Não é seu filho - Capítulo 46
— Au!
— Kyuu!
O som de seu chamado sacudiu o ar, e os dois espíritos, um com a forma de um cachorrinho e o outro como uma pequena toupeira, surgiram ao mesmo tempo.
Eles eram espíritos de baixa patente, Airu e Thierra.
Poucos magos eram capazes de lidar com espíritos, mas por causa de seu sangue élfico, sua afinidade com eles não era ruim.
Como resultado, não era difícil lidar com os espíritos de nível inferior. Mas era diferente quando se tratava de espíritos de classe média e alta.
No geral, levava vários anos para lidar até com os espíritos de categoria inferior. No entanto, o talento inato de Sheyman não estava apenas na magia, mas também na arte espiritual, por isso, ele tornou-se capaz de convocar espíritos sem muita dificuldade.
O sangue de sua mãe era útil nesses momentos.
‘Eu não gosto disso, mas ainda assim…’
Airu, que parecia um cachorrinho, pulou no ombro de Sheyman e esfregou sua bochecha contra a dele.
— Au! Au!
Airu, que latia alegremente, balançou o rabo e aguardou as ordens de seu mestre. Thierra, que tinha a forma de uma toupeira, subiu no ombro oposto de Simon.
— Kyuu, kyuu!
Tierra se agarrou à bochecha oposta de Simon e estava tentando chamar sua atenção, esfregando ansiosamente suas pequenas patas nele.
Além de Airu e Thierra, os espíritos inferiores da água e do fogo, Elemento e Fuego, eram igualmente afetuosos. Os 4 espíritos pareciam seguir seu mestre, que os criou como se fosse seu pai.
O mana que Sheyman infundiu nos espíritos era de um tipo de mana de categoria superior. Originalmente, eles deveriam ter recebido o poder do mundo natural, mas ele não era um espiritualista formal, então em vez disso usou o poder dos quatro elementos no lugar do poder da natureza.
Sheyman, que refinou o poder da água, fogo, terra e vento em sua forma mais pura, injetou-os no espírito que se adequava a cada atributo.
Artes espirituais eram algo que Sheyman nunca havia experimentado antes, porque seu único interesse era em estudar magia. Mas depois que Kalia desapareceu, ele precisava de seres que se movessem como seus pés e mãos. Seres que poderiam coletar informações de todo o país e se mover como o vento em seu nome. Assim, ele convocou esses espíritos e conseguiu nutri-los e criá-los.
Felizmente, os espíritos devoraram o mana que ele refinou e rapidamente cresceram para ajudá-lo.
— Polvilhe estes na cidade designada.
Sheyman deu pequenas esferas pretas, que tinha feito condensando seu mana, na boca dos espíritos que aguardavam. Os espíritos as engoliram satisfeitos e desapareceram.
Já que ele deu a eles bastante mana para comer, eles deveriam ser capazes de ir mais longe do que da primeira vez. Seu trabalho ainda não havia sido concluído. Seguir as notícias do Marquês Aonti era um problema simples. A tarefa mais importante, e angustiante, era encontrar Kalia.
De alguma forma, ele tinha uma sinistra sensação de que, se não a encontrasse logo, ela nunca mais voltaria.
O nervosismo o deixava louco. Se ele não se apressasse, se transformaria em um mago louco antes de encontrar Kalia. Loucura era apenas uma forma educada de dizer.
Houve momentos em que ele quase não conseguiu suportar as ondas crescentes de tristeza e saudade e teve vontade de destruir tudo em seu caminho.
Como quando ele se lembrou de Kalia sorrindo em silêncio, ou quando pensou nela fugindo a cavalo naquela noite, voltando e o beijando ferozmente.
[Porque salvar você, me salvou.]
Até mesmo o que ela disse em sua carta foi reproduzido em sua cabeça com a voz dela.
— …Eu sempre serei grata a você, Sheyman.
Eles estavam voltando para o dormitório depois da aula, ele lembrou, e Kalia tinha falado alegremente enquanto estava em um lindo cenário crepuscular.
— Por que você está olhando assim para mim? É a primeira vez que vê alguém trocando de roupa?
Eles tinham dezessete anos. Ele até se lembrou da primeira vez em que acidentalmente entrou enquanto ela se trocava, e viu seu corpo nu com cicatrizes.
Sheyman sentiu uma sede insana e frenética. O nervosismo que apertou sua garganta o fez sentir que ia explodir.
— …Eu não posso fazer isso.
Até o dia em que ele a encontrasse e a prendesse ao seu lado novamente. Ele nunca pode viver normalmente.
Sheyman sorriu amargamente, se virou imediatamente e saiu. Não era suficiente apenas sentar e esperar por informações e notícias.
Alguns dias atrás, ele encontrou uma pista plausível. Havia a história de uma senhorita de chapéu grande que viajava de carruagem há meio ano. A testemunha havia dito que com um único olhar pode ver que o cabelo esvoaçante ao vento era de um amarelo pálido. Acima de tudo, quando soube que uma linda jovem de cabelo preto curto estava acompanhando a senhora, Sheyman se convenceu de que aquele era o grupo de Kalia.
‘Hemming Gallas.’
A jovem escudeira de Kalia.
Kalia havia deixado o império, abandonando todas as suas conquistas, mas levou a jovem escudeira com ela.
— E havia mais um no grupo deles. Um homem muito alto e bonito estava sempre por perto.
E mais uma pessoa.
O que era mais estranho era um homem que ele não conhecia…
— De alguma forma, fiquei muito impressionado com a forma como ele estava inquieto a cada passo do caminho, cuidando muito bem da senhorita. Eu pensei que deveria tratar minha esposa daquele jeito.
Por um momento, um brilho assustador passou pelos olhos dourados de Sheyman.
Ele não sabia quem diabos era o homem. Mas o fato de Kalia estar acompanhada por um homem que ele não conhecia, partiu o seu coração. A dor latejante fluía de seu peito até a ponta dos dedos, irritando todos os seus nervos periféricos. Quando soube que o estranho havia seguido Kalia, tratando-a como esposa, as chamas acenderam em seu coração.
Vestindo um par de luvas de couro pretas, Sheyman saiu. Se não fosse possível rastrear por mana, ele teria que procurar pessoalmente todas as cidades.
— …Só um pouco mais, Kalia.
Sheyman sorriu e começou a visitar cada cidade na direção sudeste, seguindo os traços dela.
Se a visse novamente, ele a prenderia, então ela nunca mais seria capaz de deixá-lo novamente. Se ele podia ser abandonado tão facilmente sendo seu amigo, ele estava disposto a ser seu irmão. Ele poderia ser seu irmão mais velho se Kalia quisesse. Estava disposto a ser seu irmão mais novo também.
Ela era alguém que gostava de cuidar dos outros, então ele estava disposto a arruinar seu poder apenas para ficar ao seu lado.
Se ela precisasse de alguém leal, Sheyman poderia até mesmo começar uma revolta por ela. Ele preferia que Kalia lhe dissesse que queria ser o rei de um país do que não tê-la em sua vida. Se tornar-se uma governante fosse seu desejo, ele seria capaz de elevá-la a esse status, mesmo que tivesse que sacrificar seu corpo no processo. Mas, acima de tudo, o que ele desejava desesperadamente era ser amante de Kalia.
— Haa.
Ele estreitou os olhos e olhou para a vista panorâmica desconhecida da cidade abaixo. Ele já havia viajado 1000 km de distância da Capital. Se descesse um pouco mais, chegaria ao fim do país.
Mas por algum motivo, tinha a sensação de que seria capaz de encontrá-la se procurasse um pouco mais.
‘É por isso que eu nunca desistirei.’
Ele nunca iria perdê-la novamente. Com a motivação renovada, Sheyman saltou, mordendo o interior de sua bochecha.
Aos poucos, ele certamente a alcançaria.
***
A noite chegou.
As cortinas da janela balançaram com o vento.
Uma canção triste flutuou tristemente pela sala, como se para coincidir com o movimento das cortinas.
Fadas presas em uma gaiola cheia de poder maligno se uniram e cantaram uma canção triste juntas.
Eu sou o vento, sou a chuva, sou o sol. Liberdade irrestrita. Um pássaro que não descansa as asas.
Se você prender o vento, ele morrerá.
Se você prender o sol, ele morrerá.
Se você parar a chuva, ela morrerá.
Deixe-me livre para ser livre.
Um pássaro que nunca descansa suas asas.
Me salve, eu quero viver.
Deixe-me ir, deixe-me voar.
Nos deixe viver.
Suas vozes tristes cortaram o ar. As palavras eram tão desesperadoras e melancólicas que fariam qualquer ouvinte chorar.
No entanto, os lábios do homem que ouvia a canção inclinando-se obliquamente em frente à enorme gaiola de pássaros formavam um arco. Como se estivesse se divertindo, ele sorriu enquanto batucava os dedos no ritmo da melodia.
Como se tivessem um pressentimento de seu triste destino, as fadas pararam de cantar e começaram a chorar. O homem que estava ouvindo em silêncio abriu os olhos e olhou para as fadas.
— Por que não cantam mais? Cantem mais forte. Se eu achar que vale a pena ouvir sua música, posso deixá-las viver mais.
O homem ruivo e de olhos vermelhos zombou das jovens fadas com sua voz cruel.
[Por que você nos capturou?]
[Sim, por que fez isso?]
[Nos solte! Eu quero voltar para casa!]
[Aqui não é onde deveríamos estar!]
Elas eram fadas de baixo nível que viviam na Floresta das Fadas.
Fadas que habitavam as árvores, o solo e o vento.
As fadas, todas com menos de um ano de idade, olharam para o homem e tremeram de medo.
A Floresta das Fadas de Lua era uma das menores entre as florestas que se estendiam desde o reino das fadas. Se nada tivesse acontecido, elas teriam passado o resto de suas vidas cantando pacificamente na pequena floresta…
Alguns dias atrás, elas tinham sido capturadas por monstros especiais controlados pelo homem. As fadas tiveram um pressentimento de suas mortes no momento em que foram apresentadas a ele.
Não havia calor em seus olhos. Ele não era um ser humano, um monstro, ou nem mesmo uma fada. As fadas tremeram como álamos ao verem os olhos vermelhos as olhando com frieza. O homem olhou para as fadas vacilantes com olhos sem emoção e insensíveis.
‘Estou entediado.’
Diante das fadas, que tremiam de medo da morte, o homem bocejou profundamente. No entanto, ele se alertou de repente ao sentir algo. Seus olhos arregalaram estranhamente.
— …Cortou?
A comunicação com seus monstros de estimação, que ele havia jogado nas profundezas da Floresta das Fadas para encontrar comida, foi cortada.
A morte era a única coisa que cortaria a comunicação com eles.
— Como diabos?
Borph Adio ficou parado perto da janela, esfregando o queixo como se estivesse intrigado.
O festival estava em pleno andamento durante a noite, com suas luzes cintilantes.
Com uma ligeira virada de cabeça, ele pôde ver parte da Floresta das Fadas à distância.
Guardas estavam posicionados em frente à ela.
Tradução: Harumi.
Revisão: Holic.