Não é seu filho - Capítulo 68
Sheyman, que estava esperando Kalia do lado de fora, estivera fora por pouco tempo. Allen disse a Kalia, que havia terminado de amamentar, isto e aquilo, no meio das duas pessoas que ficaram confusas.
— Sim, entre, Sheyman.
Com a permissão de Kalia para entrar, o olhar de Sheyman, que estava entrando, caiu em Allen, que havia entrado antes.
Suas sobrancelhas limpas e retas, como se fossem de cerâmica, sumiram de imediato. Sheyman, que levantou uma sobrancelha, como se estivesse muito irritado, perguntou com uma voz franca.
— Por que o médico…? Onde lhe dói, Kalia?
— Não, não dói nada. Allen só veio para me dizer algumas coisas.
Kalia, que respondeu como se não percebesse, entregou o bebê para Allen e sorriu levemente como se agradecesse.
Allen também recebeu o bebê de Kalia e sorriu de orelha a orelha. O coração de Sheyman, que o estava olhando, estava fervendo.
Como médico, somente como médico, sabia que estava do seu lado somente como médico, mas por que se sentia tão desconfortável?
Sheyman desconfiava de Allen, apesar de que ele não estava agindo com nenhuma particularidade na frente de Kalia.
— Acredito que voltará a dormir, então o levarei de volta para o quarto.
Allen sorriu carinhosamente para o bebê enquanto o envolvia com um cobertor.
“É porque está no lugar em que eu deveria estar.”
Os olhos de Sheyman semicerraram-se. Era seu papel apoiar Kalia, cuidar dela depois do parto, e mostrar um olhar tão encantador ao recém-nascido. Uma fagulha apareceu nos olhos de Sheyman.
Sentiu como se seu coração estivesse sendo cortado pela raiva e pelo ciúmes tolo sobre o que lhe foi tirado. Se pudesse, estaria tão ciumento quanto quisesse e falaria para eles não se aproximarem, mas sabia que não devia agir assim.
Sheyman deixou de lado seus ciúmes ardentes por um momento e sorriu para Kalia com um sorriso atraente.
— Então, Kalia, se sente bem?
— Muito bem. Estou bem.
Sheyman, que se aproximou com suas pernas longas, esticou seus longos dedos brancos e retirou os cabelos molhados das bochechas.
— Bem, é um alívio. Se não sente dor, não há nada melhor que isso para mim.
Kalia ficou um pouco envergonhada. Porque Sheyman sempre a tratava com um olhar gentil e uma voz que parecia soltar uma doçura que nunca antes havia existido.
Além disso, a cabeça de Kalia estava confusa enquanto ele sorria o suficientemente doce, para deixar as pessoas loucas toda vez que faziam contato visual.
“…Não está incomodado? Pensei que estaria realmente incomodado porque desapareci de repente… Por que não tem nada mais a dizer sobre minha gravidez, além disso?”
Kalia olhou ansiosamente a expressão de Sheyman que não fazia sentido, mas era o suficiente para ler suas emoções.
Não sabia se Sheyman o deixou claro, então não tinha como saber o que estava pensando, se estava decidido e colocou essa cara de pôquer.
Por isso estava mais frustrada e, talvez, por isso que ficou mais consciente dele.
Um velho amigo que encontrou depois de muito tempo sorriu mais docemente e emitia um ar mais perigoso.
— Sheyman, se não há mais nada importante, acredito que Kalia deveria descansar mais.
Foi Allen que quebrou aquele ar perigoso.
Allen emitiu aquela ordem para Sheyman com a voz tranquila e polida.
Assim como Sheyman olhava atentamente a Allen, Allen também não o via muito bem.
“Sua amiga de infância… O quão desentendidos eles estavam que ela nem podia dizer a ele que estava grávida?”
Sabia através de boatos o quão frio Sheyman Terloan era.
Quando ouviu várias vezes sobre o artigo que Sheyman havia explodido o palácio imperial e a mansão quando estava na capital, se sentiu ainda pior.
Não podia acreditar muito em boatos como em sinos, mas, sem dúvidas, não o via bem, porque pensou que Sheyman era a razão decisiva para fazer Kalia ir tão longe.
Que importância tinha o papel do pai durante a gravidez…?
Allen não tinha sequer o nome nem qualificação para substituí-lo, então, ele não teve escolha a não ser ajudar com as coisas lamentavelmente pequenas.
Por isso não podia evitar de estar com mais ciúmes.
Woosh~
Os olhos dos homens um na frente do outro acendeu no ar.
Sorrir.
Sheyman sorriu com frieza.
— Preciso de sua permissão para ver a Kalia?
— Não é isso, mas sou seu médico afinal.
— Bem, acredito que mereço ficar mais que seu médico.
Pausou por um momento e perguntou, olhando a Kalia:
— Não concorda, Kalia?
Enquanto inclinava sua cabeça, alguns fios de cabelo despenteados caíram.
— Ou… deveria sair como mandado, Kalia?
“Que tipo de clima era esse?”
Kalia ficou atordoada. O clima era estranho, mas não conseguia ter ideia de porque era tão estranho.
Por que esses homens se olhavam desse jeito pouco depois de se conhecerem?
De todo jeito, parecia certo que uma pessoa saísse para acalmar o clima caótico neste momento.
— Allen.
— Sim, Kalia.
“…Eu deveria sair? Não deveria se desfazer deste mago malvado de algum jeito?”
Allen deu um sinal confiante com seus olhos.
O problema é que Kalia não conseguia ler os olhos de Allen de jeito algum.
Sem conhecer o ritmo de Allen, se aproximou dele e lhe disse:
— Pode ir. Dê-me o Shasha.
— …Quê?
“Por quê? Por que me vou e esse mago malvado fica? E se esse mago malvado machucar o pequeno, lindo e frágil bebê…?“
Ao ver os olhos de Allen cheios de vívida vigilância, Kalia falou alegremente:
— Está tudo bem. Sheyman não nos comerá nem nada do tipo. Não importa o quão louco seja, é uma espécie de humano… certo?
As sobrancelhas de Sheyman arquearam como se ela não o estivesse tratando como um monstro louco.
Como se percebesse isso, Kalia deu de ombros.
Ela parecia tão inocente que Allen teve vontade de chorar.
“Kalia… Não importa como olhe, os olhos do Duque são olhos de um louco. Por que não percebe? Realmente não percebe como ele está te olhando agora, Kalia?”
Allen gritou silenciosamente em sua mente, mas nada saiu de sua boca.
— De todo jeito… Dê-me Shasha. Quero que conheça oficialmente o Sheyman também.
Se Kalia dizia isso, como poderia o Allen detê-la?
— …Sim, entendo.
Desde que esse homem tenha 99% de chance de ser o pai do bebê.
Sorrir.
Quando Allen fez contato visual com ele, Sheyman o olhou com um sorriso vitorioso.
Seria o Arquimago, aclamado por todo o império, tão sem vergonha?
Allen o olhou como se estivesse irritado e saiu do quarto, fechando lentamente a porta com um andar bem devagar.
Tac~
A porta se fechou e Kalia e Sheyman ficaram no quarto. Sheyman olhou o bebê que havia adormecido nos braços de Kalia.
— Shasha?
— Sim, assim o chamamos por enquanto. No entanto, estou pensando em como nomeá-lo.
O rosto de Kalia, que carregava o bebê, era pálido e transparente. Sheyman, que estava olhando Kalia, que não conseguia separar os olhos do bebê, murmurou em voz baixa:
— Quando era mais novo, teve uma época em que uma pessoa me chamou assim.
Hesitante, o sorriso de Kalia se enrijeceu.
— Mas parece ter se esquecido completamente.
“…Impossível.”
— Não foi muito tempo depois que se uniu à Academia, certo? Quando voltávamos à mansão nas férias e saíamos juntos, várias vezes me chamou assim para que saísse.
— …Eu?
— Quem mais você acha?
“Eu? É sério? Por que não me lembro?”
Kalia se sentiu envergonhada e olhou Sheyman. Sheyman olhou Kalia em silêncio por um tempo, mas abaixou o olhar para o bebê, a quem Kalia carregava nos braços.
— Olá, Shasha. É um prazer conhecê-lo.
A diferença de sua voz suave, as pontas dos dedos que tocavam a bochecha do bebê eram ainda mais cautelosas. Tocou sua bochecha redonda, lentamente tocou o pé do bebê com as pontas dos dedos. De algum modo, o toque parecia estar cheio de afeto, por isso Kalia se sentiu estranha.
“Estava segura de que Sheyman odiava bebês…”
Somente de olhar as crianças que passavam, Sheyman enrugava o rosto e balançava a cabeça. Sem mencionar o choro do bebê, era um homem que nem sequer conseguia escutar a risada das crianças…
“Então, o que está olhando?”
Os cantos de seus olhos se inclinaram um pouco lentamente. O bebê a que deu à luz e o pai do bebê olhando-o. A estranha aparência fez cócegas aos olhos de Kalia. Quando viu os rostos deles brilhando no quarto ensolarado, seu coração tremeu severamente. Não se podia enganar o sangue.
Sheyman tinha o cabelo prateado que refletia na luz do sol, e o bebê tinha o cabelo preto como a noite em contraste com ele, mas os dois eram inegavelmente iguais.
“É estranho, é realmente estranho. Sinto que… é muito estranho.”
Quando Kalia estava hipnotizada e olhava seu filho e Sheyman, Sheyman olhou para cima e olhou para Kalia. Com esses lindos olhos dourados cativando a vista de Kalia, Sheyman perguntou de repente:
— Por que fez isto?
Chegou o momento. O coração de Kalia se agitou e caiu sem aviso prévio, mas ela olhava Sheyman com uma expressão confusa.
Sheyman, que estava olhando-a, disse sem importância:
— Por que não me disse e veio para tão longe dar à luz ao bebê?
— Porque só… queria descansar. Iria me aposentar.
Kalia apenas sacudiu sua voz e respondeu com um leve sorriso.
— Lamento não ter conseguido lhe dizer. Não consegui lhe dizer porque pensei que me impediria se o soubesse.
— …Iria se aposentar?
Sheyman franziu os lábios e riu como se tivesse escutado uma piada ridícula. Logo, falou com uma voz furiosa.
— Não minta, Kalia.
Tradução: Kaon.
Revisão: Michi.