Não é seu filho - Capítulo 66
Kalia imediatamente caiu em sono profundo, como se tivesse desmaiado. Ela estava exausta depois de aguentar toda aquela dor por 9 horas, ainda consciente.
Allen imediatamente preparou a comida necessária: um prato nutricional para a mãe e uma sopa aguada para a criança. De ali em diante, Allen e Hemming tinham mais trabalho a fazer.
Mantendo um olho no progresso do parto e notando o trabalho de Allen e Hemming, a esposa do lorde falou para eles, bem polida e gentil, que ela cooperaria com tudo relacionado a Kalia e seu bebê. Allen e Hemming conseguiram assegurar e arrumar um quarto para a mãe e o filho, graças a esposa do lorde, que sorriu gentilmente, dizendo que fazia um bom tempo que o choro de um bebê não era ouvido no castelo.
Sheyman ficou olhando para o rosto de Kalia por um bom tempo no quarto escuro, as cortinas fechadas para seu conforto. Calor de um raio vermelho do sol se pondo passou pela fresta da cortina e acariciou a bochecha de Sheyman. Era difícil de dizer o que ele estava pensando pela sua expressão impassível. Como se eles tivessem sofrido juntos a noite toda, suas bochechas estavam tão pálidas quanto as de Kalia. A pele lisa que recebia tantos elogios estava seca e seu maravilhoso cabelo prateado era uma completa bagunça. Sheyman abaixou-se para sentar ao lado dela.
— Você realmente…
“…Vira o coração das pessoas de cabeça para baixo desse jeito toda hora.”
Sheyman soltou um baixo suspiro e acariciou as bochechas inchadas dela. Conforme seus dedos passavam pela pele úmida dela, um arrepio atravessava seu corpo.
— Você trabalhou duro. Bom trabalho, Kalia.
Mesmo que ela tenha virado-o do avesso, ela ainda era a pessoa mais brilhante em seus olhos. Ela seria a mãe mais forte e carinhosa que ele conhecia, e mesmo depois de décadas, ela permaneceria a pessoa mais bonita para ele. Sheyman acariciou as bochechas de Kalia, gentilmente empurrando o cabelo ensopado de suor de seu rosto e olhou-a por um bom tempo. Depois de um tempo, ele gentilmente segurou a mão dela e deu um longo beijo nas suas costas. Ele continha todos os seus sentimentos de maravilha, alívio e era uma promessa de cometimento.
— Eu irei te proteger de agora em diante. Não importa qual a sua aparência e quais segredos você tem, você poderá contar comigo.
Ele murmurou, segurando a mão dela nas suas, como se estivesse rezando e a beijou profundamente.
— …Porque você ainda é você.
E você é meu mundo.
O incidente fez Sheyman ter certeza disso.
*****
— Awwww, você é tão fofo.
Será que é porque ele lutou na barriga de Kalia por tanto tempo?
O bebê, que finalmente veio ao mundo, adormeceu logo depois de chorar. Sua pele vermelha irradiava calor e apesar de ele ser mais forte que a maioria dos recém-nascidos, seu pequeno e curvo corpo parecia infinitamente pequeno e frágil.
Hemming espiou pela cortina e viu que ainda haviam luzes lá fora. Ela ajustou as cortinas de linho branco e as deixou meio fechadas pela janela, para que um pouco de luz entrasse no quarto, deixando o ambiente escurecido. Acima disso, com o toque cuidadoso de Sheyman, o ar no quarto era limpo e até mesmo a temperatura e a umidade eram perfeitas. Perfeitas para um pacífico e ininterrupto sono.
— É um prazer te conhecer, Shasha.
Sentando próximo da cama de Shasha para cuidar do bebê, os olhos de Hemming se curvaram em luas crescentes. Ela olhou para o bebê com muito ânimo. Não era nem ela que virou mãe, mas as estranhas, que tinham emoções rodopiando dentro dela, eram desconhecidas. Hemming não ousava tocar as bochechas do bebê e, no lugar, colocou seus braços cruzados no topo da grade do berço, com seu queixo descansando em sua mão para olhar o bebê adormecido.
Seu rostinho mal era do tamanho de seu punho. Seu rosto adormecido era calmo, como se ele estivesse inconsciente de todo o resto do mundo, e sua pequena, tipo um bico, boca era adorável.
— …Obrigada por vir em segurança. Você não sabe o quanto Kalia estava esperando por você. Eu esperei por um bom tempo também.
Hemming falou em uma suave cadência, como se cantasse uma canção de ninar, mas então bocejou sem perceber.
Hemming, coçou seus olhos piscantes com os punhos e gentilmente descansou sua cabeça em seus braços cruzados no berço.
— De agora em diante, vamos… nos dar bem e… nos divertir… juntos, Shasha… – Sua voz baixa gradualmente desapareceu.
Incapaz de superar sua letargia, Hemming eventualmente adormeceu onde estava. Uma grande sombra caiu sobre sua forma adormecida. Kalekshia parou em frente ao pequeno berço e olhou o bebê adormecido. A pequena mulher humana que geralmente seguia Kalia foi colocada para dormir. Não havia nada de bom em deixá-la ver o que estava acontecendo, nem uma razão para deixá-la ver suas ações.
Os pequenos altos e baixos de seu peito e a visão relaxada e adormecida eram lindas.
Será que era por causa da natureza racial de seu amor por seus filhos ou por outras razões?
Kalekshia fechou seus olhos bem forte com o repentino aumento de calor em seus olhos quando olhou o bebê. Uma indescritível afeição surgiu nele. Ao mesmo tempo, ele foi inundado com sentimentos inexplicáveis de raiva e frustração.
O bebê foi completado com a ajuda de sua magia de sangue. O tipo de mágica que só funcionava se a criança tivesse o mesmo sangue correndo por suas veias que o lançador do feitiço.
— Bebê, se você realmente for da minha linhagem…
Ele não conseguia completar o pensamento e parou no meio da sentença, enquanto mastigava o interior de seu lábio. Rugas profundas estragaram sua testa conforme ele a franzia em contemplação.
“Então, aquela criança também é…”
Ele soltou um suspiro de indescritíveis emoções, conforme seus trêmulos dedos estavam prestes a tocar a bochecha direita corada do bebê.
Click.
O silêncio tranquilo foi quebrado pelo som da porta sendo rapidamente aberta e dois pares de passos entrando no quarto. Kalekshia, que já tinha sentido a presença dos dois se aproximando, não estava envergonhado.
Ele ergue sua cabeça devagar aos sons e falou para o que apareceu pela porta aberta:
— Oh, eu não acho que seja bom já estar de pé e andando.
O olhar de Kalekshia escaneou seu rosto ainda inchado.
Era a Kalia que estava surpresa.
— Eu pensei que você tivesse voltado para a Floresta das Fadas.
A voz baixa de Kalia agitou-se, surpresa.
Quando ela entrou no quarto, seu passo vacilou um pouco e ela, inconscientemente, franziu um pouco sem perceber. Isso era por causa dos efeitos colaterais do parto.
— …Veja, Kalia. Eu te disse para ficar em seu quarto porque você não se recuperou ainda.
Uma voz com tons de ansiedade, estresse e preocupação misturados soou.
— Venha aqui. Apoie-se em mim.
Emergindo atrás dela, Sheyman naturalmente passou um braço envolta da cintura de Kalia e gentilmente a puxou para perto dele. Uma mão quente, grande, firmemente suportou suas pequenas costas.
Em resposta ao toque estranho, Kalia olhou para Sheyman com um olhar levemente estranho.
Um pouco antes, quando ela, sem saber, abriu seus olhos, ficou surpresa ao encontrar o rosto de Sheyman tão perto do seu. Apesar de ela ter sono leve, Sheyman sentou-se do seu lado tão quieto e cuidadoso para cuidá-la que ela nem sentiu sua presença, apesar de sua sensibilidade.
Seus olhos se encontraram assim que os abriu e quando ele pegou sua atenção, seus olhos se curvaram em arcos.
“Acordada?”
Ele chamou seu nome em uma voz carinhosa, diferente de tudo que ela já ouviu ele usando, deixando-a corada involuntariamente. Enquanto isso, uma das mãos dele segurou firmemente a sua e a outra acariciou sua bochecha. Como se ela estivesse em um de seus sonhos, seus olhos e voz estavam ao seu lado e ele a encarava com olhos tristes, mas carinhosos.
Ela não conseguia não ficar confusa.
Assim que ela acordou e assim que Sheyman a deixou para lhe dar um pouco de privacidade, Hemming veio para checá-la e contar que ele ficou ao seu lado durante todo o parto até que foi expulso. Kalia também se lembrou de sentir sua mão na dele e de sua voz, murmurando docemente para ela, através de sua consciência enevoada.
“Está tudo bem, Kalia. Está tudo bem. Vou te proteger.”
“…Eu queria poder sentir isso no seu lugar. Eu, ao invés de você.”
“Se estiver com dificuldades, me morda. Você pode me arranhar, me morder, o quanto quiser, só não se machuque…”
Sua voz ecoou bem nitidamente em sua mente, apesar de suas memórias borradas da névoa de dor. O modo como sua mão veio a descansar no resto de suas pequenas costas, por causa da ansiedade, era desconhecido. Os olhos dele que seguiam persistentemente sua figura, não importa o quão longe ela estava também era desconhecido. O sentimento de ser tratada como vidro que poderia quebrar só de andar sozinha era tanto desconhecido quanto estranho.
Tudo dele – suas ações, seus olhos – eram tão estranhos e desajeitados que Kalia estava um pouco desconfortável com ele pela primeira vez desde que o conheceu. Para ser precisa, até encontrar seus olhos dourados fazia seu coração bater em um ritmo diferente, e ela sentiu como se o interior de suas palmas estivessem com cócegas.
De repente, ela ficou consciente de que estava se sentindo meio tímida na frente dele.
— Eu… eu estou bem, Sheyman.
Seus olhos focaram no olhar fixo de Sheyman e ela furtivamente afastou sua bunda em um movimento ligeiro.
Sem tirar seus olhos de Kalia, Sheyman perguntou, tranquilo:
— O que está bem?
— Eu quero dizer, meu corpo está bem.
Lábios subindo evasivamente, ele firmemente suportou a cintura recuando dela de novo. Seu olhar em Kalia era rigoroso, mas cálido.
— Mas por que você tropeça toda vez que anda?
— Eu não tropecei.
— Você tropeçou. Você franziu aqui, como se estivesse com dor.
Sheyman esfregou gentilmente a testa de Kalia com um dedo.
Parecia haver um fogo concentrado entre suas sobrancelhas, onde seus dedos a tocaram. Era estranho.
Por que parecia tão embaraçoso quando ele só estava fazendo coisas como esfregar sua testa ou suportar sua cintura?
Apesar de Kalia geralmente ser insensível a este tipo de coisa, ela não conseguia deixar de ser consciente dessa vez. Aquele olhar… Os olhos mutáveis de Sheyman continuavam a fazê-la se sentir estranha. Durante seu tempo separados, o que infernos aconteceu com aqueles lindos olhos dourados para fazer com que se sentisse estranha e nova toda vez que eles tinham contato visual?
— Não estou com dor, só um pouco desconfortável.
— Sério? Por que está desconfortável? Quer que eu te cure? Parece que você está andando com os calcanhares.
Inesperadamente, diferente dela, Kalia corou, conforme o rosto sério, franzido com preocupação e encarando-a, se aproximou.
“…Não, se você me perguntar onde eu me sinto desconfortável, eu não sei se consigo te responder…”
— O que, dói tanto que não consegue me responder? Só se apoie em mim, Kalia.
Sheyman sorriu para Kalia, que corou com vergonha.
O sorriso ambíguo e inocente dele fazia parecer que ele sabia de algo mas fingia que não entendia nada. O que fez tudo mais irritante, era que essas mudanças percebidas eram algo que poderiam lhe deixar louca, mas eram tão pequenas e triviais que não podia se manter em alerta por muito tempo.
“Loucura. Como ele pode ficar mais bonito depois de não o ver por tanto tempo?”
— Ou eu deveria te abraçar assim? Não seria ruim para mim também…
Com uma pressão gentil, a mão de Sheyman segurando sua cintura a puxou firmemente para mais perto dele. As ações dele, apesar de fortes, não pareciam coercivas e sua mão, uma presença sólida em sua cintura, não parecia opressiva. Do contrário, seu abraço a suportava com pressão o suficiente para se certificar de que ela poderia ficar de pé e andar confortavelmente.
— Não, sério, você… Por que você está… Ah…?
Tradução: Kaon.
Revisão: Michi.