Não é seu filho - Capítulo 32
— A educação pré-natal é a parte mais importante da gravidez. Senhorita Kalia, sabe que precisa ver apenas coisas bonitas, ouvir coisas boas e comer comida saudável, certo? Tudo que você vê, sente e come afeta Shasha* em seu estômago.
Era tarde da noite.
Allen estava novamente lembrando Kalia, que estava sentada confortavelmente na cama, da importância da educação pré-natal com um rosto severo, como se estivesse repreendendo uma criança.
Já estavam vivendo sob o mesmo teto e passando as manhãs e tardes juntos há alguns meses.
Kalia, que já tinha se acostumado a ser cuidada por Allen, acenou com a cabeça sorrindo.
Allen riu orgulhoso e pegou o livro de contos de fadas que tinha escolhido para esta noite.
A mão de Kalia se esticou para Allen, que estava prestes a se sentar.
— Eu vou ler.
Ela estava o olhando com a mão estendida, esperando que ele entregasse o livro.
Allen, que pretendia ler o conto de fadas como educação pré-natal, disse um pouco perplexo.
— Eu vou ler. Por favor, deite-se confortavelmente.
— Não. Eu vou ler isso.
— Os estudos dizem que as vozes masculinas são melhor transmitidas até o ventre. Dizem que a voz baixa dos homens dão às crianças uma sensação de estabilidade.
— Eu sei, Allen. Por isso é bom para a criança ouvir a voz do pai, certo?
— …Sim, está certo.
Kalia falou calmamente com um sorriso malicioso para Allen que acenou com a cabeça como se estivesse coberto de razão.
— Mas você não é o pai.
— ….
Allen perdeu as palavras por um instante.
Ele olhou para Kalia um pouco surpreso, e entregou o livro com um leve sorriso.
— Tudo bem. Então, já vou indo. Por favor, leia com uma voz alegre para que Shasha possa ouví-la bem, senhorita Kalia.
Ele rapidamente deixou o assento, acendeu a luz de cabeceira, e apagou a luz que iluminava o quarto.
Ele fechou a porta lentamente, e saiu após dizer boa noite à Kalia, que estava o observando ainda sentada na cama.
Click.
A porta se fechou silenciosamente, e Allen parou atrás dela por um tempo.
A história de um urso bebê partindo para uma maravilhosa aventura ressoou pela porta. Era uma voz alegre, clara e gentil como Allen havia pedido.
Kalia lia o conto de fadas com uma voz maravilhosa para que o bebê em seu ventre pudesse escutar bem.
— Isso é estranho…
Allen encostou as costas na porta fechada e colocou a mão sobre o peito, ouvindo a voz de Kalia.
— Por que esse lugar parece ter espinhos do nada?
— Mas você não é o pai.
Sorrindo amargamente, Allen voltou para o próprio quarto, dando um tapinha no topo da cabeça, como se tentasse se acalmar.
***
[O bebê urso não tinha facas bonitas, sapatos resistentes ou chapéus elegantes para protegê-lo do sol, como seus amigos tinham.
— O bebê urso não tem nada!
— Hahaha! Ele é pobre! Não tem nada! (N/T: eu te entendo bebê urso…)
— Pobre urso bebê!
Os animais ao redor dele zombavam, e isso deixava o bebê urso muito triste.
Sua pele debaixo dos pêlos marrons estava queimada do sol, e suas mãos e pés estavam machucados e cheios de calor.
O ursinho não tinha armas, e precisava caçar com as próprias patas, então sofria muitas dificuldades.
Os calos nas mãos do bebê urso, sua pele sempre queimada e as cicatrizes nos pés descalços eram motivo de piada.
Então, um dia, uma grande tempestade atingiu a Vila do Ursos Bebês. Choveu muito, o solo tornou-se lamacento, e a Vila dos Ursos Bebês ficou uma bagunça.
Após a tempestade passar, o sol brilhou forte, mas o chapéu elegante da raposa voou na tempestade e desapareceu, por isso ela estava suando e sofrendo com o calor. A faca bonita do leão enferrujou na chuva e não conseguiam mais cortar nada. E os sapatos do gato ficaram enterrados na lama e desgastados.
— Como posso viver assim?
— Deus, por que tirou tudo de nós? Isso é muito cruel.
Os animais sem as armas, chapéus e sapatos não conseguiam caçar nada. Por isso, culparam a Deus e reclamaram.
— Isso é definitivamente Deus tentando nos punir. Do contrário, não teríamos perdido tudo assim!
O sol estava muito quente, e as patas macias doeram cada vez que tocaram o chão.
Os animais se sentaram sem fazer nada e apenas praguejavam o céu.
Então, um raio de luz surgiu e falou com os animais.
— Eu os dei tudo, e não tirei nada. São apenas vocês que não querem ver isso. Não é possível retirar o que vocês têm de verdade.
Deus desapareceu novamente, deixando apenas tais palavras para trás.
Os animais tentaram entender o significado do que ele queria dizer.
Então, viram de longe o urso bebê procurando comida. As mãos e pés duros do urso bebê se tornaram armas, e a pele queimada pelo sol se tornou um escudo que não temia os raios solares.
O ursinho, com apenas duas mãos e dois pés, aprendeu a sobreviver por conta própria. Ele apenas acreditava na própria capacidade, sem depender de nada.
Os animais se aproximaram do urso e pediram:
— Você pode nos ensinar a caçar?
— Suas mãos parecem mais fortes que qualquer arma. Me ensine a ser forte!
— Como é que o sol não está te queimando?
O bebê urso ficou constrangido, mas os ensinou gentilmente.
— Para ter as mãos e os pés fortes, você precisa de calosidades inúmeras vezes. Quanto mais escura for a sua pele, melhor resistirá aos raios solares. Todos esses resultados requerem tempo e paciência, mas qualquer um pode conseguir.
Só então os animais perceberam que tinham garras mais afiadas do que facas, e acima de tudo, pés rápidos e olhos aguçados que enxergavam a longas distâncias. O que eles realmente tinham era deles próprios.
O urso bebé já sabia disso. Que você tem várias coisas quando acha que não tem nada. E que é possível ser qualquer coisa.
Então, ele partiu em uma aventura, com as patas fortes, olhos aguçados e sabedoria acumulada.
Não tinha dúvidas de que todo o tempo e experiências que acumularia o tornaria um animal mais forte.]
— …O urso bebê após sua viagem cresceu muito bem e se tornou o urso mais forte do mundo.
Kalia, fechando o livro, acariciou e sussurrou para a barriga saliente.
— Meu bebê, você ouviu bem a voz da mamãe?
Como se respondesse, a barriga se moveu. Não importava quantas vezes sentisse isso, sempre era uma sensação fascinante para ela.
Era como se o bebê anunciasse sua presença, chutando a barriga da mãe com força E sempre que isso acontecia, uma grande emoção preenchia Kalia.
Sentindo-se grata e comovida com o movimento em sua barriga, Kalia falou:
— Bebê, assim como o bebê urso, você pode fazer qualquer coisa. Vou te dar toda a felicidade que eu puder te dar. E te protegerei para que ninguém possa te machucar.
Acariciando a barriga bastante elevada, Kalia colocou o livro de contos de fadas ao lado da cama.
Antes de desligar a luz de cabeceira, Kalia estendeu a mão para a gaveta sob a mesa como de costume, mas fez uma pausa.
Já havia repetido tal processo por meses antes de ir para a cama, mas por algum motivo hoje se sentia estranha. Um homem que se tornou um pai sem saber.
Um homem que fez um filho nela, mas não era seu amante.
— É para a educação pré-natal…
Ela murmurou com determinação e tirou uma foto de Sheyman do fundo da gaveta.
Seus olhos verdes claros examinaram o rosto cuidadosamente. Cabelos prateados sagrados como a luz do luar, olhos dourados misteriosos, um nariz delicado e lábios moderadamente grossos e corados.
Sheyman na foto tinha um sorriso único, confiante e preguiçoso.
Era o rosto mais lindo que ela conhecia, e o rosto do pai do bebê em seu ventre.
— Pensando bem… Será um problema se o bebê nascer com esse rosto, mas também será uma pena se nascer diferente mesmo herdando um gene desses.
Kalia murmurou sem jeito.
— Eu gostaria que Sheyman e eu fôssemos um pouco parecidos…
Já haviam se passado cinco meses que ela ia dormir após olhar o rosto da pessoa mais bonita do mundo, em nome da educação pré-natal.
Kalia adormeceu tarde, pensando que o rosto de Sheyman na foto era particularmente notável.
***
— Kalia.
A consciência adormecida de Kalia, lentamente veio à tona com a voz familiar a chamando.
Um toque suave, como estivesse segurando um bebê, a levantou, abraçando pela cintura fina.
Um hálito morno atingiu sua barriga, onde as costelas se projetavam suavemente.
O calor dos lábios pressionados com força, passou pela sua barriga esguia até o umbigo.
Uma corrente elétrica circulou por todo o seu corpo.
Kalia começou a achar estranho.
‘Por que minha barriga não está redonda?’
Sua pele sólida deveria estar volumosa e firme, mas seus olhos nublados viam apenas uma barriga lisa.
Como antes de ela engravidar.
— Meu bebê…
Quando ela murmurou com uma voz arrastada, conseguiu sentir uma respiração fazendo cócegas em seu estômago, como se estivesse sorrindo.
A mão que segurava sua cintura apertou mais forte.
Uma sensação macia como seda tocou sua pele sensível.
Os dois corpos sobrepostos eram, sem dúvida, pele lisa e nua.
— Um bebê? Você quer um?
‘Espera… Essa é a voz de Sheyman…?’
— Devemos fazer um?
Era definitivamente a voz do Sheyman.
Já havia passado muito tempo desde que a ouviu por último, mas não conseguia esquecer a voz dele.
Sua voz, que estava mais doce que o normal, subiu por seu estômago e tocou a borda de seu peito.
A respiração dela de repente se tornou brusca.
Kalia sentiu uma mão suave, mas firme, acariciando seu corpo. Ela ergueu as costas com a sensação estimulante, esticou os braços e abraçou os ombros largos e rígidos.
Cabelos perfumados e prateados se enterraram em seus peitos.
Kalia mordeu os lábios com força respirando asperamente, enquanto ouvia o som de uma respiração quente em seu peito.
N/T: Não tenho certeza se “Shasha” é o nome do embrião ou se já é o nome do bebê. Na Coreia, existe esse costume de escolher um nome/apelido para o embrião enquanto ainda não se sabe o sexo do bebê e não escolhem um nome definitivo. Fato curioso/fofo: o nome “Sheyman” na verdade se escreve “Shaymon”, então Shasha é uma repetição da primeira sílaba do nome dele.
Tradução/Revisão: Holic.