Não é seu filho - Capítulo 37
Não muito longe, o mar se estendia.
Balões coloridos, que as crianças soltavam sem querer, voavam pelo céu, e uma fumaça branca com um cheiro delicioso enchia a praça.
Enquanto isso…
— Não importa o quão confortável seja a almofada do assento, a senhorita não deveria dormir assim!
Estava Kalia, com a cabeça pescando de sono, sentada em uma cadeira simples coberta com almofadas macias.
O artista gritou, brincando com Kalia, que não parava de fechar os olhos.
Diziam que não havia nada mais poderoso do que pálpebras cansadas… Kalia abriu os olhos, lutando contra as pálpebras mais pesadas do que qualquer outra coisa no mundo.
Definitivamente dormira bem na noite passada, mas ainda se sentia sonolenta.
Tinha sido apenas um sonho, mas sentia um cansaço estranho por todo o corpo, como se fosse realidade.
Kalia, que já estava fechando os olhos novamente, falou com a voz sonolenta:
— Quanto tempo devo esperar?
Ela não estava bocejando, mas também não estava completamente sóbria.
Quando instou o artista com voz sonolenta, o homem sorriu e pediu desculpas.
— Estou quase acabando, mas a cor dos olhos está muito difícil. É tão bonito que é difícil combinar as cores.
O pedido de compreensão, misturado com elogios moderados, fez com que Kalia soltasse um sorriso satisfeito.
À sua direita, estava Hemming com o pescoço dobrado para trás 90 graus e completamente adormecida.
— Khhum. Khhum. Kh,hum, Zzzzz…
Estava até roncando com a boca aberta.
‘Céus…’
Sua respiração parecia difícil por estar com o pescoço dobrado.
Kalia olhou com pena para Hemming, estendeu a mão e gentilmente levantou a cabeça de Hemming.
O artista de rua, que estava pintando Hemming, continuou focado sem levantar a cabeça, como se tivesse desistido de tentar fazer contato visual com ela.
E se no final o desenho ficasse outra pessoa diferente de Hemming?
Kalia ficou preocupada por um momento, mas não a acordou. Ela precisava dormir o quanto pudesse.
Recentemente, sempre que tinha tempo, Kalia ajudava Hemming durante seu treinamento com uma espada.
Depois de se estabelecer em Lua, o que Kalia pôde fazer por Hemming, foi apenas treinar sua força física e ensiná-la a usar uma espada.
No início, Allen não a deixava fazer nada até a 20ª semana dizendo que ela deveria ser cuidadosa. Por isso, Kalia só começou a treinar Hemming a partir da 21ª semana.
Mas, à medida que o nascimento se aproximava, Kalia intensificou o treinamento de Hemming.
Segundo as pessoas ao seu redor, depois de dar a luz a um bebê, a mulher precisa de um mês de descanso para recuperar as forças.
Além disso, Kalia teria dificuldades para arrumar tempo depois, porque ao invés de contratar uma babá, ela mesma queria cuidar integralmente do bebê.
Hemming, por outro lado, assumiu mais trabalho ao lado de Kalia com o tempo. Ela era tão inteligente e rápida para entender, que lidava com as coisas antes mesmo que fosse pedido. Coisas como trocar os chinelos por causa dos pés inchados, ou sempre preparar um suco de ameixa frio para Kalia, que frequentemente se sentia inchada devido à pressão em seu estômago.
Kalia também descobriu que Hemming lidou com os inconvenientes e os resolveu por conta própria. Sentiu-se muito grata, mas também culpada por Hemming.
Hemming inicialmente era sua escudeira, mas a partir de um momento, começou a agir como secretária dedicada.
Mesmo lidando com muitas coisas, ela sempre manteve um rosto alegre, sem reclamar ou demonstrar sinais de dificuldade.
‘O que posso fazer pela Hemming?’
Ajudá-la com o treinamento com as espadas era apenas o começo.
Então, passo a passo, foi ensinando a Hemming tudo que ela precisava saber.
Se não ficassem afastados da capital por muito tempo, poderia contratar um instrutor particular para Hemming. Ou poderia transferi-la para uma classe superior em sua academia.
‘…De qualquer forma, devo dar a ela tudo o que eu puder.’
Hemming agia com tanta gratidão.
Ela dizia que Kalia a tinha ajudado acidentalmente alguns anos atrás, mas infelizmente, Kalia não se lembrava bem.
Ela puniu um mau Lorde enquanto passava por certa região, e Hemming estava sob a custódia dele naquele momento…
Mesmo assim, não achava que merecia a gratidão de Hemming.
Hemming era pequena e não tinha muita força muscular, mas suas mãos eram rápidas.
Embora não tivesse muita experiência de combate, ela era rápida, e tinha bons instintos e uma capacidade bem desenvolvida para lidar com várias situações.
Ataques de longo alcance seriam melhores do que ataque corpo a corpo para ela, e armas leves e de uso livre eram melhores do que armas pesadas.
‘Talvez seja melhor uma espada tipo rapieira¹? Acho que recebi uma como recompensa de guerra há alguns anos… Coloquei no depósito de armas não foi? Quando voltar para casa, tenho que procurar.’
De qualquer forma, Hemming praticava exatamente como Kalia a ensinava.
Como ela empunhava a espada até o amanhecer de maneira séria, não parecia ser movida apenas por admiração ou gratidão.
Kalia, que olhava para Hemming adormecida com a boca aberta, levantou o queixo dela silenciosamente. A cabeça de Hemming inclinou-se para o lado.
Allen tinha corrido para atender um paciente de emergência. Enquanto aguardavam o retorno dele, Hemming sugeriu que elas fizessem um retrato com um artista de rua, e as duas acabaram sentadas onde estavam.
— Estou quase acabando agora. Tudo estará pronto assim que eu terminar isso…
— Mãããee!!
O grito choroso de uma criança perfurou os tímpanos de Kalia. Seu sono a abandonou por completo, e seus olhos se arregalaram.
— Hm? Por que está tão surpresa? Lembrou de algo que deixou em casa?
O pintor, que desenhou Kalia com muito cuidado até o final, falou levemente como se estivesse brincando.
Foi um grito a uma distância que apenas Kalia pôde ouvir.
Seu olhar se dirigiu para o norte da praça, onde o som foi ouvido.
Logo, um lado da praça se tornou barulhento.
— Mããe! Mããe!
Uma criança, que parecia ter dez anos, entrou correndo, coberta de folhas e terra.
A criança imediatamente agarrou a saia de uma mulher de meia-idade, que vendia flores em um canto da praça e disse:
— Shizu… A Shizu, mãe! A Shizu, e o Yohan!
‘Shizu?’
Era um nome que tinha ouvido em algum lugar. Kalia continuou prestando atenção.
— O que há de errado, Ayla? O que há de errado com a Shizu e o Yohan? Você não disse que ia brincar na casa da Shizu?
A mulher que vendia flores falou, tentando acalmar a criança que chorava.
A criança soluçava e desatou a chorar.
— Nós… Nós só íamos dar uma olhada. Mas a Shizu… A Shizu entrou!
— Onde ela entrou? Acalme-se, Ayla!
— A Shizu… A Shizu entrou na floresta!
— O quê?
Naquele momento, a atmosfera ao redor da criança e da mãe tornou-se tensa.
Ela estava se referindo à floresta das fadas?
Se cometer um erro, talvez fique preso para sempre. Mesmo adultos não conseguiam sair facilmente, quanto mais duas crianças!
A mãe da criança chamada Ayla falou com um rosto pálido e enrijecido:
— Vo… Você, vá e avise a tia McKenna imediatamente. Eu.. Eu irei até o escritório de segurança! Depressa!
‘…McKenna!’
Kalia inconscientemente deu um pulo da cadeira.
Pensou que o nome era familiar de alguma forma.
‘Shizu…’
Era o nome da filha mais nova da Sra. McKenna.
***
Kalia acordou Hemming, que estava cochilando, e se dirigiu para casa imediatamente.
Felizmente, encontrou Allen no caminho, e não teve que procurar por ele.
Quando voltou para casa, a Sra. McKenna estava com o rosto branco, provavelmente por já ter escutado a notícia.
—Se… Senhorita Lia… Tenho algo para fazer em casa, então terei que me retirar primeiro hoje. Sinto muito, mas tenho que ir agora.
— Tudo bem. Pode ir, Sra. McKenna.
Depois da Sra. McKenna, que estava suando como se tivesse entrado em colapso, passar por Kalia, ela olhou imediatamente para Allen e Hemming.
— Hemming, Allen, corram até o escritório de segurança agora para ver o que está acontecendo. Também descubram, quando as crianças entraram e há quanto tempo estão desaparecidas.
Ao contrário de Hemming, que correu imediatamente ao ouvir as palavras de Kalia, Allen a olhou com hesitação.
— A senhorita Kalia vai continuar aqui, certo? Prometa que não vai a lugar nenhum. Não pode ir para nenhum lugar com esse corpo.
— Ficarei esperando vocês, então se apresse e vá, Allen.
— É uma promessa!
Allen correu, gritando para Kalia, como se não confiasse nela.
Depois de uma hora de espera impaciente, Allen e Hemming voltaram para casa.
— Faz apenas duas horas que as crianças desapareceram. O balão que elas seguravam enquanto observavam as flores, se soltou de suas mãos e foi parar em uma árvore da floresta. Então, as crianças cruzaram a cerca para encontrá-la e entraram. A criança restante, correu direto para a mãe para pedir ajuda.
Duas horas.
Era muito cedo, para desistir da busca por desaparecidos em duas horas.
Mas seria difícil encontrar as crianças, se elas entrassem na “floresta profunda” durante esse período.
— A Floresta das Fadas é um lugar de onde nem mesmo adultos costumam voltar!
Como se sentisse algo, Allen se virou e falou apressadamente para Kalia. Ela olhou para ele e acenou com a cabeça.
— Isso mesmo. Mesmo que adultos entrem, é improvável que voltem. Então, as chances das crianças voltarem por conta própria é menor ainda.
— O escritório de segurança disse que, vai organizar pessoas para encontrar as crianças.
Sentindo o tom duro de Allen, Kalia falou suavemente.
— Mas o sol vai se pôr em apenas duas horas. A Floresta das Fadas após o pôr do sol é mais perigosa do que o reino dos monstros… Não podem forçar ninguém a entrar na floresta, então terão que ser voluntários… Ninguém vai querer se voluntariar, então perderemos tempo, e no dia seguinte, apenas os pais entrarão para encontrá-los.E isso inclui a Sra. McKenna.
— Mas isso não significa que a senhorita Kalia precisa entrar! A Floresta das Fadas é muito perigosa!
Ele estava certo. A Floresta das Fadas estava na lista dos lugares mais perigosos do mundo. Isto é, para pessoas comuns. Mas havia uma diferença entre eles e Kalia.
A “névoa da ilusão” não funcionava em Kalia.
Tradução: Holic.
Revisão: Bussula.