Não é seu filho - Capítulo 35
O festival da Lua, era muito famoso nas redondezas.
Também era chamado de “Festival das Loishas”, em homenagem às flores roxas, com o mesmo nome, que floresciam em toda a vila durante o festival.
A vila de Lua em si era pequena, mas era um lugar em que montanhas coexistiam com o mar, e belas planícies e campos a rodeavam, se harmonizando e criando vistas espetaculares.
Assim, boatos se espalharam amplamente para as grandes cidades vizinhas, e, graças a isso, muitos turistas visitavam a vila durante o festival.
Falava-se em particular das flores roxas, que lembram pequenos sinos e enchem os campos do norte, e durante a noite são iluminadas com vagalumes.
O paraíso das Loishas. A vila onde vivem fadas. Um lugar que abraça o mar, as montanhas e o campo.Isso era Lua.
Na verdade, os campos ao norte eram zona fechada porque ficava perto da floresta das fadas, mas, apenas durante os festivais, são abertos ao público sob a proteção dos guardas da vila.
No primeiro dia do festival, a vila estava lotada de pessoas de fora para ver a cena. Também havia vendedores ambulantes fazendo fila tentando lucrar.
Hemming ficou animada ao ver vendedores ambulantes enchendo a praça, até a parede que protegia os campos norte.
— Uau, acho que ele congelou pedaços de maçã e derramou melaço nelas! Parece tão gostoso! Tem morangos e kiwis também! Senhorita Kalia, quantos eu devo comprar?
Hemming não conseguia esconder a empolgação enquanto saltitava, apontando para uma barraca de doces. Havia muita gente na fila para provar as delícias.
Kalia não disse nada, e entregou a carteira para Hemming, que assim que a pegou, saiu correndo. Kalia olhou para a cena com um olhar satisfeito.
Logo, Hemming retornou, com uma variedade de frutas congeladas e um rosto que parecia estar no céu de tanta alegria. Kalia entregou um dos doces para Allen.
— Para Allen, o favorito da vila, o mais doce.
Allen ficou envergonhado e mais corado do que o pêssego que recebeu.
Ele hesitou, mas pegou o pêssego que ela ofereceu com um grunhido.
— O que é isso?
— Hemming me disse “o Allen ganha presentes das mulheres da vila todos os dias. Ele é tão popular que existe até um fã-clube chamado ‘Esquadrão Allen’”.
— O quê?
Allen se virou para Hemming, mas ela não se importou, olhando para seu sorvete com pedaços de morango.
— Eu não disse nada demais, né? Es-qua-drão-Al-len. Ainda bem que sou conhecida como sua prima, ou o Esquadrão Allen já teria me eliminado, senhorita Kalia!
— Hemming, não está exagerando?
— Ai meu Deus, os famosos olhos afiados do Allen. É assustador, senhorita Kalia!
Hemming, estremecendo e soltando gritinhos, correu e se escondeu atrás de Kalia.
— Esse carisma penetrante! Um rosto bonito, sensível e delicado, como uma escultura!
Hemming sorriu para Allen, que a encarava com um rosto sem expressão, e então ela correu em direção a um grupo de pessoas barulhentas na frente deles.
— Ah, um circo! Senhorita Lia, Allen! Venham rápido! É um circo!
Empolgada, ela bateu os pés para que eles se apressassem.
Hemming, que não podia apressar Kalia com um barrigão, empurrou Allen.
— Temos que chegar cedo para conseguir um bom lugar, Allen! Comeu uma tartaruga por acaso? Vamos! Já faz muito tempo que não vou a um festival assim. É a primeira vez desde que a minha família morreu. Acho que já faz mais de cinco anos!
Kalia olhou para Hemming, que falava de fatos trágicos calmamente.
Ao perceber o olhar preocupado de Kalia, ela sorriu brilhantemente.
— Na verdade, eu gosto muito de coisas assim. Já que a senhorita Kalia viajou por todo o país, deve ter visto muitos festivais assim, certo?
— Não, na realidade, eu também não vi muitos. Não pude ir a festivais porque estava ocupada lutando.
Kalia tinha viajado pelo país no meio da guerra, então era compreensível que não houvesse festivais naquela época.
— Bem…Tudo que vi foram muitas mortes.
Os olhos de Hemming ficaram tristes ao ver Kalia falando calmamente e balançando a cabeça.
De certa forma, pensou que Kalia era mais lamentável que ela. Kalia ficou órfã cedo, e não apenas subiu de posição como também se tornou um cavaleiro lendário, construindo sua carreira com as habilidades mais poderosas e as melhores realizações na guerra.
Uma pessoa que, conquistou mais vitórias com o mínimo de mortes. Hemming respeitava e amava Kalia, mas ao mesmo tempo sentia pena.
Mesmo agora, pensou que ela estava se preparando para o parto sozinha em uma terra distante.
Hemming agarrou a mão de Kalia.
— Senhorita Kalia, vamos nos divertir! Vamos assistir muitas coisas, brincar, comer, descansar e brincar de novo!
— Hum?
— Vou cuidar da senhorita desta vez! Na verdade, eu economizei muito dinheiro! Allen, vou comprar algo delicioso para você hoje também! Então, vamos fazer muitas memórias boas neste festival! Olha, tenho muito dinheiro na minha carteira…? Huh? Onde está minha carteira?
O rosto de Hemming rapidamente ficou pálido. Seus lábios que antes se gabavam começaram a tremer, e incapaz de esconder seu constrangimento, ela ficou vermelha.
— Ah não… Devo ter esquecido…
Sua voz saiu como um murmúrio arrastado. Suas bochechas e olhos estavam vermelhos, enquanto procurava nos bolsos pela carteira tão envergonhada que não conseguia levantar a cabeça.
De repente, uma carteira de couro apareceu na frente de Hemming. Na carteira familiar, havia um “A.M.” gravado com uma caligrafia rabiscada.
— Divirta-se com o meu dinheiro hoje. Amanhã você paga, Hemming.
Allen gentilmente colocou a própria carteira na mão de Hemming enquanto falava gentilmente.
— Allen…
Hemming olhou para Allen, com um rosto tão comovido, como se estivesse olhando para um deus.
— Se você estiver grata, não diga Esquadrão Allen novamente.
— Tudo bem! Allen, nunca mais direi Esquadrão Allen novamente! É uma promessa!
Allen gemeu enquanto Hemming agarrou a sua carteira e gritou:
— Vou me juntar ao Esquadrão Allen a partir de hoje!
— Hemming, por favor…
Hemming estava fugindo, Allen segurando a cabeça com as duas mãos, e Kalia, um passo atrás, segurava a barriga com as duas mãos.
Um sorriso suave apareceu no rosto de Kalia enquanto ela olhava para eles.
Nesse momento, em uma cidade desconhecida e com uma paisagem desconhecida, o coração de Kalia se aqueceu.
Ela olhou para o céu com um olhar estranho, e acariciou sua barriga.
Apesar de estar feliz e plena, sentia uma sensação de vazio. Parecia que tinha deixado algo para trás em sua mansão na capital. Uma ânsia para voltar inundava seu coração.
— Venha por aqui, senhorita Kalia! Tem um peixe grelhado na manteiga, feito com frutos do mar!
Kalia balançou a cabeça para afastar a sensação estranha, e caminhou em direção à Hemming.
Ela não poderia ter deixado nada para trás, porque não tinha muitas coisas para começo de conversa.
Confortando seu vazio, Kalia seguiu Hemming e Allen para o festival.
***
Na escuridão silenciosa, suas pálpebras estavam fechadas pacificamente, o suficiente para que os seus cílios longos formassem sombras.
Depois de hesitar por um tempo, ele abriu os olhos muito lentamente. Seus cílios suaves tremeram.
Mesmo no escuro, uma luz dourada pôde ser vista. Quando ele abriu os olhos fracamente, olhou fixamente para cima por um tempo, e voltou a baixar as pálpebras dolorosamente.
— Haa…
Um pequeno suspiro escapou de seus lábios trêmulos. O cabelo prateado brilhante, epalhado por toda a cama. Sheyman, virou seu corpo desconfortavelmente e colocou as mãos no rosto.
Já tinha despertado de seu sonho há muito tempo, mas seu rosto ainda estava quente.
Ele esfregou as mãos secas contra o rosto, enquanto rangia os dentes e murmurava baixinho o nome de Kalia.
— Kalia, Kalia…
Apenas por chamar o nome dela, o calor em seu corpo aumentava. Sheyman gemeu de raiva com a sensação persistente do sonho.
Apesar de ter acordado, sentia que ela ainda estava em seus braços. Seu calor, rodeado pelos braços dele, era tão vívido. O calor que penetrava a sua pele, era muito intenso.
A silhueta de Kalia que ele beijou, e a pele macia que tocou com a palma da sua mão.
Até a textura dos lábios que tocaram suavemente os seus, tudo.
Mesmo sendo um sonho, era tão vívido que deixou Sheyman louco. Ele rolou, soltando um suspiro quente. Ele se encolheu por um tempo, com um rosto tão vermelho que não era típico dele.
Desesperadamente tentou preservar o cheiro persistente de seu sonho, temendo que se movesse mesmo que por um pouco, o calor dela desapareceria.
Sheyman estava desesperado por qualquer traço de Kalia.
— …Onde você está, Kalia? Volte, por favor…
Apertando o coração palpitante, Sheyman fechou os olhos novamente. Suportava todos os dias que passavam de maneira lenta e tediosa, esperando vê-la em seus sonhos.
Se a encontrasse novamente, deveria cortar as mãos e os pés dela e amarrá-la?
Deveria usar magia mental até que a mente dela se esgotasse? Ou usar uma maldição para prendê-la ao seu lado?
Se ele estivesse morrendo, ela voltaria?
Mas… E se ela não voltasse?
O mero pensamento de isso acontecer quebrava o coração dele. Mesmo ele sabendo que ela o via apenas como família, a miséria de ser abandonado pesava em seu coração.
Percebeu que a relação entre os dois era mais tênue do que papel. Sim, a relação dos dois não era nada. Era apenas um relacionamento inútil, que terminaria com um simples virar de costas, e ninguém poderia culpá-la por jogá-lo fora.
‘…Precisamos formar um relacionamento mais forte e mais sólido.’
O título de Arquimago, ou de Duque, não tinha utilidade para Sheyman.
Na verdade, o título “Duque Mágico” foi criado apenas para estar ao lado de Kalia.
Sem ela, não havia alegria, nem felicidade.
A partir do momento em que a vida dele foi salva por ela, Sheyman pertencia à Kalia. Só que ela não sabia disso.
‘Kalia, por que você me abandonou? Por que me deixou para trás?’
Pensou que poderia ao menos permanecer ao lado dela como um amigo.
— Kalia…
O coração de Sheyman se agitou novamente.
Mais um dia terrível sem ela se passou.
Tradução: Holic.
Revisão: Bussula.