Como esconder o filho do imperador - Capítulo 73
Mas que tipo de vida Astella viveu nos últimos seis anos?
Divorciada, expulsa do palácio, abandonada por sua família, vagando sozinha. Como ela acabou tendo um filho?
As perguntas se espalharam sem parar, e para cada pergunta, o arrependimento e a tristeza o perseguiam.
Uma mulher que foi filha de um duque, outrora imperatriz, foi abandonada pela sua família e criou seu filho na pobreza.
Kaizen não conseguia imaginar por que tipo de situação Astella passou para suportar tudo isso.
Era demais para uma mulher que foi criada como uma princesa por toda a vida. Na verdade, seria difícil para qualquer mulher suportar.
E o próprio Kaizen foi o começo e a fonte de tudo.
A verdade inegável o havia afligido a ponto de sufocá-lo, e ele estava incessantemente frustrado.
─ Vossa Majestade, vou entrar.
A porta se abriu com um baque cauteloso. Era Velian.
Depois de entrar no escritório, Velian balançou a cabeça como se estivesse cansado de olhar para a pilha de papeis que enchiam o topo da mesa.
─ Não dormiu a noite toda?
─ Acabei de terminar tudo.
Kaizen respondeu sem olhar de volta. Não conseguiu dormir a noite toda, então terminou a papelada.
Por causa de muitos atrasos, havia vários documentos. Mas, mesmo enquanto ele estava concluindo seu trabalho, ainda estava sofrendo.
─ Como foi o que pedi para você descobrir?
─ Sim, mandei alguém investigar.
Velian respondeu com uma voz clara. Ele originalmente veio relatar esse assunto.
─ Acabei de receber um relatório… dizendo que encontraram uma parteira.
─ E então?
Um momento de silêncio se passou.
Velian disse com uma voz que era tão cuidadosa quanto possível, e com uma expressão de quem realmente não queria falar.
─ Como esperado…Foi Lady Astella quem deu à luz a Theor.
Suas fontes buscaram a velha parteira que havia ajudado no nascimento do bebê para investigar a origem de Theor.
A parteira que ajudou com o bebê hoje tinha setenta anos. Estava tão decrépita que não conseguia manter sua mente intacta.
Mas ela lembrou que há alguns anos foi chamada à mansão do Marquês, no interior, para ajudar com uma criança.
A estrutura da mansão, o sexo da criança ou o local de nascimento era um pouco vago, mas ela lembrou que a mãe vinha sofrendo com o nascimento, e que chamou o marquês de ‘avô’.
Ela acrescentou que a mãe era uma mulher muito bela. Depois de tudo isso, o velho Marquês pagou-lhe muito para manter o segredo.
─ …
Velian estava realmente com medo de que Kaizen estivesse furioso.
‘O Imperador está obcecado por Lady Astella há algum tempo.’
A situação já era difícil o suficiente enquanto ele tentava encobrir o trabalho do duque Reston, que ordenou o seu assassinato.
Agora, Astella estava criando o filho de outro homem.
‘Theor, quem ela costuma apresentar como seu sobrinho, na verdade é filho de Lady Astella.’
O próprio Velian quase desmaiou ao saber disso, então ele não podia adivinhar quão zangado o imperador teria ficado por dentro.
Se ele cometesse um erro nessa situação, sentiu que seria morto. Velian terminou o relatório e rapidamente se curvou para o imperador.
Estava apavorado, os olhos fixos no chão, mas, por muito tempo, Kaizen não respondeu.
Esperou, e então, cuidadosamente, olhou para cima e ouviu a voz de Kaizen.
─ O que aconteceu com a empregada que supostamente teve a criança? A encontraram?
O olhar de Velian caiu no chão novamente.
─ Bem, isso… A empregada que dizem ter dado à luz a Theor está desaparecida.
─ Desaparecida?
Olhos vermelhos afiados estavam nele. Velian rapidamente acenou com a cabeça novamente.
─ Me desculpe… Vossa Majestade.
─ Você não quer dizer que Astella a escondeu, certo?
─ Sim, não é isso…
Velian engoliu em seco.
Na verdade, se foi outra pessoa, isso tornava mais sério e teria sido muito melhor se Astella realmente a tivesse escondido.
‘Oh, eu realmente não queria ter que dizer isso.’
─ A família Croychen a levou embora.
* * *
Tudo foi feito passo a passo.
Em primeiro lugar, o quarto de Theor foi transferido para uma pequena casa anexa ao jardim da mansão.
Astella disse aos criados que queria manter o menino em um lugar ensolarado.
O menino estava se recuperando, então disse que achou melhor que ele ficasse perto do jardim, onde poderia correr.
Portanto, declarou que mudaria sua residência para lá até que eles partissem.
Hannah despejou seus pensamentos amargos mais profundos nos outros empregados domésticos, dizendo que Theor insistia em ir para o prédio anexo perto do jardim, então não havia escolha a não ser mudar seu quarto. Também não esqueceu de reclamar que estava com dificuldade para transportar a bagagem quando tinha apenas alguns dias para partir.
Todos não tiveram dúvidas em acreditar na explicação.
Por exemplo, o jovem mestre implorou para ir a uma casa na árvore e na lagoa, e Astella parecia concordar.
Não havia o que duvidar. E não parecia estranho que o avô de Theor ficasse com ele.
─ Vovô, vá primeiro.
Sentada frente ao avô, no prédio anexo, Astella fez um plano completo para a fuga.
─ Vamos “passear” na cidade amanhã à tarde.
─ Tudo bem. Então, nessa hora…
─ Sim, fique perto da fronteira ao invés de voltar para a mansão.
‘O Vovô vai sair da mansão e ficar perto do portão e esperar. Hannah vai esgueirar Theor para lá no meio da noite.’
Theor e seu avô iriam deixar os portões da fronteira assim que amanhecesse e ir para o leste. Era um plano simples.
De qualquer forma, ela já tinha a permissão do Imperador, então não importava.
Ela fixou a data para Theor deixar a capital dois dias antes do baile.
Astella e Hannah arrumaram a bagagem de Theor e o levaram para a casa.
─ Por que eu tenho que trocar de quarto?
Theor as observou organizar a bagagem, então abraçou o urso e o seguiu Hannah.
Ela dobrou os joelhos com um olhar amável.
─ Porque acho que você vai gostar. A casa anexa é muito bonita. Tem uma grande árvore de zelkova ao lado dela, e você pode subir no telhado e tocar nas folhas e nos ninhos de pássaros.
─ Sério? Tem passarinhos?
Quando foram mencionados os animais, os olhos azuis se tornaram brilhantes.
O rosto de Hannah, que estava explicando para Theor agachada, também se contraiu e ela riu.
─ Sim, claro, e há um pequeno lago em frente ao jardim, e há uma estátua de cobre de um cachorro. O que acha disso? Você não quer ir?
─ Sim, vou ver um sapo!
Quando Hannah o persuadiu afetuosamente, Theor assentiu com entusiasmo.
Astella, que estava arrumando as roupas de Theor, engoliu um sorriso amargo com a aparência inocente da criança.
O quarto do anexo familiar era menor que o do prédio principal, mas era ensolarado e confortável.
Quando as cortinas foram abertas, havia uma série de luzes douradas nas janelas de vidro e nas paredes.
Em frente à lareira ensolarada, os brinquedos de Theor estavam reunidos.
Bonecos macios e navios militares e cidadelas feitas de maneira realista. Os soldados do tamanho de dedos foram reunidos em um círculo.
Theor sentou-se no meio enquanto as duas arrumavam suas bagagens e brincou com o ursinho.
Astella se ajoelhou ao lado de Theor enquanto Hannah ia guardar sua mala.
Ela segurou Theor, que estava com o brinquedo, em seus braços.
─ Tia Astella?
Seu cabelo preto macio tocou sua bochecha. O cheiro de leite exalava da pele branca do menino.
Astella colocou os lábios na testa de Theor.
Era apenas um breve adeus, mas a deixou perturbada. Ela nunca o tirou de seus braços antes. Nos últimos cinco anos, Astella sempre manteve Theor ao seu lado.
─ Theor, você tem que sair daqui com seu avô em alguns dias.
Theor, fora dos braços de Astella, ergueu o rosto.
─ Vamos voltar para casa?
─ Sim, mas não posso ir com vocês.
O ursinho de brinquedo que ela não conseguiu colocar na mala, Levin, estava nas mãos de Theor.
Theor, que brincava com o ursinho, perguntou surpreso.
─ Por que só o vovô e eu?
─ Tenho que ficar na capital e fazer algo importante.
─ É importante?
─ Sim. É muito importante.
Astella ficaria nesta casa por dois dias mais, escondendo a partida de Theor e seu avô.
Kaizen ordenou que Astella comparecesse ao baile.
Mas ele não pediu que ela levasse Theor.
E ele permitiu que ela mandasse Theor para o interior alguns dias atrás, e não deu novas ordens sobre a estadia de Theor.
Astella seguiria as ordens de Kaizen.
Ela passaria um tempo na mansão como se nada tivesse acontecido e depois compareceria ao baile, como ordenado.
A essa altura, Theor estaria voltando para casa no leste.
Theor disse com pesar.
─ Queria ficar na capital.
Astella sorriu para Theor ao nível de seus olhos.
─ Quando chegarmos em casa, teremos um jardim com plantas de lótus e vamos fazer ima casa para o Panqueca, e a companhia de teatro vai chegar e iremos assistir.
─ Sim! Eu quero ver uma nova peça!
A palavra teatro encorajou Theor novamente.
Astella sorriu e abraçou Theor.
Seu coração se apertou com a realidade de que ela tinha que se separar de seu filho e deixá-lo por alguns dias, embora seu coração estivesse calmo ao pensar que ele finalmente chegaria em casa.
* * *
Um dia antes da partida, eles foram dar uma volta no parque da capital, como planejado.
O grupo era Astella, Theor, seu avô e Hannah.
Seu avô estava em uma rua movimentada perto do parque.
As três pessoas restantes iam dar uma volta no parque e tomar uma bebida antes da hora de voltar.
─ Para onde vai o vovô?
Theor espiou pela porta da janela da carruagem, preocupado. O marquês deu um tapinha na cabeça de Theor antes de sair.
─ Não se preocupe. Você o verá essa noite.
─ À noite?
─ Sim. Você o encontrará à noite e irão para casa juntos.
Astella trocou olhares com o avô. O avô decidiu esperar no local combinado perto do portão. À noite, Hannah levaria Theor até lá. O avô também ofereceu palavras de conforto a Astella.
─ Não se preocupe muito. Tudo estará bem.
E a carruagem partiu novamente.