ele olhou para Kalia e respirou mais longo que o normal.
Os olhos dela eram sinceros.
Realmente preocupada com sua saúde.
Allen calmamente analisou seus sintomas.
— Então seu coração começou a acelerar, você se sentiu tonta e terrível?
— Sim, está correto. É isso.
— Não tem um padrão que acontece sempre? Por exemplo, se uma pessoa está perto de você ou se alguém lhe diz algo…
— Oh, uau?
Kalia olhou para Allen como se visse um fantasma.
Ela sabia que seu médico era competente, mas não a este ponto.
Allen assentiu com uma expressão nem de risada nem de choro no rosto, para a admirada Kalia.
— Entendi. Então é isso.
Ele olhou para o céu por um momento, coçou sua testa com sua palma da mão, olhou para baixo e olhou para o céu de novo.
— Haaaah.
A expressão de Kalia ficou tensa de novo com a seriedade de seu suspiro longo.
Os sinais são tão ruins que Allen expressa isso dessa forma?
Gulp.
Engolindo em seco, Kalia estava determinada.
Ela jurou que não ficaria surpresa e nem chocada com nada.
Finalmente, Allen olhou para Kalia.
— Senhorita Kalia.
— Ok, diga.
Ela estava pronta para ouvir.
Allen sorriu para Kalia, que respondeu com um rosto tenso.
Era triste, fofo e ridículo.
Como uma pessoa comum, que nunca esteve em um relacionamento, fez um bebê?
Allen riu ironicamente e eventualmente balançou sua cabeça, sem escolhas, teve que contar.
— Isso é um sinal de que você ama alguém. É bem normal, Kalia.
Tradução: Kaon.
Revisão: Michi.