Como esconder o filho do imperador - Capítulo 72
Embora sorrisse docemente, seus olhos vermelhos eram frios como gelo.
— Posso ajudar com o baile.
—Como?
Astella o olhou surpresa e Kaizen sorriu.
—Eu não posso acreditar que irmãos estejam discutindo por algo assim. Além do mais, tenho uma ideia. A falecida Duquesa teria gostado se o evento ocorresse no Palácio Imperial. E sendo nele, não haverá necessidade dos dois se preocuparem, certo?
Os dois irmãos rapidamente trocaram um olhar. Fritz se desculpou educadamente.
— Muito obrigado, Vossa Majestade, mas esta é uma tradição…
—Será que a Duquesa não gostaria de fazer o baile beneficente no palácio imperial?
Kaizen olhou para Astella e continuou.
— E agora, Astella está muito ocupada com Theor, então não tem problema fazê-lo no Palácio Imperial.
— Majestade, eu…
Quando Astella se adiantou para recusar, Kaizen se virou para ela. Astella ficou em silêncio quando percebeu um olhar frio daqueles olhos.
Kaizen sorriu calmamente para ela enquanto a olhava fixamente.
— Será melhor que você compareça. Por Theor.
Astella não conseguiu dizer uma palavra mais. Assim que Kaizen saiu, Astella correu para o jardim. Ela procurou o Marquês Calenberg.
— Como posso fugir da capital?
Astella perguntou, assim que encontrou seu avô no jardim.
— Do que está falando tão de repente? Por quê?
O Marquês, que passeava, surpreendeu-se ao ver Astella deixar escapar essas palavras.
Só depois de ver a reação de seu avô é que Astella percebeu o que estava fazendo.
Ela não sabia, mas estava pálida, branca e tremendo de medo.
— Me siga.
O marquês pegou a mão de Astella e se dirigiu para o final do jardim. Lá, havia uma pequena mesa debaixo de um coreto.
Era um local precioso, decorado com elaborados ornamentos de ouro. E o coreto desta mansão era tão bonito quanto qualquer outro, mas havia uma peculiaridade que nenhum outro jardim tinha. Um braço de água fluía de um lado do pergolado o dia todo.
Um fluxo interminável de água prateada caia sobre o beiral da cúpula. A corrente de água continua a fluir, dando a impressão de que as laterais do coreto estavam cobertas com paredes transparentes.
Poderia dar uma impressão de mistério, mas na verdade, estava apenas conectado ao topo do telhado para permitir que a água flua de cima para baixo.
O Marquês levou Astella para ali.
Assim que entraram no coreto, Astella percebeu por que seu avô a trouxe até aqui.
‘O som da água…’
Ao entrarem no coreto, parecia que estavam dentro de uma cachoeira.
O som da água caindo incessantemente bloqueava o som dos arredores. Assim, se outra pessoa estivesse aqui, não seria capaz de escutar o que eles dois estavam dizendo.
— Acho que Kaizen percebeu alguma coisa. Assim que chegou, ele se comportou de modo estranho.
Astella levantou o assunto principal. O marquês também ficou chocado.
— Não posso acreditar.
— Ele veio agora a pouco…
* * *
Astella lembrou-se da reunião que acabou de acontecer com Kaizen.
Naquele momento, após as palavras de Kaizen, Astella sentiu como se tivesse afundado no inferno.
‘Será melhor que você compareça. Por Theor.’
Ainda mais estranho do que essas palavras era o olhar em seus olhos.
A ferocidade em seus olhos vermelhos era semelhante à maneira como ele encarava uma presa, e eles estavam dirigidos para Astella.
Mesmo que não quisesse perceber, ela não tinha escolha a não ser notar.
Aquele comentário… não tinha nada de comum. Na hora, Astella conseguiu recobrar o juízo e tentou perguntar a Kaizen.
— Vossa Majestade, Theor não…
Kaizen cuspiu palavras frias.
— Não é você quem sabe melhor a que me refiro?
— …
— Entenda que o baile será no Palácio Imperial. E eu ordeno que você se prepare, porque deve comparecer nesse dia.
Kaizen saiu depois de dizer sua sentença. Parecia ter se retirado para a sala ao lado, onde estava Theor.
Theor estava sorrindo e dizendo algo, mas Astella não ouviu nada.
* * *
— Como ele soube ? O Imperador conhece sua intolerância?
O marquês perguntou nervoso depois de ouvir a explicação de Astella.
— Não sei, nunca contei a ele…
O duque de Reston manteve isso estritamente em segredo porque temia que se Astella fosse considerada doente, o que poria em perigo seu noivado com o príncipe herdeiro.
E entre as criadas que serviam na casa Reston, nenhuma delas sabia, exceto Hannah.
— Para as outras empregadas, foi dito que eu odiava Lichia.
Ninguém achou estranho. Todos os nobres eram mimados. Naturalmente, Astella não poderia dizer isso a Kaizen.
— Então como ele descobriu que Theor é seu filho?
— Eu…Não sei.
Ela não tinha certeza de como tinha sido descoberta. Mas o imperador pensava que Theor era o filho de Astella com outro homem, ou sabia de tudo?
— Talvez nem tudo tenha sido descoberto.
Ela sabia disso pelo olhar que lhe deu seu irmão Fritz.
Depois que Kaizen saiu, Fritz acalmou Astella com um olhar preocupado e disse.
— Astella, Sua Majestade…Parece estar zangado por você ter tido o filho de outro homem.
Kaizen tinha olhos vermelhos e Astella, olhos verdes claros, mas Theor não havia herdado nenhuma das duas cores, eles eram azuis. Mas a fisionomia de Theor se parecia com a de Astella.
Naquele momento, Astella percebeu que Fritz estava pensando na resposta mais simples, a resposta em que Astella deu à luz ao filho de outro homem. Talvez Kaizen também tivesse chegado a essa conclusão.
— Sim, se pensasse que era seu filho, ele o teria levado ao palácio imediatamente.
Enquanto ouvia a explicação de Astella, o Marquês, que estava vendo para onde a água estava fluindo, se virou e olhou para a neta.
Astella assentiu silenciosamente.
— Sim, é claro que ele não sabe que é seu próprio filho.
Mas isso complicou as coisas. Mesmo uma parede bem construída pode desabar assim quando as rachaduras começam a surgir.
Uma vez que ele souber que Theor é filho de Astella, pensará em quem seria seu pai.
Portanto, havia uma chance de que um dia descobriria que ele era o pai biológico de Theor. Se observasse um pouco mais o menino, começaria a desenterrar as pistas.
— Não posso deixar isso acontecer.
Astella decidiu-se, enquanto olhava para a água límpida e prateada que fluía para a lagoa. Foi a decisão que tomou no caminho até aqui.
— Vovô, pegue Theor e vá na frente para o interior.
— O que você vai fazer?
— Tenho que ficar aqui até o baile.
Kaizen ordenou que Astella comparecesse ao baile.
— Devo ir antes que ele descubra quem é o pai biológico de Theor. Mas enquanto o menino estiver aqui, Kaizen pode descobrir quem é seu pai. As comparações serão mais difíceis se Theor não estiver presente.
Então ela tinha que fazer Theor sair daqui, o mais breve possível. Astella explicou seu plano.
— Eu vou ficar aqui e esperar o baile. Vovô, volte para casa alguns dias antes.
Eles já tinham permissão para ir para casa, mas a doença de Theor lhes consumiu muito tempo.
Hoje Kaizen mandou Astella comparecer ao baile, mas ele não fez nenhuma exigência para vovô ou Theor ficarem.
Então, antes que o imperador ordenasse qualquer outra coisa, eles tinham que partir rápido.
— Vou mudar o quarto de Theor e o seu para uma residência separada desta mansão e deixar Hannah sozinha. Então, mesmo se desaparecerem no meio da noite, não vão notar.
A casa familiar desta mansão ficava em um canto isolado do jardim.
Evitaria os olhos das pessoas. Se Theor não estivesse muito incomodado, ele poderia seguir em frente e evitar as suspeitas.
O marquês parecia confuso, mas não podia negar o pedido de Astella. Era uma situação terrível, mas agora não havia como negar.
Só dessa maneira eles poderiam proteger o menino. Ele hesitou por um momento e perguntou olhando para Astella.
— Você vai ficar bem?
Ela ficaria bem? O que aconteceria agora que Astella foi descoberta como a mãe biológica do menino?
Não conseguia prever como Kaizen reagiria.
Além disso, Astella era uma jovem de classe alta. Se tivesse o filho de um pai desconhecido, seria uma desgraça para a família e seria criticada pelas pessoas.
Mas a resposta de Astella já estava decidida…
Desde que Theor nasceu.
— Concordo com o que me acontecer, desde que não perca Theor.
* * *
Atrás da janela havia um céu nublado, e a chuva estava chegando.
Kaizen observou a luz branca do amanhecer subindo suavemente na cidade.
Quando ele mencionou o nome de Theor, a aparência confusa de Astella não deixou a sua cabeça descansar a noite toda.
Kaizen, apesar de não conhecer os resultados da investigação, já teve a resposta para a sua pergunta nesse momento.
Theor era filho de Astella.
‘Como diabos ela fez isso?’
Astella deu à luz a um bebê.
O filho de outro homem.
Pelo que Kaizen sabia, não havia nenhum outro homem perto de Astella. Isso já havia sido investigado, desde que ele começou a coletar informações de Astella para procurá-la.
‘Então, quem diabos é o pai do menino?’