Não é seu filho - Capítulo 61
O rosto de Sheyman ficou tão branco quanto um fantasma. Ele parou em transe, sem nem pensar em se aproximar de Kalia. Ele estava paralisado, parecia que um martelo gigante tivesse esmagado a parte de trás de sua cabeça.
— …Ah.
Tudo que conseguia sair de seus lábios rígidos era um pequeno “ah”. Sheyman eventualmente fechou a boca e a manteve assim.
— …
— …
Então, os dois ficaram em silêncio por um tempo. Na verdade, estavam tão surpresos que ambos estavam sem palavras. Kalia, que estava gemendo, mordeu seu lábio inferior para ver se estava sangrando. Ele podia sentir que ela estava aguentando a dor pelas suas carretas, mas Sheyman ainda estava perdido em transe.
Os olhos trêmulos de Sheyman olharam para o rosto de Kalia, por instinto. Seu olhar faminto colou nela e avidamente a fitou. Kalia ganhou um pouco de peso e suas bochechas mais redondas não escaparam de seu olhar ganancioso. Trajando uma camisola esvoaçante e flutuante, ela parecia pura e inocente. Segurando sua barriga como se fosse algo precioso, parecia algo incomum, quase estranho, mas lindo.
— Sua… sua barriga.
Garganta seca, Sheyman engoliu seco e mal conseguiu impedir sua voz de tremer.
— …O que houve com você?
Kalia riu, como se a pergunta fosse engraçada.
— O que quer dizer? É exatamente o que parece.
Era bom ouvir a voz dela depois de tanto tempo. A voz familiar de sua memória, agora em sua frente, tocou seu coração e deixou seu coração acelerado.
— …Quero dizer, o que estou olhando neste momento… não, como, não, mais que isso, quem… Quando…?
Uma ideia passou pela cabeça de Sheyman. Seus olhos em Kalia se arregalaram. Em resposta, o olhar de Kalia ficou meio inquieto ao ler a expressão dele.
Sheyman, que estava hesitante, deu um passo em sua direção.
— Você, não me diga, daquela vez…
Antes de conseguir terminar de falar, Kalia o cortou com uma voz fria:
— Não!
— …Kalia!
— Eu disse não… Hhhmm.
O rosto de Kalia, que ela manteve cuidadosamente neutra, contorceu-se de novo em um instante.
Agarrando sua barriga, ela cambaleou por um momento antes de cair no chão. Sheyman, que estava parado como um idiota, finalmente voltou a si e correu para Kalia. Ele abraçou seus ombros rígidos e os acariciou para acalmá-la.
“Kalia, Kalia. Oh, Deus. Kalia…!”
— Agora, ah, espere…
A respiração de Kalia ficou mais pesada do que estava a alguns instantes. Com dentes cerrados, ela apressadamente agarrou o braço de Sheyman. Seus nós ficaram pálidos com a força que ela agarrou a beira das vestes dele.
— Heuu, heuu…Oh! Allen… Chame o Allen.
Ouvindo o nome de outro homem saindo de sua boca, o rosto de Sheyman empalideceu e franziu. Quando Kalia chamou por outro homem, seu coração parecia ser perfurado por espinhos, ardendo de dor.
— Você, por que você…?
Seuu. Heuuu. Kalia mal conseguiu cuspir as palavras em sua dor.
Respirando fundo, ela juntou força o suficiente para gritar por entre os dentes, sua voz ríspida:
— Cale a boca e chame o Allen, Sheyman… Rápido!
Ao seu berro, Sheyman voltou a si.
“Seu idiota… Esta não é a hora para ciúmes.”
Com os dentes cerrados, ele gentilmente ergueu o corpo trêmulo de Kalia. O portal de teletransporte foi aberto com algumas palavras simples como encantação. Sheyman correu para ele sem hesitação.
*****
O portal de teletransporte imediatamente cuspiu os dois no quarto onde Allen e Hemming estavam. Os dois estavam andando em círculos nervosamente. A ansiedade deles parecia encher o quarto. Pegos de surpresa com a repentina aparência de Sheyman, eles só puderam sobressaltar por um segundo, seus olhos arregalados. No entanto, o que fez os dois ainda mais surpresos foi a aparição da Kalia, gemendo em seus braços.
— Oh meu Deus! Senhorita!
A voz de Hemming aumentou em ambos tom e volume como se pudesse rasgar o ar.
O atordoado Allen sacudiu seu estupor e também correu para o lado de Kalia.
— Kalia! Você está sentindo dores de parto?
— Sim, uh… Algo do tipo, parece… Ugh!
— Dói muito? E o intervalo entre as contrações?
— Dois minutos… Não, não sei. Só… dói, dói.
— Respire fundo. Contanto que respire fundo, a dor passará. Respire. Preste atenção na sua respiração!
— Ugh…
Ela friccionou os dentes e gemeu, apertando Sheyman, com dor.
Sheyman nunca viu a Kalia com tanta dor. Mesmo quando seu braço caiu e seu estômago foi perfurado, ela não sofreu assim… Ela estava suando muito e seu rosto inteiro era tão branco quanto um papel, parecia que morreria a qualquer momento.
— Kalia, Kalia! Dói? Dói muito? Quer que eu jogue um feitiço em você? Eu… O que deveria fazer?
Chocado e amedrontado, Sheyman agarrou sua mão e falou com urgência.
Ele queria fazer a Kalia ficar bem. Ele queria aliviar sua dor de algum jeito. Mas Allen o parou.
Suas próximas palavras eram firmes:
— Sem mágica! A mãe precisa empurrar o filho naturalmente, mas se ela estiver sob influência de mágica, a força de seus empurrões diminui. Is-isto é uma dor que a mãe precisa suportar sozinha. Kalia ficará bem. Ela é uma pessoa forte.
Allen cerrou os dentes, como se convencesse a si mesmo também.
Ninguém podia ajudar. Dar a luz era assim. Momentos de dor que só uma mãe conseguia lidar.
Sentindo a dor desaparecer de novo, Kalia deixou escapar uma respiração instável por entre seus dentes. Bem sem fôlego, ela parecia estar tendo dificuldade para respirar.
O rosto de Sheyman se torceu de preocupação e segurou as mãos de Kalia nas suas. Parecia que seu coração estava sendo cortado repetidamente com cacos de vidro.
— O intervalo entre as dores do parto é menos de três minutos. A criança deve sair em breve. A bolsa do parto, ah. Eu deveria ter minha bolsa do parto…
Allen mastigou seu lábio inferior, com nervosismo.
Ele nunca imaginou que teria que ajudar Kalia a dar à luz ao bebê em um lugar inesperado, com pessoas inesperadas também. Ironicamente, foi Sheyman que acalmou o afobado Allen.
Rosto pálido igual a de um cadáver, Sheyman agarrou Allen.
— Se tem algo que precisa, vou trazer aqui. Onde está sua bolsa?
— Está no armário do meu quarto. No segundo andar.
Antecipando que o parto dela não estava muito distante, Allen preparou todas as coisas necessárias e estava pronta para Kalia dar à luz a qualquer momento. Sheyman imediatamente se mexeu para buscar a bolsa de Allen. Com um breve encanto, seu corpo desapareceu do quarto.
No meio tempo, Hemming preparou várias toalhas limpas e baldes de água quente sem demora. Isso era algo que Allen lhe ensinara e familiarizara com antecedência. O lorde do castelo entrou em pânico de novo porque Sheyman, de repente, trouxe uma mulher grávida que estava prestes a dar à luz.
Por que o amanhecer está tão longo hoje?
As pessoas do castelo que não conseguiram dormir foram sacudidas de cima a baixo.
— Quem raios é ela? – A, aparentemente cansada, esposa do lorde parou um pouco de cuidar de seu marido e veio ver o que estava acontecendo.
— Ela é importante. Então ajude-a a dar à luz em segurança a seu filho. Você tem um quarto limpo que podemos usar para o parto?
Desprezada pelo rosto de urgência de Allen e seu tom de desespero, a esposa do lorde sacudiu seu cansaço e os levou a um quarto limpo.
— Este é meu quarto. Está tudo bem se livrar da cama, então deixe a mãe descansar aqui.
— Obrigado.
— Há algumas criadas que ajudaram no parto no castelo. Vou convocá-las aqui.
Logo, Sheyman retornou com a bolsa que Allen especificou.
Apesar de ainda pálido na tez, seus olhos dourados brilhavam como se tivessem recuperado um pouco de vida de volta. Ele olhou para Kalia deitada na cama e sua mandíbula enrijeceu-se de novo. Tudo que podia fazer era otimizar a condição deste quarto. Ele desinfectou tudo no quarto com uma magia simples, apesar de Allen nem ter pedido. Allen o deixou fazer o que queria sem reclamar, e guiou duas criadas trazidas pela esposa do lorde para o quarto.
Depois de um tempo, Allen emergiu de dentro e falou, mordendo os lábios:
— Ainda temos que esperar. Conforme o tempo passa, as dores do parto pioraram, mas temos que esperar sua bolsa estourar.
Sheyman encarou Allen com uma careta.
Allen franziu a testa com a feroz encarada de Sheyman, mas tudo que podia oferecer era:
— Como disse, dar à luz é uma dor que só a mãe pode suportar.
Os olhos pretos de Allen encontraram diretamente os dourados de Sheyman.
— A dor do parto não pode ser dividida, mas, pelo menos, cabe ao esposo suportar junto com eles. Eu acho que o parceiro deveria assistir o quão difícil é dar à luz a uma criança.
O que ele queria dizer…
Os olhos de Allen estavam calmos. Mas ele sentiu que havia muitas palavras nesses olhos calmos.
Após uma rápida olhada no seu relógio de pulso, Allen olhou para Hemming.
Ele falou com fatiga, sua tez fatigada combinando com sua voz:
— Hemming, me chame quando a bolsa estourar ou ela alcançar cem contrações. Estarei no quarto ao lado.
— Onde está indo com uma paciente com dor desse jeito?
Sheyman o agarrou, mas Allem só o encarou sem dizer uma palavra.
Ele hesitou, fazendo bico.
— Porque eu não sou o pai de Shasha. – Apesar de sua voz estar amargurada, ele era firme.
“Allen não é o pai.”
Como Kalia disse uma vez, Allen não era o pai do bebê. Mas este homem em frente dele…
— Isso significa que a pessoa que deveria estar segurando a mão dela não é o médico.
Se ele ainda não entender depois que isso tudo foi dito…
Allen se virou friamente, enterrando seus pensamentos e sentimentos mais íntimos.
(T/N.: Ain, coitado do Allen.)
Tradução: Kaon.
Revisão: Michi.