Como esconder o filho do imperador - Capítulo 8
— Por que ela está tão ruim? Você viu a mala dela? E ela nem estava usando um vestido decente.
Era a voz das criadas designadas a ela mais cedo.
— Por que ela reapareceu? Não me diga que está tentando seduzir Sua Majestade agora?
— De maneira nenhuma. Vestida assim?
Uma risadinha escapou pela porta.
Quando voltou ao quarto, ouviu as fofocas das criadas. Cada uma chegou a uma conclusão diferente para o retorno de Astella.
— Deve estar querendo dinheiro.
— Quer ganhar o favor do imperador.
— Ele acredita que se provocar pena, vai conseguir amolecer o coração do imperador.
Depois de uma pausa, Astella moveu a mão e abriu a porta.
Click.
Quando a porta se abriu, as criadas barulhentas no quarto rapidamente se viraram.
— Se… senhorita…
As criadas fizeram uma reverência, se curvando com os rostos cheios de consternação. Ao mesmo tempo, Theor alternava o olhar entre as criadas e Astella.
Theor não conseguia entender o que tinha ouvido, mas parecia sentir que algo estava errado.
Astella ordenou às criadas em choque com um olhar indiferente.
— Se já acabaram de tagarelar, posso dar um banho na criança?
As criadas trocaram olhares e desapareceram rapidamente.
A água quente foi preparada, o vapor enchia o banheiro.
Astella lavou Theor com água morna e trocou de roupa.
— Qual é o problema?
Theor sentiu a ansiedade de sua mãe, então a examinou com os olhos, Astella sorriu com indiferença e falou com a criança. Theor inclinou a cabeça e perguntou.
— Tia Astella, você está brava?
— Não.
Astella sorriu para Theor, pensando que ele era muito perceptível para uma criança de cinco anos.
Ele não era ingênuo o suficiente para não saber nada, mas ainda era muito jovem para que ela pudesse contar sobre todas as coisas ruins do mundo. Astella mudou a atenção do menino tocando o nariz pequeno de Theor.
— Eu vou te dar Levin quando terminar de tomar banho.
— Sim!
Levin era o ursinho de pelúcia favorito de Theor.
Tinha sido feito por Astella usando velhas cortinas de veludo marrom rasgadas. Já estava velho e surrado, mas Theor ainda gostava do ursinho de pelúcia. Ele ficou em êxtase ao saber que receberia Levin.
As criadas também ficaram aliviadas.
Astella carregou o menino para o quarto e tirou a pelúcia de sua bagagem.
Então ela deixou Theor brincando com o ursinho na cama e voltou para a sala ligada ao quarto. Olhando para as criadas de pé lado a lado, Astella deu uma ordem calma, mas firme.
— Informem à criada chefe o que vocês disseram, e que estou solicitando novas criadas.
As criadas ouviram a ordem com rostos pálidos e começaram a gaguejar.
— Se, senhorita… Nó, nós…
As criadas tremeram.
Tudo parecia bem até o momento, então elas pensaram que Astella havia deixado passar.
— Não as puni imediatamente porque não queria mostrar isso na frente de uma criança.
Astella falou calmamente em um tom indiferente.
Claro, ela não podia ficar brava com as criadas ou as reprimir na frente do menino. Não havia nada de bom em explicar cada detalhe para uma criança de apenas cinco anos.
Se fosse apenas Astella que tivesse ouvido o que as criadas estavam dizendo, ela poderia ter ignorado.
Mas não podia deixar isso passar.
— Eu não me importo com o que vocês disserem em outros lugares. Mas não posso ter criadas ao meu redor fofocando quando minha criança pode ouvir. Saíam agora e informem ao responsável o que está acontecendo. Depois, vou confirmar se falaram tudo…
As criadas foram embora.
Relatar tal coisa resultar ao menos em uma redução de salário e punição severa.
No quarto, Theor continuava a brincar com seu urso fofo.
— Theor, é hora de colocar o remédio.
O menino tinha um sorriso no rosto.
Astella pegou o frasco no bolso e o colocou nos olhos dele.
— Muito bem, eu vou te dar uma recompensa.
Astella pegou um biscoito doce com cheiro de manteiga de uma pequena caixa no seu bolso.
Theor veio correndo carregando o bicho de pelúcia.
— Biscoito!
— Ainda não jantamos, então coma apenas dois.
— Sim…
Theor pegou os biscoitos com a mão pequena e os partiu em pedacinhos. Astella também comeu um dos biscoitos de Theor.
Uma mordida cheia de um sabor doce. A doçura aliviou um pouco da tensão.
Quando estavam comendo, de repente ouviram uma batida na porta.
Astella correu para a sala de estar.
— Pode entrar.
Abriu a porta pensando que eram novas criadas, mas foi apenas um criado de meia-idade que entrou no quarto.
— Senhorita Astella?
— Sim. O que está acontecendo…
— Oh, podem trazer.
Com a indicação do criado, outros criados entraram com uma grande pilha de caixas. Eles as colocaram no chão e abriram uma por uma.
Havia muitos vestidos dentro.
O primeiro, era um vestido de noite azul colorido com uma saia longa e luxuosa. Os diamantes que decoravam o decote eram deslumbrantes.
Havia também agasalhos feitos de veludo verde-acinzentado, e uma leve cor cinza-esverdeada, como uma floresta coberta no outono.
O mais bonito de todos era um vestido de seda azul-celeste.
Sua sede era suave e leve, com uma cor azul brilhante que lembrava um céu claro.
No busto, em volta do decote, havia um bordado com fio vermelho, e a saia farta se dividia ao meio, com uma anágua branca e macia fluindo naturalmente como ondas.
Todos eram luxuosos o suficiente para serem usados nas festas da alta sociedade da capital.
Em seguida, uma caixa com joias foi aberta. Havia um colar de pequenos diamantes e brincos de safira ondulados. Outro de suaves cristais de rosas vermelhas, como pétalas de flores, e um colar com esmeraldas lapidadas e pequenos diamantes.
Havia também enfeites de cabelo feitos de cristal verde claro.
Embora tudo fosse muito deslumbrante, Astella fez uma careta em vez de se emocionar.
‘Pensei que fossem as novas criadas.’
Esta foi outra situação inesperada.
O homem, que trouxe os vestidos e as joias, sorriu e fez uma reverência para Astella.
— São presentes de Sua Majestade para a Senhorita Astella.
Claro, o imperador era o único capaz de enviar isso.
Não foi nada surpreendente.
— Não preciso disso. Pode devolver…
— …Como?
Astella falou novamente para o criado confuso.
— Obrigada, mas não posso aceitar isso. Por favor, diga a ele que eu não entendo o porquê de ele estar fazendo isso.
— Bem… Sua Majestade a convidou para jantar esta noite. Sua Majestade ordenou que vestisse uma dessas roupas e compareça ao jantar.
Com o convite mais indesejado do mundo, Astella educadamente se inclinou.
— Me sinto honrada, mas não posso comparecer porque tenho que cuidar da criança. Sinto muito, mas não posso ir, então me perdoe.
Então ela se levantou novamente, olhando diretamente para o criado, e terminou sua frase.
— Por favor, diga-lhe isso.
O homem ficou atordoado, nunca esperou que fosse ser rejeitado assim.
— Ah, a senhorita está cuidando da criança…
— Tenho que acompanhar meu sobrinho comendo porque ele ainda é novo.
— Bem, a senhorita pode deixar com as criadas…
— Estou aqui há menos de um dia. E pedi para trocar as criadas, mas as novas nem chegaram. Mesmo que elas venham agora, não posso deixá-las com um trabalho tão pesado. Não cá tempo para explicar os hábitos alimentares da criança.
Quando ouviu uma lista de motivos, o homem ficou sem palavras.
Astella voltou a falar para o criado, que estava tão envergonhado que não conseguia falar direito.
— Obrigada pelo convite, mas a criança é muito nova para ir a um banquete com o rei. Sinto muito. Por favor, diga isso a ele. E leve essas roupas de volta.
***
— Boas notícias.
Ao ouvir a voz de Velian, Kaizen levantou a cabeça enquanto olhava os papéis.
— O Duque de Reston finalmente está tramando algo suspeito. Ele não pode simplesmente se deitar e morrer.
Desde que os grandes nobres perderam as batalhas políticas, o duque de Reston viveu com cautela.
Não importava o quão cuidadosamente procurasse, não havia um erro sequer para descobrir.
O outro duque de alguma forma arruinou sua oportunidade e foi pego pela justiça, só o duque de Reston não foi eliminado.
Ele era um inimigo admirável.
Mas não importava.
Afinal, o duque tinha perdido o poder e sua influência, uma das famílias mais antigas do país, estava destinada a morrer lentamente.
O duque de Reston não podia aceitar isso.
No final, ele deve ter mudado de ideia para mudar a situação fazendo algo em vez de cair lentamente assim. O relatório de Velian continha alguns detalhes dos movimentos suspeitos do duque.
Kaizen respondeu, olhando para o documento.
— Você tem que ganhar tempo.
— Sim, eu sei. Quanto mais tempo Sua Majestade estiver afastado da capital, mais fácil será ele cavar sua própria cova.
Ele estava pensando exatamente em como se livrar do último duque, mas então, ouviu uma batida na porta.
Após receber as ordens do imperador, o criado voltou e transmitiu os resultados de sua missão a Velian. Velian voltou ao escritório com um olhar complexo e sutil no rosto.
— Agora é uma má notícia.
Kaizen ainda estava lendo os documentos em sua mesa.
Velian olhou para seu mestre com alguns sentimentos estranhos.
Na verdade, Velian nunca se importou com a ex-imperatriz até hoje.
Tinham que lidar com o testamento de qualquer jeito, mas não era algo urgente ou preocupante.
Afinal, ninguém sabia que as propriedades do sul pertenciam à família imperial. Foi por isso que ele procurou lentamente pela ex-imperatriz, cujo paradeiro se manteve desconhecido por dois meses.
Se fosse urgente, ele teria emitido um mandado de busca para todo o país.
Até onde Velian sabia, Kaizen não tinha sentimentos pela ex-imperatriz.
Obviamente, ele pensou isso até que viu a situação pessoalmente.
‘Você mandou vestidos e joias…’
Foi uma notícia chocante para Velian, que por anos assistiu Kaizen ignorar as mulheres ao seu redor.
Durante os últimos seis anos, Kaizen não havia se envolvido com nenhuma mulher.
Muitas tentaram chamar a atenção dele, mas ele não deu atenção à nenhuma.
Nunca tinha enviado um presente a ninguém.
Claro, ele sempre estava muito ocupado com o trabalho, então não tinha tempo para isso.
Mas para que enviar presentes para a ex-imperatriz e convidá-la para jantar?
— São notícias tão ruins que não pode me dizer?
— Não, não é tão ruim…
Velian tossiu para limpar a garganta e seguiu com o informe.
— A senhorita Astella disse que não pode aceitar os presentes e os enviou de volta. E disse que não pode assistir o jantar porque tem que cuidar da criança.
Assim que chegaram ao castelo, Kaizen viu Astella conversando com Marianne.
A aparência de Astella foi impactante a primeira vista, mas a diferença era ainda mais gritante quando se encontrava cara a cara com Marianne.
As mulheres da sociedade usavam um vestido para cada ocasião: um para o dia a dia, um para bailes, um para sair, um para viajar, e um para caça. E todos os estilos eram completamente diferentes uns dos outros.
Para Kaizen que estava acostumado com isso, as roupas de Astella eram como a de mendigos.
Por isso, pensou que ela precisaria de roupa adequada para usar na capital, e os ordenou que enviassem tudo que conseguissem de imediato.
Não esperava que isso acontecesse.
— Chama o criado que enviou os presentes.
Um criado de meia idade entrou na sala e contou o que Astella havia dito.
— Sim, disse que o menino ainda era pequeno e que tinha que acompanha-lo comendo. Eu disse que poderia deixar isso para as criadas, mas… ela falou que não podia deixar um trabalho tão pesado para alguém que tinha acabado de conhecer… e que não dava tempo de explicar os hábitos alimentares do menino…
Não era uma má desculpa.
Velian, que observava a situação curioso, de certa forma concordou com o ponto de vista da ex-imperatriz.
O menino parecia ter no máximo cinco ou seis anos, deixa-lo sozinho não era bom. Estaria tudo bem se fosse com uma babá ou criada que já estivesse com ele há muito tempo, mas não seria adequado deixar nas mãos de criadas recém chegadas.
Era o senso comum, mas infelizmente, algumas pessoas não conseguiam entender.
— Por esses motivos, a senhorita Astella se desculpa por não poder assistir.
Quando o homem disse isso, pôde ver a verdadeira ira nos olhos do imperador.
Diante do imperador, que olhava os documentos com olhos cheios de ira, o velho criado mordeu o lábio inferior em um ataque de nervosismo.
Apenas depois de alguns segundos em silêncio, Kaizen conseguiu conter sua ira e cuspir as palavras:
— Então, diga para ela trazer o menino.
Tradução: Holic.
Revisão: Olimir.