Como esconder o filho do imperador - Capítulo 71
Dois dias se passaram sem nenhum problema.
Theor agora parecia ter recuperado totalmente suas forças.
Assim que viu Astella, ele correu para seus braços. Theor agarrou-se aos braços de Astella e esfregou seu rosto.
— Eu quero sair e brincar!
Astella abraçou o menino com ternura e deu-lhe um tapinha nas costas.
— Ainda não. O médico disse para você ficar no quarto por cinco dias.
— Haa…
Theor pôs o rosto meio triste no travesseiro.
Felizmente, Theor teve pouco tempo para ficar entediado.
No quarto, os brinquedos enviados por Kaizen estavam empilhados como uma montanha, e as pessoas que faziam os shows de marionetes vinham todos os dias.
Theor assistiu ao repetitivo show de marionetes com olhos intensos.
Era incomum ficar entediado quando o conteúdo é semelhante, mas eles realmente se esforçaram para tornar o show cada vez mais interessante.
Ainda não podia sair para o jardim, então durante o dia, ele andava pelo quarto e brincava com os brinquedos. Vê-lo brincar tão vigorosamente, ela sabia que seu corpo havia se recuperado totalmente.
─ O que faz aqui, vovô?
Astella saiu com Hannah por um tempo para preparar o almoço para Theor, e subiu as escadas e quando voltou encontrou seu avô que estava na parte de baixo.
─ Querida.
Descendo as escadas, o marquês viu Astella e rapidamente se aproximou dela. Ele falou com uma expressão infeliz.
─ Eu estava procurando por você. Seu irmão está aqui.
─ Fritz?
Ele era um visitante inesperado.
‘Meu irmão Fritz nem sequer entrou em contato comigo desde que veio aqui no primeiro dia.’
Os olhos do marquês estavam irritados.
─ Sim. Ele está aqui para vê-la, sem avisar.
Quando ele chegou à mansão, Fritz pediu desculpas ao avô, o Marquês, e pediu seu perdão. O Vovô parecia chateado.
Mas ainda não disse nada quando viu Astella.
─ O que disse sobre o que aconteceu com Theor?
Astella estava preocupada com isso.
─ Eu disse que Theor estava resfriado.
─ Bom trabalho.
Fritz, é claro, conhecia a intolerância de Astella.
Se ouvisse os detalhes do ocorrido, ele notaria o segredo do nascimento de Theor. Astella deu um passo nervoso em direção ao quarto de Theor.
A porta do quarto estava aberta quando ela chegou. A risada do menino foi ouvida através da porta entreaberta.
─ Então, este cavaleiro tem uma espada…
A voz de Fritz também foi ouvida.
Através da porta, ela podia ver a cena no quarto.
Theor estava encostado na cama, e Fritz estava ajoelhado ao lado da cama, segurando dois bonecos e conversando sobre alguma coisa. Fritz tocou o boneco em sua mão e Theor riu.
Astella olhou para a cena e abriu a porta.
─ Tia Astella!
─ O que você está fazendo aqui, irmão?
─ Theor gosta de shows de marionetes, então estava brincando com ele. Como ele disse, bonecos e muitos brinquedinhos estavam espalhados na cama.
Theor ergueu os braços e agarrou-se a Astella.
─ Tio Fritz me fez um show de marionetes! “O Cavaleiro e o Urso!” Tia Astella o conhece?
─ Sim. Eu sei qual é.
Astella dirigiu-se para Fritz.
─ Nós assistimos juntos quando éramos crianças.
─ Você se lembra.
Fritz pareceu um pouco emocionado.
─ …
Ela não falava com seu irmão há muito tempo, mas se sentiu confortável, apesar do fato de tê-lo visto novamente recentemente.
Talvez seja porque foram muito próximos.
Não foi por laços de sangue, mas por todo o carinho acumulado enquanto cresciam juntos. Se fosse por sangue, ela também deveria se sentir confortável perto de seu pai, mas não estava nem perto disso ou de ser amigável com ele.
─ O que o traz aqui?
No entanto, Astella não tinha intenção de compartilhar esse afeto entre irmão e irmã.
─ Disseram-me que Theor estava doente e que não poderiam partir. E eu estava preocupado sobre como ele estava…
─ Estamos bem, então não se preocupe.
Astella cortou as palavras do irmão com um tom de voz calmo. Com Theor ao seu lado, não podia ficar com raiva ou de coração frio.
Se ele não perdesse seu sorriso amigável até o final, isso seria bom.
─ Eu tenho que almoçar com Theor agora, poderia voltar outra hora?
Astella tentou ignorar os tristes olhos verdes claros que a encaravam.
O belo rosto de Fritz estava profundamente abatido. Não era que ela quisesse machucá-lo porque se ressentia dele. Mas estava preocupada que ele visse Theor por muito tempo.
Porque tinha medo dele notar alguma coisa, já que era um de seus parentes mais próximos.
─ Tio Fritz, precisa mesmo ir?
Theor perguntou, segurando as mangas de Fritz com uma mão fraca. O olhar envergonhado de Fritz voltou-se para o menino.
Astella acalmou Theor e disse:
─ Theor, tome seu remédio depois do almoço vamos brincar de novo, depois que terminarmos de comer.
─ Astella, preciso falar com você um instante. Pode me dar um pouco de tempo?
Fritz se colocou entre eles e perguntou, sério.
‘O que mais está acontecendo?’
Ela se sentiu desconfortável.
Se seu irmão estava falando sério, devia ser importante. Ou talvez fosse obra de seu pai, o duque de Reston.
De qualquer maneira, não era algo que ela pudesse se recusar a ouvir.
Astella olhou para Theor e respondeu.
─ Só um minuto.
Os dois foram para a sala ao lado, deixando Theor para trás.
─ O que aconteceu?
─Astella…
Fritz se aproximou dela. Seus olhos tremiam inquietos.
─ Astella, sou seu irmão.
─ Não me chamou para dizer isso, não é?
─ Theor…
A voz cheia de preocupação era verdadeira por um momento. Agora, o coração de Astella estava cheio de sensações pesadas.
─ Se houver algo que eu possa fazer para ajudá-la com Theor, diga-me.
─ Não há nada em que eu necessite de sua ajuda.
Sua voz agora estava tão fina quanto um fio antes de ser cortada. Então Fritz deu um passo mais perto dela. E sussurrou algo significativo.
─ Agora… A ajuda de quem não é necessária?
─ …
Neste ponto, ela não poderia se enganar com outro significado. Fritz notou o segredo por trás do nascimento de Theor.
‘Por que ele notou? Por causa da fruta?’
Quando viu Theor pela primeira vez, ela lembrou-se de Fritz parado olhando para o menino.
Então, Astella percebeu.
Ele sabia disso desde o começo. Seu irmão estava muito perturbado com a verdade sobre o nascimento desta criança.
─ Irmão, eu…
Ela conseguiu fazer a voz sair, mas não conseguia falar porque sentia que estava se afogando.
Fritz pegou a mão dela.
─Astella, posso ajudar. Confie no seu irmão.
─ …
‘O que deveria dizer?’
Ela realmente não precisava da ajuda do meu irmão?
‘Ele descobriu de qualquer maneira, e se ele souber a verdade e quiser ajudar, posso recusar essa ajuda?’
Ele sabia que Theor era filho de Astella? Ou notou que ele era filho de Kaizen?
‘Será que meu irmão sabia sobre isso desde o encontro anterior?’
Astella primeiro queria saber com certeza. Sua decisão iria variar dependendo do que ele dissesse.
─ Irmão, eu…
Mas uma voz surgiu entre os dois antes que Astella pudesse responder.
─Astella.
Os dois irmãos se viraram apressadamente.
Kaizen estava parado na porta.
* * *
Kaizen caminhou em direção aos dois irmãos sem dizer uma palavra.
O coração de Astella foi pisoteado por seus passos descuidados. Ela sentiu como se estivesse prendendo a respiração.
‘Ele ouviu o que dissemos agora?’
O que ele pensaria se tivesse ouvido tudo? Kaizen parou a um passo de distância. Suas pupilas frias que estavam olhando para Astella baixaram um pouco.
Ele olhou para a mão com a qual Fritz segurava o pulso de Astella.
─ O que está acontecendo?
Fritz olhou para Astella com vergonha.
Astella respondeu com indiferença, sem mostrar seu choque. Era uma voz não diferente do normal, sem um solavanco.
─ Estávamos falando sobre o baile anual da minha mãe.
─ O baile da sua mãe?
─ Sim, minha mãe costumava organizar um baile de caridade nesta época do ano. É uma tradição na minha família, por isso tenho compartilhado ideias com meu irmão.
Astella terminou de responder e calmamente baixou o olhar. Não sabia por que lhe ocorreu dizer isso nesse momento.
Talvez por causa do baile no Castelo de Dentz, aquele que participou com Kaizen, deixou uma profunda impressão nela.
Ao ver a cara de Kaizen, ela procurou uma desculpa e falou sobre o baile.
Fritz soltou o pulso de Astella e seguiu o ritmo da conversa.
─ Sim, eu disse que ajudaria… Houve uma divergência de opinião, e levantei minha voz um pouco.
‘Ele acreditará em mim?’
Astella acalmou seu coração trêmulo. Felizmente, Kaizen parecia não duvidar.
─ Entendo.
Um leve sorriso apareceu em sua boca.
─ Bom… Não sabia que existia tal tradição. Mas por que brigaram enquanto falavam de algo tão bom? Tenho certeza que os dois, como irmão e irmã, devem trabalhar bem juntos.
O olhar de Fritz se voltou levemente para Astella. Parece que funcionou. Saiu tudo bem.
─ Sinto muito, Majestade. Tenho muitas falhas.
Kaizen virou-se para Astella, que permaneceu em silêncio.
─ Como está Theor?
─ Está muito bem desde que o viu.
Astella sorriu como sempre.
─ Obrigada por todos os espetáculos de marionetes e brinquedos. Theor gostou muito.
─ Que bom.
Um sorriso satisfeito apareceu no rosto de Kaizen.