Não é seu filho - Capítulo 65
“Que tipo de absurdo é esse?”
Kalia se esforçou para abrir suas trêmulas pálpebras enquanto um grunhido saia de sua boca fechada.
“Quem tem o sangue de quem?”
Ela não conseguiu entender a conversa em andamento, porque sua consciência estava fraca, mas ela ainda entendeu a ideia geral de tudo. Eles estavam dizendo que Shasha em sua barriga era uma criança de fada e que ela tinha o sangue do Rei das Fadas correndo em suas veias.
“Como na Terra…?”
A primeira coisa que ela viu quando seus olhos se abriram foi o rosto de uma mulher com cabelo similar ao seu. Pela visão borrada, ela podia ver o rosto de Gaia olhando para ela, de perto, com preocupação. Então, uma mão gentil, cuidadosamente acariciou sua testa coberta de suor. Os olhos de Gaia em Kalia, brilharam com lágrimas.
Ela murmurou gentilmente para Kalia:
— Está tudo bem.
“O quê? O que está bem?”
Não importa o quão sem tato e insensível a Kalia fosse, ela não podia ser ignorante para esse tanto de dicas.
— Você…Hmmm. – Ela queria dizer algo para Gaia, mas uma dor diferente a abalou.
— Ah, ah… Ah, ugh!
A criança em sua barriga lutou. A contração que espremeu seus intestinos e sacudiu seu útero era incomparável com tudo que já sentiu antes. Com o rosto tão branco quanto o de um cadáver, Kalia cerrou os punhos, unhas cavando suas palmas.
Sua mandíbula doía de tanta força que usou para cerrar seus dentes, mas seus olhos desfocados acharam aquele que estava a seu lado e ela conseguiu dizer:
— Shey…man.
— Kalia!
Sheyman, que ainda estava de frente a Kalekshia em confronto, imediatamente se virou e se aproximou dela.
Ela fez um gesto para agarrar sua camisa para se sentar. Sheyman, voluntariamente, abaixou seu corpo para o toque de Kalia e ela agarrou o colar de sua camisa para se puxar com a mandíbula cerrada. De repente, ela mordeu tão forte que o som de seus dentes roendo foi audível.
Ao som, Sheyman sentou-se na cama e a abraçou.
— Não, Kalia. Não. Se estiver cansada, morda meu ombro. Okay? Então, só sua mandíbula se machucará.
Seu corpo trêmulo, ofegante, congelou ao sentir ele pressionando a cabeça dela em seus ombros e carinhosamente segurando-a como quem segura um recém-nascido.
“Ah, ah ah ah. Ahhhhhh…!”
Kalia, que estava soltando gemidos reprimidos, eventualmente mordeu o ombro de Sheyman, que estava pressionado próximo de seus lábios. Tão doloroso quanto poderia ser, Sheyman simplesmente puxou Kalia mais apertada em seu abraço com um rosto calmo.
Kalekshia, que estava assistindo-os com um olhar trêmulo, expirou como se estivesse angustiado e falou em uma voz baixa:
— …Ela está prestes a dar à luz. Acho melhor chamar um médico humano.
Assim que ele falou essas palavras, Kalia afundou-se mais no peito de Sheyman.
— Hmm.
Seus olhos se arregalaram antes de seu rosto se distorcer em agonia. Sheyman não sabia o porquê, mas abraçou-a mais apertado. Kalia lutou em seus braços, balançando sua cabeça em dor e tentou empurrá-lo, mas seus braços não cooperaram.
Era a primeira vez que ela se sentia desamparada e inquieta, presa no conforto dos braços de Sheyman e se aconchegando contra o calor de seu corpo.
Nesse momento, algo quente saiu dela.
— Ah, hmm…
— Kalia!
O corpo de Kalia desabou fracamente em Sheyman. Não só a cama onde os dois estavam sentados, mas Sheyman também, que estava a abraçando, estavam ensopados.
Sua bolsa estourou.
Sheyman não se importava que estava ficando molhado, e abraçou ainda mais Kalia, acariciando-a metodicamente e a assegurando sem hesitação.
Diferente de Kalia, que estava surpresa mesmo em sua névoa de dor, Sheyman estava calmo, e ao contrário, focado em acalmar Kalia.
— Está tudo bem. Está tudo bem, Kalia. Shh, tudo bem. Você está bem, e você ficará bem. Shhh.
Gaia, que estava envergonhada e fazendo bico, pulou e tentou encontrar alguém.
Antes que ela fosse longe, Kalekshia interviu e enviou algumas fadas menores, que ele invocou em seu lugar.
— Você fica aqui. As crianças trarão um médico.
Com seu gesto, as barreiras que ele ergueu para isolar o quarto foram desfeitas e os pequenos espíritos voaram ao seu comando. Allen e Hemming, que estavam esperando por perto, correram para o quarto ao serem chamados pelos espíritos.
Então, prontamente pararam por um momento no limiar do aparecimento de dois estranhos no quarto.
— Quem…
Mas seu choque foi mal vivido.
— …Espere, senhorita!
A tez de Allen ficou pálida ao ver Kalia gemendo nos braços de Sheyman. Ele correu para ela, passando por Kalekshia e Gaia, como se fossem invisíveis.
— Oh, sua bolsa estourou. Hemming, Lina! Vamos, se preparem para ajudar a receber o bebê!
— Sim, sim!
A partir de agora…
Tudo estava nas mãos dos humanos.
*****
Uma hora, do que parecia um inferno, se passou.
O sol subiu para o meio do céu e a luz dele inundou o castelo, seus traços por todos os lugares do castelo, mas os rostos das pessoas esperando no quarto de espera, conectado ao quarto da dona do castelo, estavam todos sérios.
Kalekshia tinha escondido sua presença de fada e, agora, sentava-se, quieto, no sofá em sua forma humana. Pensamentos de seu clã vindo lhe encontrar passaram pela sua mente, mas ele permaneceu sentado em seu lugar.
Gaia perdeu sua força, exaurindo-se ao tentar passar toda sua energia para Kalia, então ela tinha desmaiado e estava selada.
Hemming, que foi expulsa do quarto, estava vagando pelo quarto de espera. Ela não conseguia ficar parada e estava alternando entre passar sua mão pelo seu cabelo preso já bagunçado e roer suas unhas. Enquanto isso, ela mantinha seu olhar na porta, para que ela pudesse correr para o quarto a qualquer momento, caso sua ajuda fosse necessária.
E entre todos eles, o homem que estava em mais pânico.
“Patético.”
Sheyman encostou-se na porta com seus olhos fechados firmemente, seu rosto fantasmagórico. Ele era um mago tão venerado, elogiado pelas massas, mas neste momento, ele se sentiu mais desamparado e inútil do que qualquer um. Tudo que ele podia fazer enquanto ouvia o som dos gemidos suprimidos de Kalia, vazando pela porta, era rezar para que sua dor terminasse.
Toc.
Sheyman deu um leve suspiro, trazendo sua testa para a porta onde Kalia estava sofrendo, no parto, do outro lado.
Toda vez que fechava seus olhos, ele lembrava de Kalia abraçando sua barriga de maneira protetora e caindo. O momento foi tão chocante, que sua visão escureceu por um segundo. Ele estava tão agitado, atordoado e confuso que sua mente, geralmente afiada, ficou completamente em branco. Mas, neste momento, os pensamentos se empilhavam um a um em sua mente conforme o choque diminuía.
“Era por causa da sua gravidez?”
Ele conseguia facilmente adivinhar que o motivo de Kalia ir embora era seu filho. Kalia deixou a Capital para cuidar da criança em sua barriga.
“Mas por quê?”
Seus olhos eram complicados enquanto encarava a parede preta com olhos estreitados.
“Ou… É por minha causa?”
Ele se lembrou do que tinha na carta que Kalia deixou para trás.
[…Eu lhe imploro que me perdoe por não ser capaz de lhe dizer nada. Por favor, compreenda, essa foi minha decisão depois de muita deliberação… A decisão não foi só por mim.]
[Eu a fiz por você, por mim e talvez por todos à minha volta.]
[Quando a hora chegar, eu voltarei com muitas surpresas.]
“Ha.”
Com outro suspiro deprimido, ele acertou sua testa, de novo, na parede. Palavras que ele não entendeu na época ganharam novo sentido, uma a uma.
Com muitas surpresas, ela diz.
Talvez sim, talvez não. Talvez tenha um motivo diferente, talvez tenha um outro alguém, mas…
De alguma forma, ele sentia que seu palpite estava certo. E, mesmo se o motivo não fosse por causa dele, não importava. De agora em diante, ele podia fazer todos os motivos para Kalia, ele mesmo.
— Wahh, wahhh!
A cabeça de Sheyman ergueu-se violentamente com o choro alto.
*****
— Wahh, wahh, wahhhh!
Kalia olhou o bebê vermelhinho chorando, seus olhos encobertos de exaustão. Seu exausto e mole corpo não tinha nem um pingo de energia restando, mas ela juntou sua força para abrir seus pesados olhos e olhar seu bebê.
“Oh… minha nossa.”
Como ele estava curvado em sua barriga por tanto tempo, os braços e pernas de seu bebê não se esticaram. Ela podia ver seu rosto redondo e gordinho e seus braços e pernas, ambos incrivelmente fortes para um recém-nascido. É porque ele cresceu rápido em sua barriga.
— Wahhh!
O pescoço e as pernas do neném tremeram com seu choro.
Ele anunciou bem alto que ele finalmente chegou ao mundo e podia arear seu nariz e boca com seus choros.
— Ele é um menino muito saudável. Pesa 4,6 Kg. Haha, você é o maior bebê que eu já segurei.
Emocionado, Allen colocou gentilmente o bebê nos braços de Kalia.
— Sério, você trabalhou duro, Kalia.
A criança era tão pequena, macia e frágil, que Kalia tinha medo, sem saber o que fazer.
Parecia que o bebê se machucaria se ela lhe desse um grande abraço.
— Está tudo bem abraçá-lo. Por favor, deixe-o ouvir a batida do coração de sua mãe.
— …
Hesitante, Kalia olhou, quieta, para seu bebê, abraçando-o perto de seu peito. O bebê que estava se movimentando, como se não soubesse o que fazer, se acalmou aos poucos. O bebê ainda estava instintivamente contorcendo-se, mas não parecia ansioso. Kalia olhou tal bebê com os olhos úmidos.
“Oh, meu bebê… Você realmente nasceu.”
Kalia tremeu com a enchente de emoções surgindo, aproximando sua bochecha da testa do bebê e saboreando sua conexão. Os olhos inchados, nariz pequeno, lábios mastigando e pele vermelhinha era simplesmente amável.
“Essa criança realmente estava em minha barriga? E eu realmente dei à luz para este bebê?”
Uma vaga alegria se espalhou por ela, esquentando todo seu corpo. Sem saber o que a comovia, ela aproveitou e segurou sua criança de maneira preciosa.
Agora ela tem uma família de verdade.
Uma família de verdade que nunca teve…
Sentindo a quente temperatura de seu bebê, Kalia murmurou em uma voz rouca que só seu filho podia ouvir:
“Obrigada por nascer saudável.”
“Obrigada por vir para mim.”
“…Obrigada, obrigada, meu bebê.”
O bebê contorceu-se, sentindo a respiração de sua mãe, e bocejou sem abrir seus olhos. Vendo isso, Kalia deu um sorriso largo, até seus olhos chorosos virarem luas crescentes.
— …Bem-vindo, Shasha.
“Eu vou te dar toda a felicidade da mamãe, meu bebê.”
Tradução: Kaon.
Revisão: Michi.