Não é seu filho - Capítulo 43

‘Quimera’

Esses tipos de monstros eram criados com magia e medicina proibidas. Alguns chamavam o processo de um tipo de magia negra, outros chamavam de medicina milagrosa que prolongava a vida.

Uma técnica de magia perigosa e fascinante. Era uma habilidade muito tentadora, mas ao mesmo tempo, foi banida porque também era perigosa. 

Quimeras permitiam que uma criatura renascesse mais forte, mas também encurtava a vida da criatura renascida. A maioria dos feiticeiros que estudavam as quimeras estavam cativados pela loucura, e os doutores que simpatizavam com a prática também tinham perdido seu respeito pela vida há muito tempo.

Apenas os humanos estavam curiosos sobre esse tipo de técnica e a praticavam. Assim que a crueldade dos humanos era revelada. Os humanos eram a única raça que encontravam alegria no trabalho de reinventar e modificar a ordem natural da vida, e seus experimentos não acabavam com somente um transplante.

— Isso não faz sentido…

— Criança, bobagens como essa estão acontecendo por um longo tempo. Em lugares e horas que você não tem ideia.

O coração de Kalia afundou.

Ela não podia acreditar que existiam quimeras por aí há um longo tempo. Mesmo agora, a região mais próxima desta floresta era Lohas. Isso significava que havia uma grande probabilidade de que as quimeras viessem de Lohas.

‘Não, de jeito nenhum, isso não pode ser verdade.’

Mas, parando para pensar sobre isso, ninguém de uma cidade tão pequena e fria poderia ter feito uma coisa tão grande. Era um vilarejo sem nenhum mago de nível alto ou médio. Além disso, ela sabia que o procedimento requerido para criar a quimera exigia bastante poder mágico. 

Não importava o quão bem você escondesse sua mana, não tinha como Kalia ter perdido a o vestígio da onda de energia mágica necessária para criar uma quimera.

‘Mas se isso é uma quimera que foi criada muito tempo atrás…’

Kalia olhou para o rosto pálido do lobo morto. Ela se perguntou se teria alguma pista no corpo do monstro, mas isso parecia somente um lobo Lycan comum. 

Uma mão pálida tocou a bochecha de Kalia, que estava com a mandíbula cerrada.

[Você está bem?]

Nenhum som saiu de sua boca, mas ela mordeu os lábios.

Seus olhos cheios de preocupação examinavam a pele de Kalia, que estendeu sua mão e cobriu a que ainda estava acariciando sua bochecha.

Uma mulher da raça das fadas que apareceu de repente. Uma mulher que parecia ter convocado tal homem com uma quantidade incrível e tremenda de poder.

Ela era tão suspeita. Kalia não podia entender porque essa mulher a favoreceu tão cegamente.

— …Quem é você?

A mulher olhou de volta para Kalia com um olhar firme.

Os olhos de Kalia se voltaram para o homem, que parecia estar observando ela e a fada, e se dirigindo a ele:

— Por favor, me responda, rei das fadas.

O rei olhou para sua filha silenciosamente. Sua filha “morta” estava parada ao lado de uma mulher humana estranha, não ao lado de seu pai.

De repente, o cabelo das duas, que eram parecidos um com o outro, capturou os olhos do rei. Uma cor adorável de amarelo claro que lembrava a cor de limão. O pôr do sol laranja escuro iluminou a cor do cabelo das duas.

O rei abriu sua boca enquanto olhava para os dois pares de olhos que o encaravam em silêncio.

— Essa criança é um fragmento da minha filha.

— …Um fragmento?

— Um fragmento de sua alma, para ser exato.

Kalia olhou para a mulher, que ainda a segurava, sem acreditar. Não conseguia sentir o toque, mas havia um poder na mão da mulher que a segurava. Não acreditava que esse ser era um fragmento de alma. A fada até mesmo olhou para Kalia com muitas emoções vívidas e coloridas, como se estivesse viva.

Isso era possível?

Para responder a pergunta tão evidentemente exibida em seu rosto, o rei explicou:

— Esse é o reino das fadas. Um lugar cheio de energia no qual nascem os espíritos. É possível para uma fada manter alguma forma depois de sua morte enquanto houver um pedaço de sua alma.

‘Ah’

Kalia acenou com a cabeça em resposta, como se estivesse convencida.

Até as próximas palavras do rei.

— Contudo, a única forma de ver uma fada que nasceu de um fragmento de alma, quando se tem alguma relação com o corpo original da fada.

Swoosh~

A lança do rei surgiu de repente na frente de Kalia com a ponta afiada apontando diretamente para seu coração.

— É sua vez de responder, criança. Quem diabos é você?

Encarando esse homem, Kalia estava assustada pela primeira vez em sua vida.

Não, para ser honesta, ela nunca tinha sentido um sentimento de medo tão forte em sua vida.

A ponta fria de seus dedos tremeram. Sua boca estava seca. Enquanto ela tentava não engolir saliva, encontrou o olhar firme do rei das fadas.

Ela não tinha feito nada de errado contra esse rei. Foi dito que o Rei das Fadas era um ser que não mataria sem uma causa justa. Ele era dito ser o pai de todas as coisas, um símbolo de benevolência que ama seus filhos e protege a natureza.

— Eu sou…

Assim que ela estava prestes a responder, a barriga de Kalia se moveu. Os olhos do rei se desviaram para a barriga redonda de Kalia.

Os chutes da criança podiam ser vistos vagamente através do material fino do vestido. Cada chute era vigoroso e ousado. Ele quase podia sentir o chute forte e latejante com apenas um olhar.

Enquanto os olhos do Rei das Fadas estavam fixos no estômago de Kalia, Gaia, que estava observando os dois de lado, bateu o pé e interveio.

— $&*@(!*$&&@*&^$-

Gaia empurrou o rei para longe, abraçou Kalia, e importunou seu pai ruidosamente com a boca sem fazer nenhum som.

Ele não conseguia ler perfeitamente os lábios que se mexiam rapidamente, mas podia vagamente discernir que ela o estava amaldiçoando.

[Mau, quer dizer, eu te odeio pai, vai embora.]

Suas palavras pareciam ser algo como isso.

Quantas pessoas no mundo eram capazes de ir contra o Rei das Fadas assim?

Kalia sentiu o calor da existência que estava repreendendo selvagemente o Rei das Fadas enquanto estava nos braços da fada.

Era estranho. Era somente uma pequena presença feita de um mero pedaço de sua alma original. Como Kalia poderia sentir seu calor?

O rei olhou para a barriga de Kalia e depois para sua filha, que ficou enrolando Kalia em seus braços, por um longo tempo.

Gaia olhou para o braço duro de seu pai enquanto mantinha uma mão acariciando o ombro de Kalia. Com a outra mão, ela agarrou a lança do pai tentando derrubá-la imediatamente, fazendo escândalo.

Os olhos do rei em sua filha não mostravam irritação, muito menos raiva. Ele olhou para sua filha zangada por mais um tempo sem dizer uma palavra e logo abaixou sua lança com um sorriso caloroso incompreensível.

— Quando eu já ganhei contra você, Gaia?

O poder que ele acumulou na lança foi suavemente dissipado no ar. Seus braços pareciam fracos quando ele abaixou a lança. 

Não sabia quanto ao seu eu do passado, mas agora, ele não conseguiria nunca ficar bravo com a sua filha. Mesmo que ela fizesse alguma coisa que o ameaçasse, o pobre pai estava disposto a correr o risco.

O rei gentilmente acariciou as bochechas inchadas de sua filha, e então olhou novamente para Kalia. Ela não tinha ideia do que estava acontecendo. Parecia ser o mesmo com o poderoso rei na frente dela. Dois pares de olhos cheios de confusão se entrelaçam no ar.

Queria perguntar a ele o porquê dele a olhar daquele jeito, mas seus lábios congelaram. Da mesma forma, os olhos do Rei das Fadas também estavam fazendo perguntas que ela não poderia responder.

Ambos estavam hesitantes tentando descobrir o que perguntar ao outro primeiro quando…

— Senhoritaaaaa Kaliaaaaaaa!

Uma voz estridente tão alta soou.

De repente, Kalia, que voltou a si, deu a volta com urgência e correu.

***

Hemming estava chorando com seus braços em volta de duas crianças caídas.

‘Você não pode chorar, isso é algo que somente os fracos fazem. Não chore, Hemming Gallas! Eu sou a escudeira e protetora da excelente general Kalia! Mesmo que seja temporário!’

Não importa o quanto ela tentasse se consolar, não conseguia parar suas lágrimas de escorrer. Mesmo quando prendeu a respiração, foi difícil parar as lágrimas escaparem pelo seu rosto.

Kalia, que se afastou instigando os lobos, não retornou, e o pôr do sol sobre o céu estava escurecendo gradualmente para o roxo.

Havia até uma criança em seus braços cujo rosto havia perdido toda a cor por sangrar muito. O pequeno corpo da criança tremia como se tivesse calafrios.

Ela não conseguia, não conseguia fazer isso…

— Ugh, uwaaaaaaa!!

De seus olhos marrons, lágrimas estavam caindo em fluxos constantes.

— Snif, senhorita  Kaliaaaaaa! Para onde foi? Senhorita Kaliaaaa!

Hemming deveria tirar as crianças de dentro da caverna e fugir depois que Kalia atraísse os monstros. Não foi difícil entrar na caverna depois dos monstros a terem deixado. Conseguiu manter a calma e a compostura mesmo quando viu que as crianças estavam sangrando.

Ela encontrou uma situação estranha, no entanto. As duas crianças estavam segurando algo semelhante a um grande ovo, mas era translúcido e brilhava vermelho. Ela rapidamente analisou suas condições e parou seu sangramento antes de tirá-los da caverna. Apesar de estarem inconscientes, as crianças não largaram o ovo que estavam segurando.

Hemming, com as duas crianças e o ovo não-identificado em seus braços, imediatamente se escondeu atrás de uma pedra e esperou Kalia voltar. Conforme o céu escurecia, os tremores das crianças feridas ficavam mais violentos. A partir daí, Hemming entrou em pânico. O medo que ela reprimiu aumentou novamente.

— Mamãe… Ugh… Mamãe…

Uma criança começou a chamar pela mãe, sem fôlego.

Seus corpos com alta febre pareciam bolas de fogo. Se continuassem assim, as crianças iriam morrer.

— Não, aguente firme, bebê. A senhorita Kalia estará aqui em breve. Então você pode voltar para sua mãe. Ok? Por favor, seja forte. Você ficará bem.

Hemming olhou para o céu que continuava a escurecer e com os lábios trêmulos, gritou novamente com toda força: 

— Senhorita Kaliaaaaaaa!

Em seu pânico crescente, Hemming não percebeu o quão estúpido era gritar no meio da floresta. Ela não sabia que o som não só alertaria Kalia, mas também chamaria a atenção de outro monstro ou fada.

As fadas não eram todas gentis. Também existia a Fada da Morte e as pequenas fadas travessas. 

Mesmo assim, Hemming gritou por Kalia. Abraçando a criança cuja respiração estava ficando cada vez mais superficial, esta era a única coisa que podia fazer.

Mas naquele momento

Crunch.

A floresta respondeu.

Tradução: Tenshi.

Revisão: Holic.