Não é seu filho - Capítulo 28
Após ouvir que Sheyman havia retornado de sua busca frenética para encontrar Kalia, o Príncipe Herdeiro o convocou ao Palácio.
Em seu caminho da mansão de Kalia à Torre dos Magos, Sheyman se dirigiu ao escritório de Louismond com uma expressão fria em seu rosto.
— Já está de volta?
Louismond estava se trocando. Suas roupas pareciam valorizar mais o conforto do que a formalidade.
— Por um tempo. Preciso fazer uma inspeção.
Louismond se virou para Sheyman, e dispensou as criadas que o ajudavam a se vestir.
— Você a encontrou?
Sheyman o olhou em silêncio, e então negou com a cabeça. Como esperado Louismond esperava, Kalia não seria facilmente encontrada, mas ver a expressão desolada do seu primo o entristeceu.
— Entendo.
Louismond o olhou um pouco nervoso. Desde o dia em que deu a notícia, Sheyman começou a tratá-lo de maneira hostil.
— Como você pôde esconder isso de mim Louismond? Como você ousa?
Além de transformar a mansão de Kalia em escombros, ele voou até o Palácio Imperial e explodiu um lado do anexo do Príncipe Herdeiro. Como já esperava essa reação, Louismond não ficou surpreso, mas o resto do palácio entrou enlouqueceu.
Isso era diferente de explodir um jardim. Tratava-se do lugar em que a família real vivia. Não importava o quão imperial fosse seu sangue, ou o título de “O maior mago do século”, o que ele fez era o suficiente para acusá-lo de traição.
No entanto, nenhum membro da família real o questionou ou puniu. Nem o príncipe Louismond, nem o Imperador que estava doente no Palácio Sul se importaram. Ele apenas recebeu ordens de restaurar o que tinha destruído.
Essa era a extensão do poder de Sheyman Terloan, o Duque de Mado.
Agora que Kalia havia partido, a família Imperial não podia também perder Sheyman. Mesmo que ele fosse louco.
A determinação de Kalia os forçou a deixá-la ir embora temporariamente, mas não podiam permitir o mesmo para Sheyman. Pelo contrário, precisam dele agora mais do que nunca. Agora que ele estava ferido, tinha dirigido sua hostilidade ao Príncipe Herdeiro, mas sua amizade de longa data não iria colapsar apenas por isso. Se Sheyman realmente tivesse cortado as relações, não teria respondido à convocação ao Palácio.
Louismond o olhou com pesar por um momento, e então colocou as luvas e mudou o assunto.
— Escutei que você voltou com um corpo suspeito.
Sheyman dirigiu o olhar para Louismond. Seus olhos dourados brilharam friamente.
— À primeira vista, parece ser um elfo…
— Ainda não tenho certeza.
Louismond acenou com a cabeça ligeiramente, lembrando-se de um incidente que tinha sido reportado há pouco tempo. Ele o resumiu para Sheyman.
— Na verdade, recebi um estranho relatório recentemente. Um aristocrata estrangeiro comprou um antigo castelo do Império. O problema é que existe um boato de que o hobby desse aristocrata é colecionar fadas.
A testa de Sheyman enrugou. No mundo humano, fadas e elfos eram considerados raças intocáveis. Eles viviam em territórios diferentes, e apesar de não serem tão numerosos quanto os humanos, eram muito poderosos.
Felizmente, ao contrário dos monstros, eles não eram agressivos e apareciam apenas em ocasiões especiais.
Não era por eles serem poucos ou fracos que encontrá-los era difícil. Metade do mundo era ocupada por humanos, e a outra metade por elfos e fadas. Além disso, suas terras em sua maioria tratavam-se de montanhas, mares e desertos, então não eram ambientes favoráveis aos humanos.
Houve um tempo em que as três raças entraram em guerra umas contra as outras, mas já haviam deixado isso no passado. Agora, eles viviam coexistiam em paz após uma série de acordos.
Elfos amigáveis ocasionalmente vagavam por terras humanas, às vezes até mesmo se apaixonando por humanos. No entanto, eles eram tímidos e cautelosos, então sua aparência não era tão comum.
Algumas vezes, as fadas estabeleciam-se em terras humanas, residindo em objetos inanimados ou na natureza. Mas seu número era pequeno.
Elfos e fadas tinham uma longa expectativa de vida, e seu número não costumava sofrer variações significativas
Era difícil para eles engravidarem, e mesmo que tivessem sucesso, a gravidez poderia durar até cinco anos. A duração para meio-elfos era menor, cerca de 2 anos. Por essas razões, eles possuíam um forte instinto de proteção para com a própria espécie.
Em vista disso, mesmo que o relatório acabasse por ser falso, Louismond não poderia ignorá-lo facilmente.
— Por isso, Sheyman, você pode examinar esse assunto um pouco mais?
Sheyman ficou em silêncio por um momento, encarando Louismond sorrindo. Então, uma voz sarcástica saiu de seus lindos lábios:
— Vossa Alteza.
Não o chamou de maneira amigável, e sim com formalidade. Louismond o olhou com uma expressão nervosa.
— Eu posso entender Vossa Alteza ter escondido os planos de Kalia de mim a pedido dela. Sua determinação é firme e você é muito fraco contra ela.
— ….
— Posso entender perfeitamente em minha mente, mas meu coração não aceita isso.
— Sheyman…
Louismong grunhiu e chamou o nome dele. Sheyman respondeu firmemente.
— A partir de agora, não aceitaria nenhuma solicitação Imperial. Embora sejamos chamados de Ministério Imperial da Magia, tradicionalmente a Torre costumava operar além das fronteiras. No entanto, providenciamos ajuda mágica ao Império devido ao nosso patriotismo e lealdade.
— Sheyman!
— Infelizmente, não tenho muito patriotismo sobrando. E minha lealdade é…
Ele parou por um momento e olhou para a janela atrás de Louismond.
— Minha lealdade não está aqui.
Louismond olhou para o primo com olhos complicados. Queria responder, mas não sabia o que dizer.
— Haa…
Louismond esfregou a testa com a mão e murmurou com uma voz baixa:
— Sinto muito. Sei que me desculpar não é o suficiente, mas continuo fazendo isso, Sheyman. Também vou lhe entregar a primeira espada de Kalia que você queria e está sendo armazenada no Museu.
— Se desculpar não vai desfazer o passado.
Sheyman bufou e respondeu friamente. Em seguida, virou sem hesitar e se dirigiu à porta. Louismond murmurou, olhando-o ir embora dessa forma.
Uau.
— Que bastardo…
***
Sheyman, emanando uma aura fria, caminhou até a Torre. Era ridículo Louismond ter ocultado as notícias da aposentadoria de Kalia enquanto ele estava numa viagem de trabalho.
Amava seu primo, mas a história era diferente quando Kalia estava envolvida. Sua mente agora estava totalmente focada em encontrá-la. Não conseguia imaginar nada, e não queria pensar em nada mais.
Obviamente, ele não tinha escola. Então se dirigiu ao laboratório da torre.
Os magos o cumprimentaram nervosos ao olharem sua aparência.
— Quem é a mulher?
Sheyman perguntou, olhando para o corpo congelado com mágica. Henry respondeu primeiro, com um rosto rígido.
— Ainda precisamos investigar mais, mas existem muitos detalhes suspeitos.
— Quais?
— Os vestígios de sangue restantes são definitivamente parecidos aos de uma fada, mas os órgãos do corpo são mais próximos dos humanos. Em termos de aparência, parece mais com uma banshee¹, mas é um pouco difícil de dizer se ela é uma.
Os magos possuíam diferentes interesses e especialidades. Henry era um especialista no estudo das fadas, então ele se sentiu mais estranho ao ver o corpo da mulher que havia sido encontrada.
Theon, que estava aguardando, interveio e explicou. Sua especialidade era magia de cura, e sua pesquisa incluía diferentes genes e raças.
— Os traços de mana restantes no corpo também são um pouco estranhos. Não é um mana bem definido e sim uma bagunça, então não consegui examiná-lo propriamente. Se ela fosse uma fada, a magia fluiria pelo corpo dela como se estivesse respirando.
Após ouvir os relatos, Sheyman se dirigiu ao corpo congelado e injetou sua magia para rastrear os restos de mana restante.
Como um perfume perdendo o cheiro, a quantidade de mana no corpo dela estava quase desaparecendo, mas não a ponto de ser impossível para Sheyman rastreá-lo. E como Theon disse, ele estava uma bagunça. Como se alguém tivesse injetado o mana à força nela.
Após confirmar, Sheyman acenou com a cabeça concordando.
Theon entrou em choque com a rapidez em que Sheyman foi capaz de rastrear e identificar o restante do mana presente no corpo. Enquanto ele levou seis horas para restaurar o mana no corpo cuidadosamente, Sheyman conseguiu em um minuto. Ficou paralisado em transe por um momento, até que se assustou com o olhar de Sheyman como se pedisse mais informações.
— Então, qual é a conclusão?
— …Bem, nós não…
Theon fez contato visual com os outros magos.Todos estavam apenas olhando, com medo de falar. Eles trocavam olhares nervosos como se estivessem dizendo uns aos outros “Você fala! Não, você fala!!”.
Enquanto eles hesitavam, Sheyman se aproximou mais do corpo congelado. Sua mão levantou um punhado do cabelo branco da mulher para examinar. O cabelo duro caiu por entre seus dedos. Seus olhos semicerraram.
Theon perdeu a briga silenciosa com os magos que lutavam para passarem despercebidos. Ele se aproximou de Sheyman com vontade de chorar e com sentimentos amargos.
— Bem, acreditamos que o corpo…
Assim que os lábios de Theon se abriram com dificuldade, Sheyman murmurou:
— Quimera.
— Ugh.
— Encontramos um corpo de uma quimera…
Ele disse as palavras que ninguém queria falar. Os magos enrijeceram e os olhos de Sheyman escureceram.
— Na verdade, recebi um estranho relatório recentemente. Um aristocrata estrangeiro comprou um antigo castelo do Império. O problema é que existe um boato de que o hobby desse aristocrata é colecionar fadas.
Sheyman pressionou o polegar contra sua têmpora latejante, recordando da conversa que tivera com Louismond.
‘Droga.’
…Uma razão inevitável para aceitar a proposta que tinha recusado friamente havia aparecido.
Notas:
1: Ser da mitologia Celta descrito como fada maligna.
Tradução: Holic.
Revisão: Baby Bunny.