Como esconder o filho do imperador - Capítulo 88
— Condições?
Kaizen piscou várias vezes, como se não acreditasse no que acabara de escutar.
— Farei o que você quiser. Não tem que colocar condições
Astella não acreditava que poderia fazer tudo o que quisesse. Era incrível que ele dissesse algo assim inclusive nesse momento.
Porque só tinha uma coisa que Astella queria – abandonar a capital e retornar para a sua casa no interior com Theor. No entanto, isso Kaizen não lhe permitiu, a única coisa que ela realmente desejava.
— Vossa Majestade me ofereceu um casamento por contrato. Se vou assinar, quero me assegurar dos termos e condições.
Astella falou com uma voz tranquila mas clara.
Kaizen apertou o punho diante das palavras de Astella. Olhando sua expressão fria por um momento, perguntou com um breve suspiro.
— Está bem, quais são as condições?
Astella lentamente respirou fundo e começou a falar, olhando-o diretamente nos olhos.
— Tenho algo que te dizer antes disso. Se trata de Theor…
— Trarei Theor de volta a salvo, não se preocupe com isso.
Kaizen respondeu muito antes de ouvir sua explicação. Sabia o quanto Astella se preocupava com Theor.
Inclusive se não fosse seu filho biológico, Kaizen já planejava criá-lo como seu próprio filho.
Mas isso não era o que Astella estava tentando dizer.
— Theor é o seu filho, Majestade.
Kaizen arregalou os olhos diante de suas palavras.
— Quê?
Kaizen não podia entender, ou absorver o que acabou de escutar.
No início, não podia acreditar.
— O quê? Theor é meu filho?
Astella respondeu com uma voz tranquila a Kaizen, que estava em choque.
Nunca quis contar para ele. Mas por Theor, Astella podia fazer qualquer coisa.
— Sim, é isso mesmo, Majestade.
— Mas como…?
Kaizen estava tão chocado que não pode falar por um momento.
Inclusive pensou: ‘Me perguntava se Theor poderia ser meu filho.’
Quando descobriu que Theor era o filho de Astella, a primeira coisa que lhe veio à mente foi a lembrança da primeira noite deles, a noite de núpcias.
A lembrança de quando se deitou oficialmente com Astella. Nessa noite, Kaizen tomou ele mesmo a pílula.
No entanto, escutou que as pílulas contraceptivas às vezes falham.
‘Será que o menino foi feito naquela noite?’
Por um momento, ele teve uma pequena esperança. Queria que Theor fosse seu filho. Cada vez que imaginava Astella grávida do filho de outro homem, sentia seu sangue ferver.
No entanto, os olhos azuis claros de Theor eram a evidência decisiva de que ele não era seu filho.
Kaizen esteve experimentando uma dor e uma ira sem fim durante os últimos dias. Mas agora, escutou que Theor era seu filho.
Astella explicou diante do olhar desconcertante de Kaizen.
— Encontrei uma boa farmacêutica e obtive uma receita para um remédio que muda a cor dos olhos. Estive mudando a cor dos olhos de Theor todos os dias com o medicamento.
— Um medicamento?
Um remédio que muda a cor dos olhos.
Kaizen nunca tinha escutado falar disso antes. De repente algo veio à sua mente.
O dia que levou Theor ao pavilhão de caça no bosque.
Ao anoitecer, Astella tinha ido debaixo da chuva torrencial até a vila do pavilhão de caça para dar-lhe o seu remédio.
Nesse momento, ele se preocupou se Theor tinha alguma doença grave.
— Foi pelo medicamento que você nos seguiu até o pavilhão de caça no palácio de Marrne…
Foi por isso que tinha corrido freneticamente, para poder pingar o remédio nos olhos dele a tempo.
Astella disse que sim em silêncio. Kaizen sentiu como se uma bola de fogo subisse seu coração ao ver Astella parada tranquilamente, com os olhos abaixados.
— Por que você escondeu a verdade?
Kaizen caminhou até Astella, contendo sua crescente ira.
— Por que não me disse até agora?
Tinha entendido a razão pela qual Astella dizia que Theor era seu sobrinho, porque pensou que era um filho ilegítimo. Não era possível revelar o nascimento de um filho ilegítimo.
No entanto, se ele era seu filho, Theor era um príncipe. Ela estava criando um príncipe como o filho de um cavaleiro morto.
Kaizen apertou os dentes.
— Deveria ter me dito! Tenho o direito como pai!
Kaizen estava muito irritado.Tinha sido enganado. Também estava irritado consigo mesmo, por deixá-la ir embora sem saber de nada.
Astella, que suportava toda a ira que lhe era jogada, levantou a cabeça.
Os olhos verdes claros que o olharam estavam vazios.
— O que vossa majestade teria feito se soubesse que eu estava grávida?
A voz baixa gelou seu sangue.
As lembranças de seis anos atrás vieram a sua mente.
O dia que subiu no trono, ele era um jovem de vinte anos. Nesse momento, estava em uma guerra civil com os grandes nobres.
Matou inúmeras pessoas, e tinha estado em inúmeros perigos, com assassinos indo atrás dele também.
O que ele teria feito se soubesse que Astella estava grávida nessa época sangrenta e sombria?
Kaizen já sabia a resposta.
Se soubesse que Astella estava grávida, teria tratado de desfazer-se do menino e se isso acabasse sendo difícil, talvez, inclusive teria tentado matar a própria Astella.
Kaizen, que estava parado ali, sem dizer nada, escutou Astella falar.
— Meu pai já deve ter visto os olhos de Theor e percebido sua identidade.
Kaizen virou e abriu a porta do corredor.
Não podia aceitar a situação nesse momento, mas tinha algo mais importante agora.
— O que Lyndon está fazendo? Envie alguém de volta à mansão do Duque! Digam a Lyndon para que traga Theor de volta aqui agora mesmo!
O cavaleiro da guarda que o seguiu correu freneticamente para entregar a ordem do Imperador.
Kaizen fechou a porta e voltou para o local em que estava com Astella. Ela continuava olhando-o de uma maneira inabalável.
— Você aceitou se casar comigo por Theor.
Ela aceitou a proposta porque Theor certamente havia revelado seus olhos e sua identidade para o Duque.
— Não sabe que posso simplesmente pegar Theor e te punir?
Kaizen, que ainda não podia se acalmar, cuspiu as palavras frias para Astella.
Mas mesmo depois de falar assim, sua boca tinha um sabor amargo.
— Se assim desejar, faça isso.
Astella respondeu com calma, sem nenhuma agitação.
— Hm…
Kaizen se sentia confuso.
Podia castigar Astella conforme a sua vontade. Poderia mandá-la para a prisão por se atrever a esconder o príncipe.
Se fosse a alguns meses atrás, antes de voltar a vê-la, certamente a teria castigado. Mas o próprio Kaizen sabia melhor do que ninguém que, agora, não queria fazer isso.
— Então, quais são as condições?
Kaizen perguntou, apertando os dentes.
Astella disse suas demandas como se estivesse o esperando por isso.
— Por favor, designe meu irmão como o governante do território do leste.
— Essa posição herda o Duque de Reston de geração em geração.
O império era um país poderoso que tomava todo o continente.
Nos velhos tempos, a autoridade do Imperador era fraca, porque o território era muito grande e a autoridade do Imperador não chegava até as áreas mais distantes da capital.
Por isso, para governar mais efetivamente o Império, os antigos Imperadores dividiram a capital, excluindo a parte central da capital e outras terras no leste, oeste, norte e sul.
E delegaram assim a autoridade para administrar a área à nobreza, com territórios grandes em cada região. À medida que os tempos mudaram e o poder do Imperador se fez mais forte, as famílias no norte, sul e oeste deram um passo para trás e caíram. Mas a família Reston era a única que ainda mantinha seus títulos.
Ainda que o atual duque de Reston perdeu sua posição como o sucessor a cada geração e sua posição como governador da região leste.
— Não te peço que seja para sempre. Mas por favor, permita que meu irmão Fritz permaneça nessa posição durante dois ou três anos.
— Está pensando em fazer que seu pai renuncie.
Kaizen notou que Astella pediu o posto para Fritz. Se tivesse desejado que sua família prosperasse, teria pedido o posto para seu pai, o duque.
— Se meu irmão conseguir um posto herdado por nossa família, não terá problemas para suceder ao duque.
— Isso é possível? O Duque nunca renunciaria.
Kaizen poderia ter matado o Duque se quisesse.
Bastava revelar a verdade por trás da tentativa de assassinato, e então o duque se converteria em um traidor.
Agora, mesmo sem Astella, ele não podia matar o duque.
Se o duque morresse como traidor, seu filho, Theor, seria o descendente de um rebelde.
Uma marca tão vergonhosa o seguiria como uma etiqueta pelo resto de sua vida, mesmo caso se tornasse o Imperador no futuro.
— Não tem com o que se preocupar. Irei persuadir meu pai.
Astella tinha a confiança de que poderia persuadir seu pai. Ainda que deveria chamá-lo de uma ameaça, ao invés de persuasão.
A melhor forma que Kaizen tinha para se desfazer do Duque era a tentativa de assassinato, mas a carta não poderia ser utilizada. Se isso acontecesse, seria fatal para Theor e Astella.
Mas Astella tinha uma forma diferente de inutilizá-lo.
A forma de intimidar seu pai para que transferisse o título a Fritz…
— Está bem…Cumprirei com as condições. Faça o que quiser.
Kaizen aceitou seus termos. Era algo bom para ele se o duque de Reston se retirasse sem fazer muito barulho, enquanto se mantinha intacta a família Reston.
Astella o olhou por um momento e disse:
— Tenho uma mais uma condição. Gostaria de estabelecer um período para o contrato de casamento. Cinco anos. Depois disso, se eu solicitar o divorcio, vossa majestade deve aceitar a qualquer momento. Kaizen a olhou com a boca aberta.
Nunca tinha imaginado que tais palavras sairiam de sua boca.
— Sabe que Theor, ao ser meu filho, é o príncipe herdeiro, certo?
A voz de Kaizen tremeu de raiva.
— Ainda assim vai se divorciar de mim?
— Sim, gostaria que me prometesse que depois de cinco anos posso pedir o divorcio a qualquer momento.
Astella não sabia se realmente ia se divorciar.
Para assegurar o posto de Theor como príncipe herdeiro, ela tinha que permanecer como Imperatriz no palácio. Ainda assim, Astella queria manter a última chave da liberdade na sua mão.
Lhe pareceu que poderia suportar a vida no palácio se mantivesse essa chave para abrir essa gaiola guardada em sua mão.
Mas Kaizen não podia entender seus pensamentos, e nesse momento seus olhos vermelhos brilharam com a ira.
Kaizen estava mais chocado agora do que quando descobriu o segredo do nascimento de Theor. Por acaso poderia ser que Astella estava planejando ir embora e deixar seu posto como Imperatriz, abandonando Theor no palácio?
— O que acontece se eu não te prometer isso?
Os olhos verdes claros, de profundidade desconhecida, o olharam de novo.
— Se não aceitar os termos, recusarei a proposta de casamento.
— Vai deixar Theor no palácio e ir embora?
Kaizen pensou que Astella não poderia fazer isso. Mas Astella respondeu com um olhar firme.
— É algo que não se poderá evitar se vossa majestade não cumpre com os termos.
Kaizen apertou o punho com força. A atitude dela era irritante. Mas tudo aconteceu por sua própria culpa.
Foram seus erros. Nada disso teria acontecido se ele não tivesse abandonado Astella há seis anos.
No entanto, Kaizen não queria deixar Astella ir. Não sabia se Astella poderia se dar por vencida e deixar as pessoas para trás, mas ele não podia renunciar a Astella.
Não podia deixar que ela se fosse, e por isso a estava retendo todo esse tempo.
Fechou os olhos com força.
— Bem, será como você desejar.