Esposa Perfeita - Capítulo 19

Min Yuan

O tempo passou. Noites inteiras e mais dias sem nada para fazer.

Yuan Sentiu como se estivesse sangrando até secar. Suprimindo sua ansiedade, colocou seu cabelo para dentro do boné, quatro dias já haviam se passado. Qual era a probabilidade de TaeKyung-oppa ainda estar vivo?

- Se alguma coisa der errado e eu for capturado, você deve ir direto para Luxemburgo

Se preparar para o pior. Isso foi o que TaeKyung a disse.

- Não importa o quê, não deve vir me procurar. Yuan, nunca vou te perdoar se você fizer isso.

‘Não me perdoe. Nunca vou te deixar e fugir por conta própria.’

Baixou seu corpo no escuro e cerrou os dentes.

Lembrou do dia que conheceu TaeKyung. Foi durante a primavera após ela completar sete anos. Tinha voltado da escola, e tinha um garoto desconhecido em casa. Olhos longos e sem pálpebra dupla. Um rosto bonito que todas as garotas invejariam. Parecia um príncipe de um conto de fadas.

- Esse garoto é meu filho mais velho, Madame.

WooKyung-ahjusshi apresentou TaeKyung-oppa para Yuan e sua mãe.. A sua mãe ficou pálida e rigidamente encarou o garoto. Yuan percebeu então que alguma coisa estava estranha. Os olhos de TaeKyung eram idênticos aos de sua mãe.

- Ele vai precisar usar óculos.

Sua mãe falou do nada. WooKyung-ahjusshi disse que entendia e baixou a cabeça. TaeKyung-oppa desviou os olhos. Mesmo que fosse primavera, o vento estava frio, mas conseguia sentir o cheiro agridoce das flores do lado de fora da janela.

Ela mordeu os lábios para suprimir a súbita dor em seu peito.

A escuridão a rodeava e o silêncio era pesado. Uma espessa névoa noturna estava flutuando acima do solo. As casas contornadas por altos muros de tijolos pareciam como ilhas sob as luzes amarelas dos postes de luz. Aqui e ali a iluminação dos postes de segurança brilhavam enquanto os oficiais de polícia mantinham a guarda.

Levantou a sua manga e verificou a hora. Era 1:43 da madrugada. Uma hora em que toda a humanidade estava vulnerável.

[Yuan, você consegue me escutar]

Escutou a voz de Eri de dentro de seu ouvido. Sussurrou de volta “sim” antes de fechar bem firme a boca. Um microfone estava conectado a um dispositivo em seu ombro e um pequeno fone bluetooth estava em sua orelha.

Elas apressaram as preparações no tempo limitado que tiveram, então esse foi o melhor que conseguiram fazer. No entanto, tinha uma coisa que lhe dava uma vantagem: Essa tinha sido sua casa de infância. Conhecia esse lugar por dentro e por fora. Podia, literalmente, caminhar pela casa com os olhos fechados.

[Está tudo bem, Yuan]

- Fica calma, Eri.

Eri estava extremamente nervosa, mostrava-se preocupada sobre TaeKyung, mas sua ansiedade estourou quando Yuan disse que iria para a casa do Presidente Min sozinha. Porém, o que elas poderiam fazer? Como poderiam chamar a polícia nessa situação?

O pensamento de escapar da Coreia com TaeKyung já tinha sumido da sua cabeça há muito tempo. Não tinha outra escolha, então checou os equipamentos mais uma vez.

Fuuu, exalou e olhou ao redor.

O bairro de PyeongChang. Era condominio dos maiores políticos e líderes comerciais da nação. Com alguns toques em seu teclado, a vizinhança inteira foi subitamente inundada com o toque alto de um alarme.

Beep, beep, beep, beep!

Estava vindo da casa do primeiro ministro da Coreia, da casa do CEO da Future Airlines, da casa da Construtora TaeYang… O alarme soava em todas as casas do bairro. Os oficiais de polícia que começaram a entrar em pânico, correram para fora e olharam em todas as direções enquanto gritavam.

- Próximo. – Yuan sussurrou.

A eletricidade em toda a PyeongChang foi cortada. Imediatamente, todas as câmeras de segurança desligaram. No curto período em que eles restabeleceram a energia, elas já tinham se infiltrado nos vídeos do sistema de segurança.

- Merda! O que está acontecendo?? Rápido, chame reforços!

Dava para ouvir os gritos dos policiais, mas Yuan continuou dentro do carro que estacionou em um ponto cego das câmeras. O alarme de incêndio disparou e os sprinklers de todas as casas acionaram. Com isso, toda a vizinhança de PyeongChang se tornou um caos.

1 minuto, 1 minuto e 30 segundos, 1 minuto e 45 segundos passaram quando as sirenes dos veículos de segurança privada puderam ser ouvidas, o som aumentava conforme iam chegando ao local. Até mesmo um caminhão de bombeiros veio. Tudo se transformou em uma confusão frenética.

‘Agora.’

Yuan ligou o carro e rapidamente o moveu para a frente do portão da casa R&K. Seu veículo era parecido com o transporte do pessoal da segurança.

Conforme os guardas particulares correram para dentro, Yuan saiu do carro e entrou com eles. Estava até vestindo o mesmo uniforme.

Seu coração disparou. Não queria ser reconhecida por ninguém. Afortunadamente, todo mundo estava correndo ao redor em ritmo frenético. Se alguém a avistasse, seria capaz de reconhecer seu rosto pálido, quase azul.

Ela ajeitou o boné de oficial de segurança em sua cabeça e silenciosamente entrou na casa. Essa pela qual poderia perambular com os olhos fechados…

De repente, ouviu os gritos da governanta. Yuan rapidamente se escondeu atrás de uma árvore. A governanta, Senhora Jang, conseguiria reconhecê-la até pela sombra.

‘Droga.’

Cerrou os dentes e tirou a bomba de fumaça do seu bolso.

Preparada, rapidamente a jogou em um canto do jardim. Com um movimento súbito, uma nuvem de fumaça começou a preencher a área. Logo, iniciou seu caminho em direção ao quintal enquanto jogava outra pequena bomba de fumaça.

- Urgh! Mas que…? Fogo! Fogo!!

Senhora Jang fez um escândalo e todos correram para ela.

Yuan correu em direção à estufa e finalmente chegou ao quintal. Os galhos roçaram o seu delicado rosto. Contudo, ela não podia diminuir a velocidade. Acelerou-se pelas árvores grossas e fusiformes, que a protegiam de olhares indiscretos e estava prestes a entrar na estufa pela porta traseira.

Au! Au! De repente, viu alguma coisa correndo em sua reta com velocidade e isso estava fazendo um barulho terrível. Au! Au! Au! Au! Dois pit bulls terriers latiam loucamente. Ao invés de virar e correr, Yuan se agachou e estendeu as duas mãos.

– Vocês estão bem?

Não tinha como eles terem esquecido a voz da dona que cuidou deles desde que eram filhotes. Os cachorros foram agressivos no começo, mas rapidamente começaram a balançar o rabo de alegria enquanto lambiam suas mãos e rosto. Mesmo que ela estivesse usando luvas de couro, eles lembravam do seu cheiro.

Rapidamente tirou o charque que havia escondido dentro do bolso da camisa e colocou na boca dos cachorros. Sempre tinha dado a eles este tratamento quando os estava treinando.

- Vamos.

Com as suas palavras, os cachorros se posicionaram ao seu lado e começaram a seguí-la. Levou-os com ela conforme caminhava para dentro da estufa.

Um homem estava parado em frente a porta da escada para o porão. Ele não havia baixado a guarda e estava vigilante. Provavelmente um capanga que tinha recebido a ordem de permanecer de guarda mesmo que estivesse cercado por fogo.

- Morda-o.

Ordenou em baixa voz. Instantaneamente, sem hesitação, os pit bulls terriers começaram a correr em direção ao homem. Enquanto o capanga gritava e corria, Yuan rapidamente desceu as escadas em direção ao porão.

A escada era tão estreita que apenas uma pessoa por vez podia subir ou descer. Luzes fracas e amarelas iluminavam os degraus íngremes.

Dava para sentir um cheiro fraco de sangue.

- Ugh.

Segurou a náusea que surgiu. Ficou paralisada de medo e terror e não conseguia mover as pernas.

Apenas as pessoas que viviam nessa casa sabiam sobre a câmara de tortura localizada no porão da estufa no quintal. No entanto, ninguém sabia quantas pessoas já tinham sofrido entre essas paredes.

‘TaeKyung!’

Rangeu os dentes.

‘Pense em TaeKyung!’

Yuan sentiu como se o terror tivesse formado raízes profundamente no abismo sob seus pés, era como se seu corpo estivesse sendo despedaçado. Ainda conseguia ouvir os barulhos do lado de fora, o time de segurança particular, os bombeiros, até mesmo a polícia. Para conseguir passar por essas pessoas, precisava se recompor.

‘Por favor…’

Apertou os dentes e esticou a perna. Sua mão parecia relutante em deixar a parede quando se ergueu. Parecia que o medo a estava sufocando, mas não podia desistir agora.

‘Oppa!’

Gritou em sua mente conforme descia pelas escadas.

Usou toda a sua força para chutar a porta com um estrondo. Dentro da sala, sob luzes fluorescentes, viu TaeKyung pendurado por correntes como um animal para ser abatido.

- OPPA!

Gritou e correu até ele.

Seus olhos estavam inchados e fechados, seus nariz e lábios estavam cobertos de sangue. Ele tinha machucados por todo o corpo. Yuan mal podia acreditar que era TaeKyung. O chão estava repleto de facas e alicates ensanguentados. Um balde próximo cheio de sangue podia ser visto.

- Oppa…

‘Como alguém pode fazer isso com uma pessoa?’

- Filhos da puta! Bastardos fodidos!

Não conseguiu evitar que maldições saíssem de sua boca.

- Yu… Por que você está…

De repente, ouviu um murmúrio baixo vindo do TaeKyung. Rapidamente voltou aos sentidos e olhou para ele.

- Oppa, aguente firme.

Procurou ao redor loucamente até que finalmente encontrou um botão que baixaria as correntes. Apertou-o e rapidamente agarrou o alicate de corte da prateleira. TaeKyung desabou com um baque.

- Oppa!

Yuan correu até ele e ergueu a sua cabeça. Deu um tapa de leve em seu rosto e gritou.

- Oppa! Fique acordado! Vamos!

- Yu… Yuan…

- Sim, sou eu.

- É… é tarde demais…

‘O que? Do que ele estava falando? O que é tarde demais?’

- O Ahjussi está…

Segui o olhar de TaeKyung e desabou com o choque do que viu. No canto da câmara de tortura havia a figura surrada de um cadáver completamente encharcado de sangue. Ele quase não parecia humano.

‘Ah, WooKyung-ahjussi? É o pai adotivo do TaeKyung, WooKyung-ahjussi.’

- Ah…

Mal pôde reprimir os soluços e gritos que tentaram escapar por sua garganta. Não podia se distrair neste lugar. Se o fizesse, os dois estariam em perigo.

- Yuan…

- O-oppa…

Yuan se virou e usou toda a força que lhe restava para sentá-lo. Precisava se controlar. Se cometesse um erro, os dois morreriam.

‘Rápido! Pense! Por favor!’

- Eri!

Yuan a chamou enquanto colocava todo o seu esforço para cortar com o alicate as corrente que prendiam TaeKyung.

- Oppa, acorde! Por favor, acorde! Eri! Eri! Nos mande ajuda agora mesmo!

Tinha conseguido se esgueirar para dentro, mas não conseguiria escapar com TaeKyung no estado em que estava. Se ele conseguisse andar pelo menos um pouco, talvez não seria impossível. No entanto, não existia forma de ele conseguir ficar de pé.

- Rápido!

Berrou enquanto tentava cortar as correntes. Porém elas não quebraram facilmente. Seus esforços estavam apenas a deixando encharcada de suor. No meio desse caos, Eri não respondeu. Um arrepio desceu pela espinha de Yuan.

‘Por favor… por favor!’

Então, ouviu homens gritando acima da escada. Yuan empalideceu e parou o que estava fazendo. Se Eri os tivesse enviado, eles não estariam fazendo tanto barulho. Os homens de Eri deveriam aparecer disfarçados da equipe de resgate. Os ruídos vindos de fora eram definitivamente de homens lutando.

- O que… O que eu faço….

Apertou os lábios trêmulos enquanto olhava para a figura ensanguentada de TaeKyung. Ela já tinha sido descoberta, então não tinha problemas em arriscar a sua vida. Mas o que aconteceria se os dois fossem pegos juntos? Se fosse revelado o relacionamento e motivação deles… o que aconteceria?

Não conseguiriam sobreviver. Olhou para a faca no chão. Seria melhor acabar com a vida deles aqui e agora. Dos dois… sem dor!

Sua mão se esticou para agarrar a faca. De repente a porta se abriu com baque. Uma figura negra apareceu na porta como alguém que voltava dos mortos. O homem alto de gola alta e calça preta era…

Era Seo JoonHun.

‘Como… Por que JoonHun estaria aqui…?’

Paralisada, olhou para o marido. Não conseguia descobrir o que ele estava pensando só por olhar para o seu rosto frio e indiferente. Ele estava encarando-a. Os olhos de JoonHun se dirigiram para Yuan, depois para a faca em sua mão e então seu olhar pousou no TaeKyung inconsciente.

Não tinha ideia de porque ele estava neste lugar. Ele não se moveu e continuou encarando.

Ele iria matá-los.

Yuan se deu conta. Percebeu o quão furioso ele estava… Sua energia assassina deixou a sala mais fria. Ela estava apavorada. Ainda mais do que quando o abandonou no rio Han.

JoonHun iria matar ela e TaeKyung. Neste exato lugar. Definitivamente.

- … Salve-o.

Ficou terrivelmente pálida e implorou.

- Por favor, salve-o, JoonHun.

Sua lágrimas voltaram a escorrer por seu rosto.

JoonHun não iria ajudá-la. Depois de tudo que o fizera, não seria surpresa se a matasse e fosse embora.

‘Mas ainda assim… Por favor… Só desta vez…’

As lágrimas escorriam por suas bochechas e pingavam de seu queixo. O rosto de JoonHun permaneceu sem expressão. Yuan levantou ambas as mãos trêmulas e cobriu o rosto.

- É minha culpa. É tudo minha culpa, então, por favor, pelo menos salve o Oppa…

JoonHun não se moveu.

Mesmo nesta situação ela ainda estava tentando salvá-lo. Não conseguia imaginar a expressão no rosto do JoonHun e os pensamentos passando em sua cabeça conforme a olhava. Ainda assim, suplicou. Não tinha outra opção.

- Eu vou fazer tudo o que você me disser para fazer a partir de agora. Se você me disser para morrer, eu vou me matar. Mas por favor, apenas salve o Oppa. Eu imploro…

Os olhos de JoonHun ficaram mais frios. Eles se tornaram mais sombrios. Sentiu como se ele fosse andar até ela e a qualquer segundo estrangulá-la. Abraçou TaeKyung com força contra o seu peito. Pelos últimos 13 anos, quem ficou ao seu lado foi TaeKyung. Ele a tirou de sua miséria, planejou a vingança com ela e a mostrou o caminho para a redenção quando ela estava se afogando em culpa.

Seu irmão não podia morrer neste lugar, não importava o quê.

De repente, ouviu passos pesados. Conforme os passos de JoonHun se aproximava, Yuan não conseguia respirar e simplesmente abraçou TaeKyung mais apertado. Eles iriam morrer. Dessa forma… Neste lugar.

A mão de JoonHun se estendeu e tirou TaeKyung dos braços dela. Yuan gritou conforme ele a afastava e colocava TaeKyung sobre os ombros.

Ela sentiu sua alma deixar seu corpo e pensou que estava sonhando. Quando o viu sair da sala com TaeKyung sobre os ombros, se levantou e o seguiu.

Quando subiram as escadas, uma equipe de resgate estava parada em frente à porta. Eles rapidamente pegaram TaeKyung e o carregaram.

Alguém entregou máscaras de gás para Yuan e JoonHun. Eles a colocaram e saíram da casa. Como se estivessem em câmera lenta, as sirenes estavam piscando e as pessoas passavam por eles.

Tudo parecia um sonho. Yuan não conseguia acreditar que Seo JoonHun estava em frente aos seus olhos.

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Tradutora – Holic

Revisora – Tsubaki

Esposa Perfeita - Capítulo 19

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