Não é seu filho - Capítulo 59
— Porque eu acho que morreria sem ela.
Dependendo de como interpretasse sua voz, ela soava um pouco dolorida e angustiada.
— Porque eu sinto tanta saudades dela que é doloroso. Porque sem ela é doloroso o suficiente para morrer. Eu quero muito vê-la, mas não posso. Eu não sei porque ela se foi, e não sei quando voltará… Como posso não procurar por ela?
Sheyman pausou por um momento, antes de cair em sua nervosa gargalhada. Era uma gargalhada misturada com suspiros.
Ainda assim, não podia culpar Kalia de nada disso.
Seria difícil para ele ter a coragem de culpá-la ou até mesmo de ressenti-la agora que estava prestes a encontrá-la de novo. Não podia deixar Kalia se afastar dele de novo só por causa de sua boca que fala pouco. Não bastava somente desejar o amor…
— E se algo acontecer quando eu não estiver por perto? E se ela se machucar? Ou e se um cara maluco ficar perturbando-a dizendo que a ama? Ha! Tudo porque não estou por perto.
Se ele a encontrasse, tudo que teria que fazer daqui em diante seria derramar todo o seu amor transbordante de doer o coração nela. Apesar de Kalia tê-lo deixado tão friamente, sem lhe dizer o porquê, como ele poderia odiá-la? Ele não conseguia nem pronunciar palavras de ressentimento na frente dela.
Salvação era assim.
Ele não podia ignorar e nem ousava resistir.
Ela era a única pessoa no mundo que conseguia invocar emoções tão avassaladoras que poderiam dominá-lo com tais sentimentos.
Sheyman franziu a testa, seu rosto se contorceu a ponto de que os outros não sabiam se ele estava sorrindo ou chorando. O som da chuva caindo lá fora era irritante.
Com um curto suspiro, Sheyman inclinou-se para frente.
— Então, preciso encontrá-la. O quanto antes, mesmo que neste horário… Eu preciso achá-la. Não consigo me acalmar nem por um momento sem a Kalia. Porque eu acho que enlouquecerei desse jeito.
Com seus braços em seus joelhos, ele nervosamente torceu seus dedos entrelaçados por um momento antes de levantar a cabeça. Seus olhos tinham um olhar completamente diferente de antes. Um sem a menor margem para fuga.
“…Perigoso.”
Hemming e Allen pensaram a mesma coisa ao mesmo tempo.
O amor desse homem era perigoso.
Era uma quantidade de amor tão avassaladora que transbordava e cobria seus arredores. Por mais que ele tenha abafado esse amor por dentro… Era um amor que transbordava sem fim visível. Ao mesmo tempo, Kalia precisava desse amor. Era um amor imenso que compensaria pelo tempo que cresceu sem amor.
Hemming olhou para Sheyman com um olhar mais leve, mais relaxado. E quando abriu sua boca, já havia se decidido:
— Vou lhe dizer onde a Senhorita está.
— Hemming! Não cabe a nós decidir.
— Mas se não contarmos, não nos deixará ir. Não é, Sr. Sheyman?
Sheyman, que escutava atentamente, simplesmente sorria com calma e levantou uma sobrancelha em resposta. O sorriso dele passava um único significado.
Entendendo completamente o significado por trás daquele sorriso, Hemming disse para Allen de novo:
— Olha, Allen, como você sabe, estamos em uma situação delicada, precária e urgente neste momento. Então, não seria melhor podermos voltar e cuidar de Kalia o quanto antes?
— …Cuidar dela? Há algo de errado com a Kalia?
Sheyman perguntou vendo o silêncio de Allen quando não pôde refutar a lógica de Hemming.
As estranhas nuances dos dois fizeram a expressão do Sheyman piorar.
— Parece que você é um médico… É por isso que está com a Kalia?
Allen mordeu seu lábio inferior, fazendo uma carranca para Sheyman, mas falhando em responder. Como se para pressionar Allen, mana começou a fluir de Sheyman e se espalhar pelo ar ao seu redor. A enorme quantidade de mana emitida parecia comprimir a própria concentração do ar. Ambos Allen e Hemming ficaram tensos quando a pressão caiu sobre eles e seu aumento parecia sufocá-los.
— Se tem algo de errado com a Kalia e vocês estão enrolando desse jeito… melhor se prepararem. Mesmo que sejam subordinados da Kalia.
Cabrum!
Na hora, ouviu-se um trovão, intensificando a atmosfera já sufocante e tensa. Seus olhos brilharam assustadoramente na escuridão.
Allen agarrou Hemming e direcionou um olhar trêmulo a Sheyman.
— Como você já esperou tanto tempo, não pode esperar mais alguns dias?
Sheyman respondeu com um sorriso amargo.
— …Receio que não.
Houve um tenso silêncio entre os dois homens. O que rompeu o ar assustadoramente gélido foi um abrupto som de uma cabeça fofa, redonda que se materializou do nada.
— Kkyu?
De repente, um espírito com forma de toupeira levitou no ar entre os dois homens e inclinou sua cabeça. Surpresos, Hemming e Allen, ambos se sentaram em seus lugares com olhos arregalados colados na toupeira.
— Tierra.
Reconhecendo o espírito, Sheyman balançou a cabeça e estendeu a mão.
— O que estava fazendo para aparecer só agora?
— Kyu!
Ela ergueu a cabeça como se tivesse algo a dizer e pulou na mão de Sheyman. A toupeira correu por seu braço até seu ombro, aparentemente animada.
— Kyu! Kkyu! Kyukyukyukyu! Kyuuuuuuu! Kyuuwu!
Analisando a linguagem da toupeira com a cabeça ligeiramente inclinada, Sheyman tentou entender porque esse serzinho estava tão animado assim. As palavras da toupeira não eram uma linguagem, mas uma forma de se expressar. O que Tierra estava tentando comunicar soou na mente de Sheyman.
— Você foi para a Floresta das Fadas e encontrou um humano estranho? Mas?
— Kkyuuu! Kyukyu!
Aos chiados da toupeira, o rosto de Sheyman, que esteve calmo todo esse tempo, mudou gradativamente.
— Ela cheirava igual ao mana que te mostrei antes?
— Kkyu!
A mão de Sheyman se aproximou e pousou sob a cabeça da toupeira, que concordava ansiosamente. Mana purificado foi injetado de sua mão pálida para a toupeira.
— Agora, pense no rosto da mulher que você viu…
Fazendo como mandado, uma fraca visão apareceu de repente em frente da toupeira. Conforme a borrada aparência da vaga figura ficou mais clara e mais distinta, e as cores opacas pintaram uma figura meio reconhecível, Allen e Hemming calaram suas bocas ao mesmo tempo.
“Por que, Kalia/Senhorita…?”
Contrário à surpresa dos dois, Sheyman silenciosamente olhou para a visão silenciosa por um momento. Depois de encarar atônito a cintilante imagem dela, ele gentilmente afagou a cabeça da toupeira, voltando à si.
— Bom trabalho, Tierra. Sabe onde ela está agora?
— Kkyu!
Acenando com a cabeça, Tierra adicionou poder à visão. Logo, a visão na frente deles ondulou em uma diferente.
Uma casa alta de dois andares feita de paredes brancas com um teto vermelho. A pequena mansão com um pequeno jardim era tão linda quanto uma pintura. Era a mesma mansão em que Kalia estava morando agora.
*****
Cabrum! Cabrum!
Kalia acordou com o barulho do trovão. Para ser precisa, ela acordou com o som do trovão e a dor desconfortável apertando sua barriga.
Hiss.
Era parecido com as contrações de antes, mas dava um sentimento levemente diferente, apertando o abdômen inferior. Kalia respirou fundo antes de se sentar na cama.
— Allen deve estar de volta amanhã pela manhã.
Algo parecia errado. Ela se sentiu inquieta a tarde toda de ontem, mas, agora, ela sentiu um forte mal-pressentimento. Ela tinha uma intuição de que seu filho nasceria em breve.
Kalia lentamente se levantou da cama e seguiu para a cozinha. O som da chuva era alto, mas o ar não estava frio graças ao resquício de fogo na lareira, esquentando o local para uma temperatura morna. Por sorte, enquanto andava, sua dor diminuiu.
Após colocar algumas folhas de chá calmante na água morna, Kalia checou as horas. Para descobrir se essas eram dores falsas de parto ou verdadeiras contrações, a coisa mais importante era focar no intervalo de tempo.
“Senti dor três minutos atrás.”
E já faz cerca de 10 minutos desde quando as contrações começaram. Allen disse que contrações poderiam durar por 24 horas sem entrar em parto se houvesse tempo suficiente entre cada uma. Quando realmente entrar em parto, o intervalo das contrações diminui um minuto a cada contração. Pode doer bastante, Allen disse sem mais explicações.
“Se puder aguentar mais um pouco, ficará bem.”
Kalia se sentou na cadeira de balanço em frente à lareira. Mais duas horas até ficar claro. Seria um alívio se Allen e Hemming saíssem cedo e chegassem ao raiar do sol, mas se eles atrasassem, ela precisava se preparar e pensar em outros jeitos.
“Vamos falar com o vizinho ao lado, e contatar Henry, o médico do vilarejo. Talvez devo contar a Sra. Collins, já que ela era uma parteira.”
Enquanto ela tentava se distrair da dor à força, sua barriga se contraiu de novo. Ela checou as horas e cerca de 20 minutos se passaram. O intervalo de tempo era bem menor do que ela esperava.
Kalia se sentou na cadeira e tentou não entrar em pânico. Então, ela viu o chapéu de bebê que não estava terminado ainda na mesa de canto, ao lado da cadeira. Ela aprendeu a fazer o chapéu com a esposa do vizinho, a Sra. Lana. O pequeno chapéu foi tricotado desajeitadamente com suas próprias mãos e estava uma honesta bagunça amassada. Ainda assim, não importa o quão desajeitado era o chapéu que ela fez, Kalia ficava orgulhosa sempre que o via. Demorou um mês para tricotar esse tanto dessa coisa pequena.
Graças a sua falta de destreza, ela teve que desmanchar e retricotar com suas agulhas várias vezes, mesmo gastando uma hora trabalhando nele todo dia. Ela trabalhou nele sempre que tinha tempo, mas ainda não conseguiu terminar. Ela estimou que terminaria hoje ou amanhã se aguentasse, mas, com esse ritmo, provavelmente não. É uma pena. Ela queria fazê-lo bonito…
Kalia acariciou o material macio cuidadosamente e gentilmente falou com Shasha, para acalmar sua barriga.
— Mamãe quer ver Shasha logo, mas não seria melhor nos encontrarmos em segurança? Então, Shasha, espere mais um pouco. Só até Allen voltar. Meu bebê bonzinho.
Quando ela falou em uma voz amigável ao acariciar sua barriga, as dores do parto diminuíram. Isso só a fez se sentir orgulhosa. Recuperando o fôlego, Kalia fechou os olhos de novo.
Carummmm!
O som do trovão soou como uma batida na porta e, em seguida, um raio clareou a vista da janela. Voltando-se para a cozinha, ela não deixava de pensar que o trovão estava bem alto hoje.
Toc. Toc. Toc.
Então, ela ouviu uma batida na porta, tão clara que ela não poderia confundi-la com o trovão ou os raios.
Tradução: Kaon.
Revisão: Michi.