Não é seu filho - Capítulo 69
Ele se aproximou um pouco mais de Kalia e bloqueou por completo a sua visão. Seus olhos dourados ficaram bem em frente a ela.
Sheyman falou em voz baixa, chamando a atenção de Kalia:
— Você está mentindo.
Sheyman havia pensado muito a noite inteira.
Era uma conexão de pensamentos que era maior que o universo e se desdobravam como uma verdadeira mágica. Quando os pensamentos, que estavam escondidos devido aos ciúmes e a tristeza, se conectaram, uma lâmpada se acendeu em sua cabeça.
Fazia uns nove meses que ela partiu. E estava certo de que tiveram uma relação antes que ela partisse. Ela foi sua primeira, e ele foi o primeiro dela. Era fato que no momento em que se abraçaram, eles se conheciam claramente.
Depois disso, não acreditava que ela havia conhecido alguém e feito amor. Podia apostar toda a sua magia que Kalia não o fizera. Como não era isso, só havia uma possibilidade restante.
— Este bebê, é meu, não é?
Aquele bebê que estava abraçando…
Isto é, era filho dele, ou melhor, deles.
“Não acredito.”
Kalia arregalou os olhos como uma novata. Arregalou os olhos, surpresa, mas foi uma mudança instantânea, que ninguém perceberia. Mas Sheyman nunca perdeu as pequenas nuances dela, então ele percebeu. Isso significava que ela estava envergonhada.
“Sim, ele é inteligente, por isso conseguiu perceber.”
Seu braço, que segurava Shasha, estava rígido.
Kalia parecia um pouco desesperada. Fechou a boca por um momento enquanto segurava seu filho.
O olhar de Sheyman em Kalia era firme e contundente.
Engoliu.
“O que farei agora?”
Ela tentou fazer sua cabeça complicada funcionar enquanto engolia em seco. O bebê já havia nascido, já havia passado o tempo para que Sheyman lhe mandasse se desfazer do bebê. Apesar de que a atitude de Sheyman, na frente dela, era mais favorável do que pensava.
Sem dúvidas, isso não significava que o bebê virou uma benção para Sheyman ou para o Duque de Terloan.
Kalia conhecia bem o Duque.
Não porque havia nascido em sua família, mas porque havia passado toda a sua infância com eles. Ela não era da “família”, mas tinha recebido muito apoio deles. Como era a menina que salvou seu precioso filho com um excelente talento para magia, expulsá-la e ignorá-la não seria adequado para sua reputação. Por isso, arrumou um pequeno quarto no anexo da mansão.
Kalia não era nem empregada nem nobre, mas um ser intermediário. Tinha muita gente falando dela, mas isso não importava para Kalia.
Tudo que precisava não era um sentimento trivial e brilhante, mas sim um de sobrevivência que a permitisse comer, sem passar fome, e dormir confortável.
O Duque de Terloan e sua esposa Helena eram pessoas elegantes e refinadas. Não havia um sorriso em seus lábios e nem pressa por nada. Aristocratas perfeitos. Uma classe privilegiada perfeita.
“Somos diferentes de você.”
Em particular, Helena, a duquesa, sempre sorria e dizia com sua voz suave e doce.
Curiosamente, foi de quem Kalia mais escutou aquilo.
Mesmo que Kalia não fosse uma empregada não tentou ficar próxima, Helena era diferente para a Kalia.
“Kalia, somos diferentes de você. Especialmente, Sheyman é diferente de você. Não podemos ser iguais. Mas… eu cedi por um tempo porque você salvou a vida do Sheyman.”
Em particular, sempre que o Sheyman estava fora, Helena a chamava para lhe dar deliciosas sobremesas e lhe dizer isso.
Aquela hora do chá se repetiu incansavelmente. Aquela hora do chá começou quando Kalia e Sheyman começaram a frequentar a mesma academia.
“Vocês dois têm uma relação muito boa. Ficam bem juntos. Kalia, ouvi dizer que seu manejo da espada é maravilhoso. O Duque a patrocinará generosamente. Porque salvou o Sheyman. Porque é seu dever.”
Enquanto empurrava as coisas para Kalia, a duquesa sorria graciosamente.
“Não esqueça do seu dever, Kalia.”
Era o que mais enfatizava.
Seu dever.
“Assim como não nos esquecemos de sua bondade em salvar o Sheyman, não se esqueça da nossa em te apoiarmos. Nunca seja um empecilho para Sheyman. Como uma irmã, como uma amiga, fique ao seu lado por muito tempo e continue com sua boa amizade. Entendeu?”
“Não faça nada prejudicial ao Sheyman.”
“…É o seu dever, Kalia.”
Mesmo que fosse uma palavra que Kalia havia escutado desde mais nova, ela não tinha ideia do significado das palavras de Helena.
Só mais tarde que Kalia suspeitou que Helena lhe dissera aquilo porque desconfiava dela. Em caso de se aquelas duas pessoas ficarem muito próximas, se sentirem estranhas entre si.
“Mesmo que não aconteça emocionalmente, isso aconteceu como resultado… “
Entretanto, Kalia pensou firmemente durante sua vergonha.
Esse bebê era filho de ninguém, além de seu próprio filho.
Independente de todas as razões pelas quais não confiava no Duque de Terloan, Sheyman não gostava de crianças e não queria ser um peso para ele. Shasha era o filho dela.
Kalia Tackskate.
Seu filho herdaria seu castelo.
Ela segurou a mão do bebê com mais força.
— Kalia, seja honesta. Sou o pai deste bebê, cer…?
— Não.
Kalia cortou apressadamente as palavras de Sheyman, para que não pudesse terminá-las.
E falou com firmeza:
— Não, Sheyman. Não.
— …Quê?
— Não. Não é seu filho.
— Não é meu filho?
Kalia imediatamente assentiu com a cabeça e Sheyman voltou a perguntar.
Ela enfatizou repetidamente:
— Isso mesmo, não é seu filho. Definitivamente não é seu, Sheyman.
Esse bebê nunca poderia herdar o castelo dos Terloan.
Nem sequer queria fazer isso.
Ao Shasha pertencia a mansão de Kalia, dos Tackskate.
— Não é seu filho.
“Não é seu filho.”
Ao ouvir essas palavras, os olhos de Sheyman rapidamente começaram a soltar ar frio.
— Ahhh.
Logo seu olhar se voltou para Kalia.
Seus olhos frios e brilhantes a olharam friamente, a ponto de doer.
— …Ah, é sério?
Fingindo ser amável, com uma voz baixa e sombria, falou:
— Está bem. Então, me diga, Kalia.
A ira em sua voz era suficientemente fria e feroz ao ponto de congelar seus arredores.
— De quem, demônios, é este bebê?
Ele estava incomodado.
Kalia, que o conhecia a um bom tempo, sabia.
Essa era sua voz de quando não conseguia conter sua ira, estava além de seu controle.
Kalia, que sentia um frio congelante, começou a suspeitar dele.
“…Por acaso fiz algo que irritou Sheyman?”
Não deveria se sentir aliviado que não era dele? O que faria se soubesse?
Ela estava bem envergonhada e perguntou:
— O que fará quando souber?
— Nem age como um bom pai…
— Então?
— Não pode salvá-lo.
“Eu… me certificarei de matá-lo o mais dolorosamente possível, Kalia.”
Kalia aguçou os ouvidos e abriu os olhos por causa da voz de Sheyman, que sussurrava ferozmente.
Sheyman realmente tinha os olhos frios como se planejasse fazer outra coisa.
E o mana que flutuava em sua volta parecia ameaçador, como se fosse cometer um crime de imediato.
— Então, vamos, já que não sou eu, diga logo o nome do outro, Kalia.
Logo.
Sheyman apressou cinicamente.
Era um grande problema.
Vendo seus olhos tristes brilhando vividamente, era difícil lhe dizer que era o pai biológico.
— I-isso…
Nervosa, Kalia gaguejou pela primeira vez em sua vida.
Sheyman empinou o nariz como se tivesse que seguir em frente e falar.
— Por que não consegue falar? Ah, será que é alguém que eu conheço?
— Quê?
Sheyman entortou a boca, gargalhou e disse sarcasticamente.
— Ah… Não pode ser. É o Príncipe Louismond?
— Quê?
“Realmente acabou de sair isso de sua boca? Céus, não importa o quão irritado esteja, como pode mencionar Sua Majestade?”
Kalia se irritou com seus olhos se arregalando.
— Isso é loucura!
— Haha. Não é Louismond… Então, é Brick, o vice comandante geral?
— Brick é casado!
Ouvindo ainda mais loucuras, Kalia ficou incrédula.
— Hummm, então, quem é? Não importa o quanto eu pense…
Estivesse certo ou errado, Sheyman a olhou sem soltar aquela risada distorcida.
Um olhar afiado e fino olhou Kalia friamente e revelou, mais uma vez, a verdade que ela queria enterrar.
— Fui o único.
“Verdade, Kalia?”
Havia confiança em seus olhos.
Não importava o quanto Kalia negava, ele já sabia da verdade.
Desconfiava da expressão rígida dela. Esse olhar, que não significava nem negação e nem afirmação.
“…Não te reconhecerei.”
Fosse a verdade ou não, Kalia não reconhecia Sheyman com o pai de Shasha.
E o inteligente Sheyman se deu conta disso com muito desespero.
Sentindo seu peito se apertar, cerrou ligeiramente o punho e o abriu. Seus nervos periféricos estavam dormentes de tanta dor que passava por seu coração.
Sem dúvidas, a este ponto, Sheyman já havia percebido. Porque Kalia fugiu para tão longe, escondendo seu filho. Kalia não confiava em Sheyman. Quando ela soube que teria um filho, não estava segura de que Sheyman ficaria sinceramente feliz e planejaria um futuro juntos.
Talvez pensou que ele a forçaria a fazer coisas cruéis com ela e com seu filho.
“Pelo amor de Deus, aposto que pensou isso.”
Seu coração estava apertado.
Era doloroso encarar a realidade, mas ele ainda tinha que aceitá-la. Só então poderiam seguir adiante. Sim, este nível de dor não era nada comparado com quando Kalia desapareceu de seu mundo.
Sheyman estendeu a mão e pegou a de Kalia. Seus olhos voltaram a ser gentis e se focaram em Kalia.
— Só diga que sou eu, Kalia.
Ele sabia que ela não confiava nele.
Era culpa dele, que deu voltas e mais voltas confiando que teriam todo o tempo do mundo e que estariam sempre juntos.
Os lábios de Sheyman tocaram suavemente as costas da mão de Kalia. A respiração quente do desejo dele penetrou através dos dedos dela. Como se derramasse a sinceridade dele.
— Por favor… diga que sou eu.
Desesperadamente.
Tradução: Kaon.
Revisão: Michi.